quinta-feira, 30 de junho de 2011

Será Poesia? (Eduardo Ferrão)

São essencialmente episódios contados em verso os poemas que constituem este livro. Desde um simples gesto em quatro ou cinco linhas a toda uma história de vida num poema que ocupe algumas páginas, o que se retira deste livro é, principalmente, a visão de um sujeito poético que vê histórias acontecer e que, de forma mais ou menos elaborada, as transmite ao seu leitor.
É nas imagens que se encontra o ponto forte deste livro. Histórias com algo de trágico e algo de emotivo fazem parte de cada poema e é aí que reside o elemento cativante. Ainda assim, fica a impressão de que a força da mensagem acaba por se perder, em parte, na estrutura. O recurso à rima quebra, de certa forma, o ritmo e a fluidez da imagem, limitando-a, no que deixa a impressão de ser uma mensagem forte, mas que o poderia ser muito mais caso não estivesse bloqueada pela barreira da rima.
Emotivo e algo pessoal, este livro não deixa de ser uma leitura cativante, principalmente nos poemas mais curtos, já que é nestes que, centrada em poucas linhas, a mensagem menos se dispersa em termos estruturais. Fica, contudo, a impressão de que as histórias e os momentos que compõem estes poemas poderiam ser explorados de forma mais livre e aprofundada, não fosse a limitação estrutural...

Novidades Civilização para Julho

Brian Jackson, estudante universitário, chegou à faculdade com um desejo mais forte do que o da aquisição de conhecimentos: ser uma estrela do concurso mais famoso da TV. Mas o seu avanço no Desafio Universitário é de certo modo travado pela sua atração crescente pela sedutora Alice Harbinson, que luta para deixar a sua marca como atriz. E, à medida que os obstáculos impedem a sua relação, Brian fica cada vez mais convencido de que só um sucesso esmagador no concurso o fará conquistá-la.

Uma história de ambição e traição profundamente evocativa, Madame Hemingway retrata uma época notável e a relação amorosa entre duas pessoas inesquecíveis: Ernest Hemingway e a sua mulher Hadley.
Chicago, 1920: Hadley Richardson é uma jovem discreta de vinte e oito anos que quase perdeu a esperança de encontrar o amor e a felicidade. Até que conhece Ernest Hemingway. Depois de um namoro breve e de um casamento repentino, o casal parte para Paris, onde se junta a um grupo de enérgicos e voláteis expatriados, que inclui F. Scott Fitzgerald e a sua esposa, Zelda e, Ezra Pound. Ernest e Hadley são lançados numa vida de ambição artística, bebida e viagens intempestivas a Pamplona, à Riviera e aos Alpes Suíços. Mas a Paris da era do jazz não combina com vida familiar e fidelidade.

Paris, 1937. Andras Lévi, estudante de arquitetura, chega de Budapeste com uma bolsa de estudo, uma única mala e uma carta misteriosa que prometeu entregar a Claire Morgenstern, uma jovem viúva que vive na cidade. Quando Andras conhece Claire, fica preso na sua vida secreta e extraordinária. Ao mesmo tempo, a tragédia começa a assolar a Europa, colocando-os num estado de terrível incerteza. De uma remota aldeia húngara às óperas grandiosas de Budapeste e Paris, do desespero do inverno nos Cárpatos a uma vida inimaginável em campos de trabalhos forçados, A Ponte Invisível narra a história de um casamento que sobrevive ao desastre e de uma família ameaçada de aniquilação e unida pelo amor e pela história.

Novidade Porto Editora

Esta é a história de Henry, Adele e Frank, e de um longo fim-de-semana que mudou as suas vidas. Henry é um rapaz de 13 anos, solitário, sem amigos, que passa a maior parte do tempo a ver televisão, a ler e a lidar com o despertar da sua sexualidade. As suas únicas companhias são a mãe, há muito divorciada, e Joe, um hamster; as suas únicas saídas são com o pai distante e a nova família deste, aos Sábados à noite, para ir jantar. Apesar dos seus esforços, Henry sabe que não consegue fazer feliz a mãe, Adele, uma mulher emocionalmente frágil. Adele tem um segredo que a leva a refugiar-se em casa e que parece ter destruído a sua vida.
Mas toda esta situação muda quando entra nas suas vidas Frank, um homem misterioso que se encontra ferido e pede ajuda a Henry. No longo fim-de-semana que passam juntos, Henry vai aprender algumas das lições mais valiosas da vida: a dor intensa do ciúme, o poder da traição e a importância de colocar os outros, principalmente os que amamos, acima de nós próprios. Vai aprender sobretudo que vale a pena esperar pelo verdadeiro amor.
Joyce Maynard, através de uma escrita poderosa, fala-nos do amor, da paixão, da vivência dolorosa da adolescência e da traição, através dos olhos de um rapaz de 13 anos – e do homem em que ele depois se tornou.

Joyce Maynard cresceu em Durham, no New Hampshire, e começou a sua carreira literária em 1973, quando, ainda caloira em Yale, escreveu um artigo para a New York Times Magazine que lhe valeu a capa da prestigiada revista. Desde então, tem-se dedicado à escrita colaborando como colunista em alguns dos principais jornais e revistas americanos, tais como a Newsweek, The Oprah Magazine, Forbes e USA Weekly, entre muitos outros.
É autora de uma vasta obra, de onde se destacam o romance To Die For (adaptado ao cinema por Gus van Sant e protagonizado por Nicole Kidman) e o livro autobiográfico At Home in the World.
Actualmente, divide o seu tempo entre o Norte da Califórnia e o Lago Atilan, na Guatemala, e dirige workshops de escrita criativa.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O Último Desejo (Andrzej Sapkowski)

Onde quer que vá a sua reputação precede-o. Geralt de Rivia, o bruxo de cabelos brancos. O seu trabalho é matar os monstros que se cruzam no caminho de quem solicita os seus serviços. A sua história... é maior que a das suas aventuras. E é entre as diferentes aventuras que este livro apresenta que se começa a vislumbrar o início de uma história maior, bem como o que define uma personagem bem mais complexa que o revelado pela sua reputação.
Composto por diferentes aventuras, ligadas por alguns breves episódios de transição, este livro funciona, em grande medida, como introdução ao que se afigura como uma história maior. Com excepção da linha que une as várias aventuras, cada história apresentada tem um início e um fim (ainda que algumas deixem algumas possibilidades em aberto). E, assim, o que mais desperta curiosidade para ler o que virá depois é, precisamente, a personalidade de Geralt. Misterioso, algo solitário, revela-se mais na sua atitude perante as missões que lhe são apresentadas que propriamente nas conversas possíveis. E aquilo que define como "o código dos bruxos" acaba por ser também (à medida que a sua origem é explicada) um indicativo da sua verdadeira natureza.
A escrita é agradável. As histórias são todas elas bastante envolventes, surpreendendo principalmente pela adaptação algo distorcida de elementos retirados a lendas e contos de fadas. Isto, aliado a toda uma vastidão de criaturas, das quais só vemos realmente uma pequena parte, e a um final que deixa muito em aberto, contribuem para solidificar a impressão de que o vasto potencial deste mundo apenas começou a ser explorado neste livro.
Cativante, de leitura agradável, a impressão final deste O Último Desejo é a de um início bastante promissor para uma história da qual, na prática, ainda pouco foi revelado. Mas fica também já uma certa empatia para com o protagonista e a inevitável curiosidade em saber quais serão as suas próximas aventuras. Vale a pena ler.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Despertar do Crepúsculo (Anne Bishop)

Regressar ao mundo das Jóias Negras é como voltar, mais uma vez, a entrar numa casa muito querida e muito especial, reencontrar personagens que, de forma muito pessoal, se tornaram quase parte da família e voltar a conhecer ternura, emotividade e diversão num cenário que, apesar do ambiente obscuro, desperta uma empatia que se torna inesquecível. Este livro encerra um ciclo - ou marca, pelo menos, uma ausência de algum tempo - e fá-lo criando, em cada história, uma sensação de finalidade e, em certa medida, de conforto, que, apesar do vazio que, inevitavelmente, fica depois da leitura, deixa também a impressão de que tudo acabou da melhor forma possível. Mas vamos por partes.
Abrindo de uma forma divertida e descontraída, Prendas de Winsol apresenta os preparativos da primeira celebração do Winsol com Daemon Sadi como verdadeiro soberano de Dhemlan. E o que marca nesta história é principalmente a visão enternecedora da intensidade nos laços que unem a família SaDiablo. Terno, emotivo e com momentos deliciosamente divertidos, a história reflecte, acima de tudo, o amor nos seus múltiplos aspectos. Apresenta ainda uma maravilhosa visão do quotidiano no Paço, bem como das relações familiares. Delicioso do princípio ao fim, com vários momentos comoventes e um final cheio de ternura.
Em Cambiantes de Honra o tom torna-se bem mais sério. A história é a do retiro de Surreal em Ebon Rih, numa tentativa de recuperar dos acontecimentos da casa arrepiante. Mas quando alguém se atreve a questionar a autoridade de Lucivar Yaslana, a reacção necessária será dura e precisa. Mais complexo que o anterior, também num tom mais sério - como o exigem os acontecimentos - e também algo soturno na visão das inevitáveis consequências associadas a cada grande acontecimento. Reflexão acerca de como tudo na vida deixa cicatrizes, no corpo e na alma, é também uma história envolvente, com momentos emotivos e que levanta algumas questões interessantes, nomeadamente na questão da raça. Também presentes os deliciosos laivos de humor por entre a seriedade geral, numa história que revela muito de Lucivar, mas também de Surreal e que, num final marcado pela justiça na sua máxima crueza, mostra as personagens de sempre no seu melhor.
Família parte de uma cilada armada à Rainha Sylvia e aos seus dois filhos, numa situação que colocará em alerta toda a família SaDiablo. Nesta história, é na tensão e na necessidade de agir que se encontra o destaque. Intensa e envolvente, revela, mais uma vez, a força dos laços familiares quando uma acção é necessária, sendo impressionante a forma como união e preocupação transparecem nos actos de cada personagem. Interessante, mais uma vez, o contraste entre a sobriedade geral e os pequenos momentos de humor, e particularmente bela a forma como o conforto da fase final prepara território para o que virá a seguir.
De A Filha do Senhor Supremo é difícil falar sem dizer demasiado. Aqui, a autora coloca Daemon perante o máximo de perda na sua vida, numa história de dor e de recuperação perante o inevitável. Os factos dolorosos são apresentados sem prelúdios, causando inicialmente choque, e depois a aceitação quase inconsciente causada pela simplicidade com que a autora apresenta os grandes momentos. Marca, principalmente, a visão de Sadi no seu mais vulnerável (mas também no mais terno), a sua posição num percurso que, marcado por uma grande emoção, se torna quase doloroso de seguir. É muito o que acontece. O espaço temporal é vasto para um texto relativamente curto, mas, ainda assim, permanece a intensidade. Há, também, um marcado contraste entre momentos de quase leveza e a agonia de uma mágoa excruciante, dois mundos em colisão na chegada de uma nova vida, na prova de que tudo tem um preço. Fica desta história a revelação de um novo lado de personagens já por demais conhecidas, a descoberta de uma nova forma de amor, a importância da família e os inevitáveis paralelismos entre passado e futuro. Fica a inevitável sensação de que se fechou um ciclo e, de uma forma comovente, ao mesmo tempo dolorosa e fascinante, a mensagem que fica é a de que a memória prevalece sempre.
Impõe-se ainda, e mais uma vez, uma breve referência ao excelente trabalho de tradução de Cristina Correia que, mais uma vez, nos traz a voz e o mundo de Anne Bishop em toda a sua sombria glória.
Terminada esta leitura, a impressão que fica é a de uma despedida inconsciente a personagens que se tornaram parte de um mundo muito pessoal. Talvez venha a existir um regresso ao mundo das Jóias Negras, mas houve muito que acabou aqui. E o que fica deste longo percurso de sombras, de amor e de sonhos obscuros é este vazio estranhamente reconfortante, esta certeza de que a história que conquistou e fascinou fica agora para trás. Mas a memória... essa ficará para sempre.

Novidades Planeta

Todos têm fome, mas ninguém se dispõe a encontrar uma solução.
E a cada dia que passa são mais os garotos que sofrem mutações e adquirem capacidades sobrenaturais que os distinguem dos que não têm esse género de poderes.
A tensão cresce e o caos reina na cidade. São os «normais» contra os mutantes. Cada um luta por si, e até os melhores são capazes de matar.
Mas avista-se um problema ainda maior. A Sombra, uma criatura sinistra que vive soterrada no coração das montanhas, começa a chamar alguns dos adolescentes da ZRJ. A chamá-los, a guiá-los, a manipulá-los.
A Sombra despertou. E tem fome

Tem barriga a mais, peso a mais, peito a menos, pernas grossas, um queixo que…
Enfim há sempre qualquer coisa que não a deixa sentir bonita, não é?
O cruel e falso padrão de beleza imposto pela sociedade em que vivemos tem-nos envenenado a alma, tornando-nos demasiadamente críticas em relação à nossa aparência.
A psicóloga Camila Cury vai ensinar-nos a redefinir a imagem que temos de nós próprias e a reconquistar a auto-estima.
A análise de trajectórias de celebridades, como Michael Jackson, Susan Boyle e Yoko Ono, e os relatos de pessoas anónimas que conseguiram superar traumas e dificuldades, que a autora inclui neste livro, servem de inspiração para aprendermos a ser felizes com os nossos defeitos.

Mike e Gally Martin deviam encontrar-se idilicamente felizes quando se mudaram para um chalé novo em Somerset. Mas depois de Gally conhecer Ferney, um camponês idoso que parece saber tudo acerca da casa e do seu passado, é dominada por uma estranha fixação.
O que atrai Gally e Ferney como ímanes? Porque se sente que há um misterioso elo entre eles? Ferney sabe que o tempo escasseia e que tem de a fazer compreender qual a ligação entre ambos: um laço que resistiu ao teste do tempo, que é mais profundo do que a vida ou a morte.

Sibeal sempre soube que estava destinada a uma vida espiritual e entregou-se de corpo e alma à sua vocação.
Antes de cumprir os últimos votos para se tornar uma druidesa, Ciarán, seu mestre, envia-a numa viagem de recreio à ilha de Inis Eala, para passar o Verão com as irmãs, Muirrin e Clodagh.
Sibeal ainda mal chegou a Inis Eala quando uma insólita tempestade rebenta no mar, afundando um barco nórdico mesmo diante dos seus olhos.
Apesar dos esforços, apenas dois sobreviventes são recolhidos da água. O dom da Visão conduz Sibeal ao terceiro náufrago, um homem a quem ela dá o nome de Ardal e cuja vida se sustém por um fio.
Enquanto Ardal trava a sua dura batalha com a morte, um laço capaz de desafiar todas as convenções forma-se entre Sibeal e o jovem desconhecido.
A comunidade da ilha suspeita que algo de errado se passa com os três náufragos. A bela Svala é muda e perturbada. O vigoroso guerreiro Knut parece ter vergonha da sua enlutada mulher. E Ardal tem um segredo de que não consegue lembrar-se – ou prefere não contar.
Quando a incrível verdade vem à superfície, Sibeal vê-se envolvida numa perigosa demanda. O desafio será uma viagem às profundezas do saber druídico, mas também aos abismos insondáveis do crescimento e da paixão.
No fim, Sibeal terá de escolher – e essa escolha mudará a sua vida para sempre.

Muitos afirmam que para educar uma criança só amor não basta. Este livro pretende demonstrar que, sem o amor, tudo o resto não serve para nada.
O autor, Paulo Sargento, mostra como se constroem as competências parentais e como estas se repercutem no processo educativo da criança, até ao início da sua escolarização.
Não se tratando de uma «receita» geral sobre a educação, Só Amor não basta? lança pistas simples para aconselhar todos aqueles que, em diversas circunstâncias, já precisaram de ajuda para realizar a mais importante das tarefas humanas: educar uma criança!

Empenhai-vos! é um diálogo de gerações entre Stéphane Hessel, de 93 anos, nomeado para o prémio Nobel da Paz, e Gilles Vanderpooten, de 25 anos.
Hessel intensifica as suas exigências morais, porque, diz ele, não basta indignarmo-nos. Cada um de nós deve empenhar-se em todas as frentes de combate da nossa época: os direitos do homem, a luta contra as desigualdades, a defesa dos sem-abrigo e ilegais, a ecologia…
O livro inclui a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, e o Programa do Conselho Nacional da Resistência, de 1944.
Estas são duas referências frequentes do autor.

Vencedores do passatempo O Perfume da Savana / A Mulher do Capitão

Terminado mais um passatempo, resta mais uma vez agradecer a todos os que participaram - 113, desta vez - e anunciar quem irá receber os livros em sua casa.

E os vencedores são...

44. Maria Matias (Covilhã)
92. Susana Ferreira (Aveiro)

Parabéns e boas leituras!

Novidade Bertrand

Scot Harvath é um homem com uma missão: resgatar a filha de uma assessora do presidente dos Estados Unidos. Com relutância, viaja para um Afeganistão dilacerado pela guerra na tentativa de conseguir recuperar a refém.
Brad Thor, ex-membro do Departamento de Segurança Interna, transporta-nos com a mestria da sua escrita numa viagem intensa e envolvente onde se revela o quotidiano dos talibãs e as suas tradições em confronto com o mundo ocidental, também ele marcado por contradições e particularidades.

Brad Thor estudou Escrita Criativa na Universidade da Califórnia do Sul e trabalhou no Programa Analítico Célula Vermelha, do Departamento de Segurança Interna. É o fundador da Thor Entertainment, uma empresa premiada e que exporta conteúdos para todo o mundo. Todos os seus livros são best-sellers do New York Times.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

No Coração desta Terra (J.M. Coetzee)

No silêncio desértico de uma fazenda remota, há uma mulher aprisionada na sua própria loucura, divagando entre uma vida amargurada e os labirintos de uma imaginação sombria. Magda está decidida a não cair no esquecimento, mas o pai ignora-a e a relação com os criados oscila entre a opressão e o desprezo. E, quando alguma novidade ameaça surgir na sua vida vazia, Magda só vê uma possibilidade. Romper. Quebrar. Matar.
É, acima de tudo, de amargura que se constrói esta narrativa. Contada pela voz de Magda, num tom profundamente soturno, mas de uma intensidade imensa e pessoal, é de emoções sombrias e divagações entre o real e o delirante que a linha deste romance se forma. Tragédia sem redenção, cada fragmento é uma parte da mente da protagonista, percorrendo amplitudes entre uma nostalgia passiva e uma fúria de violência incontrolável. Nos momentos mais introspectivos, marca a reflexão resignada. "Sou uma viúva negra de luto por tudo aquilo que nunca me deixaram fazer." Quando é a tensão a tomar posse, desperta a cólera, a violência, a acção impulsionada por motivos que talvez não sejam visíveis, mas que evidentemente não podem ser evitados. Os grandes momentos são pintados a sangue e morte... e o mais cativante em tudo isto é a forma como o autor consegue plantar a dúvida entre o que é um acontecimento real e as imagens sinistras nos labirintos mentais da protagonista.
Não é, portanto, uma leitura fácil. Centrado na vida e na loucura da protagonista, o que este livro apresenta é uma visão clara e complexa dos seus demónios interiores. Pouco há de sentimentos que não seja negro e irremissível. Poucos acontecimentos há que não prenunciem morte e devastação. E, ainda assim, mesmo quando tudo é sombrio nesta narrativa, há algo na figura solitária de uma mulher que nunca teve quem a amasse (nem ela mesma) que desperta no leitor um certo nível de empatia, principalmente nos momentos mais serenos e melancólicos.
Negro, por vezes opressivo, mas ainda assim estranhamente envolvente, este é um livro que marca precisamente pela intensidade colocada em sentimentos profundamente negros, cativando mesmo nos momentos mais revoltantes. Duro, trágico, sombrio... e muito, muito bom.

Novidade Oficina do Livro

Em Barcarrota, no verão de 1556, o médico cripto-judeu Francisco de Penharanda leva uma vida pacata. Contudo, algumas sombras toldam a sua vida (e a sua fé). Numa época em que as trevas da inquisição se adensam, o médico tem de rezar em clandestinidade, contando com a cumplicidade dos vizinhos e até do pároco local, frei Miguel de Santa Cruz, um bizarro clérigo que garante conversar com o diabo. Mas uma sombra ainda mais espessa o macera. A sua mulher, dona Guiomar, padece de uma doença mental degenerativa que lhe abrevia os momentos de lucidez. Desenganado já da sua inútil medicina, Francisco de Penharanda volta-se para terapias cada vez mais estranhas e interditas. Para tal conta com o auxílio de um antigo discípulo, o português Fernão Brandão, médico em Olivença. É esta importante personagem quem lhe fornece os livros esotéricos (de quiromancia, de astrologia, de exorcismo) com que o velho médico tenta, em desespero, sarar a mulher. Porém, de mês para mês, o ambiente na vila piora. Frei Miguel de Santa Cruz é substituído por Frei Ruiz do Monte Sinai, um frade que oscila entre uma indisfarçável simpatia e um atroz calculismo, sempre enquadrados por uma cultura enciclopédica. No Outono de 1556, a vila muda drasticamente. O cerco aperta-se sobre o médico. Num momento de lucidez, dona Guiomar apercebe-se do risco que o marido corre. A meio da noite abandona a sua casa e suicida-se nas profundezas da ribeira de Alcarrache, perto da vila, onde a família tem um moinho e onde há anos haviam enterrado os objectos rituais da sua fé judaica. A morte de dona Guiomar liberta Francisco de Penharanda.

Sérgio Luís de Carvalho nasceu em Lisboa, em 1959. Licenciado em História e mestre em Idade Média, a sua formação reflecte-se numa obra em que a vertente histórica é, sem dúvida, central. Em 1989 recebeu o Prémio Literário Ferreira de Castro. Foi finalista ao Prémio Jean Monnet de Literatura Europeia (França) em 2004 e, no ano seguinte, fez parte dos finalistas candidatos ao Prémio Amphi de Literatura Europeia (França). Alguns dos seus romances estão traduzidos em França e em Espanha. Anno Domini 1348 marcou a sua estreia enquanto escritor com uma voz própria na literatura portuguesa. Seguiram-se As Horas de Monsaraz, El-Rei Pastor, Os Rios da Babilónia, Retrato de S. Jerónimo no seu Estúdio, Os Peregrinos Sem Fé, O Retábulo de Genebra e O Destino do Capitão Blanc. O Segredo de Barcarrota é o seu romance mais recente

Novidade 1001 Mundos

O escritor britânico Joe Abercrombie chega a Portugal com um romance de estreia notável – o primeiro livro da Trilogia “A Primeira Lei” –, que entra de imediato para a galeria das grandes obras do género, na esteira de autores como Margaret Weis, Tracy Hickman, R.A. Salvatore, ou mesmo George R.R. Martin e Patrick Rothfuss. Sólido, complexo e apaixonante, “A Lâmina” combina com mestria os elementos típicos do Fantástico, mas acrescenta-lhes a crueldade sanguinária e o humor mordaz que conduzem o leitor aos labirintos mais negros da condição humana. Este não é de certeza um livro “inocente”, com bons de um lado e maus do outro – é um romance de profunda humanidade, que nos coloca perante o espelho arrasador dos nossos pecados e fraquezas.
Perversamente divertido, excitante e imprevisível, e repleto de personagens memoráveis, “A Lâmina” é uma fantasia com muito de verdade. No mundo medieval criado por Joe Abercrombie, a sorte de Logen Novededos, bárbaro infame, esgotou-se finalmente. Apanhado num combate em que não se deveria ter envolvido, está prestes a tornar-se um bárbaro morto, deixando para trás apenas canções más e amigos mortos.
Jezal dan Luthar, modelo de egoísmo, não tem em mente nada mais perigoso do que conquistar a glória no círculo de esgrima. Mas a guerra aproxima-se e, nos campos de batalha do Norte gélido, luta-se com regras mais sangrentas.
Ao inquisidor Glokta, torturado convertido em torturador, nada agradaria mais do que ver Jezal regressar a casa num caixão. Mas também é verdade que o seu ódio será extensível a todos os que conhece. Extirpar a traição no coração da União, uma confissão de cada vez, não deixa um grande espaço para amizades e o mais recente rasto de cadáveres poderá conduzir directamente ao coração enfermo do Governo… se conseguir sobreviver durante tempo suficiente para o seguir…

Joe Abercrombie nasceu em Lancaster, Inglaterra, no último dia de 1974. Foi educado na pretensiosa Lancaster Royal Grammar School, só para rapazes, onde passou muito do seu tempo a jogar computador, dados, e a desenhar mapas de locais que não existem. De seguida foi para a Universidade de Manchester estudar Psicologia. Tendo sempre o sonho de, sozinho, redefinir o género fantástico, começou a escrever uma trilogia épica baseada nas desventuras de um bárbaro, Logen Ninefingers. O resultado foi uma treta pomposa, que rapidamente abandonou. Joe mudou-se para Londres, onde viveu numa espelunca com dois homens à beira da loucura.
Com um esforço heróico e o apoio da sua família, terminou A Lâmina, em 2004, sendo publicada junto de um público insuspeito em 2006. Desde então já foi publicada em catorze países e as sequelas, Antes que Sejam Enforcados e O Último Argumento dos Reis foram publicadas em 2007 e 2008, respectivamente.

domingo, 26 de junho de 2011

Sedução na Noite (Sherrilyn Kenyon)

Valério Magno. A sua vida humana foi feita de dor e de violência. Da vida imortal, pouco tem para além do desprezo dos seus iguais e uma vida de rotina e de formalidade onde a luta de todas as noites é tudo o que verdadeiramente interessa. Até ao dia em que se cruza com Tabitha Devereaux. Estranha, imprevisível - e ligada à família do seu inimigo mortal - Tabby representa para Valério toda uma mudança no seu mundo... e a descoberta da ternura como nunca a conheceu.
É um elemento característico dos livros desta série (e também um dos meus aspectos preferidos) a figura de um protagonista com um passado tormentoso. As dificuldades e as humilhações de uma vida humana onde dor, traição, desprezo ou violência são os passos essenciais e o caminho para uma vingança com o preço da eternidade, caracterizam o percurso de muitos dos Predadores da Noite. E, neste livro em concreto, a autora associa a difícil história de Valério à já conhecida história de um outro dos seus protagonistas. Através de Tabby, os mundos de Kyrian e Valério entram em directa colisão e, mais que a descoberta do romance no mundo frio e formal do general romano, é a forma como, perante uma ameaça maior, as marcas de um passado de ódio acabam por, de certa forma, ser atenuadas.
Claro que os elementos de romance e sensualidade continuam a ser explorados de forma bastante detalhada ao longo do livro. Ainda assim, é o facto de haver mais para lá do simples elo romântico entre o casal protagonista que torna esta leitura tão interessante. O passado de diferentes personagens, a aura de mistério que envolve alguns deles e o revisitar de personagens já muito conhecidas, transmitindo uma visão da sua vida após o encerrar da história que lhes disse respeito, fazem com que a leitura se torne mais envolvente e interessante.
Mais uma vez, a autora apresenta algumas respostas para a história e os mistérios de algumas personagens (Acheron, em particular). Mas, mais uma vez, surgem também novas perguntas para cada resposta revelada e se a história principal deste livro fica resolvida (ainda que, nalguns momentos, de forma um pouco apressada), ficam também muitas possibilidades a explorar e uma certa curiosidade em saber o que virar depois.
Envolvente, com bastante de sensual e uma história que não se limita ao romance, um livro onde o equilíbrio entre romance, emoção e humor tornam difícil interromper a leitura. Um belo regresso a um mundo ainda com muito para descobrir.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Parque de Mansfield (Jane Austen)

Numa tentativa da atenuar as dificuldades de um familiar, a família Bertram recebe Fanny Price na sua casa em Mansfield. Aí, o que se espera de Fanny é um comportamento exemplar, mas que fique sempre abaixo do nível das primas, e uma submissão sem reservas à vontade familiar. Mas se, calada e insegura, Fanny dificilmente pareceria capaz de chamar as atenções sobre si, a vida social dos Bertram acaba por despertar interesses nos irmãos Crawford.
É inevitável estabelecer uma comparação entre a protagonista deste livro e a de Orgulho e Preconceito. Enquanto Elizabeth Bennett marca pela determinação, bem como pela aprendizagem através das mudanças, o que transparece de Fanny Price é, acima de tudo, uma tímida insegurança que a torna, por vezes, demasiado discreta. Crescendo à sombra das primas, numa família que, com a notável excepção de Edmundo, tende a ver a sua presença como simplesmente tolerada, Fanny acaba por se revelar, essencialmente, uma observadora do mundo em seu redor e, também por isso, uma das figuras menos interessantes do livro.
Mas se, por si só, a natureza de Fanny não é particularmente cativante, é na relação com esta que se criam empatias e aversões para com outros intervenientes na narrativa. Mrs. Norris, em particular, com a sua postura mesquinha e algo hipócrita, acaba por criar uma certa empatia para com a protagonista, ao mesmo tempo que, em contraste com a sobriedade de Edmundo, a arrogância das irmãs Bertram e a severidade do chefe de família, criam uma visão bastante completa e precisa do que seriam as normas da sociedade na época.
É, na verdade, nessa caracterização da sociedade que se encontra a grande força deste livro. Mais que na história da protagonista e de um amor que, por vezes, se desvanece na timidez natural de Fanny e nas suas dúvidas essenciais, é o retrato social, onde os preconceitos e os escândalos se definem de forma particularmente clara, que realmente cativa ao longo desta leitura. E é por isso que, ainda que não tenha a força cativante de, por exemplo, Orgulho e Preconceito, não deixa de haver muito de interessante neste livro. Gostei.

Convite

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Lacuna (Barbara Kingsolver)

Filho de pai americano e de mãe mexicana, Harrison William Shepherd viveu a sua vida entre ambos os países sem pertencer verdadeiramente a nenhum. E esta é a sua história, desde a criança arrastada de um lado para o outro segundo o rumo das aventuras amorosas da mãe, ao cozinheiro de Diego Rivera e Frida Kahlo, depois secretário de Lev Trotsky e, por fim, escritor de romances históricos primeiro adorado, depois odiado. O percurso de uma vida discreta, contada pela sua própria voz, mas também uma história sobre as memórias pessoais e as grandes verdades da história - não necessariamente do ponto de vista dos vencedores.
Cativante, ainda que de ritmo bastante pausado, este é um livro que marca principalmente pela forma completa como caracteriza não só o protagonista, mas o mundo segundo os olhos dele. Com uma estrutura peculiar, englobando artigos, criticas e os diários pessoais de Shepherd, é particularmente interessante a forma como a voz narrativa se adapta para acompanhar o crescimento efectivo do narrador. Os seus diários de infância têm um tom completamente diferente dos seus últimos escritos e, ainda que os valores essenciais permaneçam os mesmos, a postura perante o mundo torna-se mais realista. Além disso, as intervenções da arquivista (e a sua própria história), bem como os elementos associados à imprensa permitem uma visão bastante completa do ambiente onde a história de Shepherd se situa.
Há grandes verdades a serem abordadas ao longo deste livro, principalmente no que respeita à questão do comunismo e dos comportamentos antiamericanos, bem como toda uma caminhada ao longo da história e das suas mudanças ao longo do tempo de uma vida humana. Há também uma visão bastante amarga dos poderes e comportamentos da imprensa, já que a vida do protagonista acaba por ser condicionada por uma opinião pública manipulada e pela descontextualização das suas palavras. Todos estes aspectos, e ainda a história de Diego e Frida, e também de Trotsky, são explorados de forma cuidada, atenta, detalhada, e o resultado é um livro onde, quer pelas pequenas coisas que afectam o protagonista, quer pela visão da história através dos seus olhos, abala e apela à reflexão.
Não é, de forma alguma, uma leitura leve, já que, apesar da fluidez da escrita e da beleza das descrições, os temas são pesados e abordados com a seriedade que merecem. É, ainda assim, uma leitura cativante, marcante, quer no aspecto histórico, quer na forma como personagem comunica com o leitor. E é por isso, acima de tudo, que este livro fica na memória.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Corpo Recusado (Luísa Dacosta)

Melancolia, introspecção e uma certa aura de fatalidade são os elementos essenciais dos contos que constituem este livro onde cada pequeno episódio é a base para alguma reflexão ou para um despertar de sentimentos expressos em tom bastante poético. É, na verdade, esse tom poético e contemplativo a linha comum dos diferentes contos e se, nalguns deles, o resultado é de uma beleza fascinante, noutros há em que a sensação que fica é de algo em falta.
Os primeiros contos são bastante breves, quase fragmentos de uma história maior. Em Antecipação de Outono, são os pequenos atritos de uma relação que, de forma cativante e com alguma poesia à mistura, transparecem de um pequeno episódio. Exercícios de imaginação é feito de pequenos diálogos, em parte poéticos, em parte surreais, belos pela expressão das palavras, mas deixando a sensação de algo incompleto. E Reflexos na água é simplesmente uma história de amantes, em tom de nostalgia, mas algo confuso.
Corpo Recusado, o conto que dá título ao livro, é, também, de longe, o meu favorito. O que o texto apresenta é, na sua essência, a visão de uma noite de insónia e de memórias na vida de uma mulher marcada por solidão e relações tormentosas, e a expressão dessa experiência surge de forma emotiva, intensa, por vezes angustiante e desoladora na complexidade de circunstâncias e na profundidade dos sentimentos. Também perturbador é Angústia, história de um sonho de regresso ao passado, melancólico e progressivamente mais sombrio, ainda que termine de forma algo abrupta.
Inflidelidades, pulseiras e agências de viagem marca principalmente pelo tom amargo com que é apresentada esta história de mulheres e amantes, onde o exagero na farsa da reconciliação reflecte uma realidade demasiado comum. Já em Na biblioteca, com rosto desconhecido há mais que de reflexão que de narrativa, no retrato de uma mulher feito em tom contemplativo e meditando sobre a passagem do tempo.
Breve, mas intenso, Suicídio no cabeleireiro mostra, numa simples conversa, como são pequenas aos olhos do mundo as tragédias pessoais de cada um. Ao que se segue Mulher no jardim do amor, um olhar sobre a cidade através dos sentimentos de uma mulher. Melancólico e algo fatalista, perde-se, por vezes, no fluir das longas descrições, mas o final particularmente marcante dá força à emotividade patente na generalidade do texto. Ainda, retomando a temática do suicídio, Notícia no jornal de amanhã traz uma breve visão da reacção do mundo a um caso próximo. Mais uma vez, é o fatalismo o que mais se evidencia.
-Até segunda! Bom fim-de-semana! trata essencialmente da antecipação de um fim-de-semana solitário, num conto bastante descritivo, em tom de divagação e que deixa a sensação de qualquer coisa em falta. O mesmo acontece em Oceanos interiores, longa e detalhada viagem pelo passado. Poético, transbordante de uma sensação de perda e interessante pelo encontro de memórias comuns, deixa, ainda assim, a sensação de que a linha de acontecimentos se perde entre a descrição.
Por último, O bom nome das família fala de escândalos e dos interesses egoístas que movem cada preocupação. Cru, directo e estranhamente verdadeiro, um conto breve, mas de grande intensidade.
Terminada esta leitura, a impressão final é, inevitavelmente, ambígua. A poesia na escrita, o lado sentimental, a nostalgia e a perda são elementos que marcam e cativam, principalmente nalguns contos. Noutros, contudo, fica a impressão de algo em falta para acompanhar a linha de reflexão. O resultado é uma leitura que nunca será fácil, mas que, nalguns momentos, se torna familiar nos sentimentos que evoca. E foi isso que, ainda que apenas nalguns dos textos, me cativou.

Convite

Novidade Porto Editora

Uma mulher aparece misteriosamente morta numa embarcação de recreio ao largo do arquipélago de Estocolmo. O seu corpo está seco, mas a autópsia revela que os pulmões estão cheios de água. No dia seguinte, Carl Palmcrona, diretor-geral de Armamento e Infraestruturas de Defesa da Suécia, é encontrado enforcado em casa. O corpo parece flutuar ao som de uma enigmática música de violino que ecoa por todo o apartamento.
Chamado ao local, o comissário da polícia Joona Lina sabe que na sua profissão não se pode deixar enganar pelas aparências e que um presumível suicídio não é razão suficiente para fechar o caso. Haverá possibilidade de estes dois casos estarem relacionados? O que poderia unir duas pessoas que aparentemente não se conheciam?
Longe de imaginar o que está por detrás destas mortes, Joona Lina mergulhará numa investigação que o conduzirá, através de uma vertiginosa sucessão de acontecimentos, a uma descoberta diabólica. Existem pactos que nem mesmo a morte pode quebrar…

Lars Kepler é o pseudónimo de uma dupla de sucesso na Suécia: Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril. O Hipnotista, anteriormente publicado pela Porto Editora, foi o primeiro livro que escreveram juntos e está a ser adaptado ao cinema pela mão do realizador Lasse Hallström. Os direitos de tradução estão cedidos até ao momento para 24 países.

Novidade Esfera dos Livros

Não há nada mais difícil do que revelar um segredo. Violeta Guerra sabia-o, por isso tinha-o guardado a sete chaves, há mais de um ano, com medo de ser julgada, de, ao dizê-lo, torná-lo real. Contudo estava longe de imaginar que, ao abrir as portas do seu coração às suas duas melhores amigas, a sua vida iria sofrer uma tamanha transformação. Mas a vida é realmente uma caixa de surpresas. Depois de perder o emprego e de se libertar de uma relação amorosa sem futuro, Violeta, aos 33 anos, está pronta para enfrentar a vida tal como ela é, com as suas alegrias, tristezas, perdas, obstáculos e vitórias. Para isso, conta com a ajuda das suas amigas, Rita, a eterna solteirona, que faz da vida uma festa e não pretende ficar refém do amor, e Inês, casada, mãe de duas filhas, que não se deixa levar nem pela morte nem pela doença que abala a sua família. Amigas que estão sempre presentes, nos bons e nos maus momentos, nas alegrias e na dor, para dar a mão ou puxar por ela quando precisamos de coragem. Juntas estão dispostas a tudo para serem felizes e encontrarem o amor, nas suas mais diferentes formas.

Luísa Jeremias nasceu em Lisboa, formou-se em Comunicação Social, na Universidade Nova de Lisboa, e tornou-se jornalista. Começou a trabalhar, em 1992, no jornal Diário de Notícias, passando depois por A Capital e 24horas. Em 2003 estreou-se nas revistas, como directora da TV 7 Dias e, mais tarde, Nova Gente e Focus. É directora das revistas TV Guia e Flash!. Pelo caminho, fez incursões em guião e documentário para as antigas produtoras NBP e Multicena e é co-autora do livro Noites de Lisboa.

terça-feira, 21 de junho de 2011

História do Ladrão do Corpo (Anne Rice)

Seguir regras é algo alheio à natureza de Lestat de Lioncourt. E o passar do tempo, tal como o desenvolvimento dos seus poderes, tornou-o ávido de novas experiências. Assim, quando o seu caminho se cruza com o de Raglan James, é-lhe impossível, apesar de todos os avisos, recusar a proposta que ele lhe apresenta. Pois, na sua existência eterna, Lestat pergunta-se... Não será retornar à humanidade o desejo de qualquer vampiro? E não valerá essa experiência qualquer risco?
É na personalidade de Lestat, ousada, complexa e por vezes contraditória, que reside a grande força desta série. E a sua natureza volta a revelar-se em toda a sua força neste livro. Com a ambição de quem tem de conseguir quanto deseja, mas também com uma certa amargura de quem viveu muito e perdeu algo ao longo do caminho, é o próprio Lestat quem dá voz ao seu percurso, transmitindo, de uma forma muito pessoal - e que reflecte na perfeição as contradições da sua natureza - tanto os seus momentos de arrogância, como as suas falhas e demónios interiores.
Há alguns momentos em que, neste livro, as acções de Lestat se tornam previsíveis. Aqui, marca particularmente a sua ingenuidade perante as intenções de Raglan James, já que, para o leitor, não é difícil adivinhar o que vai acontecer. Este é também, ainda assim, um novo reflexo da arrogância que, inevitavelmente, define a personalidade do vampiro e a história das suas consequentes dificuldades compensa amplamente esses elementos expectáveis.
Ainda de referir os momentos de vulnerabilidade do protagonista e a forma como estes se relacionam com o percurso de outras personagens. A recusa de Louis, a breve aparição de Marius e a constância de David (esta particularmente marcante pela forma como virá a ser "recompensada") dão emotividade a um mundo de que Lestat é a figura central, mas não a única cujos sentimentos e experiências importam.
Não tem a complexidade ou a força de personagens de, por exemplo, A Rainha dos Malditos. Ainda assim, esta História do Ladrão de Corpo dá continuidade às aventuras de uma personagem fascinante e, como tal, com os seus momentos marcante se o seu percurso cativante, não poderia deixar de ser uma boa leitura.

Novidade Porto Editora

No Inverno de 1976, em plena ditadura, Simón Cardoso é detido pelos militares argentinos e nunca mais volta a aparecer. Trinta anos depois, porém, a sua mulher, Emilia Dupuy, fica paralisada ao ouvir a sua voz num restaurante dos arredores de New Jersey. O mundo, que se desmoronara com a tragédia, recupera então a luz. Será possível reaver
o tempo perdido?
A partir deste inusitado encontro, Tomás Eloy Martínez enlaça a ansiedade de um amor perdido e recuperado com a reconstrução magistral da irrealidade criada pelo exílio – um exílio que ele próprio conheceu.
Aliando uma linguagem sóbria e uma história tão estranha quanto intensamente real, Purgatório ficará por ventura como a melhor obra de um autor já reconhecido como um clássico pela crítica internacional.

Jornalista, professor e escritor, Tomás Eloy Martínez nasceu em Tucumán, Argentina, em 1934. Viveu vários anos no exílio e é autor de dois romances considerados clássicos da literatura argentina: La Novela de Perón (1985) e Santa Evita (1995), que foram traduzidos em mais de 30 línguas e publicados em mais de 60 países. Galardoado com inúmeros prémios, foi finalista de primeira edição do Man Booker International em 2005. Faleceu em Janeiro de 2010.

Novidade 1001 Mundos

Monica Vespucci usava um crachá que dizia “Os Vampiros também são Pessoas”. Não era um início de noite prometedor. Tinha cabelo curto, habilmente cortado, e uma maquilhagem perfeita. O crachá devia ter-me alertado para o tipo de despedida de solteira que planeara. Há dias em que sou demasiado lenta a perceber as coisas.

“Eu usava jeans negros, botas até ao joelho e uma blusa carmesim, de mangas compridas, para esconder a bainha da faca que trazia no pulso direito, e as cicatrizes no meu braço esquerdo. Deixara a minha arma na mala do carro, pois não achava que a despedida de solteira se pudesse descontrolar por aí além…”



segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Assédio (Arturo Pérez-Reverte)

Há um mistério em Cádis. Enquanto a cidade está a ser bombardeada pelos franceses, várias raparigas aparecem mortas à chicotada, sendo a sua morte mais ou menos coincidente com a queda de bombas em locais próximos. E enquanto o comissário Tizón tenta descobrir o culpado dessas mortes misteriosas, outros há que tentam tirar o melhor partido da situação da cidade, correndo os riscos necessários à sua busca pela fortuna.
São muitos e diferentes os elementos que o autor conjuga neste romance. O mistério (nas mortes por explicar), a guerra, a situação política, o quotidiano da época e os riscos da vida de corso são apenas os elementos mais evidentes ao longo das mais de 600 páginas que constituem este livro. O resultado é um romance complexo, com uma escrita fluída e a atenção ao detalhe, mas onde a multiplicidade de elementos e personagens resulta num ritmo lento, onde os momentos mais parados e descritivos acabam por roubar parte da intensidade aos momentos mais marcantes.
São muitas as histórias que se cruzam ao longo desta narrativa e as muitas personagens presentes permitem uma grande diversidade de personalidades - umas mais interessantes que outras. De nenhuma delas se poderá dizer que seja perfeita ou mesmo particularmente louvável a nível de valores, mas há motivos e histórias por detrás de cada acção, sendo isto particularmente nas figuras do comissário Tizón e do corsário Pepe Lobo. São, aliás, estes dois os que protagonizam os momentos de maior intensidade emocional e também as linhas mais envolventes da narrativa.
De referir, por último, a forma como, apesar de separadas durante grande parte do enredo, todos ou quase todos os caminhos se cruzam em algum ponto do romance, o que, mesmo nos casos em que o contacto é breve, transmite uma sólida sensação de unidade, ao mesmo tempo que dá aos momentos mais monótonos uma razão de ser.
Dificilmente será um livro de leitura compulsiva, com as suas múltiplas histórias e figuras. É, ainda assim, quer pela intensidade dos melhores momentos, quer pela beleza da escrita e pela construção das personagens, uma leitura interessante, com uma história complexa e uma série de detalhes a descobrir.

Convite

Novidade Esfera dos Livros

Carlos e Nicole conheceram-se nas ruas de Paris. As tropas alemãs avançavam em passo forte e determinado, mas todos acreditavam que a capital francesa estava a salvo da loucura de Adolf Hitler. Enganavam-se. Em poucas semanas, as tropas nazis estavam às portas de Paris e milhares de refugiados procuravam salvação. Nicole encontrou-a em Bordéus pelas mãos do embaixador Aristides de Sousa Mendes que lhe entregou um visto para chegar até Portugal, onde finalmente cairia nos braços do seu amado. Longe da guerra, longe do perigo, longe do estigma de ser judia, seria finalmente feliz. Mas há preconceitos que são difíceis de quebrar e mais uma vez os dois amantes são obrigados a seguir caminhos diferentes. Carlos fica em Lisboa, entre os negócios do pai, um homem influente na sociedade salazarista e a doença da mãe. Nicole parte para Londres, uma cidade que vive dias dramáticos sob a ameaça de ser bombardeada pela aviação alemã. Participa no esforço de guerra da melhor forma que sabe, vestindo a farda de enfermeira, pondo em risco a sua vida para ajudar os outros. Na esperança de conseguir esquecer Carlos. Contudo no meio dos escombros da Segunda Guerra Mundial há um amor capaz de resistir a tudo.

Júlio Magalhães é jornalista e pivot da TVI. Autor de três bestsellers com mais de 100 mil exemplares vendidos. Nasceu no Porto a 7 de Fevereiro de 1963 e foi para Angola com 7 meses. Em 1975 regressou a Portugal e à cidade do Porto. Aos 19 anos, iniciou a sua carreira como colaborador de O Comércio do Porto na área do desporto. Trabalhou no jornal Europeu, no semanário O Liberal, na Rádio Nova. Em 1990, estreou-se na RTP onde foi jornalista e repórter. Foi director de Informação da TVI.

Novidade Sextante

O manuscrito de um livro – uma narrativa policial passada em Portugal e na fronteira do Brasil com a Bolívia – é encontrado numa carruagem do metropolitano de Lisboa e chega às mãos do editor Soares dos Reis.
O manuscrito testemunha afinal uma história verdadeira, e Max, um líder mafioso, exige a edição do livro em troca de dinheiro e protecção. Nada é o que parece ser, várias histórias se cruzam, de velhos assaltantes de ourivesarias, da bela ucraniana Natasha, de um antigo sargento da guerra da Chechénia, enfim, o bandido Maximiliano candidata-se a vereador e o final surpreendente confirma a ideia de que a boa história é aquela que nunca acaba.

Jacinto Rego de Almeida nasceu no ano de 1942 em Alcanhões (Santarém), onde reside actualmente. Entre 1968 e 2004 viveu no estrangeiro, exilado até 1974, e no exercício do cargo de conselheiro económico da Embaixada de Portugal no Brasil após a Revolução de Abril. Os seus livros abrangem os domínios da crónica, conto, romance e literatura de viagem.
Tem editadas três coletâneas de contos: As palavras e os atos, publicada no ano seguinte em Lisboa com o título O afiador de facas; O monóculo; e A gravação. O seu livro Um olhar sobre o Brasil é o título de uma coletânea de crónicas publicadas no JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias. Em coautoria com Carlos Cáceres Monteiro, publicou Mistérios da Amazónia – Cadernos
de uma expedição nas Guianas e no Brasil. Tem editados três romances: Crime de Estado (Editorial Notícias, Lisboa, 1998), O diplomata e o agente funerário (Geração Editorial, São Paulo, 2003) e O assassinato de Berta Linhares (Sextante Editora, Lisboa, 2009).
É colaborador do JL e têm sido publicados contos e crónicas da sua autoria em vários jornais e revistas em Portugal e no estrangeiro.

Passatempo O Perfume da Savana / A Mulher do Capitão

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com o autor Ludgero Nascimento dos Santos, tem para oferecer dois exemplares dos livros O Perfume da Savana e A Mulher do Capitão. Para participar basta responder às seguintes questões:

1. Qual a editora de O Perfume da Savana?
2. Em que ano nasceu o autor?

Regras do Passatempo:

- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 27 de Junho. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada completos);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

domingo, 19 de junho de 2011

Love Bites - primeira parte

Há algo de sedutor na ideia do vampiro enquanto criatura imortal: beleza eterna, eterna juventude, capacidades para lá do alcance de qualquer humano. Graça, encanto e sombria sensualidade. É o potencial para o romance desse ser intemporal que é, de diferentes formas, explorado nos vários contos que constituem o livro.
O conto de abertura é também um dos meus preferidos desta antologia. Paris after Dark, de Jordan Summers, conta a história de Rachel e de como, ainda assombrada pelo caso que resultou na morte do parceiro, esta se vê na necessidade de interferir no que julga ser um caso de violência doméstica. Mas a situação não é o que parece e o seu adversário não é exactamente humano. Trata-se de um conto envolvente, sombrio, com um mistério cativante, bons momentos de tensão e uma certa medida de atracção. É também bastante interessante a visão da autora relativamente ao vampirismo e Gabriel é uma figura bastante intrigante.
Segue-se Coven of Mercy, de Deborah Cooke, a história de uma luta sem tréguas contra o cancro e de uma paciente que recebe a visita de um desconhecido estranhamente familiar. Interessante a forma como os motivos para lutar que alimentam o percurso da protagonista se cruzam com as normas usadas pelos vampiros para a escolha das suas presas. Falta, principalmente na fase inicial, um pouco mais de energia, mas a mensagem é forte e a história é cativante.
Le Cirque de la Nuit, de Karen McInerney, tem como protagonista uma trapezista insatisfeita com as atitudes do seu parceiro e que decide investigar as possibilidades de integração no lendário Cirque de la Nuit, sem saber, contudo, que há uma condição especial inerente aos membros dessa companhia. Com um início bastante descritivo, a linha base da história é bastante interessante, mas os aspectos mais importantes acabam por ser abordados de forma demasiado breve, deixando a sensação de faltar alguma coisa.
A chegada de uma mulher estranha com uma missão a cumprir é a base de Perdition, um conto de Caitlin Kittredge onde o peso das memórias define o rumo da protagonista e da sua relação com um amante invulgar. O início é um pouco confuso, devido às oscilações entre presente e memória, mas a história evolui de forma bastante interessante, com uma boa medida de mistério e uma abordagem mais clássica à figura do vampiro (e seu potencial malévolo), que culminará num final marcante.
Deliver Us From Evil, de Dina James, apresenta um vampiro não muito satisfeito com a mortalidade e a forma como este encontra refúgio na companhia de uma vidente, apenas para descobrir que essa mulher exerce sobre si uma estranha influência. Ideia intrigante, caracterização bastante cativante do vampiro (com uma personalidade em que a hesitação alterna com algo de arrogância), um conto envolvente, mas algo surreal na relação dos protagonistas. Interessante, ainda assim, a relação entre anjos e vampiros e a história (ainda que algo apressada) de Marcos.
Segue-se Blood and Thyme, de Camille Bacon-Smith. A história é a do dono de uma importante e invulgar empresa de catering e da sua busca por uma chef adequada. Mas nem ela é só uma empregada nem ele é apenas um homem. Interessante pelo ambiente invulgar, ainda que com um ritmo algo pausado e inicialmente confuso, um conto que cativa principalmente pela forma como, através da alternância de pontos de vista, a autora apresenta a ligação que cresce entre ambos os protagonistas, dando à história uma envolvência progressivamente maior.
Into the Mist for Ever, de Rosemary Laurey, tem início num dia de caça em que dois oficiais romanos se deparam com uma adversária particularmente dotada, forte e misteriosa. E se tanto a caçadora como o cirurgião romano têm conhecimentos na arte da cura, há um deles cujas capacidades transcendem a natureza humana. Interessante o ambiente e a época histórica escolhidas, como base para uma história onde a relação entre os protagonistas evolui gradualmente (ainda que algo centrada na atracção física), resultando num conto envolvente, agradável e com um final surpreendente, ainda que algo apressado.
Por último, Blood Feud, de Patti O'Shea, conta a história de como, após uma série de mortes entre os vampiros do seu clã, Isobel é enviada para investigar. Mas o principal suspeito é um demónio e, por isso, também estes enviam alguém. O problema é que esse alguém é o antigo amante de Isobel... Misterioso, envolvente desde o início, com uma boa medida de sensualidade, o mais interessante neste conto é, ainda assim, a interacção entre vampiros e demónios. Também a alternância de pontos de vista permite conhecer a fundo as emoções dos protagonistas, tornando mais cativante a relação entre o passado de ambos. Pena o final um pouco brusco.

Até agora uma leitura bastante agradável, sendo o primeiro conto particularmente cativante, mas onde todos eles têm alguns pontos de interesse, esta antologia é também uma boa forma de descobrir novas autoras. Mas, porque a opinião já vai longa, o comentário aos contos deste livro continuará num futuro post.

Três Cavalos (Erri De Luca)

Algures em Itália, um homem conhece uma mulher. A sua presença quebra a rotina do seu trabalho e da leitura e apresenta-lhe novamente as possibilidades do amor. Mas há na vida aquela sombra de um passado distante e, com a descoberta dos sentimentos, despertam também as memórias, os fantasmas de um tempo que passou, mas que deixou marcas impossíveis de apagar.
Há uma nostalgia que se insinua desde as primeiras páginas deste livro e que, à medida que o protagonista mergulha no seu passado, se torna, em toda a sua força, numa clara reflexão sobre o passado e a memória. Com um tom de divagação, introspectivo e, por vezes, algo poético, o autor constrói, mais que uma história, um retrato da alma do seu protagonista, com todas as cicatrizes associadas ao passado.
O que começa por parecer um simples devaneio, um percurso de gestos e manias quotidianas (e aqui impõe-se referir a interessante relação do protagonista com os livros), ganha intensidade à medida que, enquanto o amor se impõe, também a memória parece caminhar na direcção de algo doloroso, mais sombrio e, talvez, por isso mesmo inesquecível. Assim, e através de uma divagação entre presente e memória, voltando ao passado em fragmentos - como que à medida que eles surgem na memória do protagonista! - o autor constrói uma linha de emoções que, mais até que os acontecimentos físicos e reais, fica na memória, pela força dos sentimentos que evoca.
Um livro breve, mas de grande força emotiva, este Três Cavalos é também, de certa forma, uma reflexão sobre a forma como aquilo que cada um vive define, no fim de contas, a pessoa em que acaba por se tornar. Evocando sentimentos que vão da suave melancolia ao medo absoluto, é a intensidade das memórias que marca ao longo desta leitura. E é isso mesmo que a torna tão fascinante.

sábado, 18 de junho de 2011

O Ícone (Gary Van Haas)

Garth Hanson é um artista com problemas. Os sonhos de sucesso não se revelaram tão simples na realidade e, por isso, as dívidas acumulam-se. Por isso, quando um estranho o visita com uma proposta irrecusável, Garth não tem alternativa a não ser deslocar-se às ilhas gregas para cumprir a sua parte do acordo: fazer uma cópia do ícone de Tinos. O problema é que, chegado a Mikonos, Garth descobre que há uma superstição associada ao objecto e um interesse maior que o simples lucro com a falsificação do ícone...
É bastante interessante a ideia que serve de base a este livro. A questão do ícone e da possível maldição levanta algumas possibilidades intrigantes e o mesmo acontece com o mistério associado a John Ralston. Além disso, há uma intensidade no ritmo dos acontecimentos que, sem prelúdios ou grandes descrições, dá à leitura uma certa envolvência, já que a acção é algo de quase constante.
O que me leva ao principal problema: tudo parece acontecer depressa demais. Desde o momento em que Garth conhece o seu "empregador" até à resolução final dos acontecimentos, o foco está sempre numa linha de acontecimentos, deixando para segundo plano não só algumas justificações necessárias, mas também a caracterização de ambiente e a definição das personagens. Até mesmo os vislumbres do passado de Garth são percorridos de forma apressada e algo superficial.
Fica também a impressão de que existem demasiados elementos em jogo e que parte deles se perdem ao longo do percurso. Das mortes associadas ao ícone fica apenas uma referência vaga. Da relação entre Garth e Linda uma vastidão de possibilidades por explorar. E de toda a conspiração em redor do segredo oculto no Ícone a impressão de que muito mais haveria a dizer.
Há alguns bons momentos ao longo da narrativa e, de modo geral, é uma leitura agradável. É inevitável, ainda assim, a constante sensação de que falta qualquer coisa. E foi esse potencial inexplorado que fez com que, apesar de uma escrita envolvente e de uma história com alguns pontos de interesse, este livro não me cativasse por completo.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Hell Fire (Ann Aguirre)

Determinada a encontrar algumas respostas para os mistérios do seu passado, Corine Solomon regressa a Kilmer, onde, supostamente, a sua mãe morreu num incêndio. Mas há algo de estranho a acontecer. Fora da localidade, ninguém conhece seja o que for sobre Kilmer e, apesar dos seus poderes sobrenaturais, bem como dos do seu ex-namorado Chance, de Jesse (amigo que quer ser algo mais) e de um Chihuahua no mínimo invulgar, há uma força que bloqueia o mundo em redor e algo de negro escondido nos bosques...
Bastante de acção, mas também um bom nível de concentração nas relações dos protagonistas são os principais elementos que constituem este livro. E, tanto no mistério principal (que diz respeito, afinal, ao passado de Corine e à morte da sua mãe) como nas questões por resolver entre a protagonista e Chance, há uma grande predominância do passado, enquanto marca e enquanto influência no rumo dos acontecimentos. Primeiro, porque muitos dos acontecimentos estranhos a decorrer em Kilmer estão ligados ao que aconteceu na noite em que a mãe de Corine morreu. E depois porque, com boas ou más intenções, muitas das forças sobrenaturais em conflito estão, de certa forma, ligadas à protagonista.
Num tom de constante mistério, associado a uma certa medida de introspecção perante o passado, a autora relaciona de forma bastante interessante as questões do passado e os acontecimentos em curso. Ainda assim, há um certo contraste entre as novas descobertas (os poderes de Shannon, o grupo dos Doze, o demónio nos bosques) e as questões pessoais que já vinham do livro anterior - e aqui é particularmente interessante notar as mudanças operadas em Chance, ainda que a situação deste acabe por deixar, na fase final, algumas questões em aberto.
Cativante, com alguns momentos sombrios e algumas mudanças interessantes na postura das personagens, Hell Fire responde a algumas das perguntas levantadas no livro anterior, deixando no seu lugar novas dúvidas e possibilidades. Fica, no fim, a curiosidade em saber que novas aventuras aguardarão Corine Solomon, agora que o passado está - dentro dos possíveis - resolvido.

Novidade Noites Brancas

Nancy Thayer estreia-se em Portugal com um romance “absorvente sobre as coisas que realmente importam na vida”. Quem o diz é Susan Wiggs, escritora, a quem se juntam Elin Hilderbrand e Luanne Rice, todas rendidas ao enredo de A Praia da Memória.

No recém-editado romance, a autora bestseller do New York Times relata a história de Lexi e Clare, duas mulheres que lutam para reavivar uma amizade de infância corroída por palavras duras, traições e o passar dos anos. Tal como o refluxo das marés, a amizade das duas oscila entre os desejos de uma e as ambições da outra… e dez anos de ausência têm o seu peso, apesar de tudo o que viveram juntas.

A Praia da Memória explora a intensidade dos laços forjados numa verdadeira amizade, a força do perdão e a importância de nunca se perder a esperança.

Novidades Casa das Letras para Julho

O Que Se Leva Desta Vida
Alice Vieira
Memórias

O que se leva desta vida? Bom, cada um sabe de si, mas nós sabemos o que o leitor pode levar deste livro! Dependendo dos casos e das histórias levará um sorriso nos lábios, uma lágrima no canto do olho, um grito de esperança, uma sonora gargalhada, um olhar cúmplice, um reviver doutros tempos ou um sentir do toque do futuro…
O Que se Leva desta Vida são pequenas estórias escritas com o humor e a sensibilidade a que Alice Vieira sempre nos habituou.
Nas livrarias a 18 de Julho

Isaac Newton
James Gleick
Biografia

A biografia de Isaac Newton ou a história do principal arquitecto do mundo moderno. James Gleick expõe, neste livro, a vida solitária de Newton, fornecendo pistas valorosas para a melhor compreensão dos corpos, da inércia e do movimento – conceitos tão enraizados no século XX que poderíamos mesmo dizer que todos somos Newtonianos.
Livro finalista do Pulitzer.
Nas livrarias 18 de Julho

A Opereta dos Vadios
Francisco Moita Flores
Ficção Portuguesa

De repente, o País ficou de sobrolho carregado. Zangado. A bancarrota revolveu os intestinos da política e entregou ao Povo um sarilho cheio de fome. A democracia, com a barriga cheia de teias de aranha, desatou a vomitar vermes. De testa franzida. Fazedores de milagres. Gente que perdeu a virtude do riso. Portugal transformou-se num protectorado alemão e Zé Francisco, velho anarquista, exilado em Paris, com os seus amigos de sempre, vindos de todos os lados da política, decidiram criar um novo partido político (PUN) dispostos a ganhar as próximas eleições.
Neste seu novo romance, o autor propõe-nos uma sátira política sobre um país falido que fará o leitor, seguramente, soltar umas boas gargalhadas.
Nas livrarias a 11 de Julho

Novidade Bertrand

Depois de Al-Gharb 1146, Alberto Xavier traz-nos em ‘O Escandinavo Deslumbrado’ uma sátira de costumes onde predomina o absurdo, a ironia e a excentricidade.
Uma série de nove contos que se desenrola de forma dialogada e cuja característica comum é serem “contra-sensos”, no sentido de “nonsense” típico do humor inglês, em que sobressai a paródia, a brincadeira, o absurdo feito figura na mundanidade do salão ou na privacidade da sala onde se costuram intenções, se desfilam caprichos e bizarrias, vícios e excentricidades.
Certeiro nesta arte do contra-senso, denunciando ambições, vaidades, petulâncias, desprezos, Alberto Xavier comete assim a ousadia de criar um novo género literário, disciplina de humanidades.

Alberto Xavier nasceu em Lisboa, em 1942. Doutorado em Direito pela Universidade de Lisboa e Professor da Faculdade de Direito, radicou-se no Brasil, em 1975, onde exerce uma intensa vida universitária e advocacia empresarial. É autor de uma vastíssima obra na área da sua especialidade, publicada tanto no Brasil como em Portugal.
Publicou pela Bertrand Editora, em 2006, no campo da ficção, Al-Gharb 1146.

Convite

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Serpente de Pedra (Jason Goodwin)

Ataques inesperados no seio da comunidade grega em Istambul parecem coincidir com a chegada de um arqueólogo francês em busca das últimas relíquias bizantinas. Além disso, o ambiente que se vive na cidade é instável, já que o sultão está às portas da morte. Cabe, pois, a Yashim Togalu encontrar a solução para um mistério onde diferentes interesses se confundem e ele próprio é um possível suspeito.
Tal como no livro anterior, a grande força desta narrativa reside na visão abrangente que o autor apresenta para o que seria a vida na Istambul do século XIX. Desde os hábitos culinários de Yashim, aos seus contactos no palácio e à visão de um cenário perante uma mudança iminente, o autor constrói um mistério cativante, ao mesmo tempo que apresenta relações políticas, regras de convivência e gestos do quotidiano das muitas personagens que se cruzam ao longo desta história.
Não há propriamente uma grande exploração emocional nesta narrativa. Na verdade, e apesar das situações de perigo (e de alguns momentos de maior empatia), os caminhos que Yashim segue para a resolução do mistério são, na sua essência, racionais. Ainda assim, há algo de intrigante na forma como o protagonista, reservado por natureza, revela na sua necessidade de prestar auxílio, o melhor dos seus valores. Valores que se reflectem também nas suas peculiares amizades.
De referir, por último, a forma como, entre o mistério principal e a vida de personagens já conhecidas do livro anterior, o autor consegue apresentar algumas surpresas, ao mesmo tempo que deixa em aberto uma certa curiosidade quanto ao futuro das principais figuras do enredo, resolvendo o enigma de uma forma bastante clara, mas também com um toque de inesperado.
Cativante principalmente pela caracterização da cidade e dos que nela vivem, A Serpente de Pedra apresenta também um mistério intrigante, que, com as suas personagens peculiares e um rumo, por vezes, inesperado, resulta, no fim de tudo, numa leitura agradável.

Novidades Dom Quixote para Julho

Contos Escolhidos
Guy de Maupassant
Ficção Universal

Na presente edição, traduzida por Pedro Tamen, reúne-se uma selecção de contos daquele que é considerado o grande mestre do conto francês e um dos seus maiores expoentes na história da literatura: Guy de Maupassant.
Da vasta obra que o autor nos deixou, foram escolhidos quarenta e dois contos, divididos em três partes: Contos mundanos, amorosos, eróticos e galantes; Contos inquietantes, de horror e de mistério; Contos exemplares.
Nas livrarias a 18 de Julho

Sartoris
William Faulkner
Ficção Universal

Publicado em 1929, pouco antes de O Som e a Fúria, o romance Sartoris é o primeiro situado no condado fictício de Yoknapatawpha, no Mississípi. Nele, Faulkner, Prémio Nobel de Literatura, começa a estabelecer o estilo que marcaria todos os seus livros posteriores e pelo qual seria consagrado. Sartoris narra a trajectória de uma família decadente, de passado escravocrata, que vive à sombra do coronel John Sartoris, morto na Guerra de Secessão. A tia Jenny, a irmã mais nova do coronel, verdadeira guardiã do passado, e também da narrativa, é a mulher que alinhava, com a sua memória reiterada e reinventada, as tragédias das gerações dos homens da família – o velho Bayard, filho do coronel, e os dois netos gémeos, também chamados John Bayard.
Prefácio de Lídia Jorge.
Nas livrarias a 18 de Julho

Anjos Perdidos em Terra Queimada - Verão
Mons Kallentoft
Ficção Universal

Anjos Perdidos em Terra Queimada - Verão é o segundo volume da tetralogia de Mons Kallentoft que tem na inspectora Malin Fors a principal personagem e que os leitores começaram a conhecer em Sangue Vermelho em Campo de Neve - Outono, também editado pela Dom Quixote.
Nesta nova história, somos transportados para um enredo perturbador onde os preconceitos sexuais, a desconfiança face aos imigrantes, os amores desesperados e o ódio acumulado ao longo dos anos dão origem a um arrepiante cenário de crime e mistério.
Nas livrarias a 18 de Julho