sábado, 30 de novembro de 2013

Wishlist Natalícia

Pois é, está a chegar o Natal. E, se é verdade que qualquer altura é boa para dar e receber livros, o Natal é sempre um bom pretexto. Por isso, e depois de ter visto o post ao Pai Natal - este post - da Diana Marques, (e, se não conhecem o blogue dela, vão lá conhecer, porque vale a pena), decidi seguir-lhe o exemplo e retirar alguns desejos natalícios da minha própria e imensa wishlist. Que são, por exemplo, os que se seguem.


1. Luz e Sombra - Leigh Bardugo
Uma sinopse interessante, uma capa apelativa e a insistência com que este livro aparece nas recomendações do Goodreads despertaram-me a curiosidade para este livro. Além disso, quem me conhece sabe que a fantasia sempre foi um dos meus géneros favoritos, por isso, escusado será dizer que este livro faz o meu género.


2. A Rapariga que Roubava Livros - Markus Zusak
Este é um daqueles livros que estão na minha wishlist há tempos incontáveis e é um daqueles que, na minha impressão, toda a gente que conheço leu e quase todos adoraram. Juntem-se-lhe os factores do costume - sinopse e tema interessantes, capa também interessante e o facto de vir muito bem recomendado - e é um daqueles livros que, seja cedo ou tarde, tenho mesmo de ler.


3. Lugares Escuros - Gillian Flynn
Já ouviram falar no Gone Girl? Pois, também ainda não li esse. Mas li outro livro da autora - Objectos Cortantes - e gostei imenso, ao ponto de querer ler os outros livros desta senhora. E como o Gone Girl já está na pilha, falta-me este.


4. Dangerous Women - George R.R. Martin e Gardner Dozois (editores)
Algures durante o ano passado, li a antologia Songs of Love and Death, organizada por estes senhores e, depois de alguns contos particularmente marcantes, e de um reencontro especialmente bom (ah, o conto da Jacqueline Carey...) fiquei com vontade de ler outras antologias. Esta é a mais recente, além de ter uma lista de autores muito apelativa.



5. Allegiance - Beth Bernobich
Gostei muito dos volumes anteriores desta série. Tem um mundo muito interessante, um protagonista masculino que se tornou numa das minhas personagens favoritas e um interessante equilíbrio entre intriga de corte e questões pessoais. É uma série para seguir, pois claro.



6. Dark Currents - Jacqueline Carey
E não podia faltar nesta lista um livro desta senhora. Depois de seis livros - ou uma trilogia - e um conto lidos, esta é mais uma autora de quem quero ler absolutamente tudo. Escolhi este livro, por ser o início de uma série que parece ser muito diferente do que já li da autora - mas igualmente interessante.

Podia continuar. A totalidade da wishlist é um mundo bastante mais vasto do que esta pequena amostra. Mas não há necessidade de exagerar, pois não? Aqui está, portanto, uma breve selecção de livros que eu gostaria de encontrar no sapatinho. Só para o caso de o Pai Natal estar a ler... ;)

O Muro (Afonso Valente Batista)

Partiram para a guerra sem saber exactamente porquê, instados à acção por grandiosos discursos de orgulho e de luta pela preservação do império. Deixaram lá o sangue e os princípios da loucura, à qual resistiram também sem saber porquê, excepto que a construção de um muro - daquele muro que agora voltam a procurar - foi parte do que os salvou. Eram muitos naquele caminho, muitos os que foram ao encontro da guerra e que depois a trouxeram consigo. Restam as marcas e as recordações, numa memória em que o real e o imaginado se confundem. E o muro que talvez prove - se ainda lá estiver - que tudo aquilo aconteceu mesmo.
Mais que uma história da guerra, esta é uma história dos homens - ou de alguns entre muitos - que viveram a guerra. Isso é o que primeiro surpreende neste livro, em que, não havendo um protagonista que se destaque, mas antes um núcleo de indivíduos, o registo é, ainda assim, imensamente pessoal. Introspectivo, traçado em contornos de inevitável tristeza, este livro entra na alma das suas personagens, expondo-as ao leitor com uma clareza impressionante. Disto resulta, em primeiro lugar, uma forte empatia, mas também a necessidade de questionar o porquê do que é contado. Um pouco como aquilo que as próprias personagens fazem.
Associado, de certa forma, a este registo introspectivo, está o outro grande ponto forte deste livro: a escrita. Elaborada, bastante poética, mas muito eficaz na transmissão das imagens mais fortes, há na forma de contar esta história - ou histórias - uma fluidez cativante. Não compulsiva, até porque, a esta escrita bastante complexa junta-se uma construção da narrativa também complexa, com saltos temporais e muitas perspectivas a considerar. Mas cativante, porque se adapta perfeitamente ao que pretende contar, tanto a acontecimentos, como a sentimentos, como ainda a reflexões.
Ficam, em certos aspectos, algumas perguntas sem resposta. Ainda assim, esta relativa ambiguidade acaba por funcionar bem, em grande parte porque reflecte os conhecimentos que as próprias personagens têm ou não. Desta forma, fica também a impressão de uma vida depois da existência vivida naquele lugar. E a ideia de uma história que, apesar dos elementos deixados por contar, encontra a conclusão mais adequada.
Introspectivo e pautado pela melancolia, este é, pois, um livro que, longe dos grandes acontecimentos e de quaisquer possíveis feitos heróicos, marca principalmente pela forma como transmite a alma e a história das suas personagens. Cativante, ainda que de ritmo pausado, emocionalmente marcante e com muitas boas questões a ponderar, uma boa leitura.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Loop - O Círculo da Vida (Koji Suzuki)

Desde criança que Kaoru Futami revelou um génio invulgar. A sua curiosidade levou-o a investigar um lugar no deserto, ao qual associava uma zona de elevada longevidade. A partir da sua descoberta, o plano de uma viagem a esse lugar tornou-se o pacto de suporte da sua família. Mas, anos depois, a viagem não aconteceu e o pai está a morrer de um vírus que parece ameaçar o futuro de toda a vida na terra. A origem, parece estar associada a um vírus, e a uma história vivida noutra vida e protagonizada por três figuras: Takayama, Asakawa e Yamamura. Cabe a Kaoru partir, finalmente, na tão ansiada viagem. As respostas que encontrará, essas, nunca as poderia ter imaginado.
Apesar de representar uma conclusão para o enredo dos volumes anteriores, este livro pode perfeitamente ser lido independentemente deles, já que a história se completa em si mesmo. Mas, mais que isso, o enredo deste livro questiona grandes partes da base dos anteriores. Daí que, para quem leu os primeiros livros, esse elemento seja o que primeiro surpreende. Tudo o que aconteceu antes é colocado sob uma nova perspectiva, dando resposta para as questões mais nebulosas, mas levantando novas questões e até pondo em causa o que se julgava esclarecido.
Tendo isto em vista, e considerando, além desta nova perspectiva, um novo protagonista, há, inevitavelmente, uma certa impressão de estranheza, que, primeiro desperta curiosidade para o que se poderá seguir e logo de seguida se converte em fascínio. Mas há ainda um outro ponto. Se desde o início havia um equilíbrio entre os elementos científicos e o que se poderia considerar um elemento sobrenatural, neste último livro, os limites confundem-se ainda mais, com as possibilidades científicas a ocuparem o papel dominante, mas também a questionar limites para o que pode ou não ser feito e explicado - e para as possíveis consequências.
Não é propriamente um livro de leitura compulsiva. Quer na explicação de teorias, quer na descrição da experiências, o enredo avança a um ritmo pausado. Para isso contribui também a apresentação - relativamente sintética, é certo, mas, ainda assim, com uma presença considerável na narrativa - dos acontecimentos dos livros anteriores. Isto facilita, é claro, a compreensão para quem não conhece a história prévia, mas abranda também o ritmo. Além disso, não é uma história que se defina por grandes momentos, mas por uma percepção crescente. Que culmina, ainda assim, em grandes surpresas.
Trata-se, então, de um livro que, sem ser propriamente viciante, cativa, ainda assim, por muitas razões. Pelas teorias e possibilidades na base do enredo, pela forma como surpreende a cada revelação, pela forma, até, como este novo protagonista encaixa na perspectiva global de tudo o resto. Surpreendente em muitos aspectos, e envolvente, ainda que de ritmo pausado, acaba por dar todas as respostas da forma menos esperada. E acaba por ser, por isso, a mais adequada das conclusões. Muito bom.

Novidade Planeta

Entre Lisboa e Roma, há um plano para matar o papa e cumprir o Terceiro Segredo de Fátima. 
As profecias de São Malaquias anunciam que este é tempo do último papa antes da destruição da Igreja. O Papa Francisco seria o “Último Papa” antes da destruição da Igreja de Roma. 
O monge de Pádua previu um papa vindo de longe para morrer O Terceiro Segredo de Fátima revela o assassinato do bispo vestido de branco. Mas, em Roma, existem hoje dois papas, dois bispos vestidos de branco. Qual deles será o escolhido de Deus para morrer pela salvação? Será o Papa Bento XVI? Ou o Papa Francisco?
E como se vê um jornalista português desempregado envolvido num plano que vai de Fátima ao Vaticano e parece querer transformá-lo na «mão de Deus» para cumprir as profecias. 
Revelador, este livro é um thriller cuja acção decorre em Lisboa e tudo começa com três sem-abrigo que apareceram assassinados na Baixa lisboeta, com estranhas mensagens escritas no peito. 
Joaquim Barata, um jornalista no desemprego, vê-se envolvido na investigação deste caso encomendada por uma loira misteriosa, e descobre ligações que não deixam dúvida a um plano para assassinar o papa Francisco no dia 13 de Outubro de 2013, em Roma, na recepção à imagem de Nossa Senhora de Fátima. 
Assim se cumpririam todas as profecias que apontam para que seja este o último papa e para a sua morte em circunstâncias trágicas. 
Mas o plano parece ser demasiado humano para se tratar de um desígnio divino...Quem está a fazer o papel de Deus para que as profecias se cumpram? O segundo papa, Bento XVI? 
Nada aconteceu ao papa Francisco no passado dia 13, pois não? Pois não. Tentem perguntar a Joaquim Barata porquê.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

As Primeiras Coisas (Bruno Vieira Amaral)


Desempregado, na iminência de um divórcio, e consumido por um certo desespero, um homem regressa ao bairro onde cresceu. Muito mudou, mas os fantasmas das figuras e dos lugares do passado continuam presentes. E é o encontro com uma dessas figuras que desperta a memória. Percorrendo episódios e lembranças do passado, o protagonista será conduzido pelo seu próprio Virgílio numa viagem aos confins de um bairro com tanto de Purgatório como de Inferno e de Céu.
Feito de memórias e de pessoas invulgares, é precisamente a peculiaridade que primeiro cativa neste livro. O Bairro Amélia, lugar de recordações e de fantasmas, caracteriza-se, tal como é visto pelo protagonista, por ser a base de um conjunto de situações - e de gentes - tão estranhas como reais. Por isso, a primeira impressão que este livro evoca é um misto de estranheza e de fascínio. Ou de uma estranheza que, feita de tantas invulgaridades, mas de tantos elementos comuns à realidade, é precisamente a razão do tal fascínio.
Peculiar nas figuras e nos momentos, também a estrutura deste livro é invulgar, e também este aspecto o torna cativante. Quase como uma enciclopédia de memórias, grande parte do livro toma a forma de um registo compartimentado, categorizado pelos episódios e figuras centrais. Desta estrutura, resulta um conjunto em que cada episódio, cada personagem, cada reflexão, até, valem por si mesmas, e bastam-se na sua própria história, mas em que a soma das partes é algo de muito mais vasto. Cria-se, assim, um equilíbrio particularmente impressionante, em que as breves histórias de muito se confundem para formar a história de um todo. História essa que é, em simultâneo, a do Bairro Amélia e a do próprio protagonista.
Ainda um outro aspecto marcante é, como não podia deixar de ser, a escrita. Ocasionais rasgos de poesia cruzam-se com uma escrita mais crua, adequada aos momentos mais sombrios. Equilibradas, as palavras ajustam-se na perfeição ao que têm para contar, transmitindo com uma clareza marcante, quer os acontecimentos, tensões e emoções de cada episódio ou história individual, quer a impressão de melancolia que, no fim de contas, acaba por ser a característica na base do Bairro Amélia, lugar de sonhos estagnados.
Tudo se conjuga, pois, para transmitir uma imagem, um retrato do lugar, das pessoas e até mesmo das emoções. Uma viagem aos confins da recordação, escrita de forma belíssima, rica em momentos marcantes e com um final verdadeiramente impressionante. Vale, pois, a pena conhecer As Primeiras Coisas. Vale muito a pena.

domingo, 24 de novembro de 2013

Divulgação: Linhas Invisíveis


Um Grito na Noite (Nora Roberts)

Althea Grayson, tenente da polícia, é uma mulher segura e controlada, determinada a não permitir que nada lhe abale as emoções. Mas tudo muda quando Colt Nightshade entra na sua vida. Ele chega com um mistério para resolver, decidido a resgatar a filha de um casal amigo da má situação em que esta se terá deixado cair. Sabe que precisa de ajuda e, por isso, engoliu o orgulho e pediu ajuda. Mas trabalhar com Althea será bem mais que uma obrigação. A atracção não tarda a despertar, e cedo se segue algo mais forte. E, enquanto seguem os sinais que levam ao paradeiro da rapariga desaparecida, também as defesas de Althea terão de ser quebradas, para que o sentimento possa crescer.
Bastante simples, mas envolvente e intrigante, este livro tem o seu grande ponto forte na conjugação entre romance e mistério. É o desaparecimento de Liz que faz com que os caminhos dos protagonistas se cruzem, mas é também um bom complemento ao romance que é, como seria de esperar, o centro da história. Há, portanto, acção quanto baste, vários momentos intensos e uma ligação muito particular entre a história de Liz e algumas memórias de Althea, ligação essa que contribui em muito para o desenvolvimento do aspecto emocional da história.
Quanto ao romance, não é propriamente uma surpresa o rumo que as coisas tomam, no que à relação entre os protagonistas diz respeito. Ainda assim, a história nunca deixa de ser envolvente, quer porque as suas personalidades, com tudo o que têm de diferente, se completam, quer porque o percurso da relação, acompanhado pelo do mistério a resolver, é desenvolvido de forma muito equilibrada, com emoção quanto baste, mas também com uma agradável medida de humor.
Também muito interessante, ainda que relativamente discreto, é a forma como as relações se expandem para as outras personagens. Além de ser interessante o reencontro com as figuras centrais dos livros anteriores, cativa também a forma como o afecto não se resume à relação entre os protagonistas, estendendo-se também às outras personagens. O resultado é uma união mais coesa, e uma história um pouco mais completa.
Envolvente e intrigante, este é, pois, um livro que, sem ser particularmente complexo, cativa, ainda assim, pelo bom equilíbrio entre o romance central e todos os outros elementos que o tornam mais interessante. O resultado é uma leitura agradável e descontraída. Gostei.

sábado, 23 de novembro de 2013

Alex Cross - A Caça (James Patterson)

Quando uma família inteira é encontrada morta, de forma brutal, na sua própria casa, o detective Alex Cross é chamado à cena do crime. A sua reputação precede-o no que toca à resolução de casos complicados, mas aquele pode bem ser o mais terrível que alguma vez viu. Além disso, uma das vítimas é uma amiga de tempos antigos, o que contribui ainda um pouco mais para justificar a determinação de Alex em encontrar o responsável. Mas, à medida que os crimes se sucedem e a investigação avança, a identidade do assassino - conhecido apenas como Tigre - leva a investigação para um rumo complicado. Alex sente-se na obrigação de o seguir até ao fim do mundo, se for preciso. Mas, em África, as regras são diferentes. E o Caçador de Dragões facilmente se pode tornar a presa...
Das várias séries deste autor, todas elas cativantes e interessantes, esta é, provavelmente, a melhor. E, por várias razões. Além dos já expectáveis pontos fortes, que incluem um ritmo de acção intensa, uma escrita cativante e a capacidade de surpreender a cada nova revelação, esta série é também a que apresenta personagens mais complexas e enredos mais elaborados. E isso é particularmente evidente neste livro.
Com grande parte do enredo a decorrer em África, o autor cria, desde logo, um contraste impressionante entre o mundo de Alex e aquele onde decorre a sua perseguição ao assassino. E, sem nunca perder de vista a linha do enredo, e a constante tensão da perseguição (e respectívas consequências), este contraste leva também a questionar a existência de mundos diferentes num mesmo mundo. Alex descobre toda uma nova e terrível realidade no seu percurso. E, através dele, o mesmo acontece com o leitor.
Também já habitual, mas sempre cativante, é a capacidade do autor de surpreender no rumo dos acontecimentos. Sempre com algo de relevante a acontecer, seja a brutalidade dos crimes, sejam as circunstâncias delicadas em que o próprio Alex se coloca, todo o livro é repleto de acontecimentos intensos e revelações surpreendentes. Isto desde os primeiros capítulos e até às páginas finais. Escusado será dizer, pois, que se torna difícil parar de ler.
Mas o grande ponto forte é, ainda e sempre, Alex Cross. Heróico quanto baste e com a inevitável medida de sorte, Alex está, ainda assim, muito longe da ideia do detective perfeito, capaz de tudo desvendar e de fugir às mais terríveis complicações. Mais uma vez, este livro realça a sua humanidade, e fá-lo quer na travessia das situações mais complicadas, quer na revelação de um lado vulnerável. Além de episódios intensos e de situações de vida ou morte, abre-se, assim, espaço para a emoção, e isso acontece tanto nos grandes momentos, como na mais simples reflexão. E, através destes momentos, uma personagem cada vez mais fascinante vai sendo revelada.
Provavelmente, o mais sombrio dos livros da série até agora, Alex Cross - A Caça coloca o seu protagonista nas mais difíceis circunstâncias, para revelar, mais uma vez, o seu melhor, numa história viciante, intensa e sempre surpreendente. Como já era de esperar, aliás.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Frutos Proibidos (Sylvia Day)

Durante as últimas semanas, Lyssa Bates tem sentido um cansaço invulgar. Passa os dias com sono, mas quando dorme, não encontra repouso. Até ao dia em que se descobre num sonho com o homem mais impressionante que alguma vez viu. Aidan Cross corresponde a todas as suas fantasias e mais algumas. O problema é que ele não é apenas fruto da sua imaginação. Aidan é o capitão de uma elite sobrenatural, seres que se movem nos sonhos dos humanos para os proteger dos pesadelos. Mas Lyssa não é como os outros sonhadores, e isso faz dela um alvo para os Anciãos. Ela é a Chave para uma profecia muito temida - e que está associada a um segredo tortuoso. E Aidan, que devia eliminar a ameaça que ela representa, descobre-se preso numa atracção que é muito mais que apenas algo de físico.
Centrado em grande medida no erotismo e na relação entre os dois protagonistas, este é um livro que surpreende e cativa, em primeiro lugar, pelo que tem para lá do romance. Todo o sistema construído em torno dos sonhos, com as hierarquias e capacidades dos habitantes do Crepúsculo serve de base para uma situação com acção quanto baste e bastante potencial a explorar. Potencial esse do qual apenas uma parte é revelada, ficando, por vezes, a impressão de que certos elementos poderiam ter sido mais desenvolvidos. Ainda assim, o que é, de facto, apresentado, é mais que suficiente para chamar a atenção, tornando a leitura cativante e despertando curiosidade para o que se poderá seguir.
Relativamente às personagens, os sentimentos entre o casal protagonista são o elemento dominante, e, por isso, acabam por ser os momentos mais emotivos o que mais cativa, mas há outros pontos que importa destacar. Primeiro, o equilíbrio entre as personalidades de Lyssa e Aidan, vindos de mundos diferentes, mas com muito em comum e também muito a descobrir um com o outro. Depois, a ligação deles às restantes personagens, sendo que, neste aspecto, sobressai a ligação de Aidan aos seus homens, com todas as questões de lealdade e devoção que necessariamente se associam a esse tipo de circunstância.
Quanto ao desenvolvimento do romance entre Aidan e Lyssa, há uma grande ênfase no lado físico, que acaba, por vezes, por se sobrepor em demasia aos restantes elementos da história. Ainda assim, há também uma boa medida de afecto e um surpreendente equilíbrio entre o inevitável erotismo, alguns momentos particularmente emotivos e um muito agradável sentido de humor.
De tudo isto resulta uma história envolvente, com um sistema muito interessante e um bom equilíbrio entre acção e romance, emoção e humor. Um bom início, portanto, e uma leitura cativante. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Diário de uma (ainda) Solteira (Alison Taylor)

Com mais de trinta anos e a ver as amigas a criarem relações mais sólidas, Alison continua à procura do seu par. Mas as suas experiências variam entre o surreal e o simplesmente pouco apelativo. Ao longo de um ano, Alison vai registando as suas experiências mais significativas - e as pequenas grandes desilusões - ao mesmo tempo que se aventura em terrenos desconhecidos e aprende a valorizar também o que tem - e não apenas o que procura.
Partindo de uma premissa bastante simples, e com potencial para bastante diversão, este era um livro que prometia ser uma leitura descontraída e agradável. E não desilude completamente. É, de facto, cativante quanto baste, com bastantes episódios divertidos, uma boa medida de sentido de humor - tanto em situações específicas como nos próprios pensamentos e palavras da protagonista - e uma linha de acontecimentos interessante o suficiente para manter a curiosidade em saber o que acontecerá a seguir.
Ainda assim, a leveza que caracteriza a história acaba por se tornar demasiada. A escrita cativante e os ocasionais - e interessantes - momentos de introspecção, acabam por se perder em demasiadas preocupações com as possíveis ou imaginadas relações. Para a protagonista, acaba por haver pouco mais que a procura de um par e as aventuras vividas nessa busca. Elementos como a amizade e o afecto familiar acabam por ficar para um muito distante segundo plano, o que acaba por passar a impressão de demasiada superficialidade.
Depois há o facto de o tema central - a tal procura do amor - surgir mais como uma base para aventuras mais ou menos inconsequentes do que como uma linha de partida para acontecimentos maiores. De episódio em episódio, perde-se, por vezes, a ideia de um objectivo central.Além disso, há demasiadas perguntas sem resposta no passado, o que, associado a um final demasiado vago, deixa também a sensação de uma história completa.
Não é uma leitura penosa. A escrita é cativante e há, ao longo da história, suficientes momentos divertidos para manter o interesse no percurso da protagonista. Falta, ainda assim, mais alguma profundidade, neste livro que, agradável quanto baste, poderia ter sido bastante mais.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Contos Aventuras

Perigos e intrigas e alguns gestos de heroísmo povoam estas três histórias de aventuras. Bastante diferentes na forma como são escritas, têm, ainda assim, em comum o ambiente perigoso e a jornada que aguarda os seus protagonistas. Todos têm, também, algo de cativante.
A Armadilha, de Martin Waddell, conta a história de uma família separada por um governo opressivo, e de duas crianças que se tentam reunir com o tio. Bastante sombrio, mas com um contexto muito interessante e uma escrita cativante, esta é uma história de lealdades traídas e que mostra como, por vezes, a confiança - ou falta de - pode ser dirigida às pessoas erradas. Envolvente e com um final comovente, um belo conto.
Em O Urso Bailarino, de John Cristopher, o protagonista é enviado para uma abadia por um irmão ciumento que o quer afastar. Mas um ataque dos bárbaros mudará tudo. Apesar de ser narrado na primeira pessoa, e apesar da escrita cativante quanto baste, este conto perde pela distância com que os acontecimentos são narrados. Não há grande sentimento e, por isso, também não há grande empatia para com o protagonista. Faltava, talvez, um pouco mais de emoção para tornar a história marcante.
Por último, O Pernilongo, de Robert Westfall, conta a história de um rapaz que se vê sozinho durante um bombardeamento, para depois se encontrar frente a frente com o inimigo. Também um pouco distante, mas bem escrito e com uma mensagem muito positiva, cativa principalmente pela forma como parte de certezas absolutas quanto ao que são os inimigos, para levantar a questão da sua humanidade.
São, pois, três contos interessantes, ainda que o primeiro seja notoriamente superior. O conjunto resulta numa leitura agradável, com vários momentos interessantes e uma mensagem global bastante positiva. Gostei, portanto.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Escape from Communist Heaven (Dennis W. Dunivan)

Viet Nguyen tinha apenas catorze anos na altura em que os comunistas ganharam a Guerra. De repente, tudo mudou na sua vida. Tal como antes acontecer no norte, o sul do Vietname encontra-se agora sob uma disciplina estrita, em que todos os direitos e liberdades são sacrificados em nome da construção da nova sociedade. E é isso mesmo que acontece a Viet. Na tentativa de ajudar os pais a encontrar um meio de fuga, é preso no mercado negro e levado para um campo de trabalho, onde, através da manipulação e de condições de vida miseráveis, os líderes do campo tentam converter os prisioneiros à sua ideologia. Mas, ainda que seja capaz de se fingir convertido, Viet não é – nunca será – um deles. E, por isso, a única solução para si é procurar, mais uma vez, uma forma de fugir.
Tendo por base uma história verídica e contada pela voz da sua figura principal, este é um livro que impressiona, acima de tudo, pela história em si. Começa com a mudança e acompanha o duro caminho de Viet através de uma estrada de miséria e opressão. O que tem para contar inclui, por isso, muitos elementos perturbadores acerca da vida sob as regras do regime. Mas também muito importante para tornar esta leitura cativante é a forma como o autor constrói a voz do seu protagonista. É fácil reconhecer um Viet de catorze anos nas suas ideias fortes e no toque de rebelião interior, e é fácil assimilar o seu crescimento e sua luta no caminho a percorrer até à liberdade. Viet questiona o sistema e aprende com as provações que atravessa, mesmo as mais duras. Esse caminho é facilmente visível nas palavras do autor. A história é verídica. E soa como tal.
Também impressionante é a descrição completa e clara que o autor faz do sistema. Ideias e comportamentos, regras e transgressões, dor e manipulação, todos estão presentes ao longo do enredo, e a forma de opressão em que se conjugam consegue ser deveras perturbadora. A descrição do ambiente inclui todos os pormenores necessários e, através dessa descrição, todas as dúvidas e medos das personagens são justificados. Além disso, as ideias e a forma como são impostas levantam também muitas questões importantes sobre o poder, a liberdade e a transformação de teorias com ideias relevantes e bons exemplos numa realidade assustadora.
Este é, então, um livro que impressiona, em primeiro lugar, pela história que conta e pelo facto de essa ser uma história real. Mas marca também pela construção de uma narrativa sólida, escrita de forma fluida e com uma voz capaz de transmitir ao leitor os medos, dúvidas e crenças do seu protagonista. Uma história impressionante, em suma, e um livro muito bom.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Sob o Céu que Não Existe (Veronica Rossi)

Aria queria apenas obter alguma informação sobre a mãe, quando se aproximou de Soren, o jovem e influente filho de um dos cônsules de Reverie. Mas uma perturbação inexplicável levou a que o que julgava ser uma pequena aventura corresse muito mal. Salva por um Selvagem, Aria vê-se a defender a sua versão dos factos perante o pai do verdadeiro responsável pelo incidente. Em vão, claro. Lançada no exterior para morrer, Aria reencontra o seu relutante salvador. Também Perry perdeu alguém e a sua incursão no mundo dos Moradores parece ter sido a causa. Mas, vindos de muitos diferentes e sem razões para que gostem um do outro, ambos sabem, ainda assim, que juntos têm uma melhor hipótese de encontrar aquilo que procuram.
Das muitas coisas que tornam esta leitura interessante, uma das que primeiro sobressaem é o sistema, e a forma como ele é apresentado. Partindo dos Casulos, para depois se deslocar para o mundo fora deles, todo o enredo decorre num ambiente de contrastes. A protecção dos Casulos contra os perigos do exterior e a existência bárbara atribuída aos Externos por oposição à civilização tecnologicamente avançada dos Moradores são apenas alguns dos exemplos de um cenário que facilmente se poderia dividir em dois mundos diferentes. É claro que, sendo este apenas o primeiro volume de uma história maior, há ainda muito potencial por desenvolver, principalmente relativamente à vida dos Moradores, que cedo passa para segundo plano. Mas o que é apresentado, quer da vida nos Casulos, quer do sistema de tribos dos Externos, é mais que suficiente para despertar curiosidade para esta história.
Quanto ao enredo propriamente dito, há sempre algo a acontecer, o que, apesar de um início um pouco confuso, cedo torna a leitura viciante. Além disso, a este ritmo de acção junta-se um conjunto de revelações interessantes, a abrir caminho para várias mudanças e para todo um conjunto de possibilidades, algumas concretizadas ao longo deste primeiro livro, outras a prometer muito de bom para o que se seguirá.
Mas o que mais se destaca é a evolução das personagens. Há, desde logo, uma caracterização muito interessante, quer em termos de capacidades, quer de personalidades, e isto aplica-se tanto aos protagonistas, como àqueles que os rodeiam. Mas há, acima de tudo, um crescimento, desde uma natural antipatia, em resultado de origens completamente diferentes, ao crescimento de sentimentos mais fortes. E há romance, é claro, mas um romance que cresce com os outros elementos da história, sem nunca parecer forçado ou exagerado. Perry e Aria formam um bom par, mas não apenas a nível de afectos. São também a base de uma muito interessante aliança.
Cativante e interessante, com um ritmo intenso e vários momentos marcantes, este é, pois, um início muito promissor para uma história ainda com muito a desvendar. Uma boa história, com uma escrita cativante e personagens muito interessantes. Muito bom, em suma.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A Lista dos Meus Desejos (Grégoire Delacourt)

Na sua juventude, Jocelyne era uma mulher cheia de sonhos, mas, mesmo sem ter encontrado o seu príncipe encantado e com muitas aspirações por concretizar, descobriu que está satisfeita com a vida que tem. Ama os filhos, a fase mais turbulenta da relação com o marido parece estar ultrapassada e a sua retrosaria parece crescer com a fama cada vez maior do seu blogue. Mas tudo muda num dia de sorte - e de azar. As amigas persuadem-na a jogar no Euromilhões e, apesar das muito baixas probabilidades, é Jocelyne a vencedora. Mas o prémio assusta-a, porque pode significar o adeus a tudo o que valoriza na sua vida. E, enquanto pondera no que fazer, guardando para si o segredo do que aconteceu, a vida encarrega-se de despoletar a mudança. Uma mudança que talvez venha a confirmar os seus medos.
Bastante breve, mas muitíssimo emotivo, este livro cativa, em primeiro lugar, pelos contrastes. Primeiro, pela simplicidade de uma escrita bastante directa, apesar de alguns momentos poéticos, que equilibra a inesperada complexidade das emoções da protagonista. Mas, principalmente, pelo contraste entre a leveza com toques de humor que se sente ao longo de todo o enredo, e à qual se opõe uma crescente melancolia, que, a cada revelação, cresce no sentido de uma tristeza mais profunda. O resultado é uma leitura leve, mas estranhamente comovente, e que, na simplicidade de uma narração breve, consegue questionar relações e despertar emoções.
A história propriamente dita é muito simples, mas é fácil criar empatia para com a mulher que, mesmo quando bem sucedida, reconhece fragilidades e inseguranças. É fácil compreender a mágoa dos sonhos perdidos - porque quem nunca renunciou a algum dos seus? E, ao mesmo tempo que se sente a nostalgia, a tristeza de Jocelyne, é possível também admirar a força de algumas reacções e, nelas, reconhecer a verdade de que talvez seja possível superar certas adversidades, mas não sem ficar com marcas.
O maior impacto deste pequeno livro é, sem dúvida, a nível emocional. A história de Jocelyne define-se em muito pelo que sente, pelo que sonha, pelo que lhe dói. Mas há, para além da sua imensa tristeza, e da empatia que desperta, também uma sucessão de momentos marcantes, e um equilíbrio entre melancolia e esperança, que se transmite não só no enredo, mas na beleza simples das palavras que lhe dão vida.
É, pois, uma história aparentemente simples, a de A Lista dos Meus Desejos. Mas é também de uma beleza tocante, rica em momentos marcantes e com episódios capazes de desenhar um sorriso nos lábios... ou de deixar um coração bem apertado de emoção. Vale a pena, por isso, ler este livro. Vale muito a pena.

Novidade Guerra e Paz

Jesus nasceu em Belém e foi criado em Nazaré. De Belém a Nazaré, de Nazaré ao calvário de Jerusalém, este livro segue cada passo desse homem que, com o escândalo do seu exemplo, mudou a história da humanidade.
Raul Correia, o autor deste livro, numa linguagem clara e simples, conta-nos todos os episódios da vida do Nazareno. Vamos vê-lo, a esse Jesus Cristo que ele nos apresenta, transformar a água em vinho, vamos vê-lo multiplicar cinco pequeninos pães e dois peixes para alimentar uma multidão sedenta e faminta, vamos vê-lo caminhar sobre as águas.
Para uns, esses são episódios reais, verdadeiros milagres, que atestam a divindade de Jesus. 
Para outros, aqueles episódios simbolizam a vontade de mudança, a sede e fome de justiça, a crença na superação de nós próprios, que subjaz à humanidade que somos. Será para todos uma leitura empolgante.
Uma vida de Jesus escrita com assumida simplicidade: todo o protagonismo é dado aos acontecimentos, a cada episódio, às conversas de Jesus com os discípulos que o seguiam, aos seus almoços com pecadores e publicanos, aos conflitos entre os fariseus e este judeu que aos 33 anos morreria por amor aos homens. 120 ilustrações do Mestre Carlos Alberto Santos restituem-nos a visão do périplo terreno de Jesus.
Jesus, um homem, nascido no explosivo cruzamento de raças e culturas que é o Médio Oriente, um homem que teria traços orientais, arianos e africanos, numa vida riquíssima e breve, mudou para sempre a humanidade que somos.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A Epopeia do Eterno Navegador (Maria Antonieta Costa)

Na sequência de um conflito nascido de uns versos dedicados à mulher errada, Luís Vaz de Camões é enviado à pressa para Lisboa, onde o seu protector espera que venha a ganhar juízo e a seguir as suas dignas pisadas. Mas de forte génio e temperamento conflituoso, o jovem poeta está longe de se sentir atraído pela vida de estudioso. Em Lisboa descobre a força dos seus primeiros amores, o mais intenso dos quais sentido pela mulher que vislumbrou ainda em Coimbra. Mas o mesmo génio que lhe atrai admiradores desperta conflitos e o seu temperamento apenas o alimenta. Começa assim uma vida de aventuras - mas também de desventuras.
História do poeta e do homem, este é um livro que, centrado essencialmente na figura de Camões, não se limita, ainda assim, ao seu percurso. Este é, aliás, um dos pontos mais interessantes deste livro, que, sem se resumir à história do seu protagonista, apresenta também um amplo desenvolvimento do contexto histórico e do percurso de alguns dos seus protagonistas. Através do percurso do poeta, a autora apresenta também alguns dos mais negros momentos da história do seu tempo, expandindo-se também a outras personalidades marcantes da época numa muito interessante mistura de realidade e ficção.
Também em termos de amores a história não se limita a Luís de Camões. Principalmente na primeira parte, que é também a mais extensa do livro, outros romances há de igual relevância, com todo um enredo de vinganças e rivalidades a servir de base aos episódios mais intrigantes do livro. Há também um toque de sobrenatural que, muito discreto, mas muito interessante, vem adensar a aura de mistério que se sente em algumas partes do enredo. 
Mas, se esta primeira parte é a mais densa, e, em certos momentos, a mais intensa, há também bons momentos nas partes que se seguem. Mais breves, um pouco apressadas nalguns momentos, surpreendem, ainda assim, pela força de algumas situações, sendo de destacar, como é inevitável, o impacto do final.
Em termos de escrita, a narrativa flui a um ritmo pausado, mas cativante e agradável quanto baste. Há, por vezes, pequenas passagens mais forçadas, principalmente as associadas aos versos do poeta que, ao longo do texto, são, por vezes, atribuídos à voz de outras personagens, o que cria uma sensação de estranheza. São, ainda assim, pequenos momentos de uma narrativa que raramente perde a envolvência e em que a história compensa amplamente esses pequenos episódios.
Trata-se, então, de um livro que, não sendo de leitura compulsiva, cativa principalmente pelo contexto histórico e pelos momentos especialmente marcantes que a autora constrói para a vida aventurosa do seu protagonista. Uma boa história, pois, e uma boa leitura.

Novidades Bizâncio para Novembro

Dizia chamar-se Turambo, o nome da sua miserável terra na Argélia, onde nascera nos anos de 1920. Tinha uma candura desarmante e um gancho esquerdo imbatível. Frequentou o mundo dos ocidentais, conheceu a glória, o dinheiro, o frenesim dos ringues de boxe, e todavia nenhum troféu movia mais a sua alma do que o olhar de uma mulher. De Nora a Louise, de Aïda a Irène, procurava um sentido para a sua vida. Mas num mundo onde a cupidez e o êxito reinam como senhores absolutos, o amor corre por vezes grandes riscos.
Através de uma extraordinária evocação da Argélia de entre guerras, Yasmina Khadra apresenta, mais do que uma educação sentimental, o percurso obstinado de ascensão e queda de um jovem prodígio, adorado pelas multidões, fiel aos seus princípios, e que apenas queria ser senhor do seu destino.

O cerco de Leninegrado foi a tentativa de Hitler de erradicar pela fome a população de uma cidade inteira. Martirizados pela fome, pelos rigores do frio, os habitantes da cidade testemunharam os actos mais vis de miséria humana e os mais nobres actos de solidariedade. Quando em 1944 foi posto fim ao cerco de 900 dias, mais de um milhão de pessoas tinha morrido e os sobreviventes ficariam para sempre marcados pelas suas provações. Só a partir dos anos 90 do século XX, quando o império soviético se desmoronou, muitas destas verdades foram reveladas, e, só recentemente, muitos dos diários, poemas e pinturas feitos durante o cerco foram disponibilizados para consulta pública nos museus e arquivos de São Petersburgo.
Michael Jones teve acesso a este espólio, falou com sobreviventes e traz-nos um relato de viva voz da extrema crueldade e da suprema bondade que se revelam quando a vida de todos os dias mergulha no mais absoluto horror.

«Este livro distingue-se pelo retrato da vida quotidiana em circunstâncias extremas. Escrito com fluência, a experiência de sofrimento ímpar que atingiu Leninegrado, em particular nos anos de 1941-42, é-nos revelada com rigor.»
BBC History


No início, eram feras. Bestas possantes, de cornos afiados e uma força assustadora. A sua figura foi gravada, pelo homem pré-histórico, até, nas rochas do Vale do Côa. Nesses tempos, muitos acreditavam que a sua força descomunal só podia ter uma origem divina. Eram adorados e temidos, mas quando transformados em comida matavam a fome a todo o clã, por várias luas. Quando o homem descobriu a agricultura e começou a construir povoados, novos animais começaram a fazer parte da paisagem modificada. O temível auroque esteve entre as primeiras espécies a serem domesticadas – e deu origem aos bovinos que hoje conhecemos. As raças autóctones que ainda sobrevivem nas planícies e montanhas portuguesas são testemunhos vivos de uma herança natural e rural única. O regresso do grande auroque pode estar para breve, graças a um ambicioso e controverso projecto científico europeu. E, quando isso suceder, um dos contributos genéticos mais importantes será de uma das nossas raças autóctones.

 É esse mundo que nos é desvendado neste livro de Paulo Caetano – um autor que se tem dedicado às temáticas ligadas ao mundo rural e à conservação da natureza. Esta obra conta, ainda, com a participação de Catarina Ginja, uma investigadora que está a desenvolver os seus estudos de pós-doutoramento com uma bolsa Marie Curie, e é amplamente ilustrada pelas fotografias de Joaquim Pedro Ferreira.

Novidades Planeta

Travis Maddox perdeu a mãe quando ainda era criança. O conselho que ela lhe deu na hora da despedida foi: «Ama intensamente… Luta ainda mais intensamente…» 
Travis Mad Dog Maddox é um lutador clandestino, oriundo de uma família de vários irmãos, mais velhos e duros. Mau rapaz por definição, todas as noites leva para casa uma rapariga diferente. Até conhecer Abby Abernathy… 
Mal-afamado em todo o campus devido às suas relações com as mulheres, não é de surpreender que Abby rejeite os avanços de Travis; o máximo que aceita é ser sua amiga. No entanto, Travis está decidido a lutar pelo seu coração…

Desde a libertação de Nelson Mandela, em 1990, António Mateus cobriu no terreno o conturbado processo de erradição do sistema de apartheid, a eleição de Madiba como primeiro presidente negro da África do Sul, o desempenho do seu único mandato presidencial e, depois, toda a sua actividade até à retirada da vida pública em 2004. 
Um livro diferente de tudo o que leu, que mostra o ser humano que escolheu transformar-se num líder de referência mundial pela tolerância, humildade e valores mas, já foi um jovem emotivo, irascível, temperamental e egocêntrico. 
Um olhar próximo, humanizador, sobre um homem que escolheu assumir e trabalhar as suas próprias fragilidades, começando nele a mudança que sonhava para o mundo. 
Um exemplo que resgata a nossa fé nos Homens e em nós próprios, na nossa capacidade de fazermos a diferença, para melhor, se assim o decidirmos. 
Um livro com fantásticas ilustrações do ilustrador Nuno Tuna, escrito numa linguagem acessível, especialmente dirigido aos mais jovens e a todos os que queiram conhecer o lado humano de um herói dos nossos dias.

Um livro que abre clareiras, no fim da história, para saberes mais sobre as árvores e começares a olhar para elas de outra maneira. E que é impresso em papel ecológico – sim, porque os livros também nascem das árvores, sabias? 
Queremos árvores e livros que cresçam connosco, com muitas folhas verdes e vida dentro! 
Um rapazinho vai a caminho da escola e vê um velhote, que pensa estar a falar sozinho mas afinal está a falar...para uma árvore! 
A partir daqui desenrola-se uma história de amizade a lembrar a melhor tradição de O Principezinho: a amizade do velho senhor por aquela árvore e a descoberta do mundo por parte do rapazinho. 
Afinal, aquele homem vem defender a sua amiga de toda a vida – a árvore, a última árvore, que querem abater – e acaba por sensibilizar toda a comunidade para a defesa daquele ser vivo, que é um autêntico 
tesouro e os faz unir a todos por uma causa.

Hoje, o nosso planeta parece-nos pequeno e familiar. Mas, em tempos, foi um mundo cheio de segredos e mistérios. No passado, ir à China, à América ou à Austrália era uma aventura tão grande para os europeus como hoje é ir a um planeta desconhecido! 
Só uma classe muito especial de viajantes, ousados e corajosos, conseguiu sonhar, planear, enfrentar as viagens, os mares, as lendas sobre monstros e perigos, e alargar o mundo que então conhecíamos: Marco Polo, Vasco da Gama, Cristóvão Colombo, Pedro Álvares Cabral, Fernão de Magalhães, Fernão Mendes Pinto, James Cook 
Não sendo uma obra de ficção, vai proporcionar muitas horas de leitura divertida aos mais novos.
Um feito apenas possível, graças à escrita leve mas rigorosa de Sérgio Luís de Carvalho, e às ilustrações de Alex Gozblau que dão vida nova às grandes aventuras dos mares e das terras exóticas e trazem-nas, com cor, frescura e humor, aos jovens leitores.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O Golpe (Janet Evanovich e Lee Goldberg)

Kate O'Hare, agente do FBI, sempre teve como missão perseguir e capturar Nick Fox, um conhecido e astuto vigarista. E, depois de algumas tentativas falhadas, parece ser agora o seu momento. Mas, quando a captura finalmente acontece, os seus planos sofrem uma reviravolta inesperada. Depois de um caso brilhante, Kate esperava um outro tão ou mais promissor, mas, enquanto se vê com uma situação pouco relevante - e algo caricata - para resolver, Nick Fox foge do tribunal. E com ajuda do próprio FBI. Ao tomar conhecimento desse facto, Kate vê-se envolvida numa missão completamente diferente. Com a ajuda de uma equipa de vigaristas novatos e acompanhada pelo próprio Nick Fox, Kate terá de capturar um outro vigarista e recuperar o dinheiro que ele roubou. E por vias que não são exactamente legais...
Um dos aspectos que primeiro chamam a atenção neste livro é que, se o compararmos com os de outras séries da autora, sobressai uma grande diferença, associada a um ponto comum. É que este é um livro com um registo bastante mais sério, com menos ênfase no caricato e mais na acção, mas que tem ainda o mesmo humor - e peculiaridades mais que suficientes - dos outros livros. Isto cria, desde logo, a impressão geral de um enredo bastante mais intenso e mais focado nos acontecimentos, mas sem perder a leveza que um muito agradável sentido de humor lhe confere. Mais equilibrado, em suma.
Este equilíbrio contribui em muito para tornar a leitura viciante. Mas há mais. O desenvolvimento das personagens tem também bastante bons momentos, e isto aplica-se tanto às situações mais divertidas, como à interacção que se estabelece para criar o plano. A forma como Nick escolhe a sua equipa, a intervenção de Kate e a evolução do plano propriamente dito servem de base a todo um percurso de acção intensa, humor quanto baste e um toque de atracção que, além de tornar a interacção entre as personagens mais interessante, coloca algumas boas possibilidades quanto ao que se seguirá na série.
Ainda um outro aspecto interessante é a ocasional ambiguidade na linha que separa os bons dos maus. Toda a missão de Kate, Nick e companhia, com a bênção - mas não necessariamente com a protecção - do FBI coloca às personagens algumas questões de ordem moral. É interessante a forma como a autora explora este aspecto, sempre de forma descontraída, mas com alguns momentos particularmente bem conseguidos.
Cativante e agradável, com um ritmo viciante e um bom equilíbrio entre acção e humor, O Golpe abre da melhor forma uma série com muito potencial. Divertido, envolvente, e surpreendente... Muito bom.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Sacrifício de Sangue (Kristen Painter)

Em troca da ajuda de que precisava, Chrysabelle prometeu ajudar Malkolm na busca de uma forma de quebrar a sua maldição. Mas alguns acontecimentos trágicos e uma estranha tensão entre ambos, levaram a que se criasse uma certa distância. Não por muito tempo, contudo. Tatiana não desistiu dos seus objectivos e a ânsia de vingança apenas lhe aumenta a motivação. E, mesmo que o anel esteja guardado num lugar seguro, a quebra da aliança mudou o equilíbrio entre os alternaturais. Como se não bastasse, todos parecem ter uma outra missão. Malk, disposto a tudo para se livrar da maldição, deixa-se atrair para uma armadilha. Doc coloca-se numa situação delicada para tentar recuperar Fi. E Chrysabelle descobre que, para ajudar Malk, um sacrifício será necessário. Com tantos conflitos para travar - e tantas relações para resolver - é possível que o rumo de Chrysabelle esteja prestes a mudar. Mais uma vez.
Retomando os acontecimentos pouco depois da conclusão do primeiro volume, este é um livro que, dando continuidade à história central, apresenta também os mesmos pontos fortes. A escrita é cativante, mesmo não sendo particularmente elaborada, e o ritmo dos acontecimentos é intenso quanto baste. Além disso, há alguns desenvolvimentos interessantes a nível de sistema, nomeadamente no que diz respeito à existência dos Kubai Mata. 
Também as personagens, muitas delas já conhecidas do livro anterior, têm bastante de cativante. Mais uma vez, a autora desenvolve as perspectivas de várias personagens, o que permite vislumbrar todos os lados do conflito e conhecer um pouco melhor os seus planos. Isto torna-se particularmente interessante neste segundo volume, porque, apesar de um conflito principal - com Tatiana, é claro - há toda uma série de atribulações que, de solução aparentemente mais simples e papel mais secundário, acabam por, no seu conjunto, dominar uma boa parte do enredo. São também uma boa forma de explorar mais algumas personagens menos desenvolvidas. O centro do enredo continua a estar essencialmente em Malk e Chrysabelle, mas os acontecimentos circundantes tornam mais completas - e mais interessantes - as histórias e personalidades de figuras como Doc e Dominic.
Mas além da acção há o romance. Neste aspecto, não há grandes revelações em termos de acontecimentos, apesar de alguma confusão gerada pelo aparecimento de Creek, personagem com muito potencial ainda por explorar. Mas há, ainda assim, um crescendo de sentimentos que serve e base a alguns momentos especialmente marcantes. Além disso, esta emotividade não se resume ao romance nem se estende exclusivamente aos protagonistas, sendo de destacar algumas das atitudes de Doc.
Mais uma vez, ficam perguntas sem resposta, até porque a série está longe de terminar. Mas, com alguns bons desenvolvimentos, um enredo intenso e cativante e um conjunto de personagens que surpreendem e cativam a cada nova reviravolta, Sacrifício de Sangue corresponde em pleno às expectativas criadas pelo primeiro volume, deixando muita curiosidade em saber o que se seguirá. Muito bom, em suma.

sábado, 9 de novembro de 2013

Regresso ao Suez (Stevie Davies)

Agora adulta e mãe de uma criança, Nia regressa à viagem que em tempos fez com a mãe, rumo ao Egipto, em busca das respostas que lhe faltam sobre o seu passado. Naquele tempo, o pai, Joe Roberts, era um militar ao serviço do império britânico, e Nia e a mãe iam ao seu encontro. Mas foi também aí que tudo começou a correr mal. Ailsa era uma mulher inteligente, incapaz de se resignar ao politicamente correcto. Joe amava a esposa, mas não conseguia lidar com a quebra das regras estabelecidas. E, à medida que os tempos se tornavam mais conturbados, e os segredos mais densos, também a distância entre o casal se tornava maior. No centro, estava a criança que Nia fora e que, recordando apenas partes da verdade, quer, agora, enquanto mulher, encontrar o que lhe falta do passado. Mesmo que a verdade venha a ser dolorosa.
De ritmo pausado e com oscilações frequentes entre a história de Ailsa e a da própria Nia, este é um livro que exige uma certa concentração. As variações na linha temporal juntam-se a um tom algo introspectivo e a uma caracterização bastante extensa do contexto e da mentalidade vigente, para dar ao enredo um ritmo em que tudo parece acontecer devagar. Isto deve-se também ao facto de, durante grande parte do enredo, as mudanças e os momentos de tensão se deverem mais a pequenas coisas que a grandes acontecimentos - excepção feita, é claro, a uma fase final muitíssimo marcante.
Não será, portanto, uma leitura compulsiva. Ainda assim, os mesmos elementos que tornam a leitura pausada conferem-lhe também uma complexidade fascinante. Desde o contexto da presença britânica no Egipto às questões raciais e ao escalar do conflito a partir de cada novo acontecimento, a autora levanta várias questões relevantes, e desenvolve-as de forma esclarecedora. Nem sempre é fácil entrar na pele dos protagonistas, com todas as complexidades e ambivalência que os caracterizam, mas é possível, ao longo da leitura, ficar com uma ideia muito completa do contexto da época, quer relativamente a acontecimentos, quer a formas de pensar. Isto acaba por ser um dos grandes pontos fortes deste livro.
Relativamente às personagens, sobressai o impacto do secretismo na criação de um final de grande impacto. Tanto os segredos como as formas de pensar dos protagonistas contribuem para o conflito silencioso que se trava no seio do casal. Mas, se as atitudes de um e de outro criam, por vezes, uma certa distância - e, principalmente, quando associadas a uma mentalidade que, no contexto actual, se torna difícil de entender - também é verdade que essa mesma distância, abalada por uma série de acontecimentos, acaba por reforçar o impacto dos momentos emotivos, que surgem de facto, e dos quais sobressai um final muitíssimo marcante, no que à história de Joe diz respeito.
Não se trata, portanto, nem de uma leitura leve, nem fácil, nem viciante. Mas, pelo impacto de muitas pequenas coisas e de um grande final, bem como por um contexto muito bem desenvolvido, acaba por ser, ainda assim, um livro que cativa e que fica na memória. Gostei.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Uma Canção de Embalar (Mary Higgins Clark)

Kate Connelly tinha encontro marcado na fábrica de móveis do pai. Esperava que Gus, um antigo funcionário dedicado e perfeccionista, pudesse explicar-lhe a situação invulgar que detectava. Mas mal tinham acabado de entrar na fábrica quando uma explosão matou Gus e deixou Kate entre a vida e a morte. Agora, enquanto alguns julgam que ambos terão conspirado para causar a explosão, mas que algo correu mal, a irmã de Kate parece ser a única a acreditar na sua inocência. Mas o decorrer da investigação irá revelar outros segredos - e também a verdade sobre outros crimes.
Um dos grandes pontos fortes deste livro é a aura de mistério que se constrói em torno do incidente inicial, e que se expande à medida que novas perguntas sem resposta vão sendo apresentadas. Este ambiente deve-se, desde logo, à forma como a história é contada, alternando entre os pontos de vista das diferentes personagens e em capítulos curtos, revelando, ao pouco, as pistas essenciais e, ao mesmo tempo, apresentando novas perguntas a partir de cada possível resposta. Surge, a partir desta base, um enredo cativante, em que aqueles que parecem ser os principais suspeitos acabam por ser descartados perante novas possibilidades, mas sem que isso signifique uma total honestidade da sua parte. Além disso, o mistério não se resume a quem provocou a explosão, e as outras questões que lhe estão associadas permitem que a história se expanda a uma teia de segredos e de transgressões que dá lugar a um final que, ainda que um pouco apressado, surpreende pelo inesperado das revelações.
Relativamente às personagens, o que mais sobressai é o secretismo associado ao passado de algumas delas, bem como a aparente distância de algumas relações. Esta distância, cuja explicação apenas surge quase na fase final da história, faz com que, a princípio, haja bastante menos empatia para com as personagens, mas faz também todo o sentido, depois de revelados todos os mistérios. Além disso, e apesar dessa sensação de distância, há também um crescendo de emotividade com o evoluir do enredo, com pequenos momentos marcantes a conferir à leitura uma especial envolvência. E a surpreender, também, porque, nalguns casos, surgem de onde menos se espera.
Intrigante e agradável, este é pois um livro que, com um mistério muito interessante e um conjunto de possibilidades que culminam num final particularmente bom, cativa desde as primeiras páginas e nunca deixa de ser interessante. Gostei, portanto.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Cavalo de Fogo - Congo (Florencia Bonelli)

Algumas revelações perturbadoras e a necessidade de um rumo diferente fizeram com que, apesar de serem tudo um para o outro, Matilde Martínez e Eliah Al-Saud seguissem caminhos diferentes. Mas não basta a distância para calar o sentimento que os obceca e consome. Nem mesmo as mais perigosas circunstâncias o poderão fazer. Agora, o destino de Matilde está no Congo, a salvar vidas em circunstâncias desesperadas, e também os interesses de Eliah o levam na mesma direcção. Mas a vida de soldado profissional - e os erros do passado - trouxeram a Eliah muitos inimigos. E a determinação de Matilde em defender a paz não a protegerá das vicissitudes da guerra...
Retomando a história dos protagonistas do primeiro volume, Cavalo de Fogo - Congo define-se pelas mesmas características essenciais. Há um romance como base para o enredo, sendo os seus protagonistas também o centro de uma história para lá do romance. E, por isso mesmo, um dos primeiros pontos a cativar é que nem só de romance vive este livro, já que, apesar de a ligação de Eliah e Matilde ter um papel fundamental no enredo, há muito mais para descobrir no decorrer da história.
Uma vez que grande parte da acção se passa no Congo, é inevitável que sejam referidas as condições de vida - quer devido ao conflito, quer a nível de acessos a comunicação e conhecimento médico - em alguns países de África. Este é um aspecto que, através dos olhos de Matilde, mas não só, a autora desenvolve no decorrer da narrativa. E fá-lo de forma marcante, porque não se limita a expor os factos, descrevendo-os (ainda que também o faça), mas retratando-os em acontecimentos, o que confere, desde logo, um maior impacto às situações, ao mesmo tempo que apela à reflexão. A esta questão central juntam-se ainda outras, como a relevância das missões e das organizações humanitárias, neste tipo de cenário, e ainda, numa associação ao papel de Al-Saud no enredo, as ambiguidades da condição de mercenário/soldado profissional.
Relativamente às personagens, continua a haver muito de cativante, não só nos protagonistas, mas também nalgumas mudanças surpreendentes operadas sobre alguns intervenientes secundários. Mas é claro que o foco continua sobre Eliah e Matilde, que, mantendo o mesmo carisma e empatia, se encontram agora envolvidos numa situação mais complicada.
O que me leva ao romance e, neste aspecto, a impressão que fica é a de que este livro funciona como uma transição para o que virá. Muito é deixado em aberto para o volume seguinte e, para chegar a esse final aberto, a autora coloca os seus protagonistas perante novos conflitos e, mais uma vez, abalos emocionais e indecisões. Neste aspecto, há, talvez, em certas situações, algum exagero. Ainda assim, o impacto emocional dos grandes momentos compensa amplamente essa impressão.
De leitura cativante, rico em momentos intensos e com uma história que não se limita ao romance entre os protagonistas, este é um livro que, deixando ainda muito para dizer no livro que se seguirá, consegue, ainda assim, marcar por alguns momentos de particular emotividade, e pela história cada vez mais complexa que constrói em torno das suas figuras centrais. Uma boa leitura, portanto. Gostei.

Novidades Topseller

Uma cidade mergulhada no caos. Um assassino de uma crueldade assombrosa. Só um homem será capaz de o travar.
O detective Alex Cross é chamado ao local do pior crime a que alguma vez assistiu. Uma família inteira foi assassinada de forma brutal e impiedosa, e uma das vítimas era uma antiga paixão sua.
O mesmo tipo de crimes sucede-se, mantendo um padrão semelhante: a morte de famílias inteiras, cujos corpos são depois objecto de uma crueldade violenta. Alex Cross e a sua namorada actual, Brianna Stone, mergulham neste caso e enredam-se na teia do mortífero submundo de Washington DC. Aquilo que descobrem é tão chocante que mal conseguem compreendê-lo: os assassinos pertencem a um gangue altamente organizado, encabeçado por um diabólico senhor da guerra conhecido como Tigre. Quando o rasto deste temível assassino desemboca em África, Alex sabe que tem de segui-lo. Desprotegido e só, Alex é torturado e perseguido pelo gangue do Tigre.
Conseguirá Alex caçar o seu inimigo, ou será ele próprio a caça?

James Patterson é o autor que mais livros teve até hoje no topo da lista de bestsellers do New York Times, segundo o Guinness World Records. Desde que o seu primeiro romance venceu o Edgar Award, em 1977, os seus livros já venderam mais de 280 milhões de exemplares, em 43 países. Mais de 3,8 milhões de pessoas seguem James Patterson no Facebook.
Patterson escreveu também diversos livros para leitores jovens e jovens adultos, de grande êxito, entre os quais estão as séries Confissões, Maximum Ride, Escola e Eu Cómico. Em Portugal, James Patterson é publicado pela chancelas da 20I20 Editora - Topseller (adulto e jovem adulto) e pela Booksmile (juvenil).

Três pessoas com segredos perturbadores. Um assassino sem nada a perder. Quando Michael Ormewood, detective da Polícia de Atlanta, é chamado à cena de um homicídio num bairro social, depara-se com uma das mortes mais brutais de toda a sua carreira: o corpo de Aleesha Monroe jaz nas escadas de um prédio, numa poça formada pelo seu próprio sangue e horrivelmente mutilado.
Enquanto incidente isolado, este já seria um crime chocante. Mas quando se torna evidente que é apenas o mais recente de uma série de ataques violentos, o Georgia Bureau of Investigation é chamado a intervir — e Michael vê-se obrigado a trabalhar com o agente especial Will Trent, com quem antipatiza de imediato.
Vinte e quatro horas mais tarde, a violência a que Michael assiste todos os dias explode nas traseiras da sua própria casa. Percebe-se, então, que talvez o mistério da morte de Aleesha Monroe esteja indissoluvelmente ligado a um passado que se recusa a ficar esquecido…

Karin Slaughter é uma autora americana de ficção policial, nascida em Janeiro de 1971. O seu primeiro thriller, Blindsighted, publicado em 2001, tornou-se um êxito imediato. Desde então, já publicou cerca de vinte títulos, que atingiram consecutivamente o top dos mais vendidos no Reino Unido, nos EUA, na Holanda, na Alemanha, na Irlanda, na Dinamarca e na Austrália.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Quando Tu Eras Meu (Rebecca Serle)

Rosalina e Rob sempre foram os melhores amigos. Mas, à medida que o novo ano lectivo se aproxima, cresce a esperança de que a sua relação se possa tornar em algo mais. Mas a mudança é inesperada e, depois de um início auspicioso, ocorre a ruptura, provocada pela chega de Julieta. Esta é a prima de Rosalina e em tempos foram as melhores amigas, mas algo aconteceu no passado que criou um abismo entre ambas. Agora, Julieta quer vingança pelo que perdeu e parece que a conquistará com facilidade, pois despertou em Rob uma paixão capaz de quebrar o coração da prima. Mas os segredos do passado estão prestes a vir à tona. E, mais uma vez, as relações poderão ser abaladas...
Tendo por base a tragédia intemporal de Romeu e Julieta, mas contada do ponto de vista de Rosalina, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela leveza. Leveza que transparece, em primeiro lugar, do estilo de escrita, simples, mas agradável e adequado à voz de uma protagonista jovem, mas também da fase inicial da história, em que tudo parece promissor e bastante alegre. Esta leveza inicial prevalece, em certa medida, ao longo de todo o livro, mas abre caminho a algo mais vasto, com uma situação que se torna progressivamente mais complexa, não propriamente devido aos dramas da adolescência, mas aos segredos que estão associados à história das personagens principais.
Estes segredos são, aliás, o mais interessante deste livro, já que criam, em primeiro lugar, uma aura de mistério, quando as causa da separação - e até de alguns actos vingativos - permanecem por explicar, e depois uma tensão entre personagens que torna a história mais cativante. Fica, talvez, a impressão de que mais haveria a explorar sobre o passado e essas questões familiares, sendo neste aspecto que a narração pela voz de Rosalina se torna um pouco limitante. Ainda assim, o que é efectivamente contado basta para abalar por completo o rumo da história, abrindo caminho a momentos muito emotivos e também, no que toca a Rosalina, a um percurso de crescimento que, marcado quer pela dor, quer pela superação, nunca deixa de ser cativante.
Quanto às ligações a Romeu e Julieta, destaca-se o equilíbrio discreto com que vão sendo desenvolvidas. É fácil reconhecer os pontos em comum, mas também as diferenças. Isto permite que esta história ganhe uma identidade própria, reconhecendo, ainda assim, a história intemporal que lhe serve de base.
Envolvente desde o início e bastante emotiva, esta é uma história que poderia, talvez, ser mais desenvolvida em alguns aspectos, mas que, de resto, cativa e surpreende na sua recriação de uma história sobejamente conhecida. É uma boa leitura, pois.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Divulgação: Contos Breves, de Olinda P. Gil

Neste opúsculo estão reunidas pequenas narrativas inconscientes: digo isto porque na altura em que foram redigidas era tão jovem que nem sabia que estava a escrever um tipo específico de conto. 
O conjunto daqui resultante é uma selecção e revisão de textos criados entre 1999 e 2007, período que corresponde, aproximadamente, à minha colaboração do DN Jovem (suplemento do Diário de Notícias direccionado para os jovens). Muitos dos textos aqui presentes foram lá publicados. Contudo, estão também incluídos alguns que estavam inacabados, tendo sido agora trabalhados. 

Olinda P. Gil (autora) é licenciada em Linguas e Literaturas Modernas e mestre em Ensino do Português e das Línguas Clássicas. Tem também uma pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos. Foi colaboradora no DN Jovem, suplemento do Diário de Notícias. Participou com outros colaboradores do suplemento no site na-cama.com e jotalinks. Foi 3º prémio no concurso literário "Lisboa à Letra" em 2004, na categoria de prosa. Foi seleccionada no "4º Concurso de Mini-Contos do IST Taguspark". Tem textos publicados nas revistas Ao Sul de Nenhum Norte, Bang! e Nanozine. Publicou nas colectâneas Ocultos Buracos, Beijos de Bicos e Poesia sem Gavetas da Pastelaria Studios Editora. Escreve no blog: http://www.olindapgil.com 
 Cláudia Banza (ilustradora), concentra a maior parte, se não toda, a sua atenção na criação de ilustrações fantasiosas, mas poderosas. Ela muitas vezes gosta de justapor coisas fofas com coisas obscuras, sobrenaturais. Ao olhar para a sua arte, é óbvio que tem um grande amor pelas coisas bonitas e obscuras, muitas vezes deixando o espectador um pouco confuso e inseguro quanto ao facto, se deve rir ou sentir-se um pouco com medo. Usa uma série de materiais para criar as suas ilustrações que vão desde a aquarela, Photoshop, Illustrator, Corel Drawn, marcadores e tintas acrílicas.
Já participou em algumas exposições colectivas de pintura patrocinadas pelo NAVA (Núcleo de Artes em Aljustrel.
Em 2009, participou na exposição de fotografia colectiva no IPB (Instituto Politécnico em Beja)
Em 2011, participou na exposição de Artes Plásticas Coletivas integradas no final do estágio.
E desde aí tem trabalhado como freelancer em vários projectos, e blogueira a tempo inteiro.

O lançamento deste livro decorrerá na Biblioteca Municipal De Aljustrel, no dia 16 de Novembro, pelas 16h30.

domingo, 3 de novembro de 2013

Blueskin the Cat (Daniel Nanavati)

Blueskin era um salteador, mas os seus dias de crime terminaram. Ou não. Poucos momentos depois do seu enforcamento, ele acaba de despertar para uma nova existência. Reencarnou na forma de um gato, mas com os pensamentos e as memórias do tempo em que foi um homem. Agora, Blueskin quer vingança dos irmãos que o capturaram e, por isso, está decidido a seguir todos os seus passos. Mas, ao embarcar numa viagem rica em aventuras, Blueskin está prestes a descobrir que, agora que é um gato, as suas prioridades são bem diferentes. E que o seu caminho pode levá-lo no sentido de uma nova missão.
Sendo este um livro relativamente breve, é também uma história que cativa em primeiro lugar pela aventura. Nas suas menos de 100 páginas, a história das aventuras de Blueskin, o gato, inclui um naufrágio, um encontro com piratas e a descoberta de um novo mundo, para citar apenas alguns dos momentos mais relevantes. Há muita coisa a acontecer e, ainda que esses acontecimentos sejam narrados de forma muito sintética, há, neste livro, mais que o suficiente para proporcionar uma leitura agradável.
Um outro ponto interessante é o contraste que se cria entre Blueskin, o homem, e Blueskin, o gato. O homem é um indivíduo nada recomendável, cujas acções foram a razão da sua queda. Mas não é assim que o gato entende as coisas, pelo menos inicialmente. Isto abre espaço para um crescimento da personagem. Blueskin, o gato, descobre que é agora alguém melhor do que a pessoa que foi, e esta evolução é um dos grandes pontos fortes deste livro.
Ainda um outro aspecto interessante é o equilíbrio entre texto e ilustração. A escrita é relativamente simples, ainda que cativante quanto baste, e não há muita descrição. Mas as imagens completam a história, com a sua ilustração tão nítida dos elementos essenciais do enredo.
A soma de todas as partes é uma leitura agradável, com uma boa história e uma mensagem muito positiva. Uma boa leitura, em suma, com uma interessante combinação de escrita e imagem. Gostei.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Memórias de um Amigo Imaginário (Matthew Dicks)

Budo é o amigo imaginário de Max. Para ele, o seu amigo humano não tem um problema nem uma doença. É simplesmente diferente. E, mesmo tendo uma mente mais desenvolvida que a de Max, Budo adora-o, não só porque foi Max que o criou - e criou-o tão bem que quase parece verdadeiro - mas também porque o conhece como ninguém. Mas agora Max está em perigo. Budo sabe que só existirá enquanto Max acreditar que ele existe, e isso preocupa-o, mas há, agora, algo de mais grave a acontecer. E Budo terá de pôr em risco a sua própria existência para salvar Max de uma situação que, na sua aparente inocência, o rapaz humano não consegue compreender totalmente.
Profundamente emotivo e cativante desde as primeiras frases, este é um livro que marca por muitas razões. Cativa pela história e pela forma como é contada e, por tudo o que dá ao leitor, seja a nível de emoção, seja de reflexão, é um livro que fica na memória. Há, ainda assim, particularidades que se destacam e que importa realçar neste livro em que tudo é muito bom.
Uma das coisas que primeiro sobressai é a inocência. Narrada pelo ponto de vista de Budo, o amigo imaginário, a história apresenta-nos pontos de vista que, pela inocência que reflectem, surpreendem pela singularidade do pensamento e pelo que têm de tocante. Em muitos aspectos, Budo vê o mundo como a criança que é o seu amigo humano, ainda que compreenda coisas que Max não percebe. Além disso, a sua interacção com os outros - humanos e imaginários - ao longo do enredo, é rica em momentos de descoberta, o que, por si só, dá forma a uma grande aventura e a uma bela aprendizagem.
Outro ponto muito interessante é o desenvolvimento do que caracteriza um amigo imaginário. Explorado quer nas experiências de Budo, quer naqueles que este encontra ao longo do seu caminho, a definição que o autor constrói de amigo imaginário é completa e real. É fácil imaginar Budo e os seus companheiros invisíveis, a viver num ponto de realidade diferente, mas com as mesmas preocupações e sentimentos que qualquer humano. Também aqui sobressai a inocência, mas também as grandes verdades que nascem desta perspectiva. O mundo de Budo é Max, mas é possível ver mais para além dele e ponderar questões como o medo da diferença, os perigos que podem ameaçar a vida de uma criança e até o simples percurso do crescimento e a forma como este altera a imaginação.
E, de toda esta história e das questões a ela associadas, surge a mensagem muito positiva, espelhada quer nos grandes acontecimentos, quer nos pequenos gestos, vinda de personagens verdadeiras... ou verdadeiras de uma forma diferente. A luta de Budo e de Max, e a forma como se fundem e completam, compreende gestos de heroísmo, mas também as dúvidas ante uma grande escolha. E, no fim de contas, tudo se resume à necessidade de fazer o que está certo, tão claramente desenhada na história destas personagens.
Envolvente e surpreendente pela forma como, através de uma base de inocência, consegue atingir profundidades surpreendentes, este é um livro que cativa desde as primeiras páginas e que, de surpresa em surpresa, conduz o leitor, através de uma boa história, a reflectir sobre o que realmente importa. Muito bom.