segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A Estrada do Tabaco (Erskine Caldwell)

Todos os anos, Jeeter Lester acredita que, se conseguir que alguém lhe empreste uma mula e uma forma de comprar o adubo e as sementes, conseguirá produzir uma boa colheita de algodão. Mas todos os anos as suas esperanças saem goradas, até ao ponto em que já não é muito importante tentar. Entretanto, a sua família vive na miséria, num ambiente em que apenas a satisfação das suas necessidades interessa e são os mais improváveis desejos a motivar as suas escolhas. Cruéis, como as condições em que vivem, os Lester encontram-se, a cada dia, a reviver o mesmo ciclo de vazio. E nem as mudanças prometidas chegam, nem as que acontecem são verdadeiras mudanças.
Bastante breve e com uma narrativa que se define tanto de momentos como de esperas, este é um livro que, apesar da escrita acessível e da forma relativamente sucinta como os acontecimentos são apresentados, se revela como inesperadamente complexo. Isto deve-se principalmente a dois factores: as emoções contraditórias que desperta e um cenário de miséria generalizada que, inevitavelmente, conduz à reflexão.
No que diz respeito às emoções, o mais impressionante está na forma como a relação disfuncional entre os vários elementos da família (e os que nela se introduzem) acaba por se confundir com uma quase normalidade. Indiferença e negligência, relações nebulosas e até mesmo um certo desprezo são presenças patentes na relação dos Lester, mas, apesar disso, há uma certa unidade na miséria, algo que os torna próximos. Esta aparente contradição desperta também sentimentos ambíguos, com episódios que se afiguram revoltantes a contrastar com situações em que é a compaixão que domina. E esta ambiguidade de emoções, reflexo também da ambiguidade moral das personagens, converge para o reflexo da miséria dominante, numa narrativa com tanto de trágico como de caricato.
Quanto à pobreza, com tudo o que, na história dos Lester, lhe está associada, sobressai o retrato de tempos de mudança, com o abandono dos campos como único meio de sobrevivência a contrastar com a persistência dos poucos que se recusam a partir. É neste aspecto que Jeeter Lester revela a sua verdadeira força, de homem censurável em tantos aspectos, mas firmemente decidido a permanecer no lugar que considera seu. Esta acaba por ser, aliás, a grande característica redentora de Jeeter, aquela que o humaniza. E, assim, um dos traços que tornam mais marcante a história de toda a sua família.
É difícil, pois, caracterizar de forma completa esta história tão breve, mas que, no seu percurso da estranheza à revelação, acaba por marcar de formas inesperadas. Contraditória e disfuncional, mas complexa e humana, mesmo no que tem de mais caricato, o certo é que fica na memória.

domingo, 28 de setembro de 2014

A Mulher Má (Marc Pastor)

1912. Há crianças a desaparecer em Barcelona, mas ninguém parece importar-se muito com o caso. São principalmente os filhos das prostitutas, aqueles a quem ninguém liga, porque, aos seus olhos, não existem. Mas, por alguma razão inexplicável, o inspector Moisès Corvo não consegue ficar indiferente à situação e, apesar de não ser habitualmente movido por sentimentos nobres, Corvo não está disposto a parar até descobrir as respostas. O problema é que as pistas são muito poucas e, para chegar às poucas que há, será necessário contestar o sigilo de gente poderosa. Ora isso não pode deixar de ter consequências...
De ambiente sombrio e com um mistério de contornos igualmente negros, este é um livro que, a fazer lembrar, a espaços, os contos de Poe, parte de um conjunto de crimes sem solução para contar uma história repleta de peculiaridades. A primeira é, desde logo, a voz que conta a história. Apesar da escolha da morte para narrador não ser um caso único, é, ainda assim, invulgar, o que, desde logo, desperta curiosidade. Além disso, a forma que o autor lhe atribui uma personalidade, com traços de quase compaixão e, ao mesmo tempo, um estranho - e algo negro - sentido de humor, cria um início bastante mais apelativo.
Isto é particularmente interessante se tivermos em conta que nenhuma das personagens é especialmente admirável, desde os membros de uma autoridade particularmente disposta a fechar os olhos aos estranhos cúmplices do crime, e, sem esquecer, claro, a própria mulher má. Mas, de todas estas figuras peculiares, sobressai a ambiguidade da posição de Moisès Corvo, tão falível e tão disposto a contornar a lei como qualquer um dos seus colegas de profissão, mas particularmente determinado a encontrar respostas - contra tudo e contra todos, se necessário - num caso em que a inocência é comprometida.
Quanto ao enredo propriamente dito, o mais cativante está na forma como, a partir de algumas pistas sem grande ligação, o autor constrói um percurso de grandes revelações, mas também de becos sem saída, o que torna o caminho de Corvo mais credível, ao mesmo tempo que o narrador dá voz à parte escondida da história das personagens. O que acontece, assim, é que, entre os rasgos de crueldade, as pistas improváveis e a lenta descoberta do que verdadeiramente aconteceu, a história vai crescendo em intensidade, para culminar num final que, apesar de perder um pouco pela forma algo abrupta com que tudo acontece, acaba por ser, sem dúvida alguma, o mais adequado às circunstâncias.
Por último, uma menção às várias referências literárias que vão surgindo ao longo do enredo e que, de forma discreta, mas interessante, estabelecem uma sensação de similaridade. Desde os comentários a Sherlock Holmes, a algumas improváveis escolhas de nome, sem esquecer a própria conclusão dos acontecimentos, há uma série de paralelismos que se criam entre este livro e alguns outros sobejamente conhecidos (principalmente de Bram Stoker e Edgar Allan Poe, naturalmente, mas não só), e que tornam o ambiente sombrio do enredo agradavelmente familiar.
Sombrio e cativante, ainda que algo apressado na forma de contar algumas partes da história, este é, portanto, um livro que, no seu ambiente negro e nas muitas peculiaridades que povoam a sua história, proporciona uma leitura intrigante e, nos momentos certos, surpreendente. Uma boa leitura, em suma.

sábado, 27 de setembro de 2014

Inveja (J.R. Ward)

Filho de um serial killer, o detective Thomas DelVecchio, Jr. sempre se questionou sobre a sua verdadeira natureza. Por isso, ao encontrar-se diante do corpo agonizante de um outro serial killer, sem se lembrar do que aconteceu ou do que faz ali, a sua primeira reacção é considerar-se responsável. Mas as provas parecem apontar noutro sentido e Sophia Reilly, a agente dos Assuntos Internos responsável pelo caso, não está disposta a tirar conclusões precipitadas. O resultado é uma parceria mais ou menos forçada que cedo se transforma em algo mais forte. Mas, com o demónio por perto e um conjunto de crimes ainda por resolver, os caminhos de Reilly e Veck podem estar à beira de uma encruzilhada difícil de ultrapassar. E a única ajuda possível está nas mãos de um enigmático - e aparentemente inexistente - suposto agente... e na própria consciência de Veck.
Parte do que torna este livro - e esta série, em geral - interessante é o cruzamento entre a história de um casal protagonista e o enquadramento num contexto mais vasto. Veck é, no fundo, o centro de um novo confronto entre o bem e o mal e, por isso, a sua própria história - romance e descoberta de si mesmo, incluídos - funde-se com a de um conflito de regras flexíveis e em que, basicamente, quase tudo é permitido. Assim, a autora acompanha, por um lado, a história de Veck e dos seus demónios interiores, numa faceta do enredo em que romance e tensão se misturam com emoção e um toque de humor, e conjuga-a com os novos desenvolvimentos na história de Jim Heron e companhia, história essa que tem também vários desenvolvimentos inesperados. O resultado é uma história que, no percurso essencial, tem princípio, meio e fim, mas em que o enquadramento mais vasto levanta interessantes questões relativamente ao que se poderá seguir.
Outro aspecto interessante deste cenário de batalha entre o bem e o mal é o ambiente sombrio que se cria em torno de toda a situação, com o lado tenebroso das acções de Devina a contrastar com o romance e a sensualidade da relação entre o casal protagonista. E, ao juntar a isto o lado sombrio do próprio Veck, quase como que numa luta contra a sua própria natureza, a autora torna mais complexo o panorama emocional em que as personagens se movem. Isto aplica-se, aliás, também ao próprio Jim, cujas ligações emocionais criam conflitos interiores relativamente ao papel que tem a desempenhar.
Mas, apesar de todas estas tribulações internas, o enredo nunca se torna nem pausado nem introspectivo. A verdade é que há sempre alguma coisa a acontecer, seja no aspecto romântico, seja no desvendar do mistério ou no conflito pela alma de Veck. E, num crescendo de intensidade, mas também de emoção, é inevitável que a leitura se torne mais e mais viciante, principalmente a partir do momento em que o objectivo final se torna visível.
Romance e redenção, numa história em que o bem e o mal se cruzam de formas inesperadas, fazem, pois, deste Inveja uma leitura intensa e surpreendente, com leveza e sensualidade nas medidas certas, mas também com o equilíbrio ideal entre acção, emoção e humor. A soma de tudo isto é um livro viciante, com a promessa de muito de bom para descobrir nos que se seguirão. Muito bom, em suma.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Novidade Asa

Depois de Adrenalina, O Último Minuto e Queda, Jeff Abbott regressa com um empolgante thriller da série protagonizada por Sam Capra.

Quando o melhor cliente de Sam – e amigo – é assassinado à porta do seu bar de Miami, Sam decide procurar justiça. Determinado a descobrir a ligação entre a morte do amigo e uma bela e misteriosa desconhecida, Sam infiltra-se no seio dos Varela, uma das famílias mais importantes e perigosas de Miami.
Agora no seio da família, a desempenhar um papel onde um movimento errado significa a morte, Sam enfrenta um poderoso e instável magnata que tenciona dividir o seu império empresarial entre os três filhos, todos eles muito diferentes e com os seus próprios segredos assassinos.
Sam é implacavelmente arrastado para o drama intenso da família, recordando-se de forma dolorosa das suas próprias relações destroçadas como filho, irmão, pai e marido. E justamente quando acha que compreende por que motivo a família está a autodestruir-se e se prepara para desmascarar o assassino, descobre um segredo mortal tão chocante que os Varela não podem deixá-lo partir com vida...

Jeff Abbott é autor de catorze livros policiais publicado em vinte línguas. Em 2012 venceu o International Thriller Writers Award com o livro O Último Minuto e foi três vezes nomeado para o Edgar Award. Vive em Austin, no Texas, com a família.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Olhai os Lírios do Campo (Erico Verissimo)

Apesar de sempre ter ambicionado uma vida diferente, Eugênio cresceu numa família pobre e foi a custo que conseguiu formar-se em medicina. Escolheu o seu caminho devido a uma vaga noção de heroísmo associada à profissão de medicina, mas nunca esqueceu a ambição, o desejo de fortuna. E, finalmente, através de um casamento por interesse, conseguiu-a. Mas basta um instante e toda a sua história é abalada. Informado de que Olívia, a antiga companheira e a única mulher que realmente amou, está às portas da morte, Eugênio revisita todo o seu passado. O que encontra dentro de si ao correr rumo ao hospital é todo um mundo de memórias capazes de abalar a sua escolha de vida.
Ao mesmo tempo história pessoal de uma personagem e retrato do contexto em que ela se move, este livro tem como grande ponto forte o cenário que constrói, com as desigualdades como pano de fundo, mas também com a colisão dos diferentes ideais dominantes no seu tempo. Ao longo da narrativa, o autor pondera sobre as ideologias fascistas, o abismo que separa ricos e pobres, o acesso da mulher a uma escolha de carreira e a importância da fortuna para a felicidade, em conjugação ou em detrimento de outros valores. Todos estes assuntos criam uma narrativa algo introspectiva, mas em que os pontos de vista das várias personagens são bastante vincados. O resultado é que o percurso de mudança de Eugênio ganha um maior impacto, mas também que, através do comportamento das personagens, o pensamento ganha um reflexo prático.
Apesar das, por vezes, extensas ponderações e dos diálogos mais ou menos filosóficos, este livro tem também drama e tensão em abundância. Entre o amor e a distância, o contacto com a morte e a vergonha das origens, a transgressão e a resposta necessária, há, ao longo do enredo, vários momentos de grande intensidade. Nem todos imprevisíveis, é certo, o que, de certa forma, lhes atenua o impacto emocional, mas, apesar disso, cativantes na forma como equilibram o evidente dramatismo com a mensagem que lhe está subjacente.
Voltando ainda ao percurso de Eugênio - que é, no fim de contas, o de quase toda uma vida - fica, por vezes, a impressão de uma parte da história deixada por contar, não só relativamente à busca de Ernesto, mas também às possibilidades deixadas por explorar no seu percurso enquanto estudante e, depois, jovem médico. Ainda assim, o essencial está lá e o caminho do protagonista da ambição à descoberta é, ainda e sempre, uma mensagem muito clara sobre o que realmente importa na vida.
Mais que uma história de amor, esta é, pois, a caminhada de um homem à descoberta de si mesmo. E, vista como tal, a história deste livro, contada pelo drama e pela emoção, mas também na sua vertente mais introspectiva, acaba por se revelar especialmente marcante no contexto e na mensagem que tem associados. Vale a pena ler, portanto.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Novidades Topseller

Barcelona, 1912. Há crianças a desaparecer. Quando um cadáver é encontrado numa viela estreita, dilacerado e sem um pingo de sangue, surgem rumores bizarros sobre um «vampiro» que se move pelas sombras da cidade e que anda a roubar as almas dos inocentes.
Para a polícia trata-se apenas de mais um cadáver, num lugar onde a morte e o crime são tão frequentes que se tornaram banais. E quanto às crianças desaparecidas, ninguém quer saber dos filhos das prostitutas que povoam Barcelona. Mas para o inspector Moisès Corvo — um polícia rude e dissoluto, com um sexto sentido peculiar — este é um mistério que tem de ser resolvido, com um criminoso que afinal é uma mulher.

Marc Pastor nasceu em Barcelona, em 1977. Estudou criminologia e política criminal, e trabalha actualmente como investigador criminal na sua cidade natal. Autor de vários romances, o livro A Mulher Má valeu-lhe, em 2008, o prémio Crims de Tinta, atribuído ao melhor policial «negro» escrito em língua catalã.
Baseado na história verídica de Enriqueta Martí, uma mulher misteriosa que aterrorizou a cidade de Barcelona no início do século XX, este livro intrigante proporcionou a Marc Pastor projecção internacional ao ser traduzido e publicado em variadíssimas línguas por todo o mundo. As recentes viagens por diversas cidades de Inglaterra e Estados Unidos granjearam-lhe enormes elogios por parte da crítica.

Hannah perde a filha de 12 anos num acidente. Através da doação do fígado da filha, Hannah consegue salvar a vida de uma adolescente um pouco mais velha, Maddie. Saída da redoma de protecção em que vivia por causa da doença, Maddie ganha uma nova esperança de vida para enfrentar, por fim, o desafio do mundo real.
Olivia, a sua mãe, é vítima da violência do marido, mas planeia um dia fugir de casa com Maddie sem que isso implique perder a custódia da filha.
Numa história arrebatadora e profundamente comovente, os caminhos destas três mulheres vão cruzar-se e as suas vidas irão alterar-se para sempre.

Escritora norte-americana formada em Sociologia, a experiência académica e pessoal de Amy Hatvany possibilitou-lhe um grande conhecimento da natureza humana. Nos seus livros aborda diversos temas controversos, incluindo doenças mentais, violência doméstica e alcoolismo. É autora de livros muito elogiados pela crítica, como The Language of Sisters, Best Kept Secret, Heart Like Mine e O Jardim das Memórias, também publicado pela Topseller. Ao Encontro do Destino é o seu título mais recente. Conheça melhor a autora em: www.amyhatvany.com.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Tríptico (Karin Slaughter)

A morte violenta de Aleesha Monroe, encontrada nas escadas no seu prédio, jazendo numa poça de sangue e com a língua cortada, desperta a atenção do agente especial Will Trent. Aparentemente, Aleesha não é a primeira vítima e, apesar das evidentes diferentes, há muitas pistas a apontar para um mesmo culpado. Mas, mais que isso, há sinais de algo no passado que poderá ter algo a ver com a situação. E, se dúvidas havia, o segundo corpo descoberto junto à casa do detective responsável pela investigação aponta claramente para a existência de uma ligação, ainda que, à partida, poucos a consigam compreender. Cabe, pois, a Will Trent, na sua mais que peculiar eficiência e infindável determinação, encontrar um caminho até às respostas. Mesmo que, a cada nova pista, surjam ainda mais graves suspeitas.
Sombrio e intenso desde os primeiros capítulos, este é um livro em que a violência dos crimes e a aparente indiferença de alguns possíveis envolvidos se cruzam com um enredo em que o passado das personagens é tão ou mais importante que o mistério em si, porque revela as suas naturezas. Neste aspecto, o contexto das vidas de personagens, quer do detective Ormewood, quer do próprio Will Trent, com as relações que, ao longo do enredo, vão sendo desvendadas, desempenha um papel fundamental para o desenvolvimento da intriga, ao mesmo tempo que torna mais fortes os sentimentos - positivos ou não - que as diferentes personagens despertam.
São esses tais sentimentos o ponto de partida para outro dos pontos fortes deste livro. É que, ao percorrer diferentes perspectivas, criando limites através das grandes revelações, a autora manipula a impressão que algumas das personagens passam para o leitor. Assim, quem começa por ser uma figura aparentemente simpática acaba por revelar um lado sombrio, enquanto que as peculiaridades de outros acabam por esconder um fundo mais complexo.
E, de entre a busca pelo culpado, dos segredos bem escondidos que surgem à superfície e dos momentos de perigo que surgem com o adensar da intriga, há ainda um elemento emocional particularmente marcante, na figura de John Shelley. Na sua perpétua luta pela integração, mesmo perante barreiras aparentemente inultrapassáveis, a empatia que esta personagem desperta, pelas circunstâncias em que se encontra, mas também pelo que lhe define a personalidade, acaba por ser um estranho ponto de luz num mar de escuridão. E também isso contribui para que este livro fique na memória.
Por último, falta falar de Will Trent. Peculiar em muitíssimos aspectos e, inicialmente, a fazer lembrar o também peculiar protagonista da série Pendergast, Will é uma personagem que, a cada nova revelação, se distancia mais da estranheza e em direcção ao carisma. No fim, ficam muitas perguntas sem resposta a seu respeito (ou não fosse este o primeiro volume de uma série), mas também uma imensa curiosidade em saber mais.
Intrigante desde as primeiras páginas e com um ritmo que cresce em intensidade a cada nova revelação, este é, pois, um livro que surpreende em todos os aspectos. Desde a fluidez da escrita à capacidade da autora de manipular a percepção do leitor sobre as personagens, tudo contribui para o impacto de uma história em que perigo e tensão se misturam com aquela medida exacta de emoção. O resultado não podia ser outra coisa que não brilhante. Recomendo sem reservas.

Novidade Porto Editora

Yvonne Carmichael trabalhou arduamente para conquistar a vida que sempre quis: uma invejável carreira na área da genética, uma casa fantástica, uma boa relação com o marido e dois filhos crescidos de quem se orgulha. 
Um dia, ela cruza-se com um desconhecido e, num impulso, começa uma tórrida aventura amorosa – uma decisão que acabaria por colocar em causa tudo o que ela sempre valorizou. Yvonne acredita que conseguirá manter a relação extramatrimonial sem que tal venha a interferir na sua vida, tal como ela é. Só que, na verdade, ninguém consegue controlar o que acontecerá a seguir. 
De conceituada e respeitada cientista a adúltera acusada dos mais variados crimes, Yvonne vê todos os seus planos desmoronarem-se numa espiral de desilusões e violência.

Louise Doughty é autora de sete romances. Uma escolha imperfeita(cujos direitos estão vendidos para 21 países) é o primeiro título a ser publicado depois de Whatever You Love, que foi finalista do Costa Novel Award e do Orange Prize for Fiction. 
Vencedora de vários prémios na área da escrita para rádio e contos. Doughty publicou também um trabalho de não-ficção, A Novel in a Year, baseado numa coluna de opinião escreve para um jornal. É ainda autora de vários artigos de fundo para jornais e revistas como The Guardian, The Independent, The Daily Telegraph, The Mail on Sunday e a sua carreira na rádio inclui trabalhos em emissoras como a BBC. Vive em Londres.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Novidades Planeta

A moradia de uma família arruinada, no Porto, que é demolida para dar lugar a um condomínio. 
Uma mulher que desistiu de tudo desde que teve de vender a casa azul e despedir-se das suas magníficas árvores. 
Um agente da PIDE que segue, nos anos 60, os movimentos dos habitantes da casa azul. 
Duas irmãs gémeas que desconhecem a existência uma da outra: uma parisiense, outra portuense. 
Um homem num hospital em Paris, gravemente queimado, que todos os dias é visitado por uma jovem. 
Uma história de amor e paixão que nasceu em Paris, no único mês de Maio em que tudo foi possível.

Claudia Clemente nasceu no Porto em 1970.
Arquitecta de formação, estudou cinema em Barcelona e Lisboa e divide o seu trabalho actual entre a escrita e a realização cinematográfica, a ficção e os documentários. 
Publicou dois livros de contos, O Caderno Negro (2003) e A Fábrica da Noite (2010), e a peça Londres (2012), vencedora do Grande Prémio de Teatro da S.P.A./Teatro Aberto. 
O seu primeiro documentário, & etc., foi premiado nos festivais Doc Lisboa e IMAGO’07. A Casa Azul é o seu primeiro romance.

Neste último livro da trilogia, o leitor vai conhecer o final empolgante da história entre o aristocrata Jesse Ward e a jovem designer de interiores Ava O’Shea. 
The Manor, o local onde começou a sua história de amor apaixonada, enche-se de convidados para o que deverá ser o dia mais feliz das vidas de Ava e Jesse. 
Ela aceitou que nunca conseguirá domar o lado selvagem de 
Jesse, e também não o deseja fazer. O seu amor é profundo, sua ligação poderosa, mas quando pensa que por fim tudo está bem, de súbito surgem mais dúvidas e perguntas, levando Ava a suspeitar que Jesse Ward poderá não ser o homem que pensa que é. 
Ele sabe como levá-la para um lugar além do êxtase... mas também a conduzirá ao desespero? É chegada a hora de este homem se confessar.

Jodi Ellen Malpas nasceu em Northampton, onde vive com a família. 
Enquanto trabalhava na empresa de construção do pai foi cimentado a trama de a trilogia e criou a personagem de Jesse Ward. 
Em 2012 decidiu autopublicar O Amante, o primeiro livro, e a massiva resposta das leitoras motivou-a a terminar a trilogia. 
Catapultada para o número 1 do The New York Times, a trilogia Este Homem converteu-se no fenómeno do ano coroando Jodi Ellen Malpas como a nova rainha do romance erótico. Mais de um milhão de leitoras apaixonaram-se por Jesse...

A protagonista de A Mulher Louca, Júlia, trabalha numa peixaria e à noite estuda gramática, porque está apaixonada pelo chefe, que na verdade é filólogo. 
Nos tempos livres, a jovem ajuda a cuidar de uma doente terminal, Emérita, e encontra-se com Millás, que está a fazer uma reportagem sobre a eutanásia. 
Durante as visitas, o escritor sente-se atraído pela ideia de romancear a vida de Júlia, embora para o fazer enfrente o seu bloqueio criativo com a ajuda da psicoterapeuta. 
A realidade transtorna os planos do escritor, quando Emérita revela um segredo que guardou zelosamente toda a vida. O que começara como uma crónica para o jornal converte-se então numa espécie de novela, onde se verá apanhado como personagem.

Juan José Millás nasceu em Valência em 1946.
É autor de várias obras, vencedor de vários prémios, onde se destacam O Mundo (Prémio Planeta 2007 e Prémio Nacional de Narrativa 2008), Os Objectos Chamam-nos e O que Sei dos Homenzinhos, publicados em Portugal pela Planeta, que o consagraram como um dos grandes escritores da actualidade. 
Dedica-se ainda ao jornalismo, sendo cronista regular do diário El País, e a sua prosa jornalística, várias vezes premiada, gerou tantos leitores fiéis como as suas obras literárias. 
Numa escrita psicanalítica e profunda, mas igualmente vívida na criação de ambientes, Juan José Millás criou uma obra ímpar, traduzida em 23 línguas.

O General Amadeus Barnard, da Cavalaria Ligeira da Grande Armée de Napoleão tinha um título de nascimento. 
Propriedades. 
Uma biblioteca preciosa. 
Era um herói nacional. 
Bonito como o diabo... 
Adeline Boissinot só tinha dois vestidos. 
Não: apenas um vestido: o que trouxera no corpo quando rumara até Paris, atrás de um sonho que nunca se realizaria... 
O outro, o vestido castanho que ela usava durante o dia e fora adaptado para o seu corpo delicado, era o vestido da criadagem. 
E ele era o seu patrão.

Rosania Stival divide o seu coração entre o Brasil, país em que nasceu e creceu, e Portugal, onde vive há 8 anos. 
É formada em Letras e Psicologia, e é professora de Língua Portuguesa. O seu romance de estreia, O Vestido Cor de Pêssego, teve a sua primeira versão em 1997, como um conto de 16 páginas. 
Em 2013, as personagens ganham nova vida e a história recebe mais cor, acção, romance, e maior dimensão humana, mostrando dramas pessoais e colectivos, num período marcado por grande efervescência política e social. 
Em 2014, a saga dos Hussardos e Dragões, aqui iniciada, já promete mais paixões e aventuras que fervilham na cabeça e na ponta dos dedos de Rosania Stival, noite fora... 
Uma autora forte e apaixonada por histórias e pelas suas personagens, que arrasta consigo qualquer leitor que goste de vibrar, ver e sentir aquilo que lê. Afinal, é o amor que move a Lua e as estrelas, é o amor que nos faz leitores e amantes.

domingo, 21 de setembro de 2014

Uma Grande Mulher (Nicola Cornick)

Cinco anos passados desde que, devido a um escândalo, rejeitou o pedido de casamento de lorde Henry, lady Polly volta a encontrá-lo para descobrir aquilo de que já suspeitava: que ainda o ama. Aos olhos de todos, Henry é apenas mais um lorde indolente, dedicado apenas aos seus interesses, mas Polly vê nele algo mais, como um enigma por resolver. Tudo indica, também, que o amor que lhe dedica é correspondido. Mas há algo de oculto nas acções de Henry e uma reputação de libertino que, mais uma vez, deixa Polly hesitante. E só quando o mistério for resolvido poderá Polly considerar o futuro dos seus sentimentos...
Bastante breve e relativamente simples, a primeira impressão que este livro transmite é a de um desenvolvimento bastante apressado, no que diz respeito ao passado dos protagonistas. Num prólogo de poucas páginas, é resumida uma relação passada da qual haveria potencial para uma história bastante maior. Assim, nesta primeira fase, fica a sensação de algo deixado por dizer. 
Passado o prólogo, o início parece também um pouco hesitante, como que tentando reflectir a passagem do tempo, mas sem dizer grande coisa sobre o assunto. Mas, com a entrada em cena de lorde Henry, as coisas tornam-se mais interessantes. E por duas razões. Primeiro, pela aparente contradição nos seus comportamentos diante de Polly e perante o resto do mundo, que insinuam algo de estranho a ocultar. E, depois, pelo próprio mistério que lhe está associado, com a história de um criminoso foragido e de um potencial protector nobre a lançar suspeitas sobre o enigmático comportamento de Henry.
O que acontece é que, de um início demasiado abrupto, a história evolui para um ritmo cativante, em que a relação das personagens se torna mais natural e em que as medidas certas de humor e de emoção ultrapassam certos constrangimentos na relação entre os protagonistas. A narração nunca deixa de ser feita de forma simples, sem elaborações, mas, apanhado o ritmo, a leitura torna-se mais envolvente e o final consegue até uma intensidade inesperada.
A impressão que fica é, pois, a de uma história que, em certos aspectos, poderia ter sido mais desenvolvida, mas que, apesar disso, cativa e, nos seus melhores momentos, surpreende. Uma leitura leve e agradável, em suma. Gostei.

sábado, 20 de setembro de 2014

Isabel, a Condessa Cercada (Pedro L. Torres)

Acabado de chegar a Arzila para substituir o seu pai na capitania do forte, o Conde de Redondo descobre-se perante uma teia de responsabilidades e acções mais ou menos diplomáticas numa relação que é de (aparente) guerra com os mouros, mas em que as verdadeiras ligações são bastante mais complexas. Consigo, levou os filhos e a esposa, Isabel Henriques, mulher independente e cheia de determinação, cuja vida está também prestes a mudar. Mas também para lá das muralhas se operam mudanças, com a precária paz com os mouros a ser abalada pelo domínio cada vez maior de um ramo mais fundamentalista. E, entre tentativas de paz e confrontos inevitáveis, nasce também um percurso de amores e de desamores, com objectivos mais ou menos nobres, dos quais nenhum sentimento escapará ileso.
Bastante descritivo e, a princípio, um pouco disperso na forma como introduz as diferentes facetas da história, este não é propriamente um livro de leitura compulsiva. Desde o contexto histórico à forma como o enredo vai sendo construído, e sem esquecer os detalhes de um quotidiano diferente e a deliberada ambiguidade no que se refere a alguns aspectos da narrativa, há todo um conjunto de particularidades a assimilar, e isso exige tempo e atenção. 
Mas também é verdade que nada disso retira interesse à leitura. Muito pelo contrário. A forma como o autor entrelaça os diferentes fios da narrativa, com personagens de naturezas contraditórias e uma certa aura de mistério causada pelos avanços e recuos no rumo dos acontecimentos, faz com que, uma vez assimiladas as tais peculiaridades, a verdadeira complexidade, tanto de enredo como de personalidades, se revele como uma surpresa. No final, tudo faz sentido, mesmo o que é deixado como mera insinuação ou apresentado de forma mais breve. E fá-lo de uma forma surpreendentemente intensa. Terminada a leitura, não é o ritmo pausado o que fica na memória, mas o impacto do final.
Ainda falando das personagens e das suas aparentes contradições, o que começa por ser estranheza face a um conjunto de relações algo disfuncionais acaba por ser um bom reflexo da complexidade da condição humana. Condição que se reflecte tanto em pensamentos - e a própria mudança de mentalidade dominante entre os mouros é um exemplo disso - como em sentimentos e acções, nem sempre justas e correctas, e muito menos unânimes ante a avaliação dos outros, mas com motivos válidos ante o coração de cada um.
Poder-se-ia dizer, portanto, que este é um livro à imagem das suas personagens, primeiro causando estranheza e exigindo atenção, para depois surpreender pela complexidade do caminho e pela profundidade das emoções. Surpreendente, muito interessante e com um final realmente marcante, é, pois, um livro que fica na memória. Muito bom.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O Amigo Andaluz (Alexander Söderberg)

Ao estabelecer uma ligação de empatia com um dos seus pacientes, a enfermeira Sophie Brinkmann está longe de imaginar as consequências e os caminhos nebulosos a que essa proximidade a conduzirá. É que o paciente é Hector Guzman, um homem afável e charmoso, e também um dos líderes de uma organização criminosa. Assim, o afecto de Hector vale a Sophie bastantes atenções indesejadas, tanto dos amigos de Hector como dos inimigos. E, quando o envolvimento da polícia se revela como ainda outra razão para temer, Sophie começa a compreender que a sua antiga vida acabou. E que os poucos aliados que lhe restam podem estar, também, em circunstâncias altamente instáveis.
Tendo como centro uma teia de intrigas relativamente complexa e, em consequência, um conjunto bastante vasto de personagens, este é um livro que começa por ser um pouco confuso, antes de se tornar cativante. A confusão deve-se, em grande medida, ao número de personagens que, logo à partida, o autor introduz, mas também à forma como o papel destas é desvendado. A princípio, são muitas as figuras a entrar em cena, mas quem são e porque estão ali é algo que é desvendado de forma gradual. Por isso, a impressão inicial é de estranheza.
Mas a estranheza tem também um lado positivo. É que esta revelação gradual dos factos e das personagens cria uma aura de mistério relativamente às figuras que se movem em terno de Sophie, o que, com o evoluir dos acontecimentos, e assimiladas as identidades dos principais intervenientes, torna a leitura bem mais intrigante. 
Um dos aspectos mais interessantes deste livro prende-se com o facto de, entre todas estas personagens e as forças a que pertencem, não haver propriamente um lado bom - ou, pelo menos, um facilmente identificável. Sophie está no centro de tudo e, curiosamente, parece ser o único elo de inocência, num enredo em que a manipulação e o abuso parecem tão familiares aos criminosos como às forças da autoridade. Também isto contribui para a tensão crescente que se sente ao longo da narrativa, principalmente devido à impressão de um cerco em que não há ninguém absolutamente confiável no caminho da protagonista.
Ainda falando das personagens, sobressaem os traços disfuncionais da vida de muitos dos intervenientes, o que, ainda que não justifique os seus comportamentos - nem parece, aliás, ser esse o objectivo - , torna mais fácil compreender algumas escolhas menos acertadas. Não são, entenda-se, personagens empáticas, nem o poderiam ser, tendo em conta o contexto. Ainda assim, as suas histórias tornam mais fácil assimilar o caminho em que se movem.
Por último, importa referir que este é o primeiro volume de uma trilogia e que, por isso, não surpreendem as muitas questões deixadas em aberto. Questões que, apesar de  tudo o que é narrado neste livro, revelam ainda muito potencial inexplorado nos rumos desta história, criando curiosidade para o que se seguirá.
A soma das partes resulta num livro que, sem nunca se tornar compulsivo, devido ao grande número de personagens e a alguma estranheza inicial, apresenta uma história intrigante, com vários momentos intensos e uma perspectiva algo perturbadora do potencial para a maldade em mãos poderosas. Um início interessante, portanto.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Escudo da Noite (Nora Roberts)

Jonah Blackhawk nunca gostou de polícias. Mas o facto de ter sido um que o tornou num homem respeitável deixou-o em dívida para com o agora comissário Boyd Fletcher. Por isso, quando Boyd o informa de que um dos seus clubes pode ser o lugar onde um grupo de assaltantes escolhem os seus alvos, Jonah sente-se no dever de colaborar. O que não está à espera é que a presença de Ally Fletcher, filha de Boyd e também ela polícia, venha abalar as fundações da sua vida. O que começa por ser mútua provocação e uma atracção indesejada por ambos ameaça evoluir para algo mais forte. E, se as circunstâncias do caso os levam a passar mais tempo juntos, então, quando tudo estiver terminado, pode ser tarde demais para uma separação.
Apesar de ser, no essencial, uma história independente, há neste livro um ambiente de conclusão que indica claramente o fim de uma série. Em primeiro lugar, Ally é filha de Boyd,um dos protagonistas anteriores, o que, inevitavelmente, cria ligações às histórias dos outros livros. Além disso, quase todas as personagens dos volumes anteriores aparecem neste livro, ainda que de forma discreta ou numa breve referência. Este é, aliás, o ponto de partida para alguns dos melhores momentos do livro, já que a proximidade entre as várias personagens realça uma ligação afectiva para lá do romance.
Quanto ao casal protagonista, o mais interessante nesta história é o facto de Ally e Jonah serem muito diferentes, mas, apesar disso, complementares. Jonah, com a sua fachada distante a esconder um lado atormentado e um grande coração, colide, desde o primeiro contacto, com a personalidade forte e determinada de Ally. Mas, à medida que o perigo se torna mais próximo, quer no que toca à investigação, quer à possível profundidade da relação entre ambos, os pontos comuns tornam-se mais evidentes.. Neste aspecto, é especialmente cativante a forma como Ally ultrapassa as barreiras da mente atormentada de Jonah, com momentos de tensão e de provocação, mas também de leveza e de humor.
Outro ponto forte deste livro é que, apesar de ter uma relação no centro do enredo, tem também um mistério a desvendar, mistério este que a autora desenvolve de forma sempre intrigante e com algumas reviravoltas especialmente bem conseguidas. Há, ainda assim, uma contrapartida. É que, sendo este um livro relativamente breve, há aspectos que acabam por ser desenvolvidos de forma algo apressada e uma história complementar - a de Dennis Overton - que, demasiado breve no desenvolvimento, deixa a impressão de algum potencial por explorar.
Com um enredo intrigante, acção, romance e humor nas medidas certas e um toque de emotividade especialmente marcante, esta é, pois, uma história que, apesar de um pouco apressada nalguns elementos, cativa desde o início e consegue surpreender. Uma boa leitura, portanto, envolvente e agradável. Gostei.

Novidade Esfera dos Livros

A história costuma exaltar os grandes nomes da nação, as figuras que marcaram uma época, os heróis que venceram batalhas e conquistaram novos mundos, os reis que serviram o nosso país com dedicação… Pois, ao longo destas páginas, o que vai encontrar são os maus da nossa história. Os reis cruéis de temperamento violento, os assassinos sem escrúpulos, os homens que a troco de uma vil recompensa não hesitaram em trair o país, as mulheres fatais que enfeitiçaram os homens de poder, levando-os à perdição, os ambiciosos e gananciosos que não olharam a meios para atingir os seus fins, e todo o tipo de gente de má rês… Ricardo Raimundo, autor de Os Escândalos da Monarquia Portuguesa e Vidas Surpreendentes, Mortes Insólitas da História de Portugal, volta a surpreender-nos com este livro original, onde ficamos a conhecer o outro lado de algumas das personagens marcantes da História da Portugal. O rei D. Pedro I tinha um génio violento, D. João II, o Príncipe Perfeito, tinha  um lado negro, tendo assassinado, pelo seu próprio punho, o seu cunhado, irmão da rainha. Vasco da Gama levou o nome de Portugal ao outro lado do Mundo, mas os seus feitos violentos e personalidade colérica são pouco conhecidos. O infante D. Francisco, irmão do rei D. João V, era, segundo as crónicas, «um sujeito muito mau». Quem era a Megera de Queluz, perversa, ambiciosa e ninfomaníaca? Fernão de Magalhães pôs-se ao serviço de Espanha por apenas cem réis de diferença. Diogo Alves, o assassino do aqueduto, os regicidas Buíça e Costa e o temido João Brandão são alguns dos malfeitores que vai ficar a conhecer nas páginas deste livro surpreendente. 

Novidade Bertrand

Simultaneamente um thriller e um romance histórico, este é um livro original e inovador: original pelos temas que traz – um mistério por resolver em 1866 na cidade de Hokitika, Nova Zelândia, que reagrupa o destino de doze personagens – e inovador pela estrutura reinventada dos romances vitorianos.
A corrida ao ouro, o tráfico de ópio, a prostituição e a expiação do passado de cada uma das personagens, além de um grandioso mistério por resolver, relevam a singularidade desta obra, iluminada por referências astrológicas, chaves simbólicas orientadoras do destino das personagens. Surpreendente e viciante, trata-se de ficção ao mais alto nível literário. Este romance de Eleanor Catton é incontornável, tendo sido reconhecido com o Man Booker Prize 2013.

Eleanor Catton nasceu em 1985 no Canadá e cresceu na Nova Zelândia. O Ensaio, o seu romance de estreia, contou-se entre os finalistas do First Book Award do Guardian e do Dylan Thomas Prize e foi nomeado para o Orange Prize. O romance foi aclamado e acumulou prémios em todo o mundo, entre os quais o Betty Trask Award de 2009. Desde então, foi publicado em 17 países e em 12 línguas.
Eleanor Catton tem um MFA do Iowa Writer’s Workshop, em que também leciona como professora adjunta, e um MA em escrita ficcional do International Institute of Modern Letters. Em 2013, além do Man Booker Prize, foi galardoada com o Canadian Governor General’s Literary Award por Os Luminares e foi proclamada membro da Ordem de Mérito da Nova Zelândia pelos serviços prestados à cultura e arte literária. Vive em Auckland, Nova Zelândia. Foi, até à data, a mais jovem autora a receber o Man Booker Prize, e com o romance mais extenso.

Passatempo A Queda dos Gigantes

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a Editorial Presença, tem para oferecer um exemplar do primeiro volume da trilogia O Século, o livro A Queda dos Gigantes, de Ken Follett. Para participar basta responder às seguintes questões:

1. Quais são os títulos dos três livros que formam a trilogia O Século?
2. Em que ano foi publicado pela Presença o primeiro volume da trilogia?
3. Qual é a nacionalidade do autor?

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 30 de Setembro. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com , juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- O blogue não se responsabiliza pelo possível extravio do livro nos correios;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Novidades Topseller

Vanessa «Michael» Munroe trabalha com informação. Após fugir a uma infância traumática, a sua aprendizagem e o seu treino permitem-lhe obter todo o tipo de informações, independentemente do cenário ou do país onde se encontre. Por isso, é agora contratada por empresas, instituições ou privados que pagam os seus serviços únicos no mundo.
Destacada para uma missão de alto risco, Vanessa tem de resgatar Hannah, uma rapariga de treze anos, da sua reclusão no seio de uma fanática comunidade religiosa conhecida como «Os Eleitos».
O processo de libertação de Hannah vai resultar em situações complexas e perigosas, mas, com a ajuda do especialista em segurança Miles Bradford, vai também permitir uma nova vida para esta heroína intrigante e com um passado devastador. O lado mais violento e instintivo de Vanessa irá revelar-se em nome da justiça: ​matar pode não ser necessariamente mau, se houver inocentes envolvidos.

Taylor Stevens é uma autora premiada, cujos livros estão presentes nas listas de bestsellers do New York Times.
Nascida em Nova Iorque, Taylor foi criada em várias comunas espalhadas pelo globo, no seio de um culto religioso dos anos 60 chamado Children of God. Foi separada da sua família aos doze anos e não lhe permitiram frequentar a escola além do 6.º ano. Em vez de uma infância normal, Taylor Stevens chegou a viver em três continentes e numa dúzia de países antes de atingir os catorze anos, e passou grande parte da adolescência a mendigar nas ruas de cidades como Zurique e Tóquio, a mando de líderes do culto, a realizar trabalho infantil e a cuidar das crianças mais novas residentes nas comunas, lavando e cozinhando para centenas de cada vez.
Aos vinte anos, Taylor Stevens libertou-se das amarras que a prendiam e permitiu-se viver a sua vida, através da aprendizagem e da escrita.
A série de três livros (A Informacionista, Os Inocentes e A Boneca), cuja personagem principal é a heroína Vanessa Munroe, foi amplamente aclamada pela crítica e já se encontra publicada em vinte línguas. O livro A Informacionista foi comprado pela produtora de James Cameron, Lightstorm Entertainment, para ser adaptado ao cinema.

No verão de 1553, Brendan Prescott é chamado à corte inglesa dos Tudor para se tornar escudeiro de Robert Dudley. Na mesma noite em que chega à corte, Lorde Robert encarrega-o de entregar secretamente um anel à princesa Isabel.
Frente a frente com a emblemática princesa, e depois de ela se recusar a aceitar a jóia, o jovem escudeiro percebe que se encontra no meio de uma trama de conspirações e mentiras. Os Dudley planeiam uma traição mortal contra o rei Eduardo VI e as suas duas irmãs — Maria e Isabel — com um único fim: chegar ao trono.
Destemido e convicto de que o que vai fazer é o melhor para Inglaterra, Brendan Prescott alia-se a Isabel e aos seus protectores. Torna-se assim um agente duplo em defesa da coroa, contra a ambição desmedida dos Dudley.

C. W. Gortner possui um mestrado em Escrita na especialidade de Estudos Renascentistas, pelo New College of California. Os seus romances históricos, sempre fruto de intenso trabalho de pesquisa, têm-lhe granjeado elogios por parte da crítica internacional. Já foram traduzidos para 21 línguas com mais de 400 mil exemplares vendidos. De ascendência espanhola, C. W. Gortner vive actualmente na Califórnia. 

Temporária. É a palavra que melhor descreve a minha vida nos últimos anos. Sou a mãe temporária do meu irmão mais novo, já que, aparentemente, a nossa mãe não quer saber de nós. Tenho um trabalho temporário num bar, pelo menos até conseguir arranjar outra coisa. E sou a namorada temporária que todos os rapazes querem ter, porque me deixo seduzir facilmente. Ou, pelo menos, é o que dizem os rumores.
Sou neste momento a namorada temporária do Drew Callahan, lenda da equipa de futebol da universidade e de quem toda a gente gosta. Ele precisava de alguém que fingisse ser sua namorada durante uma semana. Em troca de dinheiro. Muito dinheiro.
Levou-me para o seu mundo falso, onde toda a gente me detesta e onde toda a gente quer alguma coisa dele. Mas a única coisa que o Drew parece querer… sou eu. Já não sei em que acreditar. Tudo o que eu sei é que o Drew parece precisar muito de mim. E eu quero estar lá para ele. Para sempre.

Monica Murphy é uma autora norte-americana cuja colecção de livros intitulada One Week Girlfriend Quartet já é bestseller do New York Times e do USA Today. Uma Semana para te Amar é o primeiro título desta série.
Escreve ficção para jovens adultos, além de romances contemporâneos. Vive com o marido e os três filhos no sopé das montanhas de Yosemite, na Califórnia.
Adora livros e acha que tem o melhor trabalho do mundo. 

Divulgação: O Engenho dos Sonhos, de Carina Portugal

Esta é uma antologia onde se pode passear pela imaginação e por novos e antigos mundos, conhecer personagens que nos levam mais além e partir à descoberta do desconhecido. Há quem tenha já lido alguns destes contos, contudo fica o convite para lerem os que estão por conhecer.

Carina Portugal nasceu em Cascais, a 19 de Junho de 1989. Licenciada em Biologia é, no entanto, apaixonada pelo género Fantástico. Publicou contos em várias antologias, entre as quais: Vollüspa, com “O Acorde das Almas” (HM Editora, 2012); A Fantástica Literatura Queer, com “Duas Gotas de Sangue e um Corpo para a Eternidade” (Tarja Editorial, 2012); Trëma, com o conto “O Cais do Poeta” (2012); Dragões, com o conto “A Alma dos Mil Nomes” (Editora Draco, 2012); recentemente participou na Antologia Fénix de Ficção Científica e Fantasia, V. II e III, com os contos “Já Sinto” e “Frio, cada vez mais Frio”, respectivamente (2013).
Participou em algumas webzines, como a Revista Abismo Humano (2010) e a Nanozine (2012). Para além disso, publicou os e-books “Os Passos dos Destino”, em co-autoria com a escritora Carla Ribeiro (2009), “O Retrato da Biblioteca” (2012), “Poesia Dispersa” (2013), “Duas Gotas de Sangue e um Corpo para a Eternidade” (re-edição, 2013) e “Coração de Corda” (2013).
Actualmente colabora no projecto Fantasy & Co., dedicado à publicação e divulgação de contos de jovens escritores portugueses.

Link para download gratuito: 
https://www.smashwords.com/books/view/472429

domingo, 14 de setembro de 2014

Um Rumor Muito Inconveniente (Emma Wildes)

Conhecida em sociedade como o Anjo Negro, de Lady Angelina DeBrooke dizem os rumores que envenenou os dois primeiros maridos. Apesar de absolvida pelo magistrado, o desprezo da sociedade levou-a a exilar-se no campo. Mas, agora, Angelina está novamente apaixonada e deseja casar. Mas teme que o mesmo destino aguarde o seu terceiro marido. É essa a razão que a leva a Lorde Heathton, de quem se diz ter as capacidades e os contactos necessários para investigar o assunto. Entediado pelo seu papel de conde, e intrigado pela situação, que tem semelhanças com uma outra que antes ajudou a resolver, Ben não resiste ao desafio. Ainda assim, o perigo é inevitável e nem todas as respostas serão fáceis de encontrar.
Tal como no anterior Um Amor ao Luar, um dos aspectos interessantes deste livro é a forma como a autora conjuga romance e mistério, numa história em que tanto as novas personagens como as já familiares têm um papel importante a desempenhar. O que acontece neste livro é, aliás, um claro domínio do elemento de mistério, já que, quer a identidade do responsável pelas mortes anteriores, quer a ameaça que se vai adensando com o evoluir do enredo, criam um ambiente de tensão e de perigo. 
Ainda assim, há lugar para o romance e, neste aspecto, é curioso notar que, apesar da cumplicidade entre Angelina e Christopher, os desenvolvimentos mais cativantes prendem-se com a relação de Ben e de Alicia, relação esta que começou a mudar no livro anterior, mas cujos afectos se revelam agora mais profundos. Em comparação, a relação do outro casal acaba por parecer menos intensa, talvez porque poderia ter sido mais desenvolvida. Ainda assim, as circunstâncias das personagens, e em particular o isolamento de Angelina, despertam empatia, o que compensa a evolução algo apressada de algumas partes da história.
Voltando ao mistério, ficam, mais uma vez, algumas perguntas sem resposta, antecipando, talvez, um possível regresso a estas personagens. Apesar disso, no que diz respeito à linha essencial do enredo, a conclusão consegue ser satisfatória (ainda que, mais uma vez, um pouco apressada no final). Além disso, a forma como a história termina pode deixar em aberto alguns futuros perigos, mas quanto à relação entre Ben e Alicia, a conclusão é a melhor possível.
Assim sendo, a impressão que fica é a de uma história que, nalguns aspectos, poderia ter sido mais desenvolvida, mas que, apesar disso, proporciona uma leitura agradável, com bons momentos de tensão, mistério quanto baste e emoção na medida certa. Uma boa leitura, portanto.

Divulgação: O Rosto de Jesus, de Leonel Pinheiro

Um anjo é banido dos céus. Ele jurou vingança contra Deus. O seu único objectivo é atingir o coração de Deus. E para isso ele cai na Terra para destruir o Messias (Jesus Cristo), este que se encontra na reencarnação de um ser humano. Um homem. O tempo do fim está a chegar.

Leonel Pinheiro nasceu em Lisboa e reside actualmente no Barreiro.
Desde muito jovem que sente uma paixão pelo mundo literário.
No ano de 2012, Leonel Pinheiro publicou "A Viagem Sombria", um conjunto de pequenos contos de terror, fantasia e sobrenatural na Euedito. 
Aos 16 anos começou a escrever pequenos contos. Nessas obras é facilmente detectável o fascínio que o autor sente pelo mundo do fantástico e do oculto.
Leonel Pinheiro foi convidado pela Pastelaria Estudios Editora para participar na colectânea "Ocultos Buracos", com a história "O Dia de Azar". 
Participou em 2013 na revista FendaMel com o conto "Coração Ateu".
No ano de 2014, Leonel Pinheiro publicou "O Rosto de Jesus", um romance. 

sábado, 13 de setembro de 2014

Divulgação: A Nu, de Rui Sobral

A áspera forma de viver…a saudade do porquê chorar…a morte assassinada em vão…a lágrima que rasga o peito e que queima as carências…a tristeza em teor profundo… 
A NU despe a mente e confunde os sorrisos, é uma vala cheia de nada e um calor transpirado que suga a tristeza ao odioso…
A NU faz amor na forma mais crua do ser…
A NU encharca a sede do tudo…
A NU mata o mundo podre…
A NU sou eu e…

Rui Sobral nasceu a 14 de Novembro de 1984 em Santo Tirso, Porto.
Desde cedo contempla o gosto pelas artes e pela excelência criativa.
Na adolescência rodeia-se de livros de filosofia, poesia e literatura clássica, factor significativo para a elaboração das suas obras.
Formação em Teatro e em Línguas Aplicadas.
Autor integrante de antologia publicada no Brasil, dispõe de diversas participações em publicações físicas e digitais.
Com o carimbo de "jovem promissor da literatura" por Richard Zimler - autor do bestseller "O último cabalista de Lisboa". 

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Moon's Artifice (Tom Lloyd)

Após receber uma notícia capaz de lhe mudar a vida, ou fazer com que o matem, o Investigador Narin reage de forma impulsiva a uma potencial ameaça perto de si. O resultado deixa-o a tomar conta de um homem inconsciente e sob as atenções indesejadas de um deus. Lord Shield, o deus que seguia a vítima involuntária de Narin, queria respostas, mas essas parecem ter-se desvanecido com o incidente. Agora, a missão de Narin é encontrá-las. Mas a sua investigação abre caminho à descoberta de uma intriga mais vasta, em que assassinos treinados e dotados de capacidades mágicas estão dispostos a tudo para atingir os seus objectivos. E descobrir que objectivos são esses terá um preço.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é complexa teia de interesses em colisão que vai sendo revelada ao longo do enredo. Deuses, demónios, uma ordem de assassinos com magia à disposição, as Grandes Casas, a família imperial e, claro, os representantes da lei, todos estes grupos desempenham um papel na intriga e, com motivos nobres ou não muito nobres, todos estão dispostos a agir de modo a preservar as suas posições. O problema é que há tantos lados diferentes e tantas escolhas a fazer que a posição de cada uma das partes só é determinada pela evolução do conflito. As possibilidades são, por isso, muitas, e isso é parte do que torna a história intrigante.
A outra parte diz respeito às personagens. Ainda que se possa considerar Narin com sendo o protagonista, as suas acções são apoiadas – ou impedidas – por outras personagens com importantes papéis a desempenhar. Estas personagens, aliados ou inimigos, têm também as suas histórias e motivações, o que as torna tão interessantes como o próprio protagonista. Além disso, quanto aos que lhe são mais próximos – amigos, aliados e superiores – o que os move, bem como as suas personalidades peculiares, complementa o desenvolvimento do próprio Narin, aumentando assim a complexidade do enredo.
Quanto à forma como a história é contada, é inevitável, com um conflito por acontecer e várias forças em movimento, que haja uma considerável componente descritiva. Há, de facto. O autor descreve detalhadamente o sistema, os lugares e também as personagens e os combates. Isto permite uma melhor compreensão do mundo, facilitando a assimilação do muito peculiar sistema de castas deste cenário. Mas cria também uma impressão de distância, que se desvanece nos momentos mais intensos, mas que, a nível emocional, afasta um pouco o impacto pessoal da aventura das personagens.
A soma de tudo isto é uma leitura envolvente, com uma história cativante, situada num sistema invulgar e com uma intriga complexa. Um bom início, em suma, em que, apesar da distância, se criam grandes expectativas para o que virá a seguir para as personagens.

Tive a oportunidade de ler este livro graças à organização dos David Gemmell Legend Awards. Obrigada!

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Novidade Marcador

O Rei de Ferro – Filipe, o Belo – é frio, cruel, silencioso, e governa o reino sem hesitações. Apesar disso, não consegue dominar a própria família: os filhos são fracos e as esposas, adúlteras, ao mesmo tempo que a sua filha de sangue, Isabel, é infeliz no casamento com o rei inglês – que parece preferir a companhia de homens. 
Empenhado na perseguição aos ricos e poderosos Templários, Filipe sentencia o grão-mestre Jacques de Molay a ser queimado na fogueira, atraindo sobre si uma maldição que vai destruir o futuro da sua dinastia. Morre nesse mesmo ano, deixando o reino em grande desordem. 
O seu filho é nomeado rei, mas com a esposa presa e acusada de adultério, é incapaz de gerar um herdeiro e de garantir a sucessão. 
Enquanto a cristandade espera um papa e as pessoas estão a morrer de fome, as rivalidades, intrigas e conspirações vão despedaçar o reino e levar barões, banqueiros e o próprio rei a um beco sem saída, ao qual só parece ser possível escapar pelo derramamento de sangue.

MAURICE DRUON nasceu em Paris a 23 de Abril de 1918 e morreu em Abril de 2009.
Licenciado em Ciências Políticas, durante a Segunda Guerra Mundial foge, através de Espanha e Portugal, para se juntar às fileiras da Resistência francesa em Londres. 
Herói da Resistência francesa, cavaleiro do Império Britânico e condecorado com a Grã-Cruz da Legião de Honra Francesa, foi também membro da Academia Francesa e é unanimemente considerado dos maiores romancistas franceses.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Viagem ao Fim do Coração (Ana Casaca)

Abandonada pela mãe num ambiente familiar marcado pela tristeza e pela violência, Luísa teve de crescer cedo e de aprender a ser forte para proteger o irmão. O passado fez dela uma mulher com um forte instinto de sobrevivência, protectora e determinada, mas decidida a não ceder aos sentimentos. Mas houve um momento que ficou com ela, aquele em que se cruzou pela primeira vez com Tiago, com quem partilhou um primeiro momento de harmonia antes de regressar ao caos. Agora, dezasseis anos passados desde esse momento, os destinos de Luísa e Tiago voltam a cruzar-se e o afecto antes negado surge agora com toda a força. Mas Luísa tem pela frente uma grande batalha e a sua determinada luta contra o cancro pode pôr à prova não só as suas forças, mas também as daqueles que a rodeiam.
Escrito de forma simples, mas com laivos de poesia, e com uma história em que são as emoções o elemento dominante, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela facilidade com que se entra na vida dos protagonistas. Para isso contribuem os elementos negativos no passado, principalmente no que diz respeito à vida familiar de Luísa, em que o comportamento do pai e as próprias circunstâncias facilmente geram empatia, mas também uma certa inocência, que se vai transformando com a passagem do tempo, mas que nunca deixa de cativar pela forma como se transforma em determinação e carisma.
Esta empatia torna maior o impacto emocional dos acontecimentos. Neste aspecto, claro que o mais marcante é a luta de Luísa contra o cancro, com as suas percepções a cruzarem-se com as dos que a rodeiam, moldando diferentes reacções e escolhas, mas há mais para além disso. Em todas as fases da história, quer na relação de Luísa e de Tiago, quer nas suas histórias familiares, quer ainda no percurso de descoberta do próprio Pedro, há momentos de emoção, devidos a um grande momento ou a um pequeno gesto, mas sempre cativantes. Além disso, ao contar a história através de diferentes perspectivas, a autora expõe de forma mais clara o coração das suas personagens, o que, inevitavelmente, as torna mais próximas.
Tendo em conta as linhas gerais do enredo, não é difícil adivinhar de que forma terminará a história. Ainda assim, o impacto dos momentos e a mensagem positiva que sobressai de toda a luta de Luísa acabam por compensar esta relativa previsibilidade. No fim, é a determinação da protagonista, com a mensagem de força que lhe está associada, a ficar na memória.
Cativante e emotiva, esta é, pois, uma história que, mesmo que sem grandes surpresas, consegue conjugar uma certa medida de leveza com as emoções inevitavelmente poderosas que resultam das circunstâncias das personagens. O resultado é uma história aparentemente simples, mas bastante marcante. Uma boa leitura, portanto.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A Felicidade de Perseguir os seus Sonhos (Chris Guillebeau)

Ao lançar-se no objectivo de percorrer todos os países do mundo, Chris Guillebeau estava longe de imaginar quantas outras pessoas se propunham demandas semelhantes. Mas nem só de viagens se fazem as buscas e, ao longo do seu percurso e para além dele, o autor descobriu que a concretização de um grande objectivo, ou de uma busca, significava muito mais do que apenas um percurso diferente. As motivações para a busca, o que a define, as barreiras e os sucessos e a necessidade ou não de mudar de planos ao longo do caminho são apenas algumas das perguntas essenciais que surgem ao longo deste livro. As respostas podem variar.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é que, apesar de assumir, em certa medida, os objectivos de um guia, as histórias acabam por ter mais impacto do que propriamente os conselhos. Claro que as ideias subjacentes, a indicação dos erros e de certas formas de encarar as coisas assume uma certa relevância. Mas o que realmente fica na memória são as mais ou menos improváveis missões que as pessoas referidas ao longo do livro atribuíram a si próprias.
Esta forma de apresentar as coisas tem, desde logo, a vantagem de tornar a leitura mais interessante, primeiro pela surpresa que representam alguns dos objectivos (e a forma como foram cumpridos, bem como os contratempos e as reacções), mas também porque permitem que as orientações surjam através do exemplo. Além disso, a diversidade de histórias reforça a ideia de que os grandes objectivos não têm de estar associados a uma matéria definida (a uma grande viagem, por exemplo), mas que têm sempre alguns pontos em comum.
Ainda que seja evidente um esforço por realçar tanto as dúvidas e dificuldades como o lado bom da realização do objectivo, fica, por vezes e principalmente quanto a alguns cenários, a impressão de tudo ser demasiado fácil. Isto acontece, talvez, devido a uma perspectiva demasiado sucinta de algumas histórias, das quais fica a impressão de partes por contar. Mas a verdade é que várias dessas histórias dariam - ou deram, de facto - material para um livro inteiro, daí que seja compreensível a brevidade.
A impressão que fica é, então, a de um livro com vários conselhos úteis, uma perspectiva interessante da ideia de partir à aventura - ou de mudar de rumo na vida - mas em que são, acima de tudo, as histórias que ficam na memória. A soma das partes é, por isso, uma leitura interessante.

Novidade Alfaguara

Na Los Angeles de 1934, frenética e explosiva, Arturo Bandini, o jovem aspirante a escritor em busca de fama que conhecemos em Estrada para Los Angeles, continua a sua saga. Aos 21 anos, com os bolsos vazios e a alma carregada de sonhos ingénuos, Bandini tenta ganhar a vida como empregado de mesa no bairro de Bunker Hill, apinhado de imigrantes, bandidos e sonhadores.
Com genuína compaixão e admirável engenho, vai desfiando as histórias absurdas das personagens que o acompanham e que irão ser determinantes para que o nosso herói encontre finalmente aquilo que o trouxe à cidade de todas as promessas: uma voz.
Será essa descoberta que o levará a Hollywood e, por fim, à tão almejada fama e fortuna. Mas conseguirá Bandini encontrar as respostas para as inquietações que o perseguem?
Sonhos de Bunker Hill é o quarto e último romance da famosa Saga de Arturo Bandini, um dos heróis mais autobiográficos da tradição literária. Ditado à mulher depois de ter cegado devido à diabetes, foi publicado em 1982, um ano antes da morte do autor.
Fante é considerado um dos autores mais importantes da literatura americana do século XX e o mais emblemático dos romancistas de Los Angeles, tendo ficado conhecido do grande público pela mão de Charles Bukowski, que via nele o seu principal mentor.

John Fante nasceu em 1909, em Denver, Estado do Colorado. Começou a escrever em 1929 e viu o seu primeiro conto publicado em 1932. Em 1938, publicou A Primavera há-de chegar, Bandini, o primeiro romance da saga de Arturo Bandini, que inclui ainda Estrada para Los Angeles, Pergunta ao pó e Sonhos de Bunker Hill. Atingido pela diabetes em 1955,
a doença levou-o à cegueira em 1978 e à amputação de ambas as pernas dois anos mais tarde. Não obstante, o sempre prolífico escritor continuou a escrever, ditando os seus textos à mulher. Sonhos de Bunker Hill, o último volume  da saga de Arturo Bandini, foi terminado desta forma, em 1982. Morreu em 1983, aos 74 anos. Apesar de não ter conquistado reconhecimento em vida, é hoje visto como um dos grandes autores da sua geração, notabilizado por ter sido mentor de Charles Bukowski.

domingo, 7 de setembro de 2014

Não Digas Nada (Mary Kubica)

Aos olhos do pai, Mia Dennett sempre foi uma desilusão, por não querer seguir os seus passos. Talvez tenha sido por isso que Mia escolheu uma carreira completamente diferente, como professora de artes visuais. Mas tudo muda na noite em que Mia se cruza com um estranho, que lhe parece ser uma pessoa simpática, mas que foi, na verdade, contratado para a raptar de forma a que possam extorquir um resgate ao seu pai. A partir daí, todos os planos se desfazem. Para Mia, que se vê no meio do nada à mercê de um estranho, mas também para quem o contratou. É que Colin não está disposto a entregar Mia. E a sua mudança de planos irá pôr quase tudo em causa.
Narrado na primeira pessoa, mas por várias personagens, e oscilando entre diferentes pontos no tempo, este é um livro em que o primeiro aspecto a surpreender é a forma como a história é contada. Mas essa é apenas a primeira de várias surpresas a surgir ao longo do enredo. Tantas que se torna difícil referir certos aspectos sem desvendar partes do mistério.
Mas vamos por partes. Ao oscilar entre diferentes fases dos acontecimentos, a autora dá, desde logo, algumas pistas para o que poderá ter acontecido. Isto cria alguma expectativa, já que introduz algumas certezas. Mas nem sempre os sinais são tão claros como parecem e, ao condicionar a percepção do que terá acontecido, cria-se um maior impacto para aquelas revelações que são exactamente o que menos se esperava. Além disso, a perspectiva das várias personagens permite encarar a situação de diferentes pontos de vista, o que acaba por tornar mais claros certos aspectos, mas também por manter oculto aquilo que a autora só quer revelar mais tarde.
Se o rapto de Mia é o centro de toda a narrativa, e é-o, de facto, há, ainda assim, outros aspectos a complementar a história. Primeiro, a vida familiar dos Dennett, com tudo o que nela há de disfuncional, cria empatias e ódios de estimação, ao mesmo tempo que fundamenta certas escolhas das personagens ao longo do enredo. Mas também a história do próprio Colin, com a influência que tem nas suas escolhas, torna mais fácil compreender a sua posição na história. E, no centro de tudo, a evolução das interacções entre Colin e Mia, pautadas por comportamentos de violência e de redenção, numa relação em que o conceito de síndrome de Estocolmo se contrapõe à possibilidade de um verdadeiro afecto, para, no fim, a verdade surgir como ainda uma nova surpresa.
Tudo isto, associado à fluidez da escrita, contribui para que a leitura se torne viciante. Mas, entre a tensão perceptível ao longo de toda a história e o grande impacto emocional de certos momentos, há ainda uma última surpresa, capaz de pôr muito em causa e de dar a tudo uma perspectiva diferente. No fim de tudo, sobressaem tanto os pequenos momentos como as grandes revelações. Mas, ainda assim, é o final que muda tudo.
Surpreendente será, pois, a palavra ideal para definir este livro, cativante desde as primeiras páginas, viciante até ao fim e cheio de surpresas ao longo de todo o percurso. Intenso, envolvente e muito, muito bom.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A Incrível Viagem do Faquir que Ficou Fechado num Armário IKEA (Romain Puértolas)

Ajatashastru Larash Patel, faquir de profissão convenceu as gentes da sua aldeia de que precisava de ir até Paris para comprar o novo modelo de cama de pregos da IKEA. Foi apenas mais um truque engenhoso de entre os muitos com que convenceu a sua gente de que tinha poderes mágicos. Agora, Ajatashastru está prestes a concluir a sua missão, quando, subitamente, os seus planos começam a correr mal. Decidido a passar a noite na loja, vê-se obrigado a esconder-se num armário quando ouve as vozes de alguns trabalhadores. E é dentro desse armário que terá início a sua viagem através de vários países, para descobrir como se tornar uma pessoa melhor.
Improvável desde o ponto de partida e repleto de episódios caricatos, este livro é, na sua essência, uma comédia e, como tal, uma história para ser encarada com leveza e descontracção. Ao longo do enredo, abundam as situações peculiares, que, associadas a uma forma de narrar a história também ela com um tom divertido, proporcionam uma leitura agradável e engraçada. E em que nem todas as soluções fazem lá muito sentido, é certo, mas em que há diversão e leveza quanto baste.
Este cenário algo inconsequente esconde algumas questões bastante sérias, nomeadamente no que diz respeito aos problemas da imigração ilegal e da forma como se lida com ela. É o contacto do protagonista com um grupo de imigrantes ilegais que o leva a questionar a sua forma de estar na vida e o conhecimento que adquire através do seu percurso chama atenção para uma situação muito relevante. Claro que a forma como Ajatashastru reage a esse conhecimento nem sempre é a que faz mais sentido, mas isso é algo que já é expectável, tendo em conta as suas características essenciais. Ainda assim, este assunto mais sério a surgir por entre o caricato da situação global torna a história mais equilibrada e mais interessante.
Quanto ao crescimento pessoal do protagonista, há também situações improváveis quanto baste e episódios deliberadamente caricatos. Mas, acima de tudo, há uma clara intenção de representar uma evolução positiva a nível de carácter e essa, ainda que nem sempre motivada pelas razões mais plausíveis, acaba por ser um dos grandes pontos fortes da história. Mesmo sem todas as respostas - a situação entre Ajatashastru e Gustave, por exemplo, acaba por se resolver de forma algo ambígua - , o resultado final é cativante. E a mensagem é bem clara, mesmo entre  tudo o que há de caricato.
Bastante simples, apesar de completamente improvável, esta é, pois, uma história leve e agradável, divertida no muito que tem de peculiar, mas séria quanto baste quando o assunto assim o exige. Invulgar e interessante, um bom livro para descontrair. Gostei.

Novidade Bertrand

Chicago. 1893. Um homem construiu um paraíso na terra. Outro construiu um inferno ao lado.
Em O Demónio na Cidade Branca, Erik Larson, autor do best-seller No Jardim dos Monstros, cruza a história da Feira Mundial de 1893 com o percurso de H. H. Holmes, um serial killer astuto que, através da feira, atraiu dezenas de pessoas para a morte. Um livro que combina uma pesquisa meticulosa da recém-descoberta História e as emoções da melhor ficção, dignas de um thriller.

Erik Larson cresceu em Freeport, Long Island, e licenciou-se em História Russa na Universidade da Pensilvânia e em Jornalismo na Universidade de Columbia. Escreve para vários jornais e revistas americanos. Vive em Seattle com a mulher e três filhas.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Desculpe Sr. Nobel (Maria Helena Ventura)

A morte de Thomas Moonland, um dos escritores apontados como grandes candidatos ao Nobel da Literatura, leva a jornalista Joana Cabral Cid até Estocolmo para investigar as circunstâncias do crime. Mas o que a espera é uma verdadeira aventura. Não só a investigação assume contornos algo nebulosos, despertando suspeitas entre os vários intervenientes, como tudo aponta para que a própria Joana possa estar em perigo. Sem saber ao certo em quem confiar, Joana vai conhecendo novas pessoas e encontrando figuras do passado. E, através deles, vai descobrindo segredos que a aproximam da verdade. Mas, quando tudo for revelado e o mistério estiver resolvido, talvez haja outro objectivo na vida de Joana. E de mais alguém que terá cruzado o seu caminho...
Cruzando mistério e romance numa história quase com ambiente de policial nórdico, este é um livro em que a investigação policial é apenas uma parte de um enredo mais vasto. A morte de Thomas Moonland parece estar no centro de tudo e é, de facto, o ponto de partida para uma teia de segredos, mas muitas das personagens têm também algo mais para descobrir. Joana, em particular, tem à sua espera todo um percurso de mudanças, sendo sua a história de amor  - e, em certa medida, de regeneração - que acaba por complementar o mistério.
Um dos aspectos mais cativantes deste livro é a escrita. O estilo muito próprio que a autora tem de dar voz à sua história, com momentos de introspecção e de poesia, mas sem perder de vista os acontecimentos, acrescentam algo de diferente à narrativa, mas sem que esta se torna demasiado densa. Além disso, num enredo em que os motivos para os comportamentos das personagens nem sempre são totalmente claros, as considerações a eles associadas acrescentam um pouco mais de clareza a um cenário que, durante grande parte da história, permanece envolto em mistério.
Esta aura enigmática tem uma contrapartida. É que, principalmente na fase inicial, não é propriamente fácil compreender o que move as personagens e de que lado estão. Isto, principalmente no que diz respeito aos representantes da autoridade, cria, a princípio, a impressão de uma acção algo questionável, ainda que, por outro lado, permita também ao leitor compreender melhor a confusão de Joana. O resultado é, inevitavelmente, um início mais pausado, mas que, à medida que as coisas começam a fazer sentido, dá lugar a uma maior envolvência.
Também no aspecto emocional há um percurso similar. Há momentos, na fase inicial, em que é difícil compreender o que as personagens realmente sentem nas situações em que se colocam, mas, com o evoluir da narrativa, tudo começa a fazer sentido, principalmente quando o mistério e a tensão abrem espaço para o desenvolvimento do romance e das amizades.
A soma de tudo isto é um livro que, não sendo de leitura compulsiva, acaba por se entranhar na memória do leitor, com a sua história intrigante, a fluidez da escrita e o bom equilíbrio entre mistério e emoção. Uma boa leitura, em suma.