sábado, 31 de janeiro de 2015

O Diário Poético de um Empregado de Balcão (Didier Ferreira)

Impressões de histórias, com mais de introspecção que propriamente de acção e, apesar disso, com um impacto surpreendentemente forte. Assim são os textos que dão forma a este livro, mais próximos do conto, pela estrutura, mas da poesia, pela forma de expressão. E sempre estranhamente envolventes, mesmo quando o percurso é mais pelo interior de uma personagem ou do próprio narrador.
Todos os contos - se assim lhe podemos chamar - são bastante breves e relativamente simples. Nalguns deles, na verdade, fica a impressão de uma construção maior, da qual apenas uma parte é revelada. E, ainda assim, há na forma como as palavras se conjugam uma estranha harmonia. É como se, mesmo sem conseguir compreender por completo as motivações ou os pensamentos da personagem, fosse possível sentir alguma ligação para com as suas circunstâncias. 
Isto não se deve, naturalmente, a uma evolução em termos de enredo, já que este se resume ao essencial, mas precisamente à escrita. Há uma fluidez nas palavras que torna as ideias mais próximas e as impressões mais intensas. E, numa história feita, acima de tudo, de momentos e de impressões, esta sensação de harmonia e de proximidade torna-se particularmente cativante.
Ficam, é claro, perguntas em aberto. Mas não parece ser, de forma alguma, o objectivo contar uma história completa com todos os pormenores. A história é a do momento e das impressões que lhe estão associadas. E, nesse aspecto, todos os contos atingem um resultado satisfatório, já que todos eles são, de alguma forma, reflexos de momentos memoráveis.
E o que fica, então, desta leitura é a impressão de um relance aos momentos de algumas vidas. Simples, mas com um estilo de escrita fascinante, pode ser uma leitura breve, que deixa tantas perguntas como respostas. Mas não deixa de ser, ainda assim, uma leitura cativante.

Vencedor do passatempo Merlin - Os Anos Perdidos

Terminou o passatempo, desta vez com um total de 105 participações, e, como sempre, é hora de anunciar quem vai receber em casa um exemplar do livro Merlin - Os Anos Perdidos.

E o vencedor é...

19. Rita Carmo (Seia)

Parabéns e boas leituras!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Merlin - Os Anos Perdidos (T.A. Barron)

Sem memória de quem é ou do que lhe aconteceu, um rapaz chega às costas de Gwynedd. Com ele, está um mulher que alega ser a sua mãe, mas que, na sua memória destroçada, não lhe surge como tal. Cinco anos mais tarde, e após a dolorosa descoberta dos seus poderes, o rapaz - a quem a mãe chama Emrys - percebe que não pode mais resistir à necessidade de saber quem é e parte em busca de respostas. O seu caminho leva-o a Fincayra e um mundo onde, inicialmente, tudo é belo, mas sobre o qual paira uma terrível ameaça. Aí, Emrys encontrara amigos inesperados e algumas das respostas que precisa de encontrar. Mas também uma missão que lhe exigirá toda a sua coragem.
Pegando numa personagem sobejamente conhecida para lhe construir uma história dos seus anos desconhecidos, o autor cria, neste livro, um interessante ponto de partida para a história da juventude de Merlin. E, neste aspecto, o mais interessante é que, surgindo, desde logo, em circunstâncias difíceis de explicar, o jovem Emrys é, apesar de tudo o que tem de diferente, uma personagem com traços bastante normais. Com o egocentrismo expectável de alguém da sua idade, e com a previsível reacção aos medos e à necessidade de fazer escolhas, Emrys é caracterizado como o rapaz que de facto é. E é precisamente isso que torna tão interessante a sua evolução. Com as descobertas - e as relações - que vai estabelecendo ao longo do caminho, Emrys vai crescendo, e esse crescimento revela não só os seus poderes como a força da sua personalidade, a coragem que surge quando é necessária.
Para isso contribuem em muito as personagens que se cruzam no seu caminho. Esse é, aliás, também um ponto especialmente interessante, já que, mesmo sem serem particularmente imprevisíveis no papel que têm a desempenhar, Rhia, Problema, Shim e outras personagens de presença mais discreta são elementos fundamentais no desenvolvimento daquele que virá a ser Merlin. E é também deste conjunto de relações que surgem os momentos emotivos, as situações divertidas e o evoluir da missão que mantém viva a envolvência desta leitura.
Quanto aos acontecimentos propriamente ditos, sobressaem alguns tons de cinzento num cenário em que, no geral, a linha entre o bem e o mal está bastante bem definida. Se a identidade do principal inimigo é clara, há, ainda assim, algumas relações mais complexas que, além de tornarem o enredo mais interessante, criam muita expectativa quanto ao que se seguirá.
Trata-se, portanto, de um livro com uma história cativante, com uma escrita particularmente harmoniosa e um protagonista que, no seu muito invulgar percurso de crescimento, revela já muito do potencial que contém dentro de si. Muito bom.

Para mais informações sobre o livro Merlin - Os Anos Perdidos, clique aqui.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Depressa, Chamem um Médico! (Paula Ferreira e Sónia Trigueirão)

Dos caricatos mas essencialmente inofensivos episódios com doentes que não sabem bem o que têm ou que põem à prova a paciência dos médicos, aos bem mais graves casos de negligência, fraude ou falta de recursos, este é um livro que percorre os meandros do Serviço Nacional de Saúde, para realçar tanto os insólitos mais divertidos como os grandes problemas que, em certos aspectos, lhe estão inerentes. E, desta forma, um livro que começa num tom de certa leveza, mas que, gradualmente, se torna bastante mais sério.
Organizado por tipos de situação e, dentro destas, centrado essencialmente em episódios concretos, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela forma sucinta, mas tão clara quanto possível, como apresenta cada situação. Claro que as situações caricatas são bastante mais simples que as longas questões processuais referentes aos casos de negligência ou de fraude, mas todos os casos são apresentados de forma sintética, mas sem deixar de fora nada de essencial, pelo menos se essa informação existir. Assim, o que acontece é que este livro permite ficar com uma ideia geral dos problemas, mas sem perder de vista que cada caso é exactamente isso: uma situação particular.
Um outro ponto positivo na forma como este livro está organizado é o facto de, ao reunir episódios semelhantes, se poder ficar com uma ideia geral de como as coisas se processam, não só dentro da própria situação, mas ao nível das suas possíveis consequências. Claro que, por outro lado, ao contar vários casos similares, pode ficar a impressão de que, por vezes, a leitura se torna repetitiva. Ainda assim, a narração de múltiplos casos permite também ficar com uma ideia mais completa do panorama geral.
Ainda uma última nota para o facto de alguns episódios apresentados serem sobejamente conhecidos (principalmente no que diz respeito às fraudes) enquanto que outros são bem menos mediáticos, o que reforça a impressão de algumas situações terem adquirido uma maior destaque, sem que as restantes deixem, por isso, de ter relevância.
A soma de tudo isto é um livro equilibrado e interessante, escrito de forma acessível e com um tom adequado àquilo que narra: leve nos episódios caricatos, sério nas situações preocupantes. Uma boa leitura, portanto.

Novidade Quetzal

Esta é a história extraordinária de Eulália, uma jovem da classe média de São Paulo. Os inusitados acontecimentos que marcam a sua vida nesse período épico da vida brasileira, entre 1983 e 1984 (a campanha pelas eleições directas, marco no combate pela democracia), vão transportar o leitor para um mundo onde realidade e fantasia coexistem e se entrelaçam. Ao longo desta história, haverá uma mãe desaparecida, um vestido de noiva, um detective solitário, um jardineiro que sabe demais, um deputado poderoso, um perfume de rosas, uma fuga através da cidade, um animal que fala, um fantasma que aparece e desaparece, um poeta mexicano que só mais tarde irá surgir nos livros de Roberto Bolaño. E um final empolgante e inesperado.
A estreia de uma autora que cruza as culturas (e ortografias) de uma mesma língua.

Andréa Zamorano nasceu no Rio de Janeiro e vive há tantos anos em Portugal quantos os que viveu no Brasil. Cursou Língua e Literatura Portuguesas na Universidade Federal do Rio de Janeiro e Estudos Portugueses na Universidade Nova de Lisboa. Frequentou o mestrado de Literatura Comparada na Universidade Clássica.
Tendo trabalhado na área de Comunicação Empresarial em diferentes multinacionais, é actualmente proprietária de vários restaurantes, entre os quais, a famosa Hamburgueria Gourmet – Café do Rio.
A Casa das Rosas é o seu primeiro romance.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Novidade Marcador

Um romance que nos remete para o universo único de uma personagem, a um tempo visionária e visceralmente ligada aos outros e à Natureza. 
VIAGEM AO CORAÇÃO DOS PÁSSAROS fala sobre as inclinações do mundo, do amor e do ser humano, que emerge das encostas húmidas e desconhecidas da paisagem madeirense, povoadas de personagens fantasmagóricas. 
Através de um conjunto de histórias imaginativas e poéticas somos confrontados com as principais questões que dominam desde sempre o pensamento humano.

Possidónio Cachapa: Escritor, argumentista e realizador, português. Nasceu em Évora, na planície alentejana, onde passou a infância e o início da adolescência, antes de partir para os Açores e daí para outros lugares do mundo, presentes, frequentemente, na sua obra. Autor de diversos romances, contos e novelas, entre os quais se destacam Nylon da Minha Aldeia (1997), adaptado ao cinema, e Materna Doçura (1998), além de diversos contos, crónicas, livros infantis e peças de teatro. Entre outros filmes realizou Adeus à Brisa, sobre a vida e obra de outro escritor, Urbano Tavares Rodrigues. A sua obra está traduzida em vários países, sendo objecto de teses universitárias internacionais e de adaptações a vários géneros artísticos.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Novidades Topseller

«A cada dia um novo corpo. A cada dia uma nova vida. A cada dia o mesmo amor pela mesma rapariga. A cada dia, A acorda no corpo de uma pessoa diferente. Nunca sabe quem será nem onde estará. A já se conformou com a sua sorte e criou regras para a sua vida: Nunca se apegar muito. Evitar ser notado. Não interferir.
Tudo corre bem até que A acorda no corpo de Justin e conhece Rhiannon, a namorada de Justin. A partir desse momento, as regras de vida de A não mais se aplicam. Porque, finalmente, A encontrou alguém com quem quer estar a cada dia, todos os dias.»

David Levithan é autor e editor. Conta no seu currículo com muitas obras em nome próprio e várias parcerias como Will & Will, com John Green, ou Nick and Norah’s Infinit Playlist, com Rachel Cohn.
A Cada Dia é um dos seus trabalhos mais aclamados e finalista dos seguintes prémios: YALSA Teens' Top Ten (2013), Abraham Lincoln Award (2014), Andre Norton Award (2012), Cybils Awards for Fantasy & Science Fiction (Young Adult) (2012), YALSA Best Fiction for Young Adults Top Ten (2013). Mais sobre o autor em davidlevithan.com

«Perder. Tudo na minha vida se resume a esta palavra doentia. O meu treinador culpa-me por termos perdido os jogos decisivos da temporada. E o resto da equipa também. Passei os últimos dois meses completamente perdido e fechado sobre o meu desespero, como um autêntico fracassado. E perdi a minha namorada — Fable, a única rapariga que alguma vez mexeu comigo — por não me achar suficientemente bom para ela e por não querer magoá-la.
Agora sei que deixá-la foi um erro e, ao ser cobarde, fui eu quem mais perdeu. Mas, mesmo que ela finja que está tudo bem e que seguiu com a sua vida, sei que ainda pensa em mim. Conheço-a demasiado bem. Raios… Ela é tão frágil que tudo o que eu mais quero é estar por perto para protegê-la… para abraçá-la… para amá-la.
Só preciso que ela me dê mais uma oportunidade. Estamos perdidos, um sem o outro, mas eu sei que juntos podemos viver um amor incomparável, para sempre.»

Novidade Porto Editora

Charlie Parker acaba de reaver a sua licença de detective privado quando Bennett Patchett o procura, pedindo-lhe para averiguar as sinistras circunstâncias que envolveram o suicídio do filho, Damien, um veterano da guerra do Iraque. No decurso das suas investigações, Charlie Parker cedo percebe que um grupo de ex-combatentes, sob a chefia do antigo comandante do batalhão, se envolveu activamente numa estranha operação de contrabando na fronteira do Maine com o Canadá e que, uns atrás dos outros, todos acabam por conhecer o mesmo destino de Damien.
E quando Herod, um velho doente mas implacável, com uma propensão para o macabro, entra em cena, o detective Charlie Parker terá de forjar uma aliança com o homem que mais teme à face da Terra, o assassino conhecido como «o Colecionador».

John Connolly nasceu em Dublin, em 1968, e estudou Filologia Inglesa e Jornalismo. Colaborador de longa data do jornal The Irish Times, divide o seu tempo entre Dublin e os Estados Unidos da América, país que serve de cenário aos seus livros protagonizados pelo detective Charlie Parker. Com um livro já adaptado ao cinema e outros em curso de adaptação, o sucesso de John Connolly é igualmente evidente na conquista de vários prémios como o Barry Award e o US Shamus Award (foi o primeiro autor não americano a receber esta distinção) e na sua nomeação para outros. Os seus livros encontram-se traduzidos em 28 línguas.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Acordei como Acordam os Tolos, Cheia de Felicidades (Ione França)

Num olhar sobre o mundo que mistura a magia e o impossível com as coisas mais ou menos banais do quotidiano, estes são textos que contemplam a vida, no seu mais belo e no que tem de mais cruel. Olhares que vêem de uma forma inesperada, que misturam os cenários mais improváveis com a simplicidade dos sonhos e dos afectos. São textos cuja soma é uma perspectiva bastante pessoal, e, ainda assim, particularmente lúcida, sobre o que é o mundo dentro de cada um.
Um dos aspectos mais cativantes neste livro é que cada um dos textos é, por si mesmo, uma forma completa e, ainda assim, o conjunto forma um todo maior que a soma das partes. Há uma impressão de unidade, de perspectiva comum a todos os textos, uma voz própria que se reconhece ao longo de todo o livro. E é interessante notar que, seja na contemplação de um amor pouco familiar, num relance às noites mais sombrias da vida ou numa perspectiva própria do que é - ou do que devia ser - a vida quotidiana, há uma personalidade coesa que se reflecte nas ideias.
E das ideias sobressai um outro ponto forte. Se há, de facto, questões que se repetem nalguns dos textos, o que é particularmente evidente para quem ler o livro todo, ou em grande parte, de seguida, há, ainda assim, uma boa diversidade. De temas, de pontos de vista e de formas de entender cada situação. Esta diversidade, conjugada com a tal impressão de unidade do sujeito, misturam-se num equilíbrio delicado, formando um todo coeso, mas em que cada ideia é válida por si mesma. E, por isso, um conjunto mais complexo.
Por último, importa ainda referir a forma de escrita, e também nesta se destaca o equilíbrio. Entre frases simples e outras de complexidade surpreendente, imagens facilmente reconhecíveis e outras tão improváveis que não podem deixar de surpreender, percursos descritivos e momentos de introspecção. Tudo isto nas medidas certas, e na base de uma construção mais ampla, em que também em termos de escrita os traços que há em comum entre os vários textos se tornam especialmente evidentes.
A soma de tudo isto é, portanto, um livro equilibrado, em que a diversidade de temas se conjuga com a unidade da voz que os aborda, para dar forma a uma leitura cativante e surpreendente. Vale a pena ler.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Louco por Viver (Roberto Shinyashiki)

Entre as exigências de uma carreira profissional que nem sempre é satisfatória, os altos e baixos inerentes a todas as relações e o delicado equilíbrio entre aquilo de que julgamos precisar e o que realmente queremos, acontece, muitas vezes, que a ansiedade e o medo tomam o lugar da alegria de viver. Em resultado, a busca da felicidade em cada momento acaba por ficar num muito distante segundo lugar. O que este livro pretende apresentar ao leitor é uma forma de olhar a vida de uma forma positiva, de valorizar as coisas que realmente queremos e de, assim, viver o presente e a vida em geral com verdadeira  paixão.
Um dos aspectos mais cativantes neste livro é, sem dúvida alguma, a forma como o autor se expressa. Com simplicidade, resumindo as ideias ao essencial, sem elaborações desnecessárias, e com uma convicção que transparece nas palavras, o autor apresenta uma mensagem em que claramente acredita. E se é certo que algumas ideias são mais facilmente assimiláveis que outras, não há dúvidas, ainda assim, que a mensagem global é bastante positiva.
Se este optimismo inabalável é uma das características que faz com que a leitura se mantenha envolvente, há, ainda assim, uma contrapartida. É que, ainda que, em teoria, essa seja provavelmente a melhor forma de encarar a vida - e ainda que, de facto, o pessimismo dificilmente contribua para a resolução dos problemas - também é verdade que, por vezes, fica a impressão de que, na prática, não será assim tão simples. Isto diz respeito principalmente às questões mais complicadas, em que a diferença entre o sucesso e o fracasso se mede por bastante mais que por simples vontade. Ainda assim, no geral, há muitas e boas aplicações para esse tão firme optimismo, e a perspectiva das vantagens olhar o mundo pela positiva não deixa por isso de ser bastante válida.
Ainda um outro aspecto que sobressai é que, apesar do tal abundante optimismo, o autor não foge à existência dos problemas. Há uma diferença entre encarar a vida de forma positiva e acreditar que tudo é um mar de rosas. E o facto de essa diferença ser bem clara compensa em muito a impressão de simplificação relativamente às possibilidades de resolução dos problemas.
Trata-se, em suma, de uma leitura simples e cativante, escrita num registo descontraído que, associado à mensagem positiva, confere à explicação uma agradável envolvência, e que, concorde-se ou não com todas as ideias, apresenta uma perspectiva global bastante interessante sobre como ver a vida de uma forma menos sombria. A soma de tudo isto é, portanto, uma leitura interessante. Gostei.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Salvo-conduto (Boris Pasternak)

De um atormentado amor à música à descoberta das palavras nos meios intelectuais: o crescimento de um jovem artista no seio do seu tempo, entre viagens e desilusões, heróis e traições. Assim é o percurso narrado neste Salvo-conduto, um caminho onde, por vezes, as memórias são difusas e a linha temporal se confunde entre os momentos, mas em que as palavras são belíssimas e, por isso, são elas que ficam na memória.
E, começando pelas palavras, são elas precisamente a razão que leva a que este livro deixe sentimentos ambíguos. É que, num registo muito introspectivo, em que não há uma linha definida para os acontecimentos, mas antes uma narração ao ritmo da memória, esta não é, de todo, uma leitura fácil. É difícil seguir o percurso do narrador e reconhecer o papel daqueles de quem fala ao longo do livro. E daí resulta que, apesar da brevidade, este acaba por ser um livro estranhamente complexo, em que ideias e experiências se confundem num percurso que nem sempre é fácil de acompanhar.
Mas, apesar disso, as palavras cativam. Há uma beleza intrínseca na forma de expressão do narrador, todo um conjunto de frases que, por si mesmas, surpreendem e emocionam. Por isso, se, por vezes, se torna demasiado esbatida a linha dos acontecimentos, ainda assim, as palavras mantêm presa a atenção. E, à medida que a conclusão se aproxima, cria-se, apesar da confusão, uma certa proximidade, que culmina num final que, apesar da distância que por vezes se sente, acaba por se revelar como especialmente marcante.
Ainda um outro elemento que dificulta a leitura é a profusão de nomes, já que nem todos são assim tão familiares ao leitor comum. Ainda assim, e uma vez detectadas as particularidades da narrativa, facilmente se deduz o papel dessas figuras, não tanto como personalidades do meio intelectual, mas mais como influências na vida do próprio narrador. E, assim, a sua identidade torna-se secundária, dando prioridade ao impacto que têm na vida daquele que conta a sua história.
A impressão que fica é, portanto, a de uma narrativa difícil de seguir, mas pontuada por alguns momentos marcantes, e que, independentemente dos elementos mais confusos, cativa e surpreende pela beleza da escrita. E isso basta para que valha a pena ler.

Novidade Porto Editora

Matilde e Eliah voltam a separar-se. No Congo, as esperanças de uma vida em conjunto desvaneceram-se ao ritmo dos ciúmes e das circunstâncias hostis.
Matilde, cirurgiã pediátrica, refugia-se na sua paixão: o trabalho humanitário que leva a cabo para a organização Mãos Que Curam. O seu novo destino é a Faixa de Gaza, o território mais densamente povoado do mundo, onde a prioridade diária é a sobrevivência. Eliah, por seu lado, obriga-se a esquecer Matilde e a pôr fim à obsessão que o prende a ela.
Estará esta enorme paixão condenada a perecer nas ruínas de um mundo, também ele, em risco? Ou serão o amor, uma força mais poderosa do que todo o mal que os rodeia, e a vontade de ficarem juntos, contra tudo e contra todos, suficientes para unir Eliah e Matilde para sempre?

Florencia Bonelli nasceu em 1971, na cidade argentina de Córdova. Com formação universitária na área das Ciências Económicas, renunciou à sua atividade profissional para se dedicar à escrita, sua paixão de sempre, e em poucos anos tornou-se uma das mais populares escritoras argentinas da actualidade.

Divulgação: A Segunda Vinda de Cristo à Terra, de João Cerqueira

Após regressar à Terra e conhecer a activista Madalena que luta por um mundo melhor, Jesus ver-se-á envolvido em três situações de conflito.
Encontra um grupo ecologista radical  que pretende destruir uma plantação de milho que supõe geneticamente modificada. Assiste à revolta dos habitantes de uma vila contra um empreendimento turístico que vai ser construído numa reserva florestal. Por fim, testemunha um conflito armado entre negros e ciganos.
Neste périplo irá conhecer vários personagens: os referidos ecologistas, um padre que o obriga a confessar-se, um autarca corrupto, empreiteiros sem escrúpulos, um Comandante da GNR obrigado a fazer de Pilatos, os habitantes de um bairro degradado, um bruxo, e um negro e uma cigana apaixonados.
Porém, conquanto se limite a acompanhar Madalena, tentando apenas pacificar os desavindos, nem assim Cristo volta a escapar à fúria dos homens.
E apenas um farsante o irá reconhecer.
Mediante a ironia e o sarcasmo a Segunda Vinda de Cristo à Terra aborda fenómenos de conflitualidade social e política que ocorreram no nosso país.
Mas no fim é Portugal quem acaba posto na cruz.

João Cerqueira é doutorado em História da Arte pela Universidade do Porto. É autor de sete livros. A culpa é destas liberdades, A Tragédia de Fidel Castro (publicado nos EUA com o título The Tragedy of Fidel Castro), As reflexões do Diabo, Arte e literatura na guerra civil de Espanha, Maria Pia: rainha e mulher, José de Guimarães (publicado na China pelo Today Art Museum), José de Guimarães: Arte Pública.
The Tragedy of Fidel Castro venceu USA Best Book Awards 2013, o Beverly Hills Book Awards 2014, o Global Ebook Awards 2014, foi finalista do Montaigne Medal 2014 (Eric Offer Awards), e foi considerado pela revista ForewordReviews a terceira melhor tradução publicada nos EUA em 2012. Em 2015 será publicado em Espanha pela Funambulista, na Itália pela Leone Editore e no Reino Unido pela Freight Books.
Os seus textos estão publicados na Toad Suck Review, Foliate Oak Literary, Hypertext Magazine, Cleaver Magazine, Danse Macabre, Contemporary Literary Review India, Open Pen Magazine, The Liberator Magazine, BoldType Magazine, All Right Magazine, South Asia Mail, Linguistic Erosion, Calamites Press, Sundayat6mag, Literary Lunes.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O Manuscrito nos Confins do Mundo (Marcello Simoni)

Konrad von Marburg é um homem de disciplina férrea, mas que, confrontado com a heresia, não está disposto a deter-se perante nada que se meta no caminho entre ele e a sua presa. É aliás essa a razão que o leva a seguir um rasto de mortes que começa com um prisioneiro assassinado em circunstâncias estranhas e que segue no rasto de um magíster ambicioso que se vê com uma missão desagradável nas mãos. Tudo converge para um mesmo ponto: Nápoles, onde Ignazio de Toledo se encontra a negociar a venda de uma falsa relíquia e, devido a um mal-entendido e à aparição inoportuna de Suger de Petit-Pont, é confundido com um necromante que, ao que tudo indica, estará na origem das tais estranhas mortes. O problema é que von Marburg não está disposto a ouvir argumentos. E, por isso, a sede de conhecimento de Ignazio pode ser, desta vez, o seu fim.
De volta à vida de Ignazio de Toledo, mas, desta vez, numa aventura de contornos bastante diferentes, este terceiro livro constrói para o seu protagonista um percurso bastante peculiar. E a diferença nota-se logo nos primeiros capítulos, já que a entrada em cena de Ignazio é bastante mais tardia, sendo outras as personagens que se destacam na fase inicial. Mas, mais que isso, é interessante notar que, apesar de disposto a tudo na sua busca por conhecimento, o envolvimento de Ignazio nesta aventura em particular é, em grande medida, involuntário, o que, ao torná-lo, de certa forma, numa vítima das circunstâncias, permite ver a sua natureza de uma perspectiva diferente.
Este é, por si só, um ponto de partida bastante cativante, e uma boa forma de abrir caminho para uma história feita de acção em abundância, umas quantas revelações inesperadas e, principalmente, um toque de emoção bastante surpreendente. Ignazio não é uma personagem especialmente empática e muito menos o será Konrad von Marburg. Mas, ao longo do caminho que conduz ao confronto entre ambos, há toda uma multiplicidade de personagens e de acontecimentos que, por uma ou outra razão, despertam empatia. E esta empatia, associada às circunstâncias delicadas do próprio protagonista, é um dos elementos que mantém sempre viva a vontade de saber mais.
Quanto ao mistério propriamente dito, sobressaem dois aspectos. O elemento possivelmente sobrenatural, bem desenvolvido e com algumas revelações surpreendentes, contribui também em muito para que a leitura nunca deixe de ser intrigante. E as possibilidades em torno do "verdadeiro" magíster de Toledo, com todas as pistas e ligações a conduzir o enredo no sentido de um final que, pelo que tem de surpreendente, mas também pela intensidade dos momentos narrados, acaba por se revelar como especialmente satisfatório.
Intrigante, pois, tanto pelo cenário como pelas personagens que o povoam, este é, portanto, um livro que, com uma boa história, personagens fortes e um bom equilíbrio entre acção, mistério e emoção, cativa desde as primeiras páginas e nunca deixa de surpreender. Muito bom.

Novidades Planeta

Uma fábula sobre a paralisação e a mudança, a dificuldade de agir e a importância fundamental de não perdermos um horizonte de liberdade, contada por uma ficcionista que se revela numa escrita clara e num olhar acutilante sobre o mundo e a matéria humana, triste e alegre, que o constrói. 
Diz-se que basta pôr um pauzinho na engrenagem para fazer descarrilar todo um sistema. Tirar um pauzinho pode ter o mesmo efeito. 
Estaremos prontos, no momento certo, para dar o salto, abrir a porta e fugir das prisões que construímos? 
Um contabilista solitário tem um vício secreto, que alastra pelas paredes da sua casa – cuidadosamente fechada a olhares exteriores – e pelas horas nocturnas, roubadas à vida oficial e vazia de interesses que lhe preenche os dias. 
Até que um pequeno imprevisto abala de forma dramática esta ordem de coisas: a falta de uma peça entre nove mil outras pode fazer tombar uma fábrica, uma sociedade, várias vidas. 
E ligar os destinos de desconhecidos que fazem, ainda que o não saibam, parte de um mesmo puzzle...

Yanira é cantora num hotel em Tenerife. É solteira e vive rodeada pela família. A sua vida é calma e, de certo modo, acomodada. 
Mas Yanira gosta de experimentar coisas novas, e decide enveredar no mundo das trocas de casais. 
Num dos bares que frequenta conhece um italiano que lhe ensinará que o sexo vai muito mais além do que conhecia até então. 
Um ano depois, muda-se para Barcelona e começa a trabalhar como camareira num cruzeiro de férias chamado Espíritu Libre.
No navio também está Dylan, um atraente empregado da secção de manutenção que quase nem lhe liga, apesar dos contínuos sorrisos de Yanira. 
O que ela não sabe é que ele a observa mais do que pensa e, apesar dos mal-entendidos que surgem entre eles a fazerem pensar o contrário, a atracção que sentem fá-los-á encontrarem-se e partilhar um sem-fim de jogos divertidos e sensuais.

A Dieta dos 2 Dias conquistou os portugueses pelo seu conceito inovador de ser possível emagrecer sem renunciar à boa comida, durante cinco dias, e comer com restrições apenas nos dois dias restantes da semana. 
Tendo como base esta ideia, a jornalista inglesa e editora do jornal The Guardian, pretendeu mostrar que dois dias por semana são suficientes para mudar toda a nossa vida, quer a nível pessoal, social e profissional. 
Com o mínimo de esforço é possível alcançar os nossos objectivos. 
Com a ajuda de um programa muito simples e fazendo pequenas mudanças dois dias por semana, conseguimos resultados para o resto da nossa vida.
A autora revela neste livro a sua experiência pessoal: conseguiu emagrecer, sem grande disciplina nem esforço, seis quilos em quatro meses, graças à dieta dos dois dias, e o marido também se entusiasmou com os resultados e fez a mesma dieta. 
Isto foi o catalisador de uma importante mudança de vida. Em pouco tempo passaram a alimentar-se de forma saudável, a praticar exercício físico e a terem uma maior qualidade de vida. 
Mas seria aplicável este conceito a outros aspectos da vida? 
Emma Cook achou que seria possível e aplicou esta fórmula a outras áreas da vida diária. Os especialistas que a autora consultou apoiaram e viabilizaram este método, assim como todas as pessoas que o experimentaram e adoptaram na sua vida. Assim nasceu este livro. 
Emma Cook ensina-nos como aplicar o método da dieta dos 2 dias em todas as áreas da nossa vida. 
Na saúde, nos afectos, no trabalho, nas finanças pessoais, no mundo que nos rodeia, a autora mostra, através de regras simples e apoiadas nos depoimentos de peritos de cada uma das áreas tratadas no livro, como se podem ganhar bons hábitos e melhorar o nosso bem-estar, em apenas dois dias por semana.

Passatempo Merlin - Os Anos Perdidos

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a Editorial Presença, tem para oferecer um exemplar do livro Merlin - Os Anos Perdidos, de T.A. Barron. Para participar basta responder às seguintes questões:


1. Para onde é lançado pelo mar o protagonista deste livro?
2. Que ilha se assemelha ao paraíso na Terra?
3. Que distinção foi atribuída ao autor em 2011?


Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 30 de Janeiro. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- O blogue não se responsabiliza pelo possível extravio do livro nos correios;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Novidade Esfera dos Livros

A compressa esquecida no corpo de um paciente durante 13 anos; a operação à perna errada; o doente que afirma ao médico de família que a gripe se cura com aguardente; o homem que ligou 6970 vezes para o 112 para enganar a solidão, os enfermeiros e utentes que são obrigados a pagar medicamentos e material do seu próprio bolso; os médicos mortos que «passavam» receitas a doentes falecidos, remédios que eram revendidos para a Alemanha e Angola; o cirurgião que abusava de mulheres anestesiadas; os seis doentes que ficaram cegos devido à troca de medicamentos.
Estas são algumas das negligências e casos insólitos, uns com mais ou menos graça, que vai encontrar neste livro surpreendente. Depressem, Chamem Um Médico permite-nos levantar o véu sobre o que se passa verdadeiramente na saúde em Portugal: histórias de fraudes, relatos esclarecedores de quem contacta diretamente com os doentes, queixas dos profissionais que diariamente dão a cara, episódios que, de tão caricatos, parecem não pertencer ao mundo real. As jornalistas Sónia Trigueirão e Paula Ferreira revelam-nos as dificuldades de quem governa e gere os dinheiros públicos num setor tão sensível e crucial como este. Um livro decisivo para perceber o estado da Saúde em Portugal.

sábado, 17 de janeiro de 2015

O Contador de Estórias (DeMoura)

Improváveis ou pessoais, caricatas, por vezes, mas com um toque de melancolia que as aproxima do leitor. Assim são as histórias deste livro, histórias de personagens normais em circunstâncias pouco normais, ou de esperanças que se transformam em algo de diferente.
Logo na introdução, O Contador de Estórias, o autor conta a ideia e as experiências na base deste livro, denunciando, desde logo, uma impressão de proximidade às histórias que se seguirão. E assim, em poucas páginas, desperta curiosidade para a leitura.
Segue-se o primeiro conto, Miúra, história de uma tourada vista pelos olhos do touro. Algo descritivo, mas cativante na forma como, através dos acontecimentos, consegue levar à reflexão, deixa algumas dúvidas no ar, mas, apesar disso, fica na memória.
O Ciúme conta como um mal-entendido destrói a promessa de um grande amor; de ritmo pausado e bastante descritivo, entranha-se gradualmente no pensamento do leitor, abrindo caminho a algumas revelações surpreendentes que culminam num final marcante. 
Em O Velho Marinheiro, um homem melancólico encontra o rosto ideal para a sua obra-prima e está disposto a tudo para o eternizar na tela. Pausado, bastante descritivo, este é um conto que passa uma primeira impressão de distância, mas que, com as mudanças no pensamento do protagonista, se vai tornando progressivamente mais cativante.
O Plágio conta a história de um pintor que, sem saber bem como nem porquê, dá por si a escrever dois contos de uma qualidade inexplicável. Também de ritmo pausado, mas bastante intrigante no que diz respeito à origem dos contos, uma história algo improvável, mas cativante e com uma explicação surpreendent para o mistério. 
Tia Rosa fala de uma viagem muito aguardada que se transforma na mais atribulada aventura das vidas dos protagonistas. Aqui, o que começa por ser um conto pausado e um tanto introspectivo acaba por dar lugar a uma história caricata, com o seu quê de improvável e, precisamente por isso, estranhamente cativante.
Segue-se Professor Napoleão, história de um homem que julga estar a perder a memória e que, por isso, se sujeita à cura inovadora proposta por um neurologista. Também construído num estranho equilíbrio entre o melancólico e o improvável, este conto apresenta uma história envolvente e surpreendente, que culmina num final especialmente intenso, ainda que sem dar todas as respostas.
Zuluaga conta a história de um empreendedor de outro tempo e das inesperadas possibilidades que caem nas mãos de um dos seus aliados. Também caricato, mas cativante, este conto sobressai ainda pela forma como reflecte, ainda que de forma improvável, os perigos de dar as coisas por garantidas.
Una Birra Presto fala da ascensão de um jovem de parcos meios e da presença do seu constante protector na sua vida. Interessante, ainda que inicialmente um pouco distante, torna-se em algo diferente com a entrada em cena de um novo elemento. Particularmente cativante no retrato que traça para a implementação de um sistems capitalista no mundo animal, leva também a reflectir sobre o que realmente importa.
Segue-se O Pesadelo, história de amor e de vidas passadas. Também um conto de ritmo pausado, mas sempre intrigante pelo mistério da estranha familiaridade entre os protagonistas, torna-se progressivamente mais intenso com o aproximar da revelação do mistério, num final especialmente emotivo.
O Prisioneiro relata as tribulações de um preso político, num registo muito pessoal e emotivo, em que são quase palpáveis os sofrimentos do protagonista. Intenso e marcante, apela também à reflexão.
E, em complemento à introdução, Finalmente parte ainda de outra memória de um passado possível para ponderar sobre as possibilidades do futuro.
A soma de tudo isto é uma leitura agradável e cativante, com alguns contos especialmente memoráveis, mas todos eles com algo de interessante para oferecer. Uma boa leitura, em suma.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Novidade Presença (20 de Janeiro)

Merlin – Os Anos Perdidos
T. A. Barron
Título Original: Merlin – The lost years
Tradução: Rita Figueiredo
Páginas: 304
Coleção: Diversos Literatura No 75
PREÇO SEM IVA: 13,11€ / PREÇO COM IVA: 13,90€
ISBN: 978-972-23-5449-3

Antes de ser Merlin, ele era apenas um menino, sem terra, sem memória, sem nome. Um mar tempestuoso lançara-o para as costas escarpadas do país de Gales, juntamente com uma mulher de extraordinária beleza que dizia ser sua mãe. Cinco anos mais tarde, estão a viver juntos numa aldeia, mas o rapaz sonha descobrir a verdade sobre si próprio e sobre os seus estranhos poderes, e parte em busca das suas origens. Chega a uma ilha, Fincarya, que se assemelha ao paraíso na Terra, mas rapidamente se apercebe de que uma entidade maléfica, em conluio com o rei da ilha, Stangmar, ameaça destruí-la. Sem saber que Fincarya é a sua terra e Stangmar seu pai, o jovem empenha-se na salvação da ilha e do seu povo e, com a ajuda de um grupo de novos amigos – um pequeno falcão; Rhia, uma rapariga que fala com as árvores; e Shim, um gigante que tem o tamanho de um anão -, tenta entrar no castelo rodopiante do rei, enfrentando perigos inimagináveis. 
Aventura, tesouros, criaturas mirabolantes, florestas frondosas, castelos em ruínas e muita magia num épico fantástico que nos revela os anos de juventude daquele que estava destinado a ser o maior mago de todos os tempos – Merlin!

T. A. Barron é um autor norte-americano com mais de 30 obras publicadas, entre romances, livros infantojuvenis e sobre a conservação da natureza, muitos deles bestsellers internacionais. 
Foi premiado com o Nautilus Award, um prémio que é atribuído a obras que inspiram um mundo melhor, e recebeu também diversas distinções por parte da American Library Association e da International Reading Association. Foi ainda distinguido, em 2011, com a USM Medallion pela sua inestimável contribuição para a literatura infantil e juvenil.

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Comando Tribulação (Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins)

Depois do Arrebatamento, aqueles que ficaram para trás continuam à procura das respostas certas. Mas o mundo está a mudar a uma velocidade nunca antes vista e o encanto de Nicolae Carpathia parece capaz de convencer o mundo das suas ideias de paz. Mas, para os poucos que sabem a verdadeira natureza do líder em ascensão, o percurso de Carpathia é apenas o início dos longos anos de tribulação que se aproximam. Rayford, Bruce, Buck e Chloe estão numa posição que lhes permite ver de perto aquilo que se seguirá. Mas achar que a fé é suficiente para enfrentar um homem que tem todo o mundo nas mãos pode ser, talvez, demasiado optimista.
Dando seguimento à história iniciada com Deixados para Trás, este segundo volume continua a acompanhar os seus protagonistas numa luta cada vez mais solitária para fazer frente ao que parece ser o inevitável apocalipse. E é no desenvolvimento deste tema que continua a residir um dos grandes pontos fortes desta aventura. As profecias do Apocalipse são transpostas para o enredo de uma forma cativante, tornando-se reais na vida dos protagonistas. E a forma como os autores as colocam numa situação em que as forças em movimento não agem apenas no contexto da religião, mas no seio da política mundial, acrescenta algo de surpreendente a uma história em que a acção é sempre um dos aspectos mais importantes.
Outro aspecto dominante neste livro é o elemento religioso e, mais uma vez, ficam sentimentos ambíguos relativamente a esta questão. Se, por um lado, a transmutação do Apocalipse para uma possível realidade, exige, necessariamente, uma certa medida de fé, a convicção inabalável dos protagonistas e a forma como esta se associa a uma única religião verdadeira como caminho de salvação cria uma certa distância. Ainda assim, a envolvência do enredo e o aspecto mais pessoal das histórias dos protagonistas compensam esta impressão de afastamento.
Ainda um outro ponto surpreendente é a forma como, apesar dos desenvolvimentos no contexto político e das questões religiosas, que, inevitavelmente, exigem algumas explicações, há sempre algo de relevante a acontecer na história, seja nas relações pessoais entre as personagens, seja numa perspectiva mais global. E, neste ambiente de acção constante, há momentos divertidos e emocionantes, inesperados e, num ou noutro caso, até comoventes. E é isso, acima de tudo, que faz com que esta leitura se torne praticamente viciante.
A soma de tudo isto é mais uma leitura agradável e envolvente, com personagens cativantes e um enredo cheio de surpresas. Mais uma vez, fica a curiosidade em saber o que se seguirá.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Novidade Esfera dos Livros

«Um companheiro de Auschwitz pergunta a Primo Levi por que motivo já não se preocupa com a higiene. Ele responde simplesmente: “Para quê, se daqui a meia hora estarei de novo a trabalhar com sacos de carvão?” É desse companheiro que recebe a primeira e talvez principal lição de sobrevivência: “Lavarmo-nos é reagir, é não deixar que nos reduzam a animais; é lutar para viver, para poder contar, para testemunhar; é manter a última faculdade do ser humano: a faculdade de negar o nosso consentimento”.» A capacidade de sobrevivência do ser humano é notável e, por mais terrível que fosse a existência em Auschwitz, todos os dias se lutava para sobreviver apesar de a morte estar ao virar de cada esquina. O campo de concentração de Auschwitz é sinónimo do mal absoluto preconizado pelo nazismo. Foi ali que judeus e ciganos serviram de cobaias às diabólicas experiências médicas, que acima de um milhão de seres humanos foram gaseados e que mais de 200 mil homens, mulheres e crianças morreram de fome, frio e doença, de exaustão e brutalidade, ou simplesmente de solidão e desesperança. No entanto muitos presos resistiam à total desumanização esforçando-se por manter alguma dignidade. Cuidar da higiene, ler, escrever, desenhar, ajudar alguém a sobreviver ou até a morrer eram actos que atribuíam condição humana a quem parecia ter desistido de viver. Esther Mucznik, autora dos livros Grácia Nasi e Portugueses no Holocausto, dá-nos a conhecer o dia-a-dia de Auschwitz através das vozes daqueles que ali acabaram por perecer e dos seus carrascos, do insuportável silêncio das crianças massacradas, das mulheres e homens violentados em bárbaras experiências médicas, mas também através dos relatos daqueles que sobreviveram para contar e manter viva a memória do horror da máquina de morte nazi. Para que ninguém possa alguma vez esquecer.

Novidade Porto Editora

Quando Rosa Montero leu o diário que Marie Curie começou a escrever depois da morte do marido, sentiu que a história dessa mulher fascinante era também, de certo modo, a sua própria história.
Assim nasceu A ridícula ideia de não voltar a ver-te: uma narrativa a meio caminho entre a memória pessoal da autora e as memórias colectivas, ao mesmo tempo análise da nossa época e evocação de um percurso íntimo doloroso. São páginas que falam da superação da dor, das relações entre homens e mulheres, do esplendor do sexo, da morte e da vida, da ciência e da ignorância, da força salvadora da literatura e da sabedoria dos que aprendem a gozar a existência em plenitude.
Um livro libérrimo e original, que nos devolve, inteira, a Rosa Montero de A Louca da Casa – talvez o mais famoso dos seus livros.

Rosa Montero nasceu em Madrid em 1951 e estudou Jornalismo e Psicologia. Desde 1976 que colabora em exclusivo com o jornal El País, tendo obtido em 1980 o Prémio Nacional de Jornalismo e em 2005 o Prémio Rodríguez Santamaría de Jornalismo, como reconhecimento dos méritos de toda a sua carreira profissional. Figura central da literatura espanhola contemporânea, a sua vasta obra de romancista está traduzida nas mais diversas línguas.
Por A Louca da Casa recebeu o Prémio Grinzane Cavour de literatura estrangeira e o Prémio Qué Leer para o melhor livro espanhol, distinção que também lhe foi atribuída, em 2006, por História do Rei Transparente.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Novidade Guerra e Paz

Francisco Mortágua tinha finalmente conseguido: era ministro. Depois de um percurso nas juventudes partidárias, aquele que acreditava estar predestinado a grandes coisas no panorama político português sabia que uma das suas mais preciosas aliadas – e que facilmente poderia tornar-se inimiga – era a comunicação social. O ministro queria marcar a diferença, ser um político sério, e precisava de cair nas boas graças dos jornalistas para rentabilizar esse trabalho. Mas Francisco tinha uma enorme desvantagem: era um sedutor inveterado. 
Quando se envolve com Marta Santiago, jornalista de um dos maiores jornais diários nacionais, Francisco Mortágua está longe de imaginar que os escrúpulos de Marta e a sua verticalidade moral são exactamente o oposto de tudo e todos os que o rodeiam. Num jogo de poderes, com a facção da oposição a tirar da manga a carta da chantagem, a esposa traída cada vez mais ressentida, os colegas de governo a transpirarem inveja e o esquema vicioso das obras públicas a prosseguir apesar da sua acção, a ambição do ministro poderá não ser maior do que a sede de vingança daqueles que vai derrotando, um a um, para chegar onde tanto quer. 
Entre o calor da cama e as luvas passadas debaixo da secretária, nada será simples e limpo no país onde grassa a impunidade, a chantagem e a coacção. O ministro Francisco Mortágua, mais ingénuo do que à primeira vista pareceria, vai ser confrontado com a verdadeira face da alta política e descobrir do que é capaz esse enorme monstro chamado corrupção.

Lurdes Feio nasceu em Lisboa. Formada em Jornalismo, construiu uma longa e sólida carreira com mais de três décadas, tendo sido grande repórter no semanário O Jornal e feito parte, em 1993, da equipa fundadora da revista Visão, onde trabalhou na secção política, área a que, de resto, dedicou grande parte do seu percurso profissional. Em 2000, como freelancer, abraça novos desafios e colabora, entre outros, com o Instituto da Cooperação Portuguesa na edição de uma revista temática. Em 2012, publica Para onde Vai o Nosso Dinheiro, um livro-reportagem. 
Ambição é o seu primeiro romance.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Fim de Semana (Bernhard Schlink)

Mais de vinte anos passados desde a última vez que estiveram juntos, um grupo de amigos reúne-se numa casa de campo para festejar a libertação de um deles. Jörg, condenado por terrorismo e homicídio, recebeu um indulto e precisa de descobrir uma forma de viver com a sua nova liberdade. Mas a reunião desse fim de semana, que deveria ser de reencontro com a vida, cedo traz à superfície situações mal resolvidas, ambições que envolvem Jörg, ainda que não sejam as suas, e sentimentos que mudaram com o tempo, mas não necessariamente para melhor. Pelo meio, fica a tentativa de perceber as razões: as da luta passada e as que os levaram ao ponto onde se encontram.
Centrado, em grande parte, nas relações pessoais, mas também nas motivações de uma luta mais vasta, ainda que nem sempre de fácil compreensão, este livro tem no equilíbrio entre o público e o pessoal um dos seus grandes pontos fortes. Sendo Jörg um famoso terrorista, há, inevitavelmente, uma abordagem às razões da sua luta e às questões ideológicas subjacentes. Assim, há toda uma ponderação em torno dos meios usados para atingir um objectivo e da justificação da morte em nome da conquista de um mundo melhor. Mas isto é particularmente interessante tendo em conta a caracterização de Jörg, em nada correspondente à ideia grandiosa (principalmente aos olhos de uma outra personagem) do grande revolucionário.
É aqui que o tal equilíbrio se torna evidente. Jörg é uma figura frágil, marcada, de certa forma, pelo que viveu na prisão, mas também pelo regresso a um mundo que nem sempre reconhece. E a forma como os amigos interagem com ele revela uma teia de laços particulares especialmente cativante. Ilse, com o seu sonho adiado e a paixão esquecida. Marko com as ainda presentes ideias revolucionárias, mas incapaz de medir as consequências. Christiane a sempre presente irmã, capaz de trair para proteger. Os amigos, que questionam as razões, mas que, apesar disso, oferecem o apoio possível.
Há, por isso, um surpreendente lado emotivo nesta história de encontros e de despedidas. E é também este aspecto a contribuir para que a história acabe por ser tão marcante, principalmente tendo em conta a forma como tudo termina. Sem dar todas as respostas, e com as que dá a não serem as mais positivas para as personagens, deixa ao leitor a possibilidade de imaginar o que acontece depois desse fim de semana, sem descurar, apesar disso, algumas pistas sobre um possível futuro. E, assim, apesar do muito que fica em aberto, fica também a impressão de uma conclusão adequada. Porque, apesar de tudo, a vida não acaba nesse fim de semana.
Marcante tanto pelo percurso pessoal das personagens como pelas questões mais vastas que este evoca, O Fim de Semana é tanto uma história de ideais como de emoções. E, contada com mestria, tanto nos momentos mais intensos como nos mais introspectivos, facilmente se torna memorável. Vale, pois, a pena ler este livro. Vale muito a pena.

sábado, 10 de janeiro de 2015

A Oeste Nada de Novo (Erich Maria Remarque)

Em 1914, o discurso exaltado de um professor leva os seus alunos a alistar-se para a guerra, que fará deles, a "juventude de ferro", verdadeiros heróis. Inspirados, movidos pelo entusiasmo, atravessam as dificuldades da recruta e, logo aí, começam a descobrir que a realidade da guerra é algo bem diferente do que lhes foi contado. O medo, o perigo e a morte convivem lado a lado com as rotinas que preservam a sanidade dos combatentes. E, de toda a tragédia, do quotidiano miserável em que cada dia poderá ser o último, emergem amizades feitas num companheirismo sem reservas. Mas que não é, nem ele, imune à morte.
Narrado na primeira pessoa por um desses entusiásticos alunos que se deixaram atrair para a guerra, este é um livro que conjuga a experiência pessoal com a desumanização necessária à sobrevivência num ambiente de guerra. Assim, a voz de Paul Bäumer  - assim se chama o protagonista - tanto reflecte a distância para com um cenário em que a morte e o horror se tornaram quase normais como o choque ante a crueldade que tudo envolve, o medo incontrolável, a aproximação à loucura, a dor da percepção que, mesmo sobrevivendo, nenhum deles voltará a ser quem era.
E assim, este é um livro de contrastes, ora distante na narração das movimentações na frente de combate, ora perturbador na forma como Paul e os seus companheiros reagem às situações em que se encontram. É a história deles, acima de tudo, mas também a de tantos outros na mesma situação. E, por isso, é também uma história da guerra, não nos planos e das estatísticas das grandes batalhas, mas do medo, da dor e da morte. No fim, é isso que mais marca neste livro, mesmo quando os pormenores práticos se tornam menos interessantes. É que a morte está sempre lá e Paul, Kat, Kropp e todos os outros são mais do que simplesmente números.
Nunca será, por isso, uma leitura fácil. Além de haver muitos detalhes a assimilar, todo o ambiente é inevitavelmente cruel e sombrio. Há uma história a percorrer com os protagonistas, mas há também uma percepção sobre o que é, no fim de contas, a guerra. E essa percepção, que culmina num capítulo final muito breve, mas de grande intensidade, é algo que apela à uma reflexão profunda.
História de jovens soldados ou de uma juventude destruída, este é, em suma, um livro sobre o sofrimento. E, por isso, um livro que perturba, ao mesmo tempo que apela ao pensamento. Lúcido na sua visão das coisas e, ainda assim, impressionante, pode ser uma leitura exigente, mas é certo que fica na memória.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Novidade Bertrand

«Tenho saudades do tempo em que a vida era nossa», diz Lola, a protagonista do romance. Sente falta da sua vida, tão cheia de esperança, feita de livros e conversas ao café, sestas ociosas e projectos de construir um país. A Espanha que passo a passo aprendia as regras da democracia. 
Porém, em 1936, chega um dia em que a vida se transforma em sobrevivência e agora, passados quinze anos, a única coisa que resta é uma pequena livraria, meio escondida num dos bairros de Madrid, onde Lola e Matías, o marido, vendem romances e clássicos esquecidos. 
É nesse lugar modesto que, em 1951, Lola conhece Alice, uma mulher que encontrou nos livros uma razão para viver. 
Acompanhamos a amizade entre as duas, atrás do balcão a lerem o mesmo livro juntas, e isso leva-nos atrás no tempo, à Londres do início do século XX, para conhecermos uma menina que se perguntava quem seriam os seus pais...

Marian Izaguirre nasceu em Bilbau. Trabalhou em comunicação, como jornalista, e em marketing. É autora de seis romances e vencedora de vários prémios.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Ligeiramente Escandalosa (Mary Balogh)

Freyja Bedwyn não espera grandes aventuras na sua viagem a Bath. Na verdade, apenas aceitou o convite da amiga para estar longe de casa na altura do nascimento do filho de Kit - o homem que, em tempos, amou. Mas, no momento em que um homem invade o seu quarto na estalagem, em fuga de uma situação delicada, Freyja vive o primeiro momento do que está longe de imaginar que será uma aventura fascinante. É que o intruso no seu quarto é precisamente o marquês de Hallmere, com quem se reencontrará em Bath, para descobrir que, por detrás da imagem do devasso inconsequente, há uma história com raízes muito profundas.
Sendo ela provavelmente a mais invulgar de todos os elementos da família Bedwyn, e todos eles têm as suas particularidades, o facto de ser Freyja a protagonista deste livro seria, por si só, um muito bom motivo de interesse. Com um papel relevante em livros anteriores, Freyja sempre despertou curiosidade para a sua própria história e para a forma como ultrapassaria as questões do passado. E a verdade é que, neste livro, a autora encontra-lhe o melhor caminho possível.
Freyja tem uma personalidade forte, um carácter indomável. E, por isso, é apenas natural que entre em rota de colisão com o sempre descontraído Joshua Moore. É este o ponto de partida para a história de ambos e a autora desenvolve-a com mestria, desde os atritos e pequenos (ou não tão pequenos) conflitos à descoberta de algo de mais intenso. O resultado é uma história em que a relação entre os protagonistas cresce de forma gradual - e, por isso, mais credível - através de um percurso delicioso desde os mal-entendidos e as situações caricatas em direcção à descoberta da verdadeira complexidade de ambos os protagonistas.
Ora, este romance peculiar dá ao enredo as medidas certas de emoção, sensualidade e humor, já que as interacções entre Freyja e Joshua conseguem ser sempre surpreendentes, mas nunca forçadas. Mas nem só do romance dos protagonistas vive esta história. Este é, aliás, outro dos pontos fortes deste livro. É que, para lá, do crescimento da relação entre Freyja e Joshua, há um elemento de intriga e de perigo que, além de dar a conhecer novas personagens e abrir caminho para um reencontro com os restantes Bedwyn, torna a história bastante mais intensa, já que, para lá do imbróglio que é a situação dos protagonistas, há ainda mais uns quantos problemas para resolver. Problemas estes que culminam num final intenso, cheio de revelações e especialmente marcante.
Leve e descontraído, com personagens fortes e um excelente equilíbrio entre humor, romance, intriga e emoção, Ligeiramente Escandalosa corresponde plenamente às expectativas criadas pelos livros anteriores. Cativante e surpreendente... Muito bom.

Seis anos


É verdade que o tempo não pára, mas também é certo que isso nem sempre é mau. Completam-se hoje seis anos desde que, de maneira quase hesitante, comecei esta minha aventura de partilhar pensamentos sobre as descobertas que faço nas páginas dos livros.
Seis anos depois, o tempo que passou e as coisas que se fizeram e as que ficaram por fazer deixam a esperança de continuar, sempre, a percorrer as histórias de outras vidas, a conhecer outros lugares e outros tempos e a encontrar um espaço a que chamar casa nas páginas da aventura de uma - ou várias - daquelas personagens que, sem nunca as conhecermos na realidade, são tão reais no que dizem ao coração.

Obrigada, como sempre, a todos os que por aqui passam. Bem-vindos sejam.

domingo, 4 de janeiro de 2015

José Maria Espírito Santo Silva (Alexandra Ferreira)

Nasceu de pais incógnitos e sem grandes meios, mas com uma ambição que lhe permitiu erguer as bases de um vasto império. José Maria Espírito Santo Silva, determinado a vencer e a conquistar o que julgava seu direito, começaria como vendedor de lotarias, para se erguer acima da sua condição, mesmo em tempos em que isso era uma difícil conquista. O seu percurso, a sua vida e o seu legado são o tema deste muito interessante livro.
Um dos aspectos mais cativantes desta biografia é que, apesar de inevitavelmente centrada na figura de um homem, não esquece o contexto histórico em que tudo acontece. Assim, mais até que a própria história do biografado, o relato dos tempos de mudança que acompanharam a sua vida, com as crises e os momentos de bonança, mas também com as mudanças de pensamento são uma parte muito interessante desta leitura. Aliás, há ainda, neste aspecto, um outro ponto que sobressai. É que, ao estabelecer comparações com as circunstâncias actuais, a autora realça semelhanças e contrastes, o que faz com que, tendo em conta a actualidade, os factos narrados sejam ainda mais relevantes.
Também quanto ao percurso do homem há comparações a fazer, sendo inevitável a observação das mudanças entre a fundação e a queda. Mas, mais que isso, há um percurso individual de sucesso em tempos em que os meios para o alcançar estavam apenas nas mãos de alguns. Neste aspecto, é também interessante notar que José Maria Espírito Santo Silva é apresentado com todas as suas qualidades, mas também com os defeitos, sendo de destacar uma das teorias sobre o início da sua fortuna, mas principalmente a sua vida privada. 
E é quanto à vida privada que fica a vontade de saber mais. Não sendo eles os protagonistas, é natural que os familiares e amigos surjam em segundo plano no desenvolvimento deste livro. Ainda assim, fica uma certa curiosidade em saber mais no âmbito desses relacionamentos, até porque o percurso de José Maria é apenas o princípio da criação do império.
Particularmente pertinente no contexto actual e cativante pela forma como desenvolve o percurso do seu protagonista em paralelo com o contexto da época em que se move, este é, pois, um livro que, além de surpreendentemente envolvente, apresenta muita informação interessante. Uma boa leitura, pois.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Os Trilhos de Boma: A Viagem Interminável - Parte I (Pedro M. Rodrigues)

A fuga de uma princesa para casar com o soberano do reino vizinho foi a fonte de uma guerra de terríveis consequências. De tal forma que, para alguns, a sua memória foi sempre preservada como uma maldição. Mas, mais que pela beleza ou pelos sonhos frustrados, Saretel ficou na memória como ponto de origem de uma lenda feita de mistérios. Tanto que o seu enigma prevalece através das gerações, para ressurgir na vida de um jovem príncipe, que, sem saber quem é ou o que lhe está destinado, é ele próprio um mistério no centro de tempos conturbados. Peroth não quer ser rei. Nem sequer sabe o que quer. Mas, quando todos lhe dizem que não pode fugir ao destino, como pode ele impor a sua vontade?
Com uma história que atravessa diferentes gerações e um ambiente em que as lendas e a intriga estão ambas na base de grandes mistérios, este é um livro com bastante potencial e uns quantos pontos fortes, mas também com algumas fragilidades. E se a soma das partes consegue ser uma leitura bastante cativante, há, ainda assim, alguns pontos difíceis de ignorar.
Começando pelos aspectos positivos, o que sobressai, em primeiro lugar, é a capacidade do autor de manter viva a vontade de saber mais. Ao mudar de perspectiva nos pontos de maior tensão, mas também ao desenvolver acontecimentos de diferentes pontos no tempo, o autor mantém a envolvência do enredo, já que fica sempre a vontade de descobrir o que acontecerá a seguir. Esta forma de contar a história, percorrendo diferentes tempos e lugares, mantém também a aura de mistério, o que, ainda que haja pontos em que demasiado fica em aberto neste primeiro volume, cria expectativas quanto ao potencial do que está ainda por contar.
Também interessante, ainda que, mais uma vez, muito haja ainda por dizer, é a forma como o contexto é desenvolvido, com a questão das lendas e dos mistérios a contrastar com intrigas bem reais. Há, neste sentido, muito potencial a explorar, principalmente no que diz respeito às movimentações de algumas personagens, mas também na explicação da sua verdadeira natureza. Também isto, aliás, faz parte do que torna esta leitura cativante.
Quanto aos pontos fracos, são essencialmente três. Primeiro, uma escrita em que, por vezes, a construção frásica é demasiado confusa e as gralhas um pouco difíceis de ignorar. Depois, algumas incongruências relativamente a acontecimentos e personagens, não demasiado frequentes, felizmente, mas, ainda assim, facilmente detectáveis. E, por último, e ainda no âmbito das incongruências, a caracterização demasiado ambígua de Peroth, que, pelos seus comportamentos, mas também pela forma como é visto, ora parece uma criança, ora quase adulto, sendo, por isso, uma personagem difícil de entender.
O que fica, então, somando tudo isto, é a impressão de um início promissor para uma história com bastante potencial. Com algumas fragilidades a corrigir, deixa, em certos aspectos, sentimentos ambíguos. Mas fica, também, a curiosidade em saber o que se seguirá. Uma leitura interessante, portanto.