sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Vírus Mortal (James Dashner)

Os Fulgores do Sol espalharam o caos, mas há quem tenha conseguido sobreviver. E, lutando a cada passo por mais um dia de vida, construiu-se uma relativa normalidade. É assim que vivem Mark e Trina, que, com o seu grupo de amigos, já sobreviveram a muito. Até que tudo muda, quando um ataque inesperado lança sobre a população um novo tipo de caos. Contaminados com um vírus altamente contagioso e altamente mortal, os primeiros atingidos morrem em poucas horas. Mas a evolução do vírus é rápida e terrível, e as consequências serão devastadoras.
Com novos protagonistas e relações que só aos poucos vão sendo desvendadas, este é um livro que, enquanto prequela da trilogia Maze Runner, cativa, em primeiro lugar, por apresentar algumas respostas sobre a forma como tudo começou. Tudo se passa treze anos antes dos acontecimentos na Clareira e, por isso, o cenário é em tudo diferente. Mas é precisamente por essas diferenças estarem na origem do que aconteceu depois que a história se torna tão interessante.
Apesar de haver um contexto bastante diferente e várias respostas importantes, principalmente no que diz respeito à doença, o elemento dominante é a acção. Trina, Mark e as restantes personagens podem ir encontrando respostas pelo caminho, mas o cerne do percurso é pura e simplesmente a luta pela sobrevivência. Talvez por isso, e apesar de algumas notáveis excepções, o aspecto emocional fique para segundo plano, deixando uma sensação de maior distância relativamente às personagens. Distância que se atenua aos poucos, culminando num final que, pelas suas implicações, não deixa de ter uma intensidade especial.
Continua a haver perguntas sem resposta, um espaço em branco entre a forma como este livro termina e o que viria a suceder no Labirinto. Ainda assim, há agora muitas coisas que são mais claras e muita informação nova a expandir o universo - ou as suas origens, melhor dizendo - onde se situa a trilogia.
E assim, a impressão que fica é a de um livro que talvez não tenha o mesmo impacto da trilogia, mas que, apesar disso, lhe acrescenta algo de novo e muito de interessante. Cativante, surpreendente e bastante intenso, um bom complemento à trilogia.

Título: Vírus Mortal
Autor: James Dashner
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro Vírus Mortal, clique aqui.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Vira a Página (Rebecca Beltrán)

Desgostos de amor. Acontecem. E, de repente, a pessoa que devia ser para sempre transformou-se num ex-namorado e os sentimentos ficaram mais tristes. Como superar? A resposta - ou algumas respostas - encontram-se neste livro que, em vez de cair nos lugares comuns de muitos livros de auto-ajuda, apela à criatividade como estratégia de superação.
Parte do encanto deste livro - e independentemente de se pegar nele com vista à tal estratégia de superação ou por pura e simples curiosidade - prende-se, em primeiro lugar, com a criatividade. Criatividade nas sugestões de actividades que apresenta, na forma como conjuga imagens, desafios, citações e uns quantos laivos de humor, e no próprio aspecto do livro. Claro que este tipo de caderno criativo não é uma ideia inédita. Mas a forma como está construído, tendo em vista a tal questão do amor - ou do fim do amor - e a superação pessoal consegue ser especialmente cativante.
E se o facto de ser um livro diferente basta para cativar, há também uma mensagem subjacente nesta sequência de actividades, pensamentos e imagens que é particularmente positiva: a de que há vida para lá do fim de uma relação. É, aliás, interessante notar que até os mais pequenos pormenores  transmitem essa mensagem, fazendo-o, contudo, de forma natural. Não é como se tentasse enfiar a ideia na cabeça de quem lê - ou, bem, responde aos desafios - , mas antes criando essa percepção através da realização das várias actividades.
Resulta? Não saberia dizer. Ainda assim, para quem se encontre a lidar com esse tipo de circunstância, pode não solucionar todos os problemas nem apagar os sentimentos. Mas sem dúvida que proporciona uma boa distracção. Gostei. 

Título: Vira a Página
Autora: Rebecca Beltrán
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A Cascata do Amor (Lauren Kate)

Ao chorar, deu início ao dilúvio e desencadeou a ascensão da Atlântida. Ao fazê-lo, semeou milhões de mortos pelo mundo e deu início a um processo a que nenhum habitante do Mundo Desperto poderá sobreviver. A não ser que Eureka encontre uma forma de lhe pôr fim. Perseguida pelos Portadores de Sementes e incapaz de encontrar sozinha às respostas que lhe faltam, Eureka sabe que só Solon, ele próprio em tempos um Portador de Sementes, a poderá ajudar. Mas as respostas não serão fáceis de assimilar - e muito menos o é a verdade daquilo que tem de fazer...
Dando continuidade aos acontecimentos de Lágrima, mas enveredando por um percurso bastante mais sombrio, este é um livro com bastantes pontos fortes - mas também com algumas fragilidades. E que, por isso, consegue cativar e surpreender ao mesmo tempo que deixa a impressão de alguns elementos em falta. Mas vamos por partes.
No que diz respeito aos pontos fortes, aquilo que sobressai é a construção do contexto em que assenta a história. A maldição da Linhagem das Lágrimas, com a sua associação à ascensão da Atlântida, serve de premissa para um enredo em que há bastantes surpresas, uma história de amor perdido que não é o que parece, e um conjunto de elementos que tornam a maldição de Eureka bastante mais complexa do que à primeira vista seria de prever. Isto, associado às circunstâncias da protagonista - que acabam por ser, no fundo, uma corrida contra o tempo - e às sucessivas descobertas que esta vai fazendo sobre si mesma e aquilo que a rodeia contribuem em muito para manter a envolvência do enredo.
Outro aspecto interessante é o papel de algumas personagens na história. Curiosamente, há muitos momentos em que não são as personagens principais a destacar-se, mas antes figuras mais ou menos secundárias - ainda que relevantes para a progressão do enredo - que surpreendem pela positiva. Solon, em particular, é uma personagem que, começando por parecer um tanto ou quanto irritante, acaba por assumir um papel particularmente marcante. 
Quanto às fragilidades, a principal prende-se com algumas reviravoltas mais apressadas do enredo, sendo que certos aspectos acabam por ser deixados para trás sem terem sido completamente explorados. Isto deixa perguntas sem resposta e, ao mesmo tempo, faz com que algumas mudanças de comportamento das personagens pareçam demasiado bruscas. Felizmente, há momentos bons mais que suficientes para compensar estas falhas. Ainda assim, teria sido interessante ver concretizadas as potencialidades desses aspectos deixados por desenvolver.
Tudo culmina num final que deixa sentimentos ambíguos. Por um lado, e tendo em conta a dimensão das consequências das acções de Eureka, a forma como tudo termina acaba por ser a que faz mais sentido. Por outro, e mais uma vez, fica a sensação de que o impacto final poderia ter sido mais aprofundado, já que, no fim de tudo, as histórias das pessoas mais chegadas a Eureka acabam por ficar em segundo plano. 
Da soma de tudo isto, fica a impressão de um livro que, apesar de algumas vulnerabilidades, consegue, ainda assim, cativar e surpreender. Com uma história envolvente, alguns momentos especialmente marcantes e uma conclusão que - apesar de deixar muito em aberto - acaba por ser a mais adequada, uma boa leitura. 

Título: A Cascata do Amor
Autora: Lauren Kate
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Como o Musgo na Pedra (Daniel Simon)

Basta uma palavra e, de repente, a vida muda. Um diagnóstico - positivo - transforma-se num eco presente em todas as acções. Nesse momento, abrem-se os portões da Perda e nada fica igual. Mas dizem - será? - que a vida continua. E, entre viagens e regressos, metáforas e significados, um luto feito de fases e uma vida que ainda não acabou, cabe ao indivíduo encontrar o seu caminho. Ou fazê-lo, talvez.
Introspectivo, melancólico, feito mais de impressões do que de acontecimentos, ainda que haja, na verdade, grandes acontecimentos na base de tudo, este é um livro que surpreende, em primeiro lugar, pelo facto de, apesar de ter uma doença como base da narrativa, não se cingir, de forma alguma, ao percurso com a doença. A história do narrador é tanto a da descoberta do diagnóstico - e da forma como vive com isso - como das relações e experiências que lhe definem a vida. E, assim, surge uma história em que o homem é mais importante que a sua condição, sendo que as suas vivências - emoções, pensamentos, decisões - se tornam aplicáveis a outro tipo de circunstâncias.
É este, aliás, o grande ponto forte do livro. É que, apesar da doença, ou precisamente devido a ela, a forma como o narrador pensa nas suas circunstâncias cria paralelismos com outros tipos de provação. A Perda, o seu grande mundo da Perda, tem inúmeras faces, e é particularmente interessante a forma como, tendo sempre em vista um percurso pessoal bem definido, as ideias e os sentimentos associados se expandem para outros tipos de dificuldade.
Há ainda um outro aspecto surpreendente neste livro, e este diz respeito à escrita. Introspectiva, poética, por vezes, pejada de referências musicais e literárias, surpreende por, ao mesmo tempo que reflecte a complexidade das circunstâncias e a vastidão de referências daquele que as vive, evocar uma estranha leveza, como que num reflexo da fluidez do tempo. Fluidez que, espelhando de tal forma o ritmo do pensamento do seu protagonista, ora se resume à crueza dos factos, ora se estende em divagações, ao ritmo, precisamente, de um pensamento que nem sempre é controlável.
Quanto aos acontecimentos propriamente ditos, e voltando à questão da doença como cerne da narrativa, acaba por ficar muito em aberto no final e, por isso, uma certa insatisfação com aquilo que é deixado por dizer. Apesar disso, e tendo em conta as circunstâncias, este futuro deixado por contar - reforçando a tal ideia de que a vida continua - acaba por se ajustar na perfeição ao tom do livro, deixando no ar um delicado equilíbrio entre memórias e possibilidades.
O que fica de tudo isto é uma leitura de emoções, em que, mais do que uma condição, importa a vida e o que dela se retira. História de perda - ou da vida para além da perda - e de um reencontro com o próprio ser, fica na memória pelas emoções e pelo estranho equilíbrio de luz e sombra que faz de Como o Musgo na Pedra uma leitura tão cativante. Gostei. 

Título: Como o Musgo na Pedra
Autor: Daniel Simon
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Planeta

São poucas as pessoas que podem dizer que viram passar uma parte importante da história do século XX ante os seus próprios olhos. Não como meros espectadores, mas quase que a devorando. 
Marita Lorenz é uma delas.
Nasceu na Alemanha em 1939, nas vésperas da invasão da Polónia. O seu pai, alemão, era capitão de barcos; a sua mãe, americana, tinha sido actriz. 
Em criança, foi enviada para um campo de concentração – Bergen-Belsen. Pouco depois de terminar a guerra, aos sete anos, foi vítima de violação.
Embarcou com o pai várias vezes nos anos seguintes. 
Em 1959, a bordo do Berlin, aportou numa Havana revolucionária. Um grupo de barbudos, encabeçado por Fidel Castro, subiu a bordo. Foi amor à primeira vista. Uma semana depois, el Comandante mandava buscá-la a Nova Iorque e fazia dela sua amante. Tinha dezanove anos.
Logo descobriu que estava grávida, mas submeteram-na a uma intervenção cirúrgica e o bebé não chegou a nascer... ou pelo menos foi o que lhe contaram.
A CIA convenceu Marita de que Fidel era o responsável pelo sucedido e enviaram-na de volta a Havana com a missão de o assassinar, mas ela não foi capaz de o fazer: continuava apaixonada por ele.
Tudo isto pode parecer suficiente para preencher duas vidas, mas há mais. De regresso a Miami, conheceu o ex-ditador venezuelano Marcos Pérez Jiménez e teve uma filha com ele.
Em Novembro de 1963 viajou de Miami a Dallas numa comitiva que integrava Frank Sturgis, um dos detidos no Watergate, e um tal de Ozzie, ou seja, Lee Harvey Oswald. 
Mais tarde foi party girl da máfia nova-iorquina e informante da polícia. Casou-se e teve um filho com um homem que espiava diplomatas soviéticos para o FBI.
A história de Marita teve luzes e sombras. Mas é sobretudo uma história de amor e de perigo. A de uma espia que acima de tudo e apesar de si própria, amou el Comandante.

A Quimera fora há anos um orfanato onde as crianças viviam verdadeiras provações. Com o passar do tempo, já adultos, essas crianças criaram os seus impérios e juraram que os filhos jamais sofreriam as dolorosas experiências a que foram submetidas.
Divididos por várias famílias e clãs, não hesitam em ajudar-se, seja a nível pessoal ou laboral.
A vida de Samara prossegue junto ao seu amor, tudo parece maravilhoso e, em determinados momentos, até roça a normalidade.
Mas na realidade não é assim. Dominic infringiu as regras da casa para evitar que ela seja mais uma escrava e isso desencadeará uma trama que fará que os implacáveis, amorais e vingativos membros do clã Malbaseda reapareçam nas suas vidas.
Alguém tece uma teia tão espessa e consistente que a obscuridade que Dominic julgava ter afastado da sua alma renasce.

domingo, 25 de outubro de 2015

Confissões de Catarina de Médicis (C.W. Gortner)

Órfã desde cedo, Catarina não levou muito tempo a reconhecer a sua dependência da bondade - ou dos caprichos - dos outros. Assim, quando foi prometida a um dos filhos do rei de França em nome de uma aliança planeada pelo seu tio, o papa, Catarina não teve escolha a não ser aceitar. Estava, então, longe de imaginar o papel que lhe estava destinado. Perante as dificuldades de uma corte dominada pela amante do marido, onde se sentia ainda e sempre estrangeira, Catarina teve de aprender a afirmar-se. E entre alianças e conflitos, decisões difíceis e derrotas transformadas em vitórias, viria a sacrificar até a sua reputação em nome de França, descobrindo, pelo caminho, uma grande verdade: ninguém é inteiramente inocente.
Bastaria para cativar, neste livro - e é um livro que tem muito de cativante - , a premissa que lhe serve de base. Narrado na primeira pessoa pela voz de Catarina de Médicis, uma das rainhas mais diabolizadas da história, apresenta para a sua vida uma nova perspectiva. E há algo de muito interessante na forma como o autor constrói esta nova narrativa, lançando uma nova luz sobre os factos conhecidos, mas sem diminuir em nada o lado mais negro desses factos. Catarina toma decisões duras - e essas estão bem claras nesta história - e assume as consequências, tanto para o país sobre o qual reina como para a sua reputação.
No fundo, o que o autor faz é criar uma imagem bastante mais complexa - e completa - da figura de Catarina de Médicis, mostrando-a enquanto rainha e, acima de tudo, enquanto mulher. E, ao fazê-lo, constrói uma narrativa intensa e repleta de momentos marcantes, em que a intriga desempenha um papel crucial, mas o mesmo acontece com a emoção, os afectos (com todas as consequências que estes implicam) e até um toque de magia. Tudo se conjuga na perfeição: os factos históricos, a construção das personagens, a narração dos acontecimentos. E, principalmente, a capacidade de humanizar as personagens, mostrando-as como mais do que figuras de estado.
A tudo isto importa ainda acrescentar a escrita. Fluída, cativante, num registo quase confessional, ajusta-se perfeitamente à voz da protagonista tal como o autor a pretende retratar. E, ao fazê-lo, reflecte de forma mais clara as tensões e emoções associadas às diferentes circunstâncias da vida de Catarina, contribuindo, também, para tornar mais nítido o seu retrato.
Retrato de uma época, de um reinado, mas, acima de tudo, de uma mulher, trata-se, portanto, de um romance que lança um novo olhar sobre uma das rainhas mais conhecidas da história. Cativante, equilibrado e muitíssimo bem construído, tanto na narração dos acontecimentos como na caracterização das personagens, um livro que não posso deixar de recomendar. Muito bom. 

Título: Confissões de Catarina de Médicis
Autor: C.W. Gortner
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Por Favor, Perdoa-me (Melissa Hill)

Leonie deixou tudo para trás. Estava noiva, com o casamento planeado e o que parecia ser uma relação estável, mas bastou um erro para a levar a fugir para o outro lado do mar. Agora, está decidida a reencontrar-se e a construir uma nova vida. E mal acaba de chegar quando se depara com um mistério. Na casa que arrendou, encontrou um conjunto de cartas, todas assinadas pelo mesmo homem e todas a terminar com as mesmas palavras: Por favor, perdoa-me. Incapaz de resistir à curiosidade - e à inevitável empatia que sente para com aquele estranho - Leonie está decidida a resolver o mistério. Mas talvez esse caminho seja também a resposta para aquilo que lhe falta perdoar...
Assente não só na história de Leonie, mas também nas de Nathan e Alex, este é um livro que, apresentando três percursos de vida bastante diferentes, cria para eles um grande ponto comum: a capacidade (ou não) de perdoar. Leonie traz consigo o passado que a levou a fugir. Nathan é, além do mistério que move Leonie a procurar respostas, também ele alguém que procura ser perdoado. E Alex precisa de fazer as pazes com um passado que mudou a sua forma de encarar as pessoas. Todos precisam de perdoar ou de ser perdoados e é tendo isto como base que a autora constrói as suas histórias.
A esta necessidade de perdão está associada também uma base romântica, já que todas as histórias envolvem, de uma ou de outra forma, uma relação amorosa. Mas, neste aspecto, o mais interessante são os paralelismos e os pontos de divergência entre as três histórias, que, à medida que o enredo se desenvolve, se tornam mais nítidos. Além disso, a forma como a autora constrói a história, dando a entender explicações que afinal não são as verdadeiras cria várias surpresas ao longo do percurso, o que contribui também para tornar as coisas mais interessantes.
Nem tudo é perfeito. Há no percurso das personagens momentos em que é difícil compreender as suas motivações e, principalmente no que diz respeito a algumas personagens secundárias, comportamentos profundamente irritantes. Ainda assim, a forma como as personagens encontram a sua paz e as sucessivas revelações associadas ao mistério das cartas acabam por compensar esses momentos menos bons e a forma como tudo termina, que, não sendo propriamente surpreendente, não deixa por isso de ser bastante cativante, acaba por se revelar como particularmente adequada.
Conjugando romance e mistério numa história que, apesar de nem sempre surpreender, nunca deixa de cativar, trata-se, pois, de um livro envolvente e intrigante, com uma escrita fluída e agradável e um conjunto de personagens falíveis à procura de um caminho melhor. Tudo somado dá uma boa história. E uma boa leitura, portanto. 

Autora: Melissa Hill
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Elsinore

A vida de Maomé teve uma importância histórica quase sem paralelo. E, não obstante o poder que o seu nome evoca, continuamos a desconhecer a história dramática do grande profeta do islão.
Lesley Hazleton corrige, em O Primeiro Muçulmano: A História de Maomé esse erro. Com base em fontes testemunhais contemporâneas e na História, na política, na religião e na psicologia, dá vida a esta personalidade, em toda a sua complexidade e vitalidade: do anonimato ao reconhecimento, da insignificância ao ícone.
Como acabaria uma criança marginal por revolucionar o mundo? Como conseguiria um mercador desafiar a ordem estabelecida com um novo sentido de justiça social? Como conseguiria um pária transformar o exílio num recomeço triunfante?
O Primeiro Muçulmano: A História de Maomé recria um homem que navega entre o idealismo e o pragmatismo, a fé e a política, a não-violência e a violência, a rejeição e a aclamação. Nele se ilumina não apenas uma figura de enormíssimo significado, mas igualmente o seu legado que sobrevive hoje mais do que nunca.
Um homem levado a viver circunstâncias excepcionais que não controlava. Nas palavras da autora, «o homem que correu pelo monte Hira abaixo não tremia de alegria, mas de um medo absoluto, primordial. O que o dominava não era a certeza, mas a dúvida. Só estava certo de uma coisa: o que quer que aquilo fosse, não se destinava a ele».

LESLEY HAZLETON:​ Nascida em Inglaterra em 1945, formou-se em psicologia, mas cedo a abandonou para se dedicar ao jornalismo. Foi repórter em Jerusalém e dedicou-se à atualidade do Médio Oriente durante mais de uma década. O seu trabalhou figurou em publicações tão prestigiadas quanto a Time, o New York Times, a New York Review of Books e a Harper’s.
O seu mais recente livro, After the Prophet: The Epic Story of the Shia-Sunni Split in Islam, foi finalista do PEN-USA Book Award. Vive em Seattle, Estados Unidos, e publica regularmente no blogue The Accidental Theologist.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Livro Imaginado (Isabel de Pina Baleiras)

Histórias de amores deixados por concretizar, contos de fadas em que o fim se aproxima do início de uma história diferente, poemas que parecem cartas de um eu que, desconhecido, facilmente se torna familiar. Um livro imaginado, em que há fragmentos que são tão reais como o quotidiano e outros tão improváveis como uma história de encantar. E em que há histórias que se completas e outras que são deixadas em aberto, mas em que, de uma ou de outra forma, há sempre um ponto comum: a própria vida.
Um dos aspectos mais cativantes deste livro é a forma como a autora conjuga um conjunto de histórias ou fragmentos de histórias mais ou menos independentes, intercalando-as com momentos de poesia ou prosa poética, para a partir delas formar uma impressão de unidade. Todas as histórias têm protagonistas diferentes, da mesma forma que nem todas as epístolas parecem associadas a uma mesma entidade. E, contudo, há no conjunto uma estranha coesão que,  realçando as semelhanças entre as várias personagens que povoam este livro, lhe confere uma maior solidez.
Também muito cativante é a escrita, bastante poética, mas directa nos momentos em que precisa de o ser. Fluída, harmoniosa, adapta-se na perfeição aos diferentes registos associados às várias personagens. Torna-se inocente quando divaga para um (quase) conto de fadas, dura quando reflecte os aspectos mais difíceis da vida real. Ajusta-se, em suma, e ao ajustar-se torna-se mais bela, pois reflecte melhor as coisas a que dá voz.
Claro que, ao resumir a poucas páginas a história de cada personagem, ficam inevitavelmente perguntas em aberto, sendo, curiosamente, nas histórias mais próximas da vida real que essa sensação de que mais haveria a dizer é mais vincada. Ainda assim, e apesar da curiosidade em saber mais sobre as vidas dessas personagens, fica também a impressão de que o essencial está lá. E de que, como partes de um todo maior, faz um certo sentido que essas histórias se cinjam aos pontos de viragem, deixando o resto à imaginação de quem as lê.
E assim, a impressão que fica é a de um livro diferente, mas em que é fácil encontrar pontos de identificação, criativo, mas assente tanto na imaginação como na realidade quotidiana e, acima de tudo, escrito com uma harmonia bela e cativante. A soma de tudo isto é, claro, uma boa leitura.

Título: Livro Imaginado
Autora: Isabel de Pina Baleiras
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Porto Editora

Em 1939, quando a Polónia capitula sob o jugo dos nazis, os pais da jovem Alma Belasco enviam-na para casa dos tios, uma opulenta mansão em São Francisco. Aí, Alma conhece Ichimei Fukuda, o filho do jardineiro japonês da casa. Entre os dois brota um romance ingénuo, mas os jovens amantes são forçados a separar-se quando, na sequência do ataque a Pearl Harbor, Ichimei e a família – como milhares de outros nipo-americanos – são declarados inimigos e enviados para campos de internamento. Alma e Ichimei voltarão a encontrar-se ao longo dos anos, mas o seu amor permanece condenado aos olhos do mundo.
Décadas mais tarde, Alma prepara-se para se despedir de uma vida emocionante. Instala-se na Lark House, um excêntrico lar de idosos, onde conhece Irina Bazili, uma jovem funcionária com um passado igualmente turbulento. Irina torna-se amiga do neto de Alma, Seth, e juntos irão descobrir a verdade sobre uma paixão extraordinária que perdurou por quase setenta anos.

Isabel Allende nasceu em 1942 no Peru. Viveu no Chile entre 1945 e 1975, com largos períodos de residência noutros locais, na Venezuela até 1988 e, desde então, na Califórnia. 
Começou por trabalhar como jornalista, no Chile e na Venezuela. Em 1982,o seu primeiro romance, A casa dos espíritos, converteu-se num dos títulos míticos da literatura latino-americana. Seguiram-se muitos outros, todos eles êxitos internacionais. A sua obra está traduzida em trinta e cinco línguas.
Em 2010, foi galardoada com o Prémio Nacional de Literatura do Chile.

Divulgação: Novidade Matéria-Prima

Em tempo de ditadura, reuniões secretas são um ato de coragem. Em democracia são um ato de cobardia. 
O clube mais poderoso do mundo alega total inocência e direito à privacidade. Mantém-se avesso a dar informações sobre os encontros que promove, mesmo quando para isso precisa do dinheiro dos contribuintes. Como actuam? O que os move? Que portugueses já passaram por lá? E com que implicações na sua vida pública e carreira? Saiba como Portugal se cruza com este corredor não oficial de poder. E como a História de Portugal poderia ter seguido um curso diferente se Bilderberg assim o entendesse. 
REVELADOR. INCÓMODO. POLÉMICO 

Rui Pedro Antunes é jornalista do Diário de Notícias desde 2008, onde integrou a equipa de Grande Investigação. Actualmente é redactor da secção de Política.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Arranha-Céus (J.G. Ballard)

Concebido para proporcionar aos seus residentes todas as comodidades necessárias, o arranha-céus, parte de um empreendimento que englobará outros quatro iguais a ele, serve de residência a uma elite abastada e culta. Nos seus quarenta andares, acolhe cerca de duas mil pessoas, naquilo que se espera ser um exemplo de sucesso. Mas os primeiros problemas não tardam a surgir. Primeiro, são as falhas do próprio prédio, que cedo dão lugar a complicações entre vizinhos. Depois, a violência alastra e os estratos sociais implícitos na distribuição dos andares levam a uma inevitável tomada de partidos. Seguir-se-á o caos - ou a instalação de uma nova ordem?
Se há algo que desde muito cedo se percebe sobre este livro é que nunca poderá ser uma leitura fácil. A premissa, a evolução dos acontecimentos, a própria escrita - há em tudo isto uma tal complexidade que toda a atenção é necessária para que nada fique por assimilar. E, assim sendo, este é um livro que exige muita concentração... mas que, apesar disso, facilmente nos puxa para toda a sua perturbadora estranheza.
Mais que os acontecimentos propriamente ditos, ainda que também estes tenham muito de perturbador, é o tom do próprio livro que realça o impacto da narrativa. Denso, quase opressivo, num registo cada vez mais sombrio e, contudo, parecendo encarar com naturalidade o crescendo de violência que é narrado, reflecte de forma muito precisa o que será o ambiente cada vez mais caótico do arranha-céus. Além disso, ainda que haja motivações pessoais associadas a algumas das personagens, o verdadeiro motivo na base de todo o caos nem sempre é fácil de assimilar, o que deixa em aberto várias possibilidades. As diferenças sociais, o isolamento, a necessidade de assumir um papel dominante ou, pelo contrário, de uma resignação à submissão são apenas alguns dos elementos presentes ao longo da narrativa, e qualquer um deles - ou todos em conjunto - poderiam justificar os acontecimentos.
No fundo, é como se tudo o que acontece tivesse um motivo - ou uma questão subjacente - ainda que alguns deles apenas estejam claros para os protagonistas desses acontecimentos. E assim o que acontece é que actos de violência, mas também de desleixo, da manifestação de uma ambição sem regras ou, pelo contrário, de absoluto desinteresse, coexistem num estranho equilíbrio em que, apesar de tudo o que de quase surreal há no evoluir das coisas, há também elementos de realidade facilmente reconhecíveis.
A soma de tudo isto é um livro exigente, em que nem sempre é fácil acompanhar a linha de acção e as motivações das personagens. Mas também uma narrativa em que, de tudo o que tem de estranho e de sombrio e de perturbador, sobressai um conjunto de questões relevantes e uma visão da natureza humana que, não sendo particularmente favorável, acaba por ser, em muitos aspectos, terrivelmente certeira. Muito interessante, portanto.

Título: Arranha-Céus
Autor: J.G. Ballard
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O Nadador (Joakim Zander)

A partir do momento em que a mulher que amava morreu por causa de uma bomba que lhe estava destinada, ele passou o resto da vida a fugir - das memórias, do passado, da verdade. Mas aproxima-se o momento em que, para o agente americano que abandonou a filha, fugir deixará de ser opção. Passaram anos. Klara, a filha, é agora adulta. Mas o retomar do contacto com um amigo com informações perigosas acaba por a pôr no centro de uma perseguição sem tréguas. Os seus inimigos tudo farão para impedir que a informação na posse de Klara se torne pública. E é bem possível que o americano seja o único capaz de a salvar...
Com momentos de grande intensidade e uma situação cujas verdadeiras razões só se tornam claras já numa fase bastante avançada do enredo, este é um livro capaz de despertar sentimentos ambíguos. Isto acontece principalmente porque grande parte do enredo se centra na perseguição, deixando, por um lado, os motivos, e por outro a caracterização das personagens para uma fase relativamente tardia da narrativa. Ora, se isto contribui em muito para manter acesa a curiosidade em saber as razões do que está a acontecer, cria também uma certa distância relativamente às personagens. Distância que se atenua na fase final, ainda assim.
O elemento dominante é, portanto, a acção. Há sempre a alguma coisa a acontecer, uma ameaça a que é preciso fugir ou algum tipo de acção que é preciso levar a cabo o mais rapidamente possível. Ora, isto é particularmente interessante tendo em conta que a história se divide entre várias personagens, ainda que todas elas com algum tipo de relação entre si. Acrescente-se a isto uma escrita bastante directa, os capítulos curtos e o crescendo de intensidade da fase final e o resultado é uma leitura que pode não ter grande impacto a nível de personalidades, mas que nunca perde a envolvência. 
E voltando ao desenvolvimento das personagens, importa ainda referir que, apesar da distância da fase inicial, à medida que as relações se vão revelando e que as circunstâncias se tornam mais dramáticas, há, ainda assim, picos de emoção que compensam amplamente a tal distância. Além disso, há na conclusão da história uma estranha paz, que, tendo em conta todas as dificuldades do percurso, acaba por se revelar como particularmente adequada.
Repleto de acção e com uma história envolvente, trata-se, portanto, de um livro que, não sendo particularmente elaborado na construção das personagens, proporciona, ainda assim, uma leitura cativante e surpreendente nos momentos certos. Uma boa leitura, em suma. 

Título: O Nadador
Autor: Joakim Zander
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Topseller

Esta é a história criativa e comovente de Greg, um finalista do secundário cujo único objectivo é manter-se completamente anónimo e evitar quaisquer relações profundas.
Para ele, essa é a melhor estratégia de sobrevivência no verdadeiro campo de minas social que é a vida de um adolescente. Juntamente com Earl, Greg faz curtas-metragens parodiando filmes clássicos, o que os torna mais colegas de trabalho do que propriamente amigos.
Tudo corria bem até ao dia em que a mãe de Greg insiste com ele para passar algum tempo com Rachel, uma miúda da sua turma que acabou de ser diagnosticada com cancro. Lentamente, Greg descobre que um pouco de amizade não faz mal a ninguém.
Tão tocante quanto divertido, o livro de estreia de Jesse Andrews inspirou o filme aplaudido pela crítica e duplamente premiado no prestigiado Festival de Cinema de Sundance 2015. Uma história capaz de partir o coração sem roubar uma só gargalhada.

Numa manhã fustigada pelo mau tempo, Heidi Wood vê numa estação de comboios uma adolescente com um bebé ao colo. A partir desse momento, essa imagem não lhe sai da cabeça.
Quando, dias mais tarde, volta a encontrar a rapariga com a bebé, Heidi decide ajudá-las e leva-as para sua casa. Chris, o marido de Heidi, assim como a filha, Zoe, opõem-se em absoluto à ideia de esta jovem, que diz chamar-se Willow, ficar em sua casa, temendo que ela possa ser uma criminosa. No entanto, Heidi não lhes dá ouvidos e, à medida que o tempo passa, sente que não pode abandonar a rapariga, e acima de tudo a sua bebé, por quem nutre um sentimento maternal fora do comum.
Entretanto, começam a aparecer pistas sobre o passado de Willow que farão com que a história ganhe contornos perturbadores. Que segredos guardará esta rapariga cujo passado esconde a todo o custo?

Sloane Watson é uma brilhante agente policial e está decidida a encontrar a sua amiga Amy, misteriosamente desaparecida. Para chegar à verdade, Sloane tem um plano aparentemente inabalável: seduzir o poderoso Tyler Sharp, dono do Destiny, o requintado e exótico clube onde Amy trabalhava como bailarina, e onde foi vista pela última vez.
No entanto, no momento em que Sloane e Tyler cruzam os olhares, a atração entre ambos torna-se inebriante. Aquilo que deveria ser uma investigação policial dá lugar a um escaldante e perigoso jogo de sedução, no qual nenhum dos dois alguma vez pensou entrar. Mas será que ainda é possível voltar atrás e mudar as regras?

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Estação Onze (Emily St. John Mandel)

O dia em que Arthur Leander morreu em palco foi também o dia em que o mundo tal como o conheciam acabou. Talvez seja por isso que, passados anos desde o colapso da civilização, Kirsten Raymonde se lembra tão claramente de Arthur, ainda que muitas outras memórias se tenham desvanecido. Num mundo sem electricidade, sem comunicações, em que a capacidade de viajar ficou seriamente comprometida e em que a vasta maioria das pessoas morreu devido à pandemia, Kirsten é agora parte da Sinfonia Itinerante, um grupo que leva música e teatro às cidades que restam. Mas o que foi até então um percurso razoavelmente seguro torna-se bem mais perigoso quando o caminho da Sinfonia se cruza com o profeta...
História de um possível fim do mundo - ou do mundo depois do fim - este é um livro em tudo diferente das habituais histórias pós-apocalípticas. Diferente em primeiro lugar porque, em vez de abordar a raiz do problema e as possíveis tentativas de o combater, se centra acima de tudo nas pessoas e nas suas vivências do colapso. E diferente também por não atenuar em nada o impacto das circunstâncias. Neste mundo, a pandemia existiu, não houve nenhuma solução de última hora e as consequências foram devastadoras. 
Talvez seja em parte por isso que o impacto da história é tão grande. É que, mais do que a história de um possível apocalipse, este é um livro que fala das pessoas que o viveram. Das que lhe sobreviveram, das que sucumbiram, das que não chegaram a vê-lo acontecer. E no centro de tudo isto há uma teia de relações e de mistérios, delicadamente tecida num equilíbrio brilhante, percorrendo vidas e tempos diferentes para reforçar as relações e as experiências das personagens.
Não se trata, por isso, de um enredo linear. Na verdade, poder-se-ia dizer que tudo neste livro é surpreendente, desde a forma como a autora avança e recua no tempo para traçar os diferentes caminhos das suas personagens à própria evolução do mundo depois da pandemia. Sem esquecer, é claro, a forma como tudo se relaciona no fim, num conjunto de laços plausíveis e surpreendentes.
E há ainda a escrita, também ela brilhante. Fluída, harmoniosa, repleta de frases memoráveis, evoca na perfeição a melancolia das circunstâncias que definem a vida das personagens. Parece, além disso, adaptar-se na perfeição aos momentos que descreve, sejam o desespero de um fim iminente ou a ainda presente esperança de um sonho por concretizar.
É difícil, na verdade, falar deste livro sem dizer demasiado. Mas o que é certo é que, com o seu delicado equilíbrio de histórias e de momentos, as personagens marcantes e as suas vivências do fim, a familiaridade dos medos e esperanças dessas mesmas personagens e a estranha beleza do seu cenário desolado, há algo neste Estação Onze que abala e que comove. E que fica na memória, bem depois de terminada a leitura. Impressionante.

Título: Estação Onze
Autora: Emily St. John Mandel
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro Estação Onze, clique aqui.

Divulgação: Novidades Planeta

Diamantina tem apenas treze anos quando o pai, um marinheiro holandês que deu à costa na ilha de Porto Santo, a abandona para ir em busca de diamantes no Novo Mundo.
Pouco depois, a mãe, uma feiticeira e curandeira africana, adoece e morre, deixando a filha a lutar sozinha pela sobrevivência no pequeno casebre da praia onde viviam.
Por baptizar, marcada pela feitiçaria da mãe e pelo sangue estrangeiro que lhe corre nas veias, essa luta parece condenada ao fracasso. Durante algum tempo, a segurança de Diamantina parece encontrar-se em Abílio, que partilha o sonho de partir daquela ilha.
Contudo, Abílio é um homem sem escrúpulos, que a usa a seu bel-prazer. Se Diamantina fosse uma jovem respeitável, ele tê-la-ia desonrado. Mas ela não é respeitável e não consentirá que a desonrem.
Orquestra a fuga da ilha mediante um casamento de conveniência com um ex-padre, Bonifácio, que se encontra mergulhado num terrível ciclo de culpa, tentação e redenção, e que aceita esta marginal como esposa e penitência, levando-a para casa do pai, num vinhedo rodeado por montanhas, na ilha da Madeira, onde ela se sente ainda mais enclausurada.
Independentemente dos obstáculos que estes homens ponham no seu caminho, Diamantina recusa-se a aceitar o seu destino e determina-se a criar a vida que deseja para si.

A consciencialização de gostar e tratar bem os animais ganhou impacto nos últimos anos e este livro segue esta tendência, através de uma narrativa muito bem imaginada e de heróis corajosos. 
A narrativa é colmatada com uma atmosfera portentosa e a descoberta do jovem herói Cau da sua habilidade como Feral. Um Feral é alguém com capacidade de falar com animais, neste caso com os corvos. 
A história passa-se em Blackstone que foi, em tempos, uma próspera metrópole. Mas tudo se desfez com a chegada do Verão Negro – uma vaga de crimes e violência que assolou a cidade oito anos antes, orquestrada pelo temível Tecedor. 
Cau tem o poder de comandar os corvos e irá descobrir que para a vida voltar ao normal, terá de utilizar as suas capacidades de Feral para derrotar o Tecedor.

Tony Ferrasa é um compositor porto-riquenho, lindo, rico e com êxito. Não há mulher que lhe resista e que esqueça com facilidade o seu fascinante olhar verde. 
Ruth é uma jovem que com apenas vinte e dois anos teve de tomar conta da irmã recém-nascida e de um irmão delinquente. Quando parece que por fim consegue orientar a vida, as coisas descambam de novo e foge, sem saber que está grávida. 
Para sustentar a família, aceita qualquer trabalho digno que se apresente e, assim, Tony e Ruth acabam por se conhecer numa festa onde ela trabalha a servir. A partir daí, como o destino é caprichoso, tornam a encontrar-se em várias ocasiões e, apesar do interesse que ele demonstra, ela mantém-se fria e indiferente. 
Pouco a pouco ambos vão entrando numa relação que acaba por desvendar que o que sentem um pelo outro é muito mais intenso do que estão dispostos a admitir. Tentam distanciar-se, mas quanto mais empenho põem na distância menos o conseguem e a atracção torna-se ainda mais forte.

sábado, 17 de outubro de 2015

A Cruz do Assassino (Paulo Bicho Garcia)

Quis o acaso que, naquela noite, Bernardo salvasse a vida de um assassino. Mas não de um qualquer. Do misterioso B. S., dizia-se que escolhia as suas vítimas entre a escumalha do mundo - chantagistas, abusadores, assassinos - impondo-lhes a sua visão da justiça. Mas, ao salvá-lo, ainda que inconscientemente, Bernardo ficou com um dilema na consciência. Fez bem ou mal? Além disso, está longe de imaginar as razões que movem B. S. Razões essas que lhe estão mais próximas do que poderia imaginar. E mais próximas se tornam quando conhece Vera e descobre que tiveram um amigo em comum - e que nele está a fonte de tudo o que está a acontecer.
Uma boa palavra para descrever este livro seria, sem dúvida alguma, invulgar. E por vários motivos. Em primeiro lugar, o registo pausado, com momentos muito introspectivos, está bastante longe do tom que geralmente se encontra neste tipo de história. Há, aliás, vários momentos em que o mistério na cabeça de Bernardo - quem é B. S. e que razões o movem - passa para segundo plano ante o seu próprio percurso pessoal e os dilemas que lhe pairam no pensamento. 
Há também um caminho muito próprio na história do dito B. S., caminho que, embora pareça, por vezes, um pouco rebuscado - principalmente, nas conversas que tem com Bernardo, em que alguns dos diálogos parecem um pouco forçados - , não deixa, ainda assim, de ter bastante de interessante na sua evolução. Além disso, ainda que o rumo geral da história possa não ser especialmente surpreendente, há no acompanhar desse percurso - com todas as questões morais e essenciais que lhe estão associadas - algo de estranhamente cativante.
E depois há as inevitáveis questões que surgem do facto de haver uma personagem a fazer justiça pelas próprias mãos: a possibilidade de errar, a legitimidade de assumir um tal papel, as consequências dessa escolha na estabilidade mental daquele que as faz... Todo um conjunto de perguntas que, apesar da brevidade do enredo, estão bem presentes na evolução da história, contribuindo também para tornar a leitura mais cativante.
Mistério e introspecção funcionam, portanto, como lados complementares na construção deste livro. De uma história que, relativamente breve e de ritmo bastante pausado, acaba por se revelar, apesar disso, estranhamente envolvente. Gostei.

Título: A Cruz do Assassino
Autor: Paulo Bicho Garcia
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Alfie - O Gato do Bairro (Rachel Wells)

Após a morte da dona, Alfie dá por si sozinho e sem uma casa onde morar. Mas não se pode deixar levar para um abrigo - lugar que muitos gatos sabem ser uma espécie de corredor da morte. Parte, por isso, em busca de um novo lar e, após alguns encontros atribulados e outros em que descobre a inesperada generosidade de alguns dos seus iguais, Alfie descobre a solução que procura. Será um gato de bairro e, ao conquistar vários donos, nunca mais ficará sozinho. O problema é que nenhum dos seus eleitos parece muito interessado em ter um gato. Mas Alfie não é de desistir facilmente. Principalmente quando sabe que os seus potenciais donos precisam dele - ainda que não estejam muito dispostos a admitir isso.
Narrado pela voz do protagonista - sim, o gato - e acompanhando o percurso entre a sua antiga vida e os seus novos lares, este é um livro em que basta a premissa para que seja expectável uma boa dose de ternura. E ternura é algo que há, de facto, em abundância nesta história, conjugada com uma boa medida de humor e uma simples, mas muito certeira, reflexão sobre aquilo que realmente importa na vida. 
Claro que, numa história contada pela voz de Alfie, surgem inevitavelmente algumas limitações. Fica alguma curiosidade em saber mais sobre a vida dos seus "donos", principalmente quanto ao que fazem na ausência do seu novo gato. Mas o facto é que, de forma mais ou menos aprofundada, a informação essencial está lá, seja nos momentos mais intensos, seja nas simples conversas que as quatro famílias têm com Alfie.
Mas o mais marcante neste livro é a forma como a autora consegue conjugar a leveza da narrativa - pautada também por um toque de inocência que, por o narrador ser um gato, parece especialmente adequado - com a intensidade dos momentos mais emotivos. Na verdade, todas as famílias de Alfie têm problemas para resolver e estes estão na base de vários episódios marcantes, culminando num final especialmente forte. Mas, mais que isso, há um crescimento na relação entre Alfie e os seus donos, crescimento esse do qual sobressai uma estranha e enternecedora harmonia.
Com uma história emotiva, um protagonista adorável e um muito bem conseguido equilíbrio entre emoção e humor, eis, pois, um livro repleto de ternura e de afectos. Simples e cativante, leve, mas marcante em todos os momentos certos, uma boa leitura. 

Título: Alfie - O Gato do Bairro
Autora: Rachel Wells
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Bizâncio

Título: Fatima, a Filha de Maomé
As Mulheres do Islão - Volume 2
Autor: Marek Halter
Págs.: 320
Colecção: Ilhas Encantadas
Romance

A vida em Meca torna-se demasiado perigosa para o Mensageiro de Alá. Maomé decide partir e Fatima acompanha-o na sua longa viagem para Yatrib, futura Medina, onde são acolhidos pela comunidade judaica que reconhece nos ensinamentos de Maomé a herança de Abraão e de Moisés. No entanto, essa é uma época de mágoa para Fatima. O pai desposa Aïcha, a filha muito jovem de Abu Bakr e Fatima sente-se traída.
Casada com Ali sente-se constrangida num papel que não se lhe adequa.
O nascimento de Hassan, seu primeiro filho, já esboça o conflito que continua a dividir o mundo muçulmano. Quem será o herdeiro do Profeta? A linhagem de Hassan, reivindicada pelos xiitas? Ou a de Abu Bakr, reivindicada pelos sunitas?
Longe das ideias feitas, o romance de uma mulher rebelde no momento em que o nascimento do Islão altera o equilíbrio entre judeus, cristãos e politeístas na Península Arábica.

Título: Roma Antiga Por Cinco Denários por Dia
Autor: Philip Matyszak
Págs.: 192 (inclui 16 páginas de fotos a cores)
Fora de Colecção
História

Bem-vindo à maior cidade do mundo.
A majestosa, monumental, por vezes decadente, cidade imperial de Roma!
Viaje pelo tempo até ao ano 200 e percorra as ruas de Roma na companhia de rapazes da Trácia, comerciantes egípcios e mercenários germânicos. Saiba onde comprar especiarias exóticas e escravas ainda mais exóticas. Descubra os melhores alojamentos, o que não deve comer e onde sentar-se no Coliseu.
Este guia imaginativo recorreu aos textos daqueles que realmente lá viveram e às mais recentes descobertas arqueológicas para reconstruir Roma no auge da sua grandeza.

Divulgação: Novidade Bertrand

Nada é tão permanente como parece…
Denver, 1962: Kitty Miller aprendeu a viver a sua vida pouco convencional de mulher solteira. Adora a livraria que gere com Frieda, a sua melhor amiga, e goza de um controlo perfeito sobre o seu quotidiano. Pode movimentar-se à vontade, sem ter de dar satisfações a ninguém. Houve em tempos um homem, um médico chamado Kevin, mas as coisas não correram bem como Kitty esperava.
É então que começam os seus sonhos.
Denver, 1963: Katharyn Andersson é casada com Lars, o amor da sua vida. Têm filhos maravilhosos, uma casa elegante e bons amigos. É tudo aquilo que Kitty Miller julgou em tempos querer — mas que só existe quando ela dorme.
Convencida de que estes sonhos se devem à sua imaginação superativa, Kitty desfruta as suas incursões num mundo alternativo. Mas, a cada visita, mais irresistivelmente real se torna a vida de Katharyn. Poderá ela escolher a vida que quer? E, se assim for, qual é o preço a pagar por se manter Kitty, ou por se tornar Katharyn?
À medida que as fronteiras entre os dois mundos vão ficando cada vez mais ténues, Kitty tem de perceber o que é real e o que é imaginado. E como podemos nós saber onde está essa fronteira no nosso próprio mundo?

Cynthia Swanson é escritora e designer. O seu livro de estreia, A Vida Aqui e Agora, foi traduzido para 11 línguas e recebido com muito entusiasmo pela crítica. Vive em Denver, no Colorado, com o marido e os filhos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Peregrino (Terry Hayes)

Entrou no mundo secreto ciente de ter o perfil mais adequado ao papel e, desde esse dia, assumiu inúmeras identidades e desempenhou missões que - pela dificuldade e pelas consequências - deixaram marcas na sua memória. Por fim, a sua sensatez levou-o à decisão de sair do momento certo. Mas agora, há uma ameaça a pairar sobre o futuro do país e, por mais que a ideia lhe desagrade, há um papel no combate a esse inimigo desconhecido que só ele será capaz de desempenhar. Para o fazer, terá de voltar ao mundo secreto - e a um passado não totalmente resolvido. E, mesmo assim, as respostas podem não ser suficiente para travar a tempo a catástrofe que se avizinha...
De tudo o que este livro tem de bom - e tem muito - há, acima de tudo, um aspecto que sobressai: a forma como o autor constrói uma intrincada e complexa teia de relações e revelações em torno das suas personagens. No cerne da narrativa, há quase que um estranho duelo entre o Peregrino e o Sarraceno. Mas, para ambos, há um passado complexo, em que até o mais pequeno passo é relevante e onde até o (aparentemente) mais inofensivo fragmento de informação acaba por ser relevante. Ora, este entretecer de ligações, associado a uma muito necessária base de contextualização, pode fazer com que a fase inicial do livro seja um pouco mais pausada. Mas, quando as coisas começam a revelar a sua verdadeira complexidade, é esta fusão perfeita de todos os pormenores que torna a leitura tão interessante.
Outro grande ponto forte é a construção da personalidade do Peregrino e, ainda que em menor grau, do Sarraceno. A forma como o passado os molda é inegável, e magistralmente reflectida na construção dos seus percursos. Mas é também fulcral para a forma como a história se desenvolve. Além disso, no caso particular do Peregrino, há algo de estranhamente fascinante no desvendar de uma personalidade complexa que tem tanto de forte e de carismático como de falível e de vulnerável. Um protagonista que é, em si mesmo, um espelho de contrastes e que, pela sua posição inigualável, serve também de base para uma ponderação sobre a sempre pertinente questão de onde se traçam os limites quando a vida de muitos está em jogo.
Mas importa realçar isto: ainda que haja uma caracterização profunda e uma vasta teia de relações a assimilar, isso não significa que a acção fique para segundo plano. Este é, aliás, outro dos aspectos que tornam esta leitura tão interessante. É que, ao mesmo tempo que desenvolve as suas personagens e as bases que fundamentam as suas acções, o autor constrói um enredo em que há sempre algo de relevante a acontecer, uma pista prestes a ser encontrada ou um episódio que, ainda que pareça de menor importância, acaba por acrescentar algo de novo à história. Tudo num equilíbrio meticuloso, moldando uma narrativa de intensidade crescente e que culmina num final impressionante.
Complexo mas envolvente, intenso e surpreendente, com um protagonista brilhantemente construído e uma história em que até o mais pequeno fragmento é relevante, trata-se, por isso, de um livro que supera amplamente as expectativas. Recomendo sem reservas. 

Título: Peregrino
Autor: Terry Hayes
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Em todas as vidas há um hiato.
A vida do autor parou numa terça-feira como as outras, com um diagnóstico. Quando a vida pára, o mundo divide-se entre os cépticos, que acreditam no acaso, e os que acreditam que os acontecimentos detêm um segredo profundo. Procurar esse segredo não é tarefa fácil. Implica silêncio, um ritmo lento e viajar pela Perda. É um trabalho de memória, de regresso à infância e à nossa história, que passa por livros, objectos, músicas e espaços. Confrontar a vida. Como ela foi. Como nós gostaríamos que ela tivesse sido. A vida, agora.

Escrevo: quatro meses depois. Como se houvesse um momento-marco, um instante zero evidente. Na realidade, as nossas vidas estão cheias de instantes zero, de rupturas, este é só o instante zero mais recente. Sublimamos as outras rupturas, mas, às vezes, numa fracção de segundo, elas emergem. Visitar a Perda é reviver todas as visitas anteriores. É inevitável. 
Pensamos que sofremos de coisas diferentes de cada vez, mas é sempre o mesmo sofrimento que visitamos. De modo que escrevo: quatro meses depois. Depois de tudo.

Daniel Simon (Portugal, 1979) viaja, lê e escreve. Interessa-se, em particular, pela Ásia e pelo Médio Oriente. Tem timings estranhos. Gosta de silêncio, de pedras, de mar, de montanha, de gatos e de paisagens e templos desertos.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Em Português, Se Faz Favor (Helder Guégués)

Dos mais recorrentes aos mais improváveis, há espaço para tudo no que respeita aos erros de português. De ortografia, de pronúncia, de género e número e outros mais, alguns mais óbvios, outros que aparecem onde menos se espera, todos podem - e devem, naturalmente - ser corrigidos. E é para o fazer que surge este livro, útil não só para esclarecer dúvidas específicas, mas também para ficar com uma ideia mais clara do bom uso da língua portuguesa.
Apesar da relevância da informação que apresenta, e da sua inegável utilidade, uma das primeiras particularidades a sobressair neste livro é o tom em que é escrito. Tendo como base exemplos específicos, para os quais apresenta a forma correcta e as devidas explicações, o autor acrescenta-lhes, por vezes, algumas observações pessoais, que, apesar de compreensíveis (principalmente quando se trata dos erros mais óbvios), são, ainda assim, dispensáveis.
Claro que isto não diminui em nada a utilidade e a relevância do livro. E o que é certo é que, com uma organização que torna fácil a procura de uma resposta específica e um conjunto de explicações sucintas (ainda que, num ou noutro caso, não inteiramente esclarecedoras) e de fácil compreensão, este livro é, sem margem para dúvidas, uma ferramenta muito útil para quem procura escrever melhor. Neste aspecto, há, aliás, ainda um outro aspecto positivo: ao não se cingir aos erros mais frequentes, o autor põe em evidência palavras ou formas de escrever uma palavra que, apesar de menos usuais, não deixam por isso de estar correctas. 
Útil, acessível e bastante completo, este é, portanto, um livro que, num registo algo peculiar, mas, no geral, muito esclarecedor, surge como um bom guia para quem quer escrever - e falar - melhor. Interessante e fácil de consultar, um livro que vale a pena ter à mão. 

Título: Em Português, Se Faz Favor
Autor: Helder Guégués
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Bertrand

Sage Singer é padeira de profissão. Trabalha de noite, a preparar o pão e os bolos para o dia seguinte, tentando fugir a uma realidade de solidão, a más memórias e à sombra da morte da mãe. Quando Josef Weber, um velhote que faz parte do grupo de apoio de Sage, começa a passar pela padaria, os dois forjam uma amizade improvável. Apesar das diferenças, vêem um no outro as cicatrizes que mais ninguém consegue ver.
Tudo muda no dia em que Josef confessa um segredo vergonhoso há muito escondido e pede a Sage um favor extraordinário. Se ela disser que sim, irá enfrentar não só as repercussões morais do seu acto, mas também potenciais repercussões legais. Agora que a integridade do amigo mais chegado que alguma vez teve está manchada, Sage começa a questionar os seus pressupostos e as expectativas em torno da sua vida e da sua família. 
Um romance profundamente honesto, em que Jodi Picoult explora graciosamente até onde podemos ir para impedir que o passado dite o nosso futuro.

Jodi Picoult nasceu e cresceu em Long Island. Estudou Inglês e Escrita Criativa na Universidade de Princeton e publicou dois contos na revista Seventeen enquanto ainda era estudante. O seu espírito realista e a necessidade de pagar a renda levaram Jodi Picoult a ter uma série de empregos diferentes depois de se formar: trabalhou numa corretora e numa editora, foi copywriter numa agência de publicidade e professora de inglês. É umas das autoras mais populares da atualidade. Em 2003, foi galardoada com o New England Bookseller Award for Fiction.

Divulgação: Novidade Porto Editora

É sabido que a juventude é o tempo dos grandes ideais, das grandes lutas, mas também do pensamento positivo, das noitadas de copos com os amigos e da inquietação sentimental. Os jovens sul-americanos da década de 1970 não foram excepção. Nestas histórias romanceadas, Luis Sepúlveda relata o passado e os sonhos de uma geração, mas através da lente do amor e dos afectos, assim diluindo as tensões e trazendo a lume, intactas, as paixões avassaladoras e o entusiasmo de uma juventude militante.
Com um misto de divertimento e nostalgia, estas páginas farão reviver «o belo sonho de sermos jovens, sem ter de pedir licença».

Luis Sepúlveda nasceu em Ovalle, no Chile, em 1949. Da sua vasta obra (toda ela traduzida em Portugal), destacam-se os romances O Velho que Lia Romances de Amor e História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar. Mas Mundo do Fim do Mundo, Patagónia Express, Encontros de Amor num País em Guerra, Diário de um Killer Sentimental ou A Sombra do que Fomos (Prémio Primavera de Romance em 2009), por exemplo, conquistaram também, em todo o mundo, a admiração de milhões de leitores.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Os 100 (Kass Morgan)

Escolhidos nos centros de detenção, onde deveriam ser executados ao completar dezoito anos, cem jovens são enviados para a Terra numa missão crucial - e nada voluntária. Há séculos, o planeta foi destruído por uma guerra nuclear e o único motivo da sobrevivência da humanidade foi um êxodo em massa para o espaço. Mas tudo indica que o tempo se está a esgotar e, por esse motivo, aqueles que deveriam ter sido mortos pelos seus crimes recebem uma segunda oportunidade. Na Terra, cabe-lhes descobrir se o planeta está em condições de ser habitado. Mas, tendo todos eles um passado pesado, será que lhes é possível encontrar alguma espécie de entendimento?
Acompanhando os pontos de vista de quatro das personagens mais importantes e centrado por isso nas suas perspectivas, este é um livro em que, apesar de um contexto global complexo e de vasto potencial, o que sobressai são as histórias pessoais. São estas, aliás, o cerne de toda a narrativa, já que o todo apenas se torna visível aos poucos, com os recuos das personagens ao passado e a percepção gradual das razões que os levaram às circunstâncias em que se encontram. Ora, isto tem duas vantagens. A primeira é a aura de mistério que, desde as primeiras páginas e ao longo de todo o enredo, mantém sempre viva a curiosidade em saber mais. A segunda é a assimilação gradual, ao longo de uma história em que há sempre alguma coisa a acontecer, de um cenário global com mais potencialidades do que à primeira vista seria de esperar.
Ainda que a história das personagens - ou da maioria delas - se defina pela necessidade de sobreviver num planeta possivelmente hostil, há, apesar disso, uma relativa dominância dos elementos pessoais. No caso de Clarke e Wells, as ligações passadas e a forma como isso influenciou a situação em que se encontram. No caso de Bellamy, a relação com a irmã. E, no caso de Glass, o segredo que traz consigo e que é mais vasto do que parece. Em tudo isto, há relações a morrer e a despontar, afectos possíveis ou destruídos, a possibilidade de um romance que talvez possa vir a acontecer. Mas também a tal luta pela sobrevivência que, nem sempre sendo o centro do enredo, está, ainda assim, bem clara nos grandes pontos de viragem.
Tudo isto abre caminho a uma sequência de revelações que culmina num final em que... quase tudo fica em aberto. Há avanços e recuos, descobertas úteis e novos perigos à espreita. E depois a autora encerra a história de uma forma que deixa a ideia de que, a seguir, tudo pode acontecer. Claro que isto deixa muitas perguntas sem resposta. Mas deixa também muita vontade de ler, o mais rapidamente possível, o volume seguinte, e a curiosidade em saber mais sobre o mundo e as circunstâncias em que este conjunto de personagens se move. 
Leve quanto baste, mas intenso e intrigante, eis, pois, um livro que apresenta um conjunto de personagens interessantes, ainda que falíveis, e as faz percorrer um caminho em que, por entre todas as mudanças e revelações, há ainda muito de novo a descobrir. Um primeiro livro muito promissor, portanto. 

Título: Os 100
Autora: Kass Morgan
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Topseller

Os planos para o casamento do detective Alex Cross com a sua noiva, Bree Stone, são interrompidos. Alex é chamado à cena de crime do assassínio de dois dos mais corruptos de Washington, DC: um congressista sem escrúpulos e um lobista dissimulado. Mas o atirador furtivo volta a atacar, escolhendo outros políticos corruptos como alvos, e desencadeando uma torrente de teorias — afinal, será este atirador um herói ou um mercenário?
O caso toma proporções inesperadas e o FBI destaca o arrogante agente Max Siegel para a investigação. Rapidamente, Alex e Siegel entram em confronto acerca de quem tem jurisdição sobre o caso.
Entretanto, os assassínios continuam. Enquanto se debate com a identidade do atirador, Siegel e o casamento, Alex recebe um telefonema do seu mais mortífero adversário — Kyle Craig. O génio do crime está de volta a DC e não irá descansar enquanto não tiver eliminado de vez Cross e todos os seus entes queridos.
Apanhado no fogo cruzado, irá Alex conseguir sobreviver?

sábado, 10 de outubro de 2015

Persuasão (Jane Austen)

Anne Elliot sabe que já não tem a juventude a seu favor e que a própria família não deposita em si grandes esperanças. Habituou-se a uma vida serena, sem sobressaltos de maior. Mas agora que a situação financeira do pai se tornou insustentável e no momento em que este se vê obrigado a arrendar Kellynch, Anne vê-se perante o regresso de uma memória que julgava ter apagado da memória. O novo inquilino faz parte das relações do comandante Frederick Wentworth, o mesmo homem que, em tempos, Anne foi persuadida a rejeitar por falta de posses. Agora, o reencontro pode ser constrangedor - ou pior. Porque a verdade é que Anne não o esqueceu, mas não sabe se ele terá ultrapassado a sua cobardia.
À semelhança de outros livros de Jane Austen, também em Persuasão há um casal que se destaca, sem que por isso o seu romance seja o centro exclusivo da narrativa. Aliás, as relações entre Anne e o comandante Wentworth são apenas uma parte de uma história que, percorrendo diferentes relações - familiares, de amizade, de simples cortesia ou mesmo de interesse - , é mais o retrato de um meio social do que propriamente a história de uma ou várias personagens. 
Isto tem um lado bom e um lado menos bom. O lado bom é, claro, a abertura para um conjunto de formas de pensar que, no seu todo, caracterizam a vivência de um determinado meio no seu tempo. Os preconceitos, os critérios em que se baseia a escolha de uma relação social, as próprias interacções familiares, atribuindo aos diferentes elementos um papel mais ou menos relevante, tudo isto contribui para caracterizar a sociedade do tempo em que decorre o enredo. Além disso, ver o que as personagens consideram ou não aceitável permite também uma ponderação sobre as mudanças que o tempo operou.
O lado menos bom é que, talvez para realçar estes traços mais vincados - o preconceito, as relações por interesse, a superioridade de posição - , há várias personagens cuja caracterização é menos que agradável. A posição de Anne, aliás, permite realçar os traços negativos de várias personagens, desde as motivações do Sr. Elliot à forma como as irmãs de Anne a vêem como, de certa forma, menor. Há, pois, umas quantas personagens que despertam mais aversão que empatia. 
Felizmente, há também personagens genuinamente cativantes e a evolução da história de Anne com o comandante Wentworth culmina num final que, não sendo de forma alguma inesperado, cativa pela estranha beleza do se auge. E assim, as irritações causadas por algumas personagens acabam por ser compensadas pelo valor das outras.
Ao mesmo tempo história de amor e retrato de um certo meio social, eis, portanto, um livro que, nem sempre sendo de leitura fácil, não deixa de ser, ainda assim, muito relevante. E que, cativante nos melhores momentos e interessante em praticamente tudo, acaba por proporcionar uma boa leitura. 

Título: Persuasão
Autora: Jane Austen
Origem: Aquisição pessoal

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Do Outro Lado do Mar (João Pedro Marques)

Vivem-se tempos conturbados em Portugal, mas, mais que a instabilidade do reino, aquilo que atormenta o doutor Vasco Lacerda é um insuperável desgosto de amor. É esse desgosto que o leva a decidir deixar para trás toda a sua vida e partir para o outro lado do mar, longe de imaginar que o esperam grandes desventuras e a descoberta de uma nova vida. Acabado de chegar ao Brasil, vê-se arrastado à força para um navio negreiro. Nessa viagem, contacta pela primeira vez com o mundo da escravatura - e descobre que é bem diferente de todas as teorias esgrimidas em Portugal. Mas a viagem é apenas o início e, de regresso ao Brasil, Vasco descobre-se cada vez mais embrenhado nesse mundo. E incapaz de ficar parado durante muito mais tempo...
Um dos aspectos mais surpreendentes neste livro é a forma como o autor constrói a sua história, conjugando uma vasta componente descritiva, que confere ao livro um ritmo relativamente pausado, com um crescendo emocional que, aos poucos, vai aumentando a intensidade do enredo. Ora, isto tem um efeito interessante, pois, se é certo que a fase inicial exige mais tempo e concentração para assimilar todos os pormenores, são também esses detalhes a aumentar o impacto dos momentos mais intensos. É como se, aos poucos, tudo - desde as personagens às mentalidades dominantes - se tivesse tornado conhecido, aumentando, assim, o impacto das possíveis mudanças.
Também especialmente cativante é a forma como, ainda que possamos considerar Vasco Lacerda como personagem principal, há um conjunto mais amplo de personagens que se assumem como protagonistas. Personagens estas que têm também as suas histórias particulares, antes, durante e após o momento em que os seus caminhos se cruzam. Isto confere à história uma maior complexidade, pois, vindas de meios diferentes, mas igualmente abertas à mudança, todas estas personagens têm uma história marcante e memorável.
Depois há toda a questão da mudança de mentalidades. Sendo que o enredo decorre no tempo da escravatura, há todo um conjunto de questões relevantes a surgir neste livro. E é também daqui que surge um outro ponto forte desta história: a forma como, através das suas personagens, o autor questiona a normalidade da época, pondo em evidência as diferentes perspectivas e as possibilidades de mudança. Há, aliás, um exemplo particularmente marcante na personagem de Gaspar, ele próprio uma figura de contrastes e uma mentalidade em processo de mudança.
Trata-se, portanto, de um livro que, vastíssimo na sua caracterização da época em que decorre a narrativa, apresenta uma história envolvente e surpreendente, com um núcleo de personagens fortes e uma conclusão que, perfeitamente adequada ao tempo que representa, dificilmente podia ser melhor. Recomendo.

Título: Do Outro Lado do Mar
Autor: João Pedro Marques
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Topseller

Ela tinha tudo o que uma donzela da sua posição podia querer: era linda e estava noiva do solteiro mais cobiçado da cidade. Um longo e desesperante noivado, porém, levou-a a querer romper o compromisso e a tomar as rédeas da sua vida.
Clio Whitmore está noiva do Marquês de Granville há oito anos, mas ele está sempre ausente no estrangeiro, levando-a ao desespero por não se sentir desejada. Quando Clio herda um castelo que lhe proporciona independência financeira, decide romper o noivado e iniciar uma nova vida. Para tal, ela terá de convencer Rafe, irmão e procurador do Marquês, a aceitar o fim do noivado. Mas Rafe tem planos para a fazer mudar de ideias, organizando-lhe um casamento de sonho...
Ele começa com flores. Um casamento nunca tem flores suficientes... Ele diz-lhe que ela dará uma belíssima noiva… e tenta não imaginá-la como sua.
Como conseguirá Rafe convencer Clio a casar-se sem se deixar vencer pelos sentimentos que crescem dentro dele, e que são a cada dia mais fortes?
Ele não irá apaixonar-se pela única mulher que nunca poderá beijar nem dizer ser sua. Ou irá?

Luca Vero, membro da Ordem das Trevas, leva Isolde do convento onde estava reclusa, para juntos registarem o fim dos tempos.
Enviados em missão para Veneza durante o Carnaval, eles vão ter de desvendar o mistério que envolve a falsificação de moeda — os nobres de ouro ingleses. Entre a folia e as máscaras, cresce a atracção entre Luca e Isolde, que já não escondem a paixão que os une.
O romance é interrompido com a chegada de um alquimista, que se torna imediatamente o principal suspeito. Mas será a resposta assim tão simples?
À medida que Luca e Isolde se aproximam da verdade, descobrem que a realidade é muito mais sinistra do que alguma vez puderam imaginar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Divulgação: Demónios de uma Mansão, de Francisco Meneses Pereira

Quando uma mansão no topo de uma montanha no Norte de Portugal deixada abandonada durante cinquenta anos, depois das invasões francesas, uma nova família inglesa composta por um pai, uma mãe e três filhos pretende reabitá-la. Ao explorar a sua nova casa, Michael, Gabriel e Raphael embrenham-se num conjunto de novas aventuras que lhes trarão mistérios, acção, perigos, novas amizades, romance e muitas novas sensações que nenhum deles pensaria algum dia vir a presenciar.

“E ali Rafael esperou. Um caçador paciente, no meio da flora e de instintos alerta para qualquer som ou movimento no ambiente. Qualquer erro: um pé fora do sítio ou um salto na altura errada e o irmão teria uma flecha direccionada à sua cabeça. Com base nessa confiança, esperou de arco erguido e um olho fechado e outro aberto. Conseguia sentir o seu coração num ritmo calmo e compassado que se alterou de repente ao detectar um pequeníssimo movimento longínquo à sua esquerda.”

Francisco Pereira é um autor nascido em mil novecentos e noventa e quatro em Lisboa, filho de pais portugueses. Desde muito pequeno que ganhou o hábito de escrever e este foi evoluindo até resultar na publicação do seu primeiro livro, “Demónios de Uma Mansão”, no ano dois mil e quinze.
É um autor bastante viajado pelo país, tendo já vivido tanto em Lisboa como em Aveiro e tendo visitado muito do seu território nacional.
Estudou em escolas tanto em Lisboa, como em Aveiro, tendo completado o décimo primeiro ano na área de Ciências e Tecnologias, Artes Visuais e tendo finalmente completado o ensino secundário na área de Línguas e Humanidades com o sonho de seguir Literatura e Cinema.