segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O Super-robô do Ryder (Nickelodeon)

Chama-se Cachorrobô e é o novo projecto do Ryder. Escava, corre, voa... faz tudo! Mas, quando um pequeno acidente lhe danifica a antena, o Cachorrobô desata a correr e a causar estragos e parece que ninguém o consegue parar. Ryder precisa da ajuda da Patrulha Pata para trazer o seu robô para casa e arranjá-lo. Felizmente, pode sempre contar com os seus amigos.
Se forem como eu e não souberem grande coisa sobre a Patrulha Pata antes de pegar no livro (e, obviamente, já bem longe da idade do público a que estes livros se destinam) provavelmente vão ficar com sentimentos ambíguos. Porquê? Porque as personagens são completamente novas, mas não há muito que seja dito sobre elas. A história é simplesmente uma aventura, curta, simples e narrada de forma muito sucinta. Assim, a ideia que fica é, por um lado, a de uma história interessante, com um belo conjunto de personagens, mas das quais não se fica a saber grande coisa, a não ser que já se tenha algum conhecimento prévio.
Claro que ver um livro para crianças pelos olhos de um adulto é sempre limitador e, se nos pusermos no papel de um seguidor assíduo dos desenhos animados, a perspectiva é diferente. As personagens já são familiares e é a aventura que interessa. Se virmos a história assim... bem, diria que cumpre os objectivos, pois proporciona uma leitura leve e divertida que proporcionará aos fãs um muito agradável encontro com as personagens. Tudo muito breve, sim, mas... também é verdade que sabe bem ler uma história de uma penada, por mais simples que seja. 
E depois há sempre o aspecto visual. Claro que as imagens parecem ser, à partida, em tudo semelhantes às dos desenhos animados - é, aliás, assim que deve ser. Mas, conhecendo ou não os desenhos, nota-se um bom equilíbrio entre o texto e as imagens que, em vez de repetir de outra forma o que está dito em palavras, complementam essas mesmas palavras para dar mais vida à história.
Breve, muito simples, mas bonito e bastante divertido, trata-se, portanto, de um livro especificamente pensado para os mais novos, particularmente para os que já conhecem a Patrulha Pata. Serão provavelmente esses os que mais proveito tirarão desta leitura... que não deixa, ainda assim, de ser interessante para quem não se enquadra nessa categoria.

Título: O Super-robô do Ryder
Autor: Nickelodeon
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Chamas (Patrícia Morais)

Vivem-se tempos conturbados no seio de Diabolus Venator. Venceram a última batalha, é certo, mas Claudius continua vivo e a sua sede de vingança é implacável. Todos sabem que, mais cedo ou mais tarde, um novo confronto terá de acontecer. Até lá, o melhor que podem fazer é estar preparados, reforçar alianças e tentar descobrir pistas que os possam ajudar. Entretanto, Lilly e Liam, os alvos principais da fúria de Claudius, recusam-se a afastar-se simplesmente, deixando aos outros a guerra que desencadearam. Mas já houve uma traição em Venator. E, quando um dos seus principais aliados tem as lealdades divididas, a verdade é que tudo pode acontecer. Aproxima-se um novo confronto e é impossível evitá-lo. E as consequências... são imprevisíveis.
Dando continuidade à história iniciada em Sombras, e expandindo-a também para novos elementos e intrigas aparentemente mais intrincadas, este é um livro que tem essencialmente as mesmas características do anterior: uma história cheia de acção, romance quanto baste, muitos e interessantes elementos sobrenaturais e um enredo que, apesar das premissas comuns a muitos outros livros do género, consegue sempre surpreender.
Mas há também uma evolução interessante, principalmente no que diz respeito às personagens. A posição delicada de Louis no cerne de todo o conflito faz com que novas questões surjam na vida das personagens. Na da Lilly, principalmente, como seria de esperar, mas também na de todos os outros que com ele interagem. Além disso, há outras mudanças no rumo das personagens, bem como na relação de Lilly e Liam, o que faz com que haja sempre uma certa fluidez, não só nos acontecimentos, mas na própria forma de estar das personagens.
O que acontece, portanto, é que, além da continuidade do enredo, sente-se, no rumo da história, uma expansão em complexidade. Novos elementos sobrenaturais, relações, românticas e não só, mais complicadas, mudanças que abalam toda a posição de uma personagem. E, sendo certo que nem sempre é fácil compreender o que causa determinadas escolhas, a verdade é que tudo parece encaixar da forma certa, preparando caminho para grandes respostas às várias questões que ficam em aberto.
Tudo somado, fica a imagem de um segundo volume à altura das expectativas geradas pelo anterior. Intenso, de leitura agradável, cheio de reviravoltas inesperadas, mas também de humor e de emoção, um livro que não desilude. E que deixa muita vontade de saber o que acontece a seguir. 

Título: Chamas
Autora: Patrícia Morais
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Entre Angola, Cabo Verde e a Índia, esta é uma incrível viagem ao princípio do fim do império colonial.

Tôko – ou Sebastião, nome da caderneta de indígena – é um contratado. Há várias gerações que a família trabalha nas plantações de algodão, em condições de quase escravatura. Estamos no início dos anos 60, na Baixa do Cassanje, Nordeste de Angola. Um terrível massacre marcará para sempre a sua vida – e a de toda uma geração.
Entretanto, Justino – ou Tininho – chega a Luanda. É uma criança travessa, sempre metida em aventuras. Nasceu em Lisboa, foi para a Índia, mas as melhores lembranças são do tempo que passou em Cabo Verde com Nha Maria, a sua querida avó Maria Galvão. Será parente de Henrique Galvão, o sequestrador do paquete Santa Maria?
Numa osmose entre a História, a ficção e a magia, este emocionante romance histórico faz-nos reviver os anos 50-60 do século xx sob diferentes perspectivas, abordando temas como a escravatura, o racismo, a ditadura, a homossexualidade e a religião.

Augusto Reis. Nasceu em Lisboa, em 1949. Viveu na Índia (Goa), em Cabo Verde (Mindelo, S. Vicente) e em Angola (Luanda). Depois do serviço militar em Angola, viajou pela Europa, tendo ali regressado em 1975, para partir definitivamente pouco antes da independência.
Trabalhou três anos em Lisboa. Numa das suas viagens, acabou por casar e fixar residência na Holanda, em 1979. Estudou Filologia na Faculdade de Letras da Universidade de Leiden e foi professor de línguas, História da Cultura e Comunicação Intercultural no Ensino Superior, em Amesterdão. Escreveu livros para o ensino de Português e Espanhol para holandeses.
Actualmente, dedica-se a decifrar perspectivas sobre África, denunciar abusos cometidos durante a colonização e analisar momentos e processos que iniciaram a queda do colonialismo.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A História de Stuart Little (E. B. White)

Stuart Little, segundo filho do Sr. e da Sra. Little, nasceu com duas grandes peculiaridades: tem apenas cerca de cinco centímetros de altura e um conjunto de características físicas que o tornam muito semelhante a um rato. Mas a história do pequeno Stuart não se resume a estes dois traços vincados: tem também um grande espírito de aventura, muita coragem e o coração no sítio certo. São, aliás, estas características que o levam sempre a novas aventuras, dentro de casa e fora dela. Mas é quando uma amiga recente, mas muito querida, a ave Margalo, deixa a sua casa que Stuart se lança na viagem da sua vida. Quer encontrar a amiga - mesmo que tenha de ir longe, mesmo que demore muito tempo. E, pelo caminho, mais aventuras o esperam. 
Um dos primeiros aspectos a sobressair neste livro (como, aliás, também em A Teia de Carlota) é a inocência da história. Inocência pela natureza do protagonista, que não parece ter em si nem um vestígio de maldade, mas, principalmente, pela forma como o mundo se lhe adapta com a mesma inocência. Claro que, se olharmos para o mundo real, grande parte desta história parece improvável - e não só por causa dos cinco centímetros de Stuart. Mas não deixa de ser refrescante mergulhar na história, imaginar que tudo é possível e acompanhar o corajoso Stuart Little ao longo das suas aventuras.
E, acontecimentos improváveis à parte, a verdade é que, uma vez apanhado o ritmo da leitura, tudo flui com uma naturalidade cativante, ao ponto de ser perfeitamente possível imaginar as conversas de Stuart com a amiga Margalo, a sua aventura pelo cano abaixo ou ainda a descoberta de um carro potencialmente invisível. É tudo estranho, mas tudo parece normal, tal é a simplicidade da história e a inocência das personagens. E acaba por ser isso precisamente o que fica na memória - a possibilidade de um mundo sem impossíveis.
A história de Stuart é feita de várias aventuras, todas elas de resolução mais ou menos simples. Mas a grande aventura, a principal, é a da sua longa viagem. E é aqui que importa fazer uma referência ao final, pois, deixando algo em aberto e, em consequência, uma certa curiosidade insatisfeita, não deixa ainda assim de parecer algo adequado, tendo em conta as muitas aventuras vividas por Stuart... e a possibilidade de fica de se poder imaginar mais.
Simples, inocente e cativante. Assim se poderá, pois, definir este pequeno livro em que um humano de ar ratiforme - ou um rato com uma família humana? - encontra nas suas aventuras a capacidade de ir sempre um pouco mais longe. Uma boa história, portanto, que vale a pena conhecer.

Título: A História de Stuart Little
Autor: E. B. White
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Planeta

Este viciante primeiro romance de Llobregat é uma descoberta literária.
O autor soube combinar com grande sucesso, doses certas de entretenimento, mistério, tragédia e intriga, com uma cuidada recriação histórica, que prende o leitor na primeira página e o mantém expectante até à última.
Frequentemente comparado com Carlos Ruiz Zafón, O Segredo de Vesálio apresenta-se como herdeiro dos grandes textos e personagens de Conan Doyle, mergulhando nos pilares fundamentais da ciência e da medicina e nas razões morais que os sustentam.
O romance é ambientado na Barcelona industrial de 188. Um antigo manuscrito do ilustre médico belga, André Vesálio, considerado uma das figuras universais mais relevantes da investigação médica e autor dum dos livros de anatomia mais influente da história da medicina, De humani corporis fabrica, está directamente relacionado com o mistério deste romance e pode mudar a história.

À bolina e sem fronteiras pelo pensamento de um dos maiores escritores contemporâneos – a escrita e a posteridade vistas do lugar de uma amizade conversável.
Para memória futura.
Este é um livro que não é uma entrevista, mas sim uma série de conversas sem guião, que vão tecendo o pensamento de António Lobo Antunes ao fio da cumplicidade criada com o jornalista e subdirector do Jornal de Negócios, Celso Filipe.
Uma visão intimista de um de um dos maiores escritores da actualidade que ajuda a conhecer o homem que é escritor, a perceber o que o satisfaz e o atormenta, a descobrir as suas influências e embirrações, os amigos, as recordações, o método de escrita.

domingo, 22 de janeiro de 2017

13 Anos para Sempre, Marion (Nora Fraisse)

Tinha 13 anos e não sabia como continuar a lidar com o assédio dos colegas no dia em que decidiu pôr fim à vida. Sozinha no quarto, Marion Fraisse enforcou-se, deixando junto a si o telemóvel também "enforcado". Decididos a descobrir a verdade - o que aconteceu, como, porque é que ninguém viu nada, ninguém alertou - os pais de Marion embarcaram numa luta pelo conhecimento, para encontrar uma grande quantidade de portas fechadas, pactos de silêncio e incómodo perante a sua persistência. É isso que a mãe de Marion, Nora Fraisse, conta neste livro que pretende ser, ao mesmo tempo, um testemunho pessoal e um ponto de partida para um debate mais alargado.
Sendo este livro um relato verídico contado, provavelmente, pela pessoa mais chegada à protagonista de todos os acontecimentos, o que impressiona nesta leitura é, em primeiro lugar, a crueldade dos factos. O conceito de bullying pode ser recente, mas os comportamentos subjacentes não o são, ainda que, por vezes, pareça haver um agravamento com o passar dos anos. E a forma como a autora conta o que descobriu sobre a vida e as razões da filha, dirigindo-se sempre a ela e narrando sem eufemismos, sem floreados, mas com todo o impacto dos acontecimentos em si, tudo aquilo que descobriu sobre o sucedido e, depois, os muito obstáculos que encontrou na sua luta pela verdade, traça um relato bastante perturbador sobre a forma como a sociedade - ou, pelo menos, a parte da sociedade em que Marion e a sua família viviam - encara este tipo de situações.
É precisamente este relato pessoal o que mais marca, pois há muita emoção presente na forma como as coisas são contadas. E esta emoção torna ainda mais impressionante um conjunto de factos que é, por si só, assustador: o que Marion passou, a forma como uma simples palavra é capaz de provocar o caos, a dualidade de critérios, as dificuldades da própria autora para tentar compreender o que sucedeu... Esta é a história de algo terrível e essa noção nunca deixa de estar presente neste livro. E sendo, como é, uma questão tão relevante, é uma grande qualidade a que este livro tem: a de gravar na memória o impacto deste tipo de acontecimentos.
Trata-se de um caso que aconteceu em França, o que significa que, na parte que a autora dedica às considerações sobre possíveis leis e mudanças no sistema de ensino, haverá, inevitavelmente, algumas diferenças entre os diferentes países. Fica, aliás, uma certa vontade de saber mais sobre de que forma se combatem esta situações por cá. Mas, sendo certo que estas diferenças realçam o facto de ter acontecido "noutro lugar), também é verdade que os factos em si podiam acontecer em qualquer lado. E a forma como a autora aborda esta faceta do tema - tentando perceber o que fazer e o que mudar para que casos como os de Marion não se repita - é também parte do que torna esta leitura memorável. Pois, além da tragédia, há a reacção. De lutar pelas respostas, mas também de lutar pela mudança. 
Breve, escrito com toda a força da emoção e transmitindo em pleno a mensagem que pretende passar (ainda que, no que respeita aos aspectos judiciais, fiquem questões em aberto - porque o processo parece ainda não ter terminado), trata-se, portanto, de um livro que cumpre plenamente os seus dois objectivos: dar testemunho da história de Marion e alertar para a existência e para as consequências do assédio. Vale, pois, a pena conhecer esta história. E pensar em todas as outras que, infelizmente, talvez fiquem por contar. 

Título: 13 Anos para Sempre, Marion
Autora: Nora Fraisse
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Divulgação: Fez no Sábado Quinta-Feira, de Peta Maria

“Porque a vida é uma anedota
E rir é o melhor remédio
Viva o humor e a risota
Morte à tristeza e ao tédio!”

Perpétua Maria Coelho Aço (Peta Maria) nasceu a 10 de Dezembro de 1963, na freguesia de Benavila, concelho de Avis, junto à albufeira da Barragem do Maranhão.
Foi aí, no coração do Alto Alentejo, que cresceu e estudou até ao 12.º ano de escolaridade, tendo terminado o ensino secundário no Liceu de Portalegre (ano lectivo de 1980/81).
Em 1981 ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa, cidade para onde então migrou e onde vive até hoje, sem nunca ter descurado a sua paixão pelo Alentejo.
Foi naquela Faculdade que se licenciou em Direito em 1986, trabalhando como jurista desde então. No decurso da sua carreira profissional fez duas Pós-Graduações: “Direito das Comunicações”, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (2001/2002); e “Direito Comercial”, pela Faculdade de Direito de Lisboa da Universidade Católica (2009/2010).
O gosto pela leitura e pela escrita manifestou-se muito cedo, tendo desde a infância ensaiado a escrita de diários, pequenos contos e poemas, sobretudo sobre paixões, reais ou imaginárias, gosto esse que foi desenvolvendo e intensificando ao longo da vida. Nos últimos anos a escrita tornou-se mesmo no seu hobby preferido.
Em 2015 publicou a Primavera Prometida, uma colectânea de poemas que escreveu em diversas fases, idades e estações do ano ou estados de alma.
Fez no Sábado Quinta-Feira, uma colectânea de poemas a que ela própria se refere como tendo um registo mais “descomplicado”, é a segunda obra que publica.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A Sabedoria do Papa Francisco (Andrea Kirk Assaf)

Amor e fé, verdade e sentido de comunidade, família, valores, perdão. De tudo isto e de muito mais falou o Papa Francisco nas suas várias intervenções desde que se tornou Papa. E, sendo certo que tudo no seu pontificado tem sido uma surpresa, são, ainda e sempre, as ideias, e a mensagem por vezes inovadora o que o sobressai. É essa mensagem o cerne deste livro em que a autora apresenta uma selecção bastante vasta de citações relevantes, através das quais se torna possível conhecer um pouco melhor os princípios da mensagem que o Papa tem para transmitir ao mundo.
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste pequeno livro é precisamente o formato. Trata-se de um livro pequeno, composto por várias citações organizadas pelos diferentes temas e em que cada frase surge tal como é - sem interpretações nem contextualização. A ideia parece ser realçar simplesmente a mensagem, sem lhe acrescentar nada de supérfluo. E o resultado é muito simples: um livro leve, que pode ser levado para qualquer lado e que tão facilmente se lê de ponta a ponta como se consulta em busca de uma ou várias frases para ponderar.
Claro que é um livro construído para um público crente e Católico e, assim sendo, os dogmas estão, nalguns casos, bastante presentes. É aqui, aliás, que fica a sensação de que talvez pudesse ter havido um pouco mais de abrangência, pois há temas em que o aspecto que sobressai parece ser a visão mais conservadora. E assim, nos temas mais controversos, por um lado, e na relação dos não crentes com a Igreja, fica a impressão de que a maior abertura que, na realidade, existe, acaba por ficar um pouco na sombra. 
Não deixa de ser, ainda assim, uma leitura interessante, seja-se ou não crente, pois, se é certo que várias citações se referem à Igreja, à vida enquanto Cristão, à fé e às formas de devoção, também o é que há muitas outras frases que se expandem simplesmente à vida: à importância do amor, do perdão, da solidariedade para com os mais vulneráveis. E, assim sendo, acreditando ou não, é sempre possível retirar algo de bom deste pequeno livro.
A impressão que fica é, pois, a de um livro que será, sobretudo, útil para os crentes, mas que não deixa nunca de ser uma boa leitura, seja para conhecer um pouco melhor a mensagem global, ou para encontrar uma boa frase sobre a qual meditar um pouco. Vale a pena, portanto. 

Título: A Sabedoria do Papa Francisco
Autora: Andrea Kirk Assaf
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Quinta Essência

 Jovens! Com a sua pressa, as suas preocupações e a vontade de desejar todas as respostas, agora… LOTTIE tinha a certeza de que RICHARD, o seu namorado de longa data, ia pedi-la em casamento. Mas estava enganada. Farta de esperar, decide terminar a relação. O inesperado acontece quando Lottie, ainda a recuperar da desilusão, recebe um telefonema. Do outro lado da linha está BEN, um ex-namorado com quem fizera um pacto insólito no passado. Se, aos 30 anos (ou aos 33…), nenhum deles estivesse casado, casar-se-iam um com o outro. Para Lottie a mensagem é clara: o Destino está a uni-los!
Já FLISS, a irmã de Lottie, não tem tanta certeza disso. Ela sabe que, por detrás deste aparente ato arrebatado de paixão, Lottie tem o coração partido. Mas casar com alguém que não vê há 15 anos ultrapassa todos os limites. O problema é que o mal já está feito… A solução? Seguir o casal até à ilha grega de Ikonos e fazer os possíveis (e os impossíveis) para impedir a consumação da união. Fliss rapidamente percebe que contrariar o Destino não é tarefa para os fracos de espírito, algo que ela acredita não ser. Mas à medida que o seu plano avança, uma dúvida paira no ar: estará ela preparada para pagar o preço pela intromissão? 

Sophie Kinsella começou a escrever aos 24 anos mas foi com a série Louca Por Compras que a sua carreira se firmou internacionalmente. Tem romances publicados em quarenta países, com um total de vinte e cinco milhões de exemplares vendidos. As razões do seu êxito são variadas: escreve com ritmo e graça sobre assuntos que tocam leitores em todo o mundo, nunca é previsível e diverte-nos sempre. Além disso, as suas histórias são românticas, com protagonistas tão reais que cremos inteiramente neles, apesar dos seus momentos mais disparatados. Sophie Kinsella é assim. Vive em Londres com o marido e a família.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Divulgação: Novidade Bertrand

Charmaine e Stan estão desesperados: sobrevivem de pequenos trabalhos menores e vivem no carro. Portanto, quando vêem um anúncio a consiliência, uma «experiência social» que oferece empregos estáveis e casa própria, inscrevem-se imediatamente. A única coisa que têm de fazer em troca é ceder a sua liberdade mês sim, mês não, trocando a sua casa por uma cela da prisão.
A princípio tudo corre bem. Não tarda, porém, a que Stan e Charmaine, sem o saberem um do outro, comecem a desenvolver obsessões apaixonadas pelos seus «alternantes», o casal que ocupa a sua casa quando estão na prisão. E, à medida que as pressões do projecto, a desconfiança mútua, a culpa e o desejo vão ganhando terreno, a experiência começa a perder a sua aura de «prece atendida» e a parecer-se mais com uma terrível profecia.

Margaret Atwood nasceu em Otava em 1939. É a mais celebrada autora canadiana e publicou mais de quarenta livros de ficção, poesia e ensaio. Recebeu diversos prémios literários ao longo da sua carreira, incluindo o Arthur C. Clarke, o Booker Prize, o Governor General’s Award e o Giller Prize, bem como o prémio para Excelência Literária do Sunday Times (Reino Unido), a Medalha de Honra para Literatura do National Arts Clube (EUA), o título de Chevalier de l’ Ordre des Arts e des Lettres (França) e foi a primeira vencedora do Prémio Literário de Londres.
Está traduzida para trinta e cinco línguas. Vive em Toronto com o escritor Graeme Gibson.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

O Mundo Imaginário de... (Keri Smith)

Todos gostaríamos de viver num mundo melhor, mas também sabemos que a utopia é impossível na realidade. Já na imaginação... talvez não seja bem assim. E todos temos lugares e coisas de que gostamos especialmente, coisas que gostaríamos de ver mais no nosso mundo, ideias, mais ou menos realistas ou completamente absurdas, mas que, na imaginação, se tornam possíveis. Então, como criar um mundo imaginário? É para isso mesmo que este livro serve.
Se compararmos este livro com os anteriores Caos ou Destrói Este Diário, da mesma autora, há, desde logo, algo que sobressai: visualmente, este é um livro um pouco diferente, maior, com mais cores e também com mais espaço para preencher. Mas a diferença não se limita ao visual: se, nos anteriores, dominava a criatividade pela criatividade, neste há um objectivo em vista: a construção de um mundo. E, assim sendo, há uma maior coesão, pois todos os desafios e sugestões seguem o mesmo rumo: o de dar asas à criatividade, como sempre, para construir todo um mundo de raiz. Ou, bem... quase.
É este desafio que acrescenta uma nova dimensão a este livro, pois há um todo maior a surgir da concretização de todos os pequenos desafios apresentados. O resultado é todo um mundo e, assim, não pode deixar de ser mais do que a soma das partes. Mantêm-se, claro, as mesmas qualidades: o apelo à criatividade, a originalidade do conceito, a possibilidade de tornar único e irreplicável um objecto relativamente comum. Mas há algo mais vasto a surgir do todo e, curiosamente, esta vastidão não impõe grandes limitações: é que, sendo imaginário, nem tudo no mundo criado tem de ser completamente plausível. Basta que esteja de acordo com a imaginação do criador.
Claro que, seguidos à risca todos os passos, talvez possa ficar a sensação de algumas ligeiras imposições. Mas, tendo em conta que esses passos servem mais como orientações sobre como começar do que como ordens fundamentais, e que à criação de um mundo imaginário se podem seguir mais dois ou três, essa sensação inicial facilmente se desvanece, ficando apenas a originalidade da ideia e o sempre cativante desafio à criatividade.
Mais amplo e mais coeso que os livros anteriores da autora, mas igualmente criativo e surpreendente, trata-se, portanto, de um livro que desafia a criar, a pensar, a construir. E, deixando ao leitor - ou criador - todas as páginas da construção do seu mundo, de um estímulo muito original à imaginação. Gostei.

Título: O Mundo Imaginário de...
Autora: Keri Smith
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Maravilhosamente Imperfeito, Escandalosamente Feliz (Walter Riso)

Parece existir na sociedade de hoje um certo imperativo de perfeição mental e emocional, que passa, entre outras coisas, pela modéstia (ainda que falsa), pelo dar-se bem com e agradar a toda a gente, por uma boa medida de culpabilização e auto-castigo e por uma competitividade a todo o custo que obriga também a uma felicidade sem tréguas. Mas há uma pequena falha nesta lista de exigências: é que isso da perfeição é impossível. E, ao tentar atingi-la custe o que custar, o resultado pode muito bem ser uma sensação de fracasso, de inutilidade, de inadequação. Como ultrapassar isso, então? Simples - abraçando a imperfeição e aprendendo a viver de uma forma mais equilibrada, questionando as premissas do perfeccionismo e encontrando no interior de cada um as verdadeiras raízes da felicidade. É esta, muito resumidamente, a base deste livro. E a imagem que fica, depois de lido, é, sem dúvida alguma, muito positiva.
Um dos aspectos que, desde logo, cativam neste livro é o facto de, contrariamente a muitos livros de auto-ajuda, não apresentar uma teoria em que, lido, tudo parece fácil. Não é assim. O que autor apresenta é um conjunto de ideias que, postas em prática, não nos colocam perante uma felicidade absoluta e constante - até porque isso não existe - mas perante uma forma de estar mais positiva, mais benéfica. E isso, sim, talvez possa trazer a felicidade para mais perto. Além disso, a forma como o autor analisa os vários problemas, maioritariamente relacionados com expectativas sociais, marca pela análise particularmente certeira. Se olharmos para a sociedade de hoje, é fácil identificar alguns desses problemas. E quanto às soluções apresentadas... bem, aí sobressai o facto de não haver uma solução perfeita, mas antes uma caminhada que tem em conta os traços pessoais de cada um e as várias formas de os potenciar de uma forma mais positiva.
Ainda um outro aspecto que importa realçar é a forma como o livro está construído: primeiro, a divisão nas dez premissas libertadoras, cada uma delas associadas a um problema específico do perfeccionismo social excessivo. Isto realça as peculiaridades de cada um destes problemas e das respectivas soluções, facilitando ao leitor a possibilidade de consultar as que considerar mais úteis. Além disso, o recurso a vários relatos e casos particulares, que demonstram a aplicação prática das ideias que vão sendo apresentadas ao longo do texto, tornando-as assim mais claras e também mais fáceis de assimilar.
E, por último, ainda relativamente à questão das teorias e das suas repercussões práticas, uma nota para o facto de, não sendo um método rígido nem uma teoria de regras estritas, o conjunto de ideias que o autor aqui apresenta deixar espaço para as interpretações e aplicações que cada um achar mais adequadas. Porque, no fundo, a essência deste livro é muito simples: liberdade na imperfeição. E, assim sendo, as premissas podem ser muito claras, mas pô-las em prática cabe apenas a quem as lê.
Não é propriamente um guia em dez passos para a felicidade - até porque, se o fosse, não seria muito realista - mas antes uma aproximação ao perfeccionismo excessivo imposto pela sociedade e às possíveis formas de o ultrapassar. E, tratando a imperfeição mais como um facto e menos como um defeito, este livro permite uma abordagem mais lúcida e mais realista à vida e à realização pessoal. Não há soluções perfeitas, tal como não há pessoas perfeitas. E é o muito de bom que o autor constrói a partir deste facto que torna esta leitura memorável. Recomendo.

Título: Maravilhosamente Imperfeito, Escandalosamente Feliz
Autor: Walter Riso
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

O que têm em comum Manuel Gomes de Elvas, o escravo que se tornou fidalgo, Francisca Coronel, a freira insubmissa encarcerada no convento, Luís Gomes da Mata, o correio-mor e Anne Armande du Verger, a espia francesa, amante do rei D. Pedro II e avó do primeiro duque de Lafões, Pedro Henrique de Bragança?
São todos membros de uma família a quem os portugueses devem parte do seu património e cuja história é o tema deste livro. Nele se incluem alguns episódios surpreendentes do passado português: desde a peculiar obsessão do herdeiro da coroa, D. Sebastião, que o levou ao desastre de Alcácer-Quibir até ao fascínio da família real pelos autos de fé, passando pelos amores licenciosos nos conventos e os horrores da Inquisição – e, como pano de fundo, os esforços e o engenho de uma família que conseguiu sobreviver aos tumultos da nossa história.
Assente em factos verdadeiros, numa investigação que levou a autora aos Arquivos Secretos do Vaticano e a outros arquivos nacionais e internacionais, o livro acompanha diversos momentos marcantes da história de Portugal, como a batalha de Alcácer-Quibir e as suas funestas consequências, a dominação filipina que se lhe seguiu, a acção persecutória do Santo Ofício, as invasões francesas e as guerras liberais.

Isabel Braga Abecassis. Licenciada em História pela Faculdade de Letras de Lisboa, pós-graduada com o curso de Bibliotecária-Arquivista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestra em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É autora da obra A Real Barraca publicada, no ano de 2009, pela Tribuna da História.
Foi responsável pela biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, pelo arquivo histórico do Palácio da Ajuda/Museu e encontra-se actualmente a trabalhar no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Por um Fio (Rainbow Rowell)

Georgie McCool está numa encruzilhada. Por um lado, o seu sonho de ter a sua própria série está prestes a realizar-se. Por outro, para o concretizar, precisa de renunciar ao Natal em família. E, quando o marido parte para Omaha com as filhas, deixando-a para trás, Georgie percebe que o seu casamento pode muito bem estar por um fio. De volta à casa da mãe para evitar a sua casa vazia, Georgie usa o telefone fixo para ligar ao marido. Mas o Neal que lhe atende o telefone não é o que partiu zangado com as filhas... mas antes o do Natal em que a pediu em casamento. Sem saber como explicar como ou porquê, Georgie dá por si com uma ligação directa ao passado. Mas há alguma coisa que possa fazer para salvar o que resta?
Uma das primeiras coisas a cativar neste livro - como, aliás, noutros da mesma autora - é a leveza da escrita. Tudo é narrado de forma muito simples, com a informação a surgir à medida que é necessária, sob a forma de memórias ou de pensamentos que vão ocorrendo aos próprios protagonistas. Além disso, há um certo sentido de humor que, nos momentos mais dramáticos ou mais caricatos, suaviza a tensão, o que, mesmo quando tudo é estranho, torna a história bem mais envolvente. E esta leveza acaba por se estender à própria história, que, mesmo quando trata de situações mais sérias, acaba por marcar tanto pela intensidade dos momentos emotivos como pelo estranho humor dos momentos mais bizarros.
Mas falemos da história. Tudo se centra essencialmente em dois aspectos: a relação de Neal e Georgie e a ligação entre presente e passado. Dois aspectos que, à medida que o enredo evolui, parecem fundir-se num só, pois a intervenção no passado - por mais estranha que pareça ser de início - acaba por ser fulcral para forma como tudo termina. É certo que ficam alguns pontos em aberto e situações por resolver, o que deixa uma certa curiosidade insatisfeita. Mas acaba também por fazer sentido, pois tudo começa com um ponto de viragem... e há sempre outros problemas a resolver depois.
Quanto às personagens, sobressai a forma como conseguem despertar sentimentos contraditórios sem por isso se tornarem incoerentes. Neal, sério e grave, mas com estranhos e deliciosos momentos de ternura. Georgie, obcecada pelo que quer, mas tão capaz de ver o que está errado como incapaz de perceber o que está mesmo à frente dos olhos. E as respectivas famílias e (no caso de Georgie) amigo, igualmente capazes de arrancar uma gargalhada, de mexer com os nervos de personagens e leitor ou de evocar o maior dos afectos. Ninguém é linear nesta história e, contudo, a leveza nunca se perde.
Da soma de tudo isto, surge uma leitura leve e divertida, mas com a dose certa de emoção. Uma história em que o amor - e tudo o mais que dá forma a uma relação - parece ser o verdadeiro protagonista, mas em que há espaço suficiente para tudo: mistério, humor e emoção. Vale, pois, a pena ler este Por um Fio. E conhecer as peripécias de uma viagem ao passado... diferente. 

Título: Por um Fio
Autora: Rainbow Rowell
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Um Mundo de Jogos (Àngels Navarro e Jordi Sunyer)

Já todos ouvimos, a determinada altura, a famosa expressão "aprender brincando". Expressão essa que se ajusta perfeitamente a este livro, em que, através de um conjunto de ilustrações e de desafios, é possível puxar pelas capacidades mentais e pôr em prática conhecimentos adquiridos anteriormente - nas aulas de matemática, principalmente, mas não só. E, claro, escusado será dizer que é um livro para os mais novos. Mas que não deixa de ser um belo desafio para todos - novos e menos novos.
Há dois aspectos que importa destacar nesse livro: os jogos propriamente ditos e o aspecto visual. E é por este último que vou começar. É um livro grande (apesar das suas trinta e poucas páginas),  com ilustrações riquíssimas que, além de tornarem o livro mais bonito, têm um papel fundamental a desempenhar na formulação e resposta aos vários desafios. E é também um livro com uma organização peculiar, pois, se os tipos de jogo são relativamente similares nas várias páginas, os diferentes cenários e elementos contidos nas ilustrações, acrescentam-lhe ainda uma nova possibilidade: a de descobrir o mundo através dos jogos. 
Quanto aos desafios propriamente ditos, nota-se um predomínio dos números e da matemática, o que faz o seu sentido, tendo em conta que a utilização da lógica para encontrar respostas parece ser um dos pontos centrais deste conjunto de jogos. Mas há mais: encontrar coisas nas imagens, descobrir diferenças, palavras, símbolos... Há uma grande diversidade em termos de desafios e essa diversidade estende-se também ao grau de dificuldade, já que há respostas que são fáceis de encontrar e outras que nem tanto. 
A impressão que fica é, portanto, a de um livro bonito e divertido, bom para estimular a aprendizagem e o raciocínio... ou para relembrar conhecimentos já um bocadinho enferrujados. Uma boa descoberta para os mais novos e não só.

Título: Um Mundo de Jogos
Autores: Àngels Navarro e Jordi Sunyer
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A Liga dos Homens Assustados (Rex Stout)

Em tempos, na sequência de uma brincadeira que correu mal, um grupo de homens ficou para sempre em dívida para com a sua vítima e, em consequência disso, tomaram-na a seu cargo, adoptando entre eles o nome de Liga da Expiação. Mas agora a expiação começou deveras. Dois dos membros da liga morreram em circunstâncias misteriosas e, após as suas mortes, os restantes receberam um aviso em verso, insinuando que a vingança apenas começara. E, quando o terceiro membro desaparece, o medo dos restantes torna-se insuportável. É isso que os leva finalmente a Nero Wolfe, para que desmascare o (óbvio) suspeito e os livre do medo que lhe têm. Mas será o culpado tão óbvio como todos parecem crer? E até que ponto estão as mortes e os avisos realmente relacionados?
Segundo caso de Nero Wolfe e Archie Goodwin, e quase completamente independente do anterior (salvo algumas ténues referências), este é um livro que se lê facilmente sem qualquer conhecimento prévio das personagens. E, contudo, desde muito cedo fica a impressão de que vale a pena ler a série por ordem. É que, conhecidos os protagonistas do anterior Picada Mortal, é agora muito mais fácil reconhecer-lhes os modos e peculiaridades e, deste modo, entra-se mais facilmente no ritmo do enredo.
Mas também a estrutura do caso contribui para este ritmo mais lesto, mais intenso, mais cheio de reviravoltas. Isto porque o aparente culpado é-nos apontado logo nas primeiras páginas e tudo indica que toda a história consistirá em provar a sua culpa. Mas poderia ser assim tão simples? Claro que não. A culpabilidade ou não do principal suspeito pode ser garantida para alguns, mas a forma como o enredo é construído, levantando novas possibilidades sem necessariamente desmentir as primeiras passa de uma certeza óbvia para todo um conjunto de possibilidades. E, assim, ao longo da história, as convicções vão mudando, de tal modo que a verdadeira resposta - afinal, o suspeito óbvio é ou não o culpado? - só surge realmente no final. 
E, claro, depois há as personagens, sempre muito invulgares, mas, precisamente por isso, estranhamente cativantes. Nero Wolfe e Archie Goodwin são um poço de surpresas, naturalmente, em que tudo - desde uma percepção inesperada até ao próprio modo de falar - serve para cativar e surpreender. Mas também as personagens específicas do caso têm as suas peculiaridades - o que aliás contribui em muito para tornar a resolução mais interessante. Se a história é em si mesma surpreendente, os protagonistas dão-lhe uma nova vida com as suas peculiaridades. E a soma de tudo é, claro, um mistério mais denso - com uma resposta mais marcante.
A impressão que fica, portanto, deste livro é a de um mistério muitíssimo bem construído, com personagens tão surpreendentes como o próprio enredo e em que nada nem ninguém tem um papel tão simples como à primeira vista seria de esperar. Intrigante, surpreendente... e muito bom. 

Autor: Rex Stout
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Porto Editora

Miguel Sanabria, médico oncologista e professor universitário recém-reformado, vê a sua vida ser invadida por uma inquietação que rapidamente se tornará permanente e aflitiva. Entre Beatriz, esposa e fervorosa antichavista, e Antonio, irmão fiel ao radicalismo da revolução bolivariana, Sanabria está, tal como o país, encurralado e esmagado sob o peso de duas formas de vida. Quando de Cuba chega um telemóvel com vídeos surpreendentes dos últimos momentos do Comandante, o que fazer? «Que vida pode caber num telefone?» Hugo Chávez está doente, e arrastou consigo a Venezuela para a doença.
Em paralelo surgem histórias dentro da história, como a de María e Rodrigo, crianças que, na cidade mais perigosa do mundo, Caracas, se conhecem através de um computador e de uma ligação à Internet. Mas a todas é comum a mesma sensação de estranheza, um país que é uma incerteza perpétua, e, numa escrita de perfeito equilíbrio entre a tensão de virar a página e um olhar social clínico, Alberto Barrera Tyszka apresenta em Pátria ou Morte o retrato total da sociedade venezuelana, órfã do seu mito.

Alberto Barrera Tyszka (Caracas, 1960), até agora inédito em Portugal, é autor dos romances También el corazón es un descuido (2001), La enfermedad (Prémio Herralde de Novela 2006) e Rating (2011); dos livros de contos Edición de lujo, Perros e Crímenes; e dos livros de poesia Coyote de ventanas e Tal vez el frío. Em colaboração com a jornalista Cristina Marcano publicou a primeira biografia documentada do ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez sin uniforme. Una historia personal (2005). Licenciou-se pela Faculdade de Letras da Universidade Central da Venezuela, onde leciona a disciplina de Crónicas. Foi guionista de séries de ficção para as televisões da Venezuela, Argentina, Colômbia e México. É colaborador, entre outros, dos jornais El País, Letras Libres, Etiqueta Negra e Gatopardo e colunista do jornal El Nacional. Vive, desde há alguns anos, no México.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Intriga, amor, violência, ciúme, paixão e tragédia. Que segredos esconde a língua portuguesa?

Tudo isto fez parte da vida de quem falou português ao longo dos séculos, uma língua que começou a ser germinada na voz daqueles que, há quase 2000 anos, na Galécia, falavam um latim popular com sotaque celta. A história surpreendente da nossa língua, contada como um romance.
Embarque na aventura da descoberta das raízes da língua portuguesa na companhia da família Contreiras e, entre factos reais e muita imaginação, conheça a nossa língua pela perspectiva de gente comum e de grandes escritores.
Acompanhe uma celta e um romano aos beijos, um amigo de Afonso Henriques à procura de mouras encantadas, Gil Vicente a perseguir um homem perigoso pelas ruas de Lisboa, uma coleccionadora de livros a fugir numa carroça para Amesterdão, Camões ao murro por causa duma dama da corte e muitas outras aventuras de que é feita esta história da língua portuguesa, recheada de deliciosas surpresas e um toque de humor.

Marco Neves nasceu em Peniche e vive em Lisboa. Tem sete ofícios, todos virados para as línguas: tradutor, revisor, professor, leitor, conversador e autor. Não são sete? Falta este: é também pai, com o ofício de contar histórias. Para lá das profissões, os amigos sempre lhe reconheceram a pancada das línguas.
É professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e director do escritório de Lisboa da Eurologos. Escreve regularmente no blogue Certas Palavras e é autor do livro Doze Segredos da Língua Portuguesa.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Oito anos


Oito anos. A sério? Já?... Ainda?

Sim, às vezes parece que ando nisto desde sempre. E às vezes parece que ainda ontem começou. Tempos houve em que a cada dia abria um livro novo e outros em que mal dava para dormir, quanto mais ler. 

E, contudo, o corvo lê...

Leio sempre e é assim que vai continuar a ser. Porque os livros - lidos, escritos, traduzidos - fazem-me feliz de uma maneira difícil de explicar, feita de tantos pequenos nadas que se tornam tudo... De frases que quase parecem escritas de propósito para mim, de personagens que, não existindo, dão a sensação de serem amigos de sempre, de momentos de riso, de lágrimas, de sonhar e de temer com um protagonista que parece falar ao coração... e tanto, tanto mais. Memórias, surpresas, reviravoltas e um mundo inteiro de sonhos ao virar de cada página.

Já passaram oito anos? Ainda só passaram oito anos... e há tanto ainda por ler. 

Por isto, por todas estas boas emoções que os livros me têm trazido... e mais! Pelas pessoas encantadoras que me deram a conhecer, pela descoberta de afinidades comuns, pela partilha de paixões... por uma parte da vida que se tornou tão vincada, tão forte, tão irresistivelmente sólida que quase se torna impossível viver sem... por isso, e por tudo o mais que possa vir, estes oito anos não são o fim, mas apenas um marco.

Porque enquanto ouvir livros para ler - e leitores que me queiram ler - eu cá estarei para vos contar que livros passam por aqui.

Muito obrigada a todos os que por cá passam e sejam sempre bem-vindos. :)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Para Além dos Montes e Outras Histórias (Carla Mora)

Da vida no campo e do bulício das cidades. Das memórias do passado e dos futuros possíveis. Infância, juventude, envelhecimento. Homens, mulheres, animais, objectos. Tudo isto pode servir de base a uma história e serve, de facto, neste livro. Um livro em que cada conto é mais um fragmento de recordação ou de possibilidade do que propriamente uma longa história, mas em que há sempre algo de interessante para descobrir.
Um dos aspectos mais curiosos deste livro é que, lendo os contos pela ordem em que nos são apresentados, a impressão com que começa não é a mesma com que se termina. Dos primeiros, surge uma impressão quase que autobiográfica, em que cada conto é uma memória de um mesmo narrador. Depois, os protagonistas e narradores vão-se diversificando, as possibilidades vão-se expandindo e a imagem que fica do todo acaba por ser muito mais ampla. Continuam a ser fragmentos, mas já não apenas de memórias - ou, pelo menos, de memórias reais. À memória das pessoas junta-se a memória das coisas e, a partir de tempos, lugares e percepções diferentes, cada história acaba por ser um todo em si mesma - apesar de tudo o que deixa em aberto.
E é o que fica em aberto que deixa sentimentos ambíguos. Não é que as histórias não tenham o seu sentido tal como são, porque têm. Servem o seu propósito - nalguns casos de transmitir uma mensagem, noutros de simplesmente evocar um momento marcante - na sua brevidade. Mas fica sempre a vontade de saber mais, a dúvida sobre o que virá depois, ou o que aconteceu antes. No caso dos contos futuristas (uma surpresa particularmente agradável) a curiosidade insatisfeita quanto à forma como as coisas chegaram até ali. E é isto que deixa a sensação de que várias destas histórias podiam ter sido um pouco mais desenvolvidas, apesar de tudo o que é essencial estar lá.
Importa ainda falar da escrita, já que, apesar da brevidade dos contos, o tom é surpreendentemente pausado. Deve-se isto, em parte, à forte componente descritiva, que se entrelaça nas introspecções que parecem caracterizar a voz dos vários narradores. Ainda assim, há uma agradável fluidez neste recordar de locais e de momentos. E assim, entre a brevidade do texto e a ampla descrição dos ambientes, cria-se um estranho e cativante equilíbrio. Como se, apesar do que fica sem resposta e do foco nos locais que se recordam ou descobrem, tudo acabasse por ter a medida certa. 
Trata-se, portanto, de um livro breve, mas cativante, em que cada história é uma viagem a outro tempo ou a outro lugar e em que poucas páginas bastam para dar vida a cada novo narrador. Interessante, bem escrito e agradável de ler. Gostei.

Título: Para Além dos Montes e Outras Histórias
Autora: Carla Mora
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Isto é Mais que um Diário (Adam J. Kurtz)

Mais que um diário, um livro para registar coisas boas e desabafar sobre as más, onde encontrar pequenas frases de motivação e, mais do que isso, construir a nossa própria base motivacional. Um livro para lembrar amigos, para voltar a olhar para velhos problemas e ver como tudo mudou, para acompanhar a evolução de pensamentos e preferências - e problemas também - ao longo do tempo e ver que a vida continua sempre. Um livro, em suma, para registar coisas e, depois, para abrir ao acaso, lembrar o que se fez e recordar e aprender e descobrir que as memórias boas prevalecem - e a vida continuou depois das más. 
Se já leram uns quantos livros de auto-ajuda, e eu já li bastantes, é provável que, pelo menos nalguns deles, tenham ficado com a sensação de que algumas ou todas as ideias até podem ser muito boas para alguns leitores, mas que, pessoalmente, não fazem muito sentido. Bem, uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste livro é que é bem capaz de resolver parte desse problema. Ao ser uma espécie de diário (bem, ou algo mais) em que se registam coisas boas e más, pensamentos e desabafos, ao mesmo tempo que se descobrem pequenos conselhos e memórias reconfortantes, acaba por se tornar num guia motivacional único, pois é construído pela própria pessoa a quem se destina. Isso torna-o mais útil, mais interessante e mais pessoal. E, além de se tornar num bom livro a que regressar para procurar conforto ou motivação, torna-se num objecto único e intransmissível (pois a personalidade de quem o preencheu está lá).
Claro que, havendo já conselhos inscritos no livro, também pode acontecer que, nalguns deles, fique a sensação de que talvez não seja bem assim. Mas a verdade é que a ideia geral - de um livro para viver mais positivamente, para ser mais feliz, para superar as dificuldades - é toda ela muito positiva. E, ao construir um livro que não se debruça apenas sobre o lado bom da vida, mas também sobre as chatices sobre as quais é preciso desabafar, sobre as emoções que nem sempre se controlam, sobre as dúvidas e os medos e as inseguranças e... a verdade é que o todo acaba por ser muito mais completo. E voltar à memória de um momento negativo depois de ele ter sido superado pode ser um bom reforço motivacional. Pode durar, pode custar, pode ter um preço... mas não será que também o próximo passará?
Ora, também é verdade que já existem outros livros deste género, ainda que talvez tendo em vista um tema ou um objectivo diferente. Mas é curioso notar que, apesar da proliferação destes livros criativos, até ao momento, pelo menos, ainda não encontrei grandes repetições. Sim, a ideia geral - desenhar, escrever, criar, recordar - é a mesma, mas os desafios são diferentes, aquilo a que pretendem chegar é diferente. E, sendo cada leitor diferente, também o resultado o será para cada um. 
É um livro bonito, original e positivo. E é também um desafio: o de olhar para as coisas boas que nos fazem felizes e para os sentimentos que, às vezes, nos derrubam. Um livro para pensar e para fazer, para criar e recordar. E para lembrar que a vida continua sempre - e que há sempre outros caminhos para se ser feliz. Gostei.

Título: Isto é Mais que um Diário
Autor: Adam J. Kurtz
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)

Brás Cubas não teve uma vida extraordinária. E, ainda assim, morreu, chegou ao outro lado e decidiu contar a sua história. Mas que história é essa? A de um homem de ideias fixas e grandes ambições, a quem parte do percurso foi imposto e a outra parte foi conduzida pelas tais ideias fixas. Um homem que quase esteve noivo de uma mulher, mas que só a amou depois de casada com outro e que, de ambição em ambição mais ou menos falhadas, escreveu muita da sua vida através de negativas. E depois de morto? Bem, depois de morto, a história já é diferente, pois que, morto, encontrou a voz para as suas memórias. 
Não é propriamente fácil resistir à premissa deste livro. A ideia de um morto que conta as suas memórias é, no mínimo, invulgar e desde logo desperta curiosidade para que memórias serão essas que perduram para além da vida. E se juntarmos a isto que o dito morto não foi propriamente uma grande figura em vida, bem, aí a curiosidade quanto ao que haverá para contar cresce ainda um bocadinho mais. E, sendo certo que não é propriamente uma leitura fácil, com todos os seus interlúdios filosóficos e introspectivos, também o é que as expectativas não saem em nada defraudadas. 
Há duas grandes forças a destacar neste livro: a imprevisibilidade da narrativa e a solidez de uma escrita que, mesmo nos momentos mais densos, nunca deixa de cativar. E a forma como estes dois aspectos se conjugam é particularmente interessante tendo em conta que esses tais momentos mais densos (como as deambulações filosóficas de Quincas Borba) são também eles inesperados. Não há, afinal, nada de previsível neste livro. Nem as personagens, nem o rumo dos acontecimentos, nem a forma como determinado indivíduo reage a determinada situação... Há uma única certeza. Brás Cubas está morto quando conta a sua história. Excluído este facto, tudo o mais é possível. 
Não é propriamente uma leitura compulsiva. Há no livro muitas peculiaridades - no pensamento das personagens, mas também nos vários saltos temporais ao ritmo da memória do narrador - que levam o seu tempo a assimilar, conferindo, assim, à narrativa um ritmo mais pausado. Mas também é verdade que todo o tempo dedicado à leitura acaba por valer a pena. Não, não é que se sintam grandes empatias ou paixões assolapadas pelas personagens: mas sente-se curiosidade e, a partir daí, fascínio por tudo aquilo que têm de invulgar. E isso é razão mais do que suficiente para querer conhecer estas tão estranhas figuras. 
A ideia que fica é, portanto, a de um livro invulgar, tão invulgar, aliás, como as várias personagens que o povoam. E é toda essa peculiaridade, que, mesmo nos momentos mais estranhos, nunca deixa de exercer um certo fascínio, mantendo sempre viva a vontade de saber o que mais virá a seguir. Vale a pena, pois, conhecer estas muito interessantes Memórias Póstumas de Brás Cubas. 

Título: Memórias Póstumas de Brás Cubas
Autor: Machado de Assis
Origem: Recebido para crítica