tag:blogger.com,1999:blog-62308188195831995762024-03-13T12:12:12.401+00:00As Leituras do CorvoCarla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.comBlogger6009125tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-26889499462223457092023-01-09T18:54:00.003+00:002023-01-09T18:54:50.426+00:00O Castelo dos Animais, Vol. 3: A Noite dos Justos (Xavier Dorison e Félix Delep)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/o-castelo-dos-animais-volume-3-dorison/27913701?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="547" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYIdec1Oas0tSFa2XfNb_bJAZfL5m7qSUsvyBrhalPiFrrkYWPTLkyYw66ntWp0we4blivTwrt23dM44V14inMaA_hVWsK8xcmiCXu-FYwawyUy7WCQXMSyiR1zDgtCdryVymyedqs_ytqWer1UT00O76He2toLkKdKHJwvswq1bpx3HkARyCgx5sw/s320/ocastelo3.jpg" width="234" /></a></div>A vitória foi amarga, e as conquistas alcançadas pagaram-se em sangue e dúvidas. Agora, Miss B pergunta-se se valeu a pena e os outros animais não sabem bem o que fazer. Afinal, Sílvio mantém o poder e quase tudo permanece igual. Mas a luta não se esgotou e, se Miss B conseguir superar os seus próprios medos e mobilizar os seus amigos, talvez o caminho para a liberdade se possa finalmente abrir.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Ao terceiro volume desta surpreendente e emotiva história, torna-se ainda mais vincado o que já de início era evidente: que esta história de animais é muito mais do que isso. São, aliás, muito claros os paralelismos com as realidades do mundo, as lutas, os regimes autocráticos e as revoluções que o defrontam. E construir este contraste com estes animais como protagonistas é contrabalançar com uma enternecedora dose de inocência um leque de questões de grande relevância.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Outro aspeto a salientar é o crescendo de intensidade que marca o ritmo desta série. À medida que as lutas se tornam mais complexas, também os riscos se tornam maiores e as consequências mais pesadas. E, assim, não faltam momentos tensos, picos de emoção e rasgos de pura empatia, pontilhados por uma saudável dose de inocência e de humor a recordar o porquê de se continuar a lutar.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E, claro, importa realçar de novo a beleza do aspeto visual, sobretudo nos cenários, e a poderosa expressividade que planta todo um leque de emoções nas feições destas personagens. Os diálogos são poderosos, é verdade, mas muito é dito também numa simples expressão.<br /></i><i>Nova luta, nova aventura, nova etapa na revolução, o que fica desta nova história é, acima de tudo, a sensação de um novo passo rumo ao culminar da liberdade. É essa sensação de proximidade com o caminho destas personagens que torna tudo tão intenso. Tão memorável. Tão belo.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-29732429227182209172023-01-01T11:58:00.002+00:002023-01-01T11:58:10.926+00:00O Primeiro Erro (Sandie Jones)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://www.saidadeemergencia.com/afiliados?uaft=94527&huaft=ef3dbef9739816e44d7fa274ae68aa6e&uafr=%2Fproduto%2Fo-primeiro-erro%2F" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="575" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghpoHp7jnHQlYEUhxESEMrpJZwRxzKIuTnwRZHHbgIsyDroWlofU-wOr1_SBdz7-3qycn-UI4OCYiEZkdAePSRqmo9QyxZyx9lYDQssC9R2uPtxhxxyX742ODuLOik_ka8qtnkdhHQ2z__74M68Cz5wYsxb4jqlZXFydwP_sLZZ3uil9dOXqu-P_F2/s320/oprimeiroerro.jpg" width="223" /></a></div>Alice sofreu uma grande perda, mas, apesar de as marcas terem ficado, parece ter reconstruído a sua vida. Tem um marido que a apoia, duas filhas a quem ama acima de tudo e uma carreira de sucesso. Ainda assim, no momento em que o seu negócio parece estar à beira de uma grande evolução, estranhos acontecimentos começam também a surgir. O marido, que sempre lhe pareceu fiel, começa a ter comportamentos suspeitos, e tudo indica que possa andar a ter um caso. E é na sua grande amiga, Beth, que Alice procura conforto. Só que também Beth tem os seus segredos obscuros.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Parte da grande força deste livro está na fina linha que separa a harmonia perfeita do colapso absoluto, com base numa sucessão de segredos e suspeitas. E isto implica necessariamente uma boa medida de reviravoltas. O que acontece, portanto, é que a história arranca a um ritmo relativamente pausado, de harmonia familiar sacudida por pequenos mistérios, e vai gradualmente ganhando intensidade, culminando num final intenso e cheio de surpresas.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Nem tudo é imprevisível, importa dizer, e os suspeitos são relativamente fáceis de identificar, mas também isto tem um efeito curioso. É que, mesmo quando as identidades se tornam evidentes, há sempre surpresas à espreita, seja nos motivos, nas relações ou no inevitável confronto.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Finalmente, importa destacar um estilo de escrita relativamente direto, mas bastante eficaz no que toca a transmitir emoções e, sobretudo, o estado mental das personagens. O desconcerto, quando surge, é quase tangível, e o mesmo se aplica ao impacto psicológico dos golpes, o que resulta numa leitura mais envolvente e mais próxima.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Relativamente pausado, de início, mas com um crescimento sólido e uma envolvência constante, trata-se, em suma, de um livro que prende aos poucos para depois surpreender até ao fim. Vale, pois, a pena conhecer esta história. </i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-91956479625795642732022-12-30T14:53:00.002+00:002022-12-30T14:53:52.785+00:00Balanço de 2022<div style="text-align: justify;"><i>2022. O ano da correria da boa. Cheio de desafios, de atividade e de coisas em geral com que me ocupar. O que significa que a leitura foi mais reduzida que o habitual: 115 livros ao todo.<br /></i><i>Ainda assim, não faltaram leituras marcantes, como não podia deixar de ser. E não podia deixar de se cumprir a tradição de partilhar os favoritos do ano. Assim, sem mais demoras, eis a lista:</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKXk5N7yZ1yPV7INPb86cJXRbZmhVlqvWtxKqcmpg8FwzJuo77GUAXP7wEy3U-aBCHy7KvYFrBYvmSu8QuPohhBggPV5Rar1_KeTFa496UEu2cy8fzwuUHfAdYHegGDLoo8C-NdIbM_sBwZkF2ey7ddR2UPUmG4q_4_WM8LjGiyHK9Eiu15z8k82Ob/s320/araparigaqueroubava.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="208" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKXk5N7yZ1yPV7INPb86cJXRbZmhVlqvWtxKqcmpg8FwzJuo77GUAXP7wEy3U-aBCHy7KvYFrBYvmSu8QuPohhBggPV5Rar1_KeTFa496UEu2cy8fzwuUHfAdYHegGDLoo8C-NdIbM_sBwZkF2ey7ddR2UPUmG4q_4_WM8LjGiyHK9Eiu15z8k82Ob/s1600/araparigaqueroubava.jpg" width="208" /></a></div><br /><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><i>1. <a href="http://asleiturasdocorvo.blogspot.com/2022/03/a-rapariga-que-roubava-livros-markus.html">A Rapariga que Roubava Livros - Markus Zusak</a></i><i><br /></i><i>2.<a href="http://asleiturasdocorvo.blogspot.com/2022/03/monstress-vol-6-promessa-marjorie-liu-e.html"> Monstress, vol. 6: A Promessa - Marjorie Liu e Sana Takeda</a></i><i><br /></i><i>3.<a href="http://asleiturasdocorvo.blogspot.com/2022/01/piranesi-susanna-clarke.html"> Piranesi - Susanna Clarke</a></i><i><br /></i><i>4. <a href="http://asleiturasdocorvo.blogspot.com/2022/08/assombro-richard-powers.html">Assombro - Richard Power</a></i><i><br /></i><i>5. <a href="http://asleiturasdocorvo.blogspot.com/2022/05/o-fim-dos-homens-christina-sweeney-baird.html">O Fim dos Homens - Christina Sweeney-Baird</a></i><i><br /></i><i>6. <a href="http://asleiturasdocorvo.blogspot.com/2022/05/verdade-ou-consequencia-m-j-arlidge.html">Verdade ou Consequência - M. J. Arlidge</a></i><i><br /></i><i>7. <a href="http://asleiturasdocorvo.blogspot.com/2022/01/a-noiva-judia-nuno-nepomuceno.html">A Noiva Judia - Nuno Nepomuceno</a></i><i><br /></i><i>8. <a href="https://asleiturasdocorvo.blogspot.com/2022/05/paraiso-pedro-eiras.html">Paraíso - Pedro Eiras</a></i><i><br /></i><i>9. <a href="http://asleiturasdocorvo.blogspot.com/2022/12/saga-volume-dez-brian-k-vaughan-e-fiona.html">Saga: Volume Dez - Brian K. Vaughan e Fiona Staples</a></i><i><br /></i><i>10. <a href="http://asleiturasdocorvo.blogspot.com/2022/10/a-espia-do-oriente-nuno-nepomuceno.html">A Espia do Oriente - Nuno Nepomuceno</a></i></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i><i>Conhecem-nos? Leram? Gostaram? Contem-me tudo!</i><i><br /></i><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><i>E, entretanto, sem propósitos específicos, mas com a vontade de sempre, fica a certeza: mais correria, menos correria, continuaremos a ver-nos por cá. Até para o ano!</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-47873512712380634922022-12-27T13:50:00.003+00:002022-12-27T13:50:42.747+00:00Saga - Volume Dez (Brian K. Vaughan e Fiona Staples)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/saga-volume-10-brian-k-vaughan/27955414?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3106" data-original-width="1949" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCPpGuggvxo2sr99RA4Bam3u83MO5gIlJH42Iu3t4VlBNNob05BUkIuka0mOel1Hxa-HtmK6aKVw5rNJeWy8d21C62cbNh90Q5eTBKMn0GAmC_TNlVcf-OlJsdVxq8lOaBsrmBbp-6mGau7IWP2VmfJ30k6MUUd6S_33K-K8vLpizciapk4vdNjEMl/s320/saga10.jpg" width="201" /></a></div>Passaram anos desde que um acontecimento drástico mudou a vida de Hazel e da mãe, e foram muitas as decisões difíceis que tiveram de tomar para sobreviver. Agora, o caminho tornou-se ainda mais ambíguo, a luta pela sobrevivência exige precaução e desconfiança e os contactos feitos pelo caminho escondem também os seus próprios segredos. E Hazel vai crescendo, a vida vai continuando.. e a cada nova esperança sucede uma nova perda.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Após a conclusão devastadora do último volume, a que se seguiu um longo hiato, é impossível não começar por referir o poderosíssimo impacto emocional deste regresso. Esperanças que ficaram veem-se reduzidas a pó, o impacto das perdas é quase palpável e, mais uma vez, o caminho vai evoluindo entre oscilações de esperança e devastação - com particular destaque para o final, naturalmente, mas com uma presença vincada ao longo de todo o percurso.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>O facto de também na história terem passado anos, tem também outro desenvolvimento interessante: traz consigo novas personagens, o crescimento de algumas já conhecidas e um trajeto mais concentrado do que noutros volumes. Há, pois, mais entradas em cena do que reencontros, com a história mais centrada em Hazel, mas sem perder de vista o contexto global. E há ainda uma presença secreta, maioritariamente invisível, mas subjacente a grande parte dos acontecimentos: Marko.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Mantêm-se, de resto, todas as qualidades dos livros anteriores: a expressividade dos rostos, a exuberância e a diversidade das personagens, a abundância de cor e de cenários singulares e um delicioso equilíbrio entre drama e ação, emoção transbordante e humor certeiro, inocência e desolação. Tudo convergindo para uma aventura viciante cujo potencial parece ainda bem longe de se esgotar.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Regresso demorado, mas fortíssimo, com a mesma vida abundante, a mesma intensidade irresistível e a mesma emoção devastadora, este décimo volume é Saga em toda a sua glória, correspondendo integralmente às expetativas e prometendo ainda mais para o que virá. Belíssimo, poderoso, memorável, é prodigioso, em suma. Como sempre.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-41399384467801662082022-12-24T09:42:00.000+00:002022-12-24T09:42:01.906+00:00Feliz Natal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-tQWIXhvBRt4PcV2Ij3eQAfZhC5HVcM4THo2RaPJoJ1MicUn60VfLZnXej2_cVhX1BEucwaqC4UOo68EFkvkze94APuNZZumlTfX68vaHkDT5fTvZlU6w4SB2M3s7JHGa8_y_Ic2cZoySyOhsumTV5lpeYE4fBiLl53qvfM3DJKgpMvlY94osTKz6/s1600/natal2016.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1124" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-tQWIXhvBRt4PcV2Ij3eQAfZhC5HVcM4THo2RaPJoJ1MicUn60VfLZnXej2_cVhX1BEucwaqC4UOo68EFkvkze94APuNZZumlTfX68vaHkDT5fTvZlU6w4SB2M3s7JHGa8_y_Ic2cZoySyOhsumTV5lpeYE4fBiLl53qvfM3DJKgpMvlY94osTKz6/s320/natal2016.jpg" width="225" /></a></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><i>Não faltem neste dia a luz e a magia,</i></div><div style="text-align: center;"><i>O amor, a esperança e o conforto das memórias,</i></div><div style="text-align: center;"><i>Com as palavras que sempre são o nosso refúgio </i></div><div style="text-align: center;"><i>E a promessa de novas histórias ao virar da próxima página. </i></div><div style="text-align: center;"><i><br /></i></div><div style="text-align: center;"><i>Feliz Natal. </i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-61774059745378734542022-12-14T16:49:00.002+00:002022-12-14T16:49:33.045+00:00Bug - Livro 3 (Enki Bilal)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/bug-livro-3-enki-bilal/27610739?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="535" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGmy47FxDquRr5zu3ldfj0f7_mLmDewwfjyt1j_R-kjVR599ONuG8dIGK95gNbqh3WxINYfZ1wojiPMrScCyT-Ij_drdCLTuKyHpJ7oCmh4_T0Pj_--FwppKGUcy3k5P17JSSBjvTPgtfKFQPyfTWHU-C1tFKx72Ofm1-e6R0nhRTubJ1FsagFHEUc/s320/bug3.jpg" width="239" /></a></div>Cada vez mais assolado por mistérios, conflitos e ideologias em colisão, o mundo vai-se tornando cada vez mais caótico. E, no meio de tudo, mantém-se o elusivo Kameron Obb, cujo parasita interior lhe confere poderes singulares, pesadelos e febres e a cobiça de todos os grupos em conflito. É preciso encontrar respostas... e a liberdade possível. Mas cada passo de Obb traz novos problemas. E novas perguntas a precisar de resposta.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Parte do que mais fascina neste terceiro livro é também o que mais desconcerta: a forma como cada novo passo traz novas complexidades - ideológicas, políticas e principalmente biológicas. E importa desde já dizer que não é ainda aqui que se encontram todas as respostas. Muito pelo contrário: o mistério adensa-se, a teia torna-se mais intrincada e são infinitas as possibilidades que ficam em aberto para o que se seguirá.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Dito isto, continua a ser fascinante visitar este mundo em degradação, conhecer as suas forças discordantes e acompanhar o percurso de um protagonista tão poderoso quanto vulnerável, com quem todos querem fazer grandes coisas... mas a partir de uma posição de subjugação. Além disso, das inúmeras forças em conflito emergem múltiplas facetas da atualidade, sendo certo que algumas deixam sentimentos contraditórios na abordagem, mas nunca deixam de ter os seus pontos de interesse.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Finalmente, a nível visual, sobressaem dois pontos: a precisão do caos, que ganha especial vida nos cenários, mas também nas visões mais interiores do protagonista; e os jogos de sombras, que salientam não só a aura de mistério, mas também a promessa de decadência que parece envolver este futuro.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Enigmático, complexo e cheio de intensidade e mistério, trata-se, em suma, de um livro tão desconcertante quanto cativante. E deixa tudo em aberto, é certo, mas não deixa de ser mais uma bela etapa nesta fascinante aventura. Que vale bem a pena continuar a seguir. </i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-39163106192741077172022-12-10T09:39:00.001+00:002022-12-10T09:39:41.030+00:00Mar da Tranquilidade (Emily St. John Mandel)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/mar-da-tranquilidade-emily-st-john-mandel/27142396?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="612" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWwq9wcTiML9pwIHVKI-cqzQ8xoNuvd83R1mjPjK_CVvg0AAq-KA9KIzvSxgKm-qch3rJQ6Ie2fqmtqmlVW7qJnpnCIEM-ZBHt7ceBrQNxC6S96QXOCpf5W01TaPJj7pDnuRcbGV0bpByzBfUR16V6ySOEocoiV23Z_SMLR1VTMLJnAWDwKnJ7mzJ4/s320/mardatranquilidade.jpg" width="209" /></a></div>Um jovem exilado da alta sociedade no início do século XX, que parte para se encontrar ou apenas existir. Um músico que fez sucesso graças, em parte, aos vídeos da irmã morta. Uma autora que escreveu sobre uma pandemia mortal pouco antes de ser também ceifada por uma pandemia. E um investigador que percorre o tempo em busca de explicações para uma anomalia que pode alterar perspetivas sobre a natureza da vida. Todos estes fios se entrelaçam e convergem para lembrar a mutável natureza da vida e as infinitas formas da desolação.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Embora seja, no essencial, uma história independente, uma das coisas que importa salientar sobre este livro é que terá certamente um impacto muito maior tendo lido anteriormente <a href="https://www.wook.pt/livro/estacao-onze-emily-st-john-mandel/16729161?a_aid=5aa257b7be336">Estação Onze</a> e <a href="https://www.wook.pt/livro/o-hotel-de-vidro-emily-st-john-mandel/25048279?a_aid=5aa257b7be336">O Hotel de Vidro</a>, não só pelas personagens em comum, mas sobretudo pela viva sensação de que tudo pertence a uma mesma teia de histórias e de mundos.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Este impacto sai ainda mais realçado pelo facto de ser um livro relativamente breve, em que há tanto de marcante no que é dito como no apenas sugerido ou vislumbrado. É, aliás, interessante a forma como, com um aprofundar bastante menor dos elos pessoais, a autora consegue criar com igual mestria a sensação de melancolia e desolação que tão tangível é nos livros anteriores.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Há ainda outro contraste poderoso. Sendo embora um livro com muito a acontecer, e com uma voz relativamente concisa, o tom tem o seu lado introspetivo, um pouco como se cada pequena coisa apelasse a uma contemplação de algo maior: a vida, o tempo, a natureza humana, o futuro. E há ecos que se repercutem não tanto por acontecimentos específicos, mas mais por uma frase, uma imagem, uma impressão.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Mas há mistério. E respostas. E, a haver algo de expectável neste livro, é que o final jamais poderia ser limpo e linear. Não é, de facto. Deixa perguntas sem resposta. Mas, atendendo ao percurso, é mais do que natural que assim seja: é perfeitamente adequado.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Relativamente conciso, na escrita e nos desenvolvimentos, mas com um poderoso equilíbrio entre as suas múltiplas facetas e a visão que delas emerge, trata-se, em suma, de um livro marcante e memorável, tanto no que diz como no que inspira. E é dessa matéria que são feitas as grandes leituras.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-64548330623913272262022-11-03T17:11:00.001+00:002022-11-03T17:11:23.745+00:00Madame Bovary (Daniel Bardet e Michel Janvier)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/madame-bovary-gustave-flaubert/27203913?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="639" data-original-width="472" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaR9PvsIncMUMyoWTzg_prm7rDSwemzj0d4MoBZjVQYSZqKindpVOzdJGIHMtKXpFtVZYJ5zIY1-jEff2ApdFo3_HANqO1_1xvqjM9J-WsSueBF2pAiRLS349NAgPANzhHdSj5PhSBMc2op8RNbmT4cE76W7bFeMc5HgSzeu5lLgqPDEJ0oowXYSXa/s320/madamebovary.jpg" width="236" /></a></div>Criada num convento e depois transportada para um casamento em que o que julgava ser romance se tornou tédio, Emma Bovary aspira a algo mais além do quotidiano aborrecido. Mas o marido não tem ambições e, movida por um sonho vago, Emma deixa-se levar por paixões proibidas. Procura amor noutros braços, procura conquistá-los para sempre... sem saber que caminha a passos largos para a ruína.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Sendo uma adaptação de um romance muito mais extenso, é inevitável comparar a relativa concisão desta adaptação com o texto mais vasto que lhe serve de base. E é interessante notar que, embora muito mais sucinta e cingida ao essencial, esta história não perde nenhuma da intensidade, apesar de tudo evoluir de forma muito mais rápida.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Outro contraste interessante é, claro, o da parte visual, já que esta versão dá rostos às personagens e cenários às suas experiências. E dá sobretudo expressividade, principalmente no caso de Emma, em que as emoções que tanto causam e tanto movem surgem claramente refletidas nas suas feições.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Claro que, para quem tiver lido o original, a história já é conhecida, o que talvez atenue ligeiramente o impacto desta progressiva caminhada para a ruína. Ainda assim, reencontrar a história, nesta nova versão condensada e nova, salienta não só o percurso da protagonista, mas também a visão da moral e dos costumes que é também parte do seu âmago. E não falta material para reflexão ao longo de todo esse percurso - sobre os costumes da época e também sobre a natureza da sociedade em geral.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Tudo somado, fica, pois, a impressão de um reencontro novo com uma história já conhecida: conciso, mas intenso, cativante e expressivo. Vale a pena conhecer esta adaptação. </i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-13858892609123131052022-10-25T16:26:00.006+01:002022-10-25T16:26:56.668+01:00O Acontecimento (Annie Ernaux)<div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/o-acontecimento-annie-ernaux/27119604?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="460" data-original-width="298" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-xptPQZvlOC1zEISCP8w147DqKro52qBff-cPFZ3fdu4hNqtKJEfcVgcXpm9U9E5ItBPMiRrNCZiHoJUD-jCQhz5gqIsl0g6F1uqfpLkseak_ELw8W6jc8Jl0LlVLlSf5BNJSFyG6e5DwQvHrf4ayvP41xEzrRjdkFiuAMrqOOiuMOzodcj03G5SO/s320/oacontecimento.jpg" width="207" /></a></div>Um acontecimento capaz de traçar o limite da despreocupação e despertar em pleno a vida adulta, uma mudança que inicia buscas e transformações. Uma gravidez indesejada de uma estudante decidida a abortar em tempos de clandestinidade e que recorda, ao fim de muito tempo, os passos orientadores deste acontecimento. Vida narrada em voz de romance, mas num registo intimamente pessoal.</i></div><i><div style="text-align: justify;"><i>Apesar da evidente brevidade deste livro, não se trata propriamente de uma leitura fácil de descrever. Sempre a deambular pela fronteira da realidade, mas com a visão por vezes ambígua da memória, não é tanto uma história como a introspeção, embora girando em torno de um acontecimento. E é também uma história que podia ser de muitas, o que deixa também uma marca singular.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Também devido à brevidade, mas no próprio registo, há uma impressão de concisão nos factos que contrasta com a vastidão da matéria para reflexão. O próprio tema suscita questões e a forma pessoal, mas refletindo uma situação comum a muitas outras, evoca questões sociais e até sobre a natureza humana.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E, mais uma vez, tudo de forma muito sucinta, o que faz sobressair um outro ponto. A narrativa converge para um acontecimento e o ritmo das palavras reflete essa convergência, oscilando entre deambulares pelas palavras, explicações muito rápidas e momentos de pura intensidade dramática.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Tudo somado, o que fica é a sensação de um livro pequeno, mas vasto, pessoal, mas aberto às questões e complexidades sociais, e com uma voz certeira e direta, mas que evoca na perfeição os meandros da memória. Conciso, mas com uma eficácia memorável, um livro que marca de diferentes formas. </i></div></i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-71768989162284158282022-10-18T17:53:00.004+01:002022-10-18T17:53:40.503+01:00O Jardim Secreto (Mariah Marsden e Hanna Luechtefeld)<div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/o-jardim-secreto-mariah-marsden/27323723?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="668" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTdMvhxsP02exc-73z_xlcJPA7aZTE9oV-xVwvc3Ax9830UHgtyxmHY1oX3tjO0UFZj_PvyyXP9Ibcz_mBWlJFRUfQZbtnSk9noI1MGegz-YHU_BmrjaujrmL1dgI68bYxxUyIPo1GAO-q6ShJn8gIf5-SXSnR2Wko4wYr5ksQlV1RULrj1mHdZkK2/s320/ojardimsecreto.jpg" width="209" /></a></div>Enviada para viver na charneca com o tio após a morte dos pais, Mary sente-se muito só. Não tem amigos, aborrece-se e, naquela mansão de quartos trancados, também não tem nada para fazer. Mas tudo muda quando começa a conhecer as pessoas da casa… e a descobrir os seus segredos. Há portas escondidas e mistérios do outro lado de um muro. E uma tristeza que talvez Mary possa começar a curar.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Algo que importa começar por salientar é que, sendo embora uma adaptação, este livro facilmente pode ser lido sem qualquer conhecimento prévio da história. O percurso é completo, ainda que conciso quanto baste, e as imagens completam a brevidade dos diálogos, além de salientarem o ambiente em que as personagens se movem.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Outro ponto a destacar é o inevitável contraste entre ternura e irritações. No início, não é propriamente fácil gostar das personagens, com as suas birras e petulâncias, mas isso é algo que vai evoluindo com a progressão da história, e abrindo caminho para uma ternura inocente e melancólica que não pode deixar de cativar. Também ajuda o facto de as personagens irem surgindo gradualmente na vida da protagonista, o que faz com que a sua mudança gradual de perceções se vá transferindo, aos poucos, também para o leitor.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Finalmente, importa mencionar a arte, simples quanto baste nos traços das personagens, mas repleta de pormenores interessantes nos cenários e de vida na natureza. Ou não fosse esta a história de um jardim secreto, cujas transformações são parte do âmago da aventura. E as informações no final do livro, que permitem uma compreensão mais clara da origem da história e também um reconhecimento mais profundo dos elementos - plantas e aves - que surgem ao longo do enredo.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Simples quanto baste, mas com uma cativante fusão de inocência e melancolia, trata-se, em suma, de uma leitura envolvente, cativante à vista e bastante memorável no seu conjunto. Breve, mas surpreendente, vale bem a pena descobrir este <a href="https://www.wook.pt/livro/o-jardim-secreto-mariah-marsden/27323723?a_aid=5aa257b7be336">Jardim Secreto</a>.</i></div></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-77782930520170736152022-10-13T11:29:00.002+01:002022-10-13T11:29:26.003+01:00A Espia do Oriente (Nuno Nepomuceno)<div style="text-align: justify;"><i><span style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/a-espia-do-oriente-nuno-nepomuceno/27422389?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1520" data-original-width="1000" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZbznF2Q6PIubRMC9n3-n6ypur3YRfgLeSSY_lQbrk4ezRIQ3nPNR8oj8DVcy_ztrnPafxbJmVluLHqQdqRPbHBUhBSbdvojCUEXBLxPfWbGHa7Nvh0BKpUN68GWH_8DCP7B-Y1YaKC7y-VWWLDbZ_NH5CnfnhvC-dZBHqeJ2KmrpjIjAJJezicEMy/s320/aespiadooriente.jpg" width="211" /></a></div>André Marques-Smith tinha uma vida dupla - mas não sabia até que ponto. E agora que a verdade veio à tona, grande parte do que julgava saber foi posto em causa. Ainda assim, a vida não para e a sua faceta mais secreta chama-o de volta ao ativo. Os documentos que tanto esforço lhe custaram a recuperar ainda não estão decifrados, e por isso a investigação deve continuar, até porque a sua vida pode depender disso. Mas quando isso implica trabalhar com uma mulher que despreza e em quem não confia... André não pode deixar de se interrogar se não estará a ser enganado outra vez.</span></i></div><div dir="auto"><div dir="auto" style="text-align: justify;"><i>Provavelmente a maior prova da intensidade deste livro é que, mesmo numa segunda leitura, em que as grandes revelações já são conhecidas, a história não perde absolutamente nenhum impacto. Das primeiras surpresas ao final devastador, tudo mantém exatamente a mesma força da primeira leitura, em fluidez, envolvência e, acima de tudo, emoção. </i></div><div dir="auto" style="text-align: justify;"><i>Mas, claro, dizer que as qualidades se mantêm não diz quais são. E são muitas: a naturalidade da escrita, a capacidade incessante de surpreender, o equilíbrio entre emoção e humor e a força dos momentos mais dramáticos. </i></div><div dir="auto" style="text-align: justify;"><i>E, além de tudo isto, sobressaem ainda dois pontos. O primeiro é o contraste equilibrado e cativante entre as múltiplas facetas da vida de André, oscilando entre a adrenalina da espionagem, as tribulações do trabalho e o quotidiano da vida familiar e dos amigos. O segundo está na base disto: a construção completa de personagens tão admiráveis como falíveis, tão eficientes como vulneráveis. Complexas. Imperfeitas. Humanas.</i></div><div dir="auto" style="text-align: justify;"><i>E se, de certo modo, este livro é também uma transição, no sentido em que deixa pontos em suspenso para o que falta contar, o que é certo é que não faltam desenvolvimentos marcantes, mais do que suficientes para tornar esta fase da aventura completa por direito próprio. E para deixar uma enorme vontade de ler o volume final - sim, mesmo já conhecendo a história.</i></div><div dir="auto" style="text-align: justify;"><i>Tudo somado, o que fica é a sensação de um reencontro marcante, cheio de intensidade, de surpresas e de ação, mas também de uma vulnerabilidade que nunca deixa de impressionar. E a ideia de que vale sempre a pena regressar aos lugares onde já fomos felizes quando as pessoas que nos cativam vivem por lá. Como é certamente esse o caso deste livro.</i></div></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-29488373301509300642022-09-28T15:42:00.003+01:002022-09-28T15:42:22.003+01:00A Noite é um Jogo (Camilla Läckberg)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/a-noite-e-um-jogo-camilla-lackberg/27058312?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="475" data-original-width="314" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQHuBSA5Nuuw85Zk4KsbNKkT9IqxL-h9zvnhKxBMuOrqhwt6THgDpT9jMpJVXOTZzT-jbITPmqAqhWx5SXcCwFoONB3BiuikVxg_gg7LeUMwberO4iq3YtRrRob2LHAM45iTZuc3OrU7JK0KKcXMLd9bDoPLg63_q9qN4Rh3CICPA6roZ2pXPedzDu/s320/anoiteemjogo.jpg" width="212" /></a></div>Anton, Liv, Max e Martina são melhores amigos desde que se lembram. Têm também uma vida de privilégio, como fica bem claro a partir da grande festa de passagem de ano que estão prestes a partilhar - só os quatro, porque é assim que preferem. Por detrás dos comportamentos infantis, das provocações e dos preconceitos, escondem-se, contudo, alguns segredos mais tenebrosos. E, à medida que a noite avança e as verdades começam a surgir, começa também gradualmente a formar-se um plano. Porque os seus maiores inimigos são os que estão mais próximos. E os quatro amigos não se importariam nada de se livrar deles.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>É inevitável não começar por referir um aspeto bastante evidente deste livro, mas que define também os seus limites: é bastante breve. E, por ser bastante breve, o desenvolvimento do enredo e, sobretudo, das personagens, acaba por ser bastante conciso. Tudo gira em torno dos quatro amigos e dos seus traumas, e é aí que estão os momentos mais marcantes, ainda que também as maiores ambiguidades. Já quanto ao grande acontecimento no cerne de tudo: é breve. E tem o seu impacto, ainda assim, mas talvez pudesse ter sido explorado mais a fundo.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Dito isto, e apesar do registo bastante mais breve do que o habitual para a autora, não deixa de ser uma leitura cativante. E por várias razões. Primeiro, a escrita fluida e a oscilação entre diferentes pontos de vista criam uma envolvência pontuada por momentos de surpreendente tensão. Depois, o equilíbrio entre as diferentes personalidade significa que as relações não deixam de ter a sua complexidade, apesar da concisão. E, além disso, há várias surpresas ao longo do percurso que tornam inevitável a curiosidade em querer saber o que acontece a seguir.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Finalmente, sobressai um último ponto. É que, embora ambíguas (no mínimo) quanto à sua moralidade, as histórias dos quatro amigos não deixam de projetar uma reflexão interessante sobre certas facetas da sociedade: os vícios, a violência, os segredos, a infidelidade... enfim, as inúmeras coisas que se podem esconder atrás de portas fechadas. E o facto de as personagens não serem perfeitas projeta uma visão interessante: uma vítima não tem de ser perfeita para ser vítima.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Tudo se resume, portanto, a uma impressão bastante simples: a de uma história que podia certamente ter sido mais longa, mas que, mesmo na sua brevidade, não deixa de ter vários pontos de interesse. E de proporcionar bons momentos de leitura, independentemente do que fica sem resposta.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-20264533407621092072022-09-19T17:59:00.000+01:002022-09-19T17:59:06.842+01:00Terra (Eloy Moreno)<div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/terra-eloy-moreno/26875061?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="558" data-original-width="353" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjS7rxpI8nsVUEA79NwMNFVVfAK1wBPtMbDc3WMKSIUakuvk_CPmvDq0zxywEECLtbAisVvPhvQVqtcESe-e6i6GMfTUr3ujRw0_9KKCR8M9ZP-2a_D--xE5rlYeZ6G10NDe7O8QnZB7ktZhwGmInPQuBFL3vTAmfghLlppM_wSAT1j5eFIptE51swF/s320/terra.jpg" width="202" /></a></div>O homem mais rico do mundo - e um dos mais odiados - está gravemente doente e a morte é certa, mas não quer partir sem uma derradeira demonstração do seu poder. E fá-lo não só com um discurso arrasador ao seu vastíssimo público, mas deixando um último desafio aos filhos. Dedicou a vida a enriquecer a qualquer preço. Mas agora o caminho da verdade está próximo. E pode ser devastador. </i></div><i><div style="text-align: justify;"><i>Provavelmente a maior qualidade deste livro está na evidente relevância dos temas, com as alterações climáticas em primeiro plano, mas abordando também questões como a dinâmica das redes sociais, a capacidade de influenciar da televisão e a desigualdade de circunstâncias gerada pela riqueza. Não falta, pois, matéria para reflexão e basta isso para que a leitura valha a pena. </i></div><div style="text-align: justify;"><i>Outro ponto forte está na capacidade de transpor todas estas questões para uma narrativa fluida, cativante e até surpreendentemente leve. Os capítulos curtos e a oscilação entre momentos e perspetivas conferem ao enredo uma intensidade viciante, o que, somado à sucessão de surpresas, prende do início ao fim. </i></div><div style="text-align: justify;"><i>Quanto à construção das personagens, fica uma ligeira ambiguidade, resultante não só de alguns pontos que ficam em aberto do passado, mas também do facto de nenhuma delas ser do género que desperta empatia absoluta. Sendo certo que faz sentido que assim seja, atendendo às circunstâncias da história e à mensagem subjacente. </i></div><div style="text-align: justify;"><i>Intenso e viciante, suficientemente ambíguo para recordar as imperfeições da humanidade e carregadinho de matéria importante para ponderar, trata-se, pois, de um livro simultaneamente leve e profundo, complexo quando baste, mas surpreendentemente leve de se ler. E tudo isto converge, enfim, em algo muito simples: uma boa história e uma leitura marcante.</i></div></i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-38577190431330930722022-09-19T10:34:00.002+01:002022-09-19T10:34:17.386+01:00Revelação de capa: A Espia do Oriente<div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtYWHby-Y2gwm37FKc8QyEUtSYwKhQbGqbY9lJcrtx_OkW2MvbRHUwEqz_AlMRv3LYA5rBoxcerAfuCDDKp4dVPrSxeOsVII4_x2UWvcNTHxBIZ_sOk0pfzQAL5JqbRmznUpvoFfKOKA8SDtJOTb0NDFWmqswID4SqO4bLhKQbooSe2gGBFDNhpoAj/s1520/aespiadooriente.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1520" data-original-width="1000" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtYWHby-Y2gwm37FKc8QyEUtSYwKhQbGqbY9lJcrtx_OkW2MvbRHUwEqz_AlMRv3LYA5rBoxcerAfuCDDKp4dVPrSxeOsVII4_x2UWvcNTHxBIZ_sOk0pfzQAL5JqbRmznUpvoFfKOKA8SDtJOTb0NDFWmqswID4SqO4bLhKQbooSe2gGBFDNhpoAj/s320/aespiadooriente.jpg" width="211" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">UM ATENTADO IMINENTE. UM SEGREDO ENTERRADO NO PASSADO. UM HOMEM E UMA MULHER QUE SE ODEIAM, FORÇADOS A TRABALHAR JUNTOS.</div><div style="text-align: justify;">A gozar de uma licença de serviço por motivos de saúde, o diretor do Gabinete de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, um espião ocasional, é chamado de regresso ao ativo. Um cientista foi raptado e um atentado afigura-se no horizonte, ameaçando o equilíbrio político da Europa.</div><div style="text-align: justify;">Porém, quando uma mulher enigmática, cujo nome e passado são mantidos em segredo, se oferece para trabalhar com o espião português, o mistério adensa-se. Ela tem no seu historial vários furtos e homicídios, mas será ele capaz de resistir à tentação da sua beleza exótica e invulgar?</div><div style="text-align: justify;">Entre cenários tão variados quanto cosmopolitas de locais como Courchevel, Budapeste, Dubai e Lisboa, A Espia do Oriente é um thriller psicológico de leitura compulsiva, que nos transporta para uma teia complexa de mentiras, traições e reviravoltas inesperadas, como só Nuno Nepomuceno consegue criar. </div></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-2191245266302744202022-09-10T18:18:00.000+01:002022-09-10T18:18:04.756+01:00Senciente (Jeff Lemire e Gabriel Walta)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/senciente-jeff-lemire/27276683?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="475" data-original-width="315" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3xILUWBiGuFbyJ0FTi5quAPB9w-FC8GDuWGPGiL-jnEExGaIwuS_D1zfD4nKDMM45SOF1RwwoPK3wAoohIoxlzeIMl5AitTZbZ9aZtlcP4go6xZQmaTb-okqwqmeqORidlz12H84kbnFU56JRpq0vg58-1LVyFIvavCRU12m9QM-ixPM2asjTdxYC/s320/senciente.jpg" width="212" /></a></div>A vida na Terra parece estar próxima do fim, e é por isso que a esperança da humanidade está no envio do maior número possível de naves para a colónia, a fim de reconstruir a vida noutro local. Mas há um grupo de separatistas que acredita que a liberdade só pode ser conseguida cortando todas as ligações com a Terra. E é assim que se justifica o ataque que mata todos os adultos da U.S.S. Montgomery, mas que está longe de ser um sucesso total. É que, antes de morrer, uma das tripulantes conseguiu alterar os protocolos da inteligência artificial da nave, Valarie, e assim salvar as crianças. Agora, cabe a estas completar a missão e encontrar o caminho para a colónia... apesar dos perigos que continuam à espreita.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Parte do que torna esta história tão cativante é que, apesar do seu cenário futurista, dos elementos completamente distintos e da inevitável brutalidade de certos aspetos, a alma e a essência deste percurso está em algo de muito próximo e conhecido: os laços de afeto e as relações familiares - de sangue e não só. A ligação entre as crianças e Valarie é particularmente enternecedora, mas há todo um espectro emocional nesta aventura que gera emoções fortes. A capacidade de emocionar é, aliás, a maior força deste livro, ainda que haja vários outros aspetos cativantes nesta história.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Outro aspeto particularmente poderoso prende-se, aliás, com este contraste entre ternura e brutalidade, que é particularmente visível no aspeto visual. Algumas das mortes são bastante gráficas e o facto de os sobreviventes serem crianças gera necessariamente uma sensação de inocência perdida que transparece das expressões. Ainda assim, não é só o choque que transparece. Há uma expressividade bastante tangível nas personagens, sobretudo em Lil e em Isaac, que faz com que as emoções estejam sempre à flor da pele, mesmo nos momentos em que é a ação a dominar o enredo.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E, por falar em ação, importa salientar que, embora as emoções pareçam dominar, ação é coisa que não falta neste livro. Há momentos de grande intensidade desde as primeiras às últimas páginas e várias surpresas ao longo do caminho a manter sempre viva a curiosidade em saber o que se seguirá. Além disso, dado o rumo da história, é inevitável que não possa haver conclusões perfeitas. Mas, no seu equilíbrio de perda e sobrevivência, de perplexidade e superação, tudo converge para um final perfeitamente adequado ao caminho percorrido por estas personagens.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Intensidade, ação, expressividade e muita, muita emoção: são estes os elementos que tornam esta aventura tão memorável. Uma viagem a um futuro diferente, igualmente suscetível à crueldade e ao erro, mas onde o amor e a ternura permanecem imutáveis. Muito bom.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-63064176933726928752022-09-07T15:46:00.002+01:002022-09-07T15:46:18.256+01:00O Ovo Bom (Jory John e Pete Oswald)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/o-ovo-bom-jory-john/27141083?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="496" data-original-width="386" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheRvNIwMnb0QpMQsyL6iOgB2MtaEtz2BN_Npk_bb5LDrQKnyODlDd4XZjDPz1MMqrencBxyFbdYmwHB_IQpPfC37ZFFLemm2SUpL-ujvoO83YSbRmni_9mEJvBJq2CqWzmqsnGPF6oNFfK7P--4BuAxamGobhgWMHqvg0m6ldfyoaz_hh0rjynpivh/s320/oovobom.jpg" width="249" /></a></div>Era uma vez um ovo bom. Muito, muito bom. Tão bom que se sentia na obrigação de garantir que os outros ovos da sua caixa eram igualmente bons. Só que, bem... não eram. E um dia, o esforço desmedido de os tentar mudar a todos, sem olhar para si mesmo, começou a cobrar o seu preço. E ao sentir que estava literalmente à beira de quebrar, o ovo bom tomou uma decisão difícil. Difícil... mas possivelmente necessária.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Parte do encanto destes livros - tanto este como o anterior <a href="https://www.wook.pt/livro/a-semente-ma-jory-john/27141082?a_aid=5aa257b7be336">A Semente Má</a> - está na capacidade impressionante de transmitir mensagens importantes de forma muito concisa, mas também muito certeira. Se virmos bem, e ainda que, à primeira vista, a premissa pareça ser diametralmente oposta, os dois livros têm até uma base comum: a ideia de equilíbrio. De certa forma, aqui os papéis invertem-se. É ao querer ser perfeitamente bom que o ovo se esquece de si mesmo e começa a perder a serenidade e o equilíbrio interior. Mas a reflexão é comum, no fundo. Podemos sempre melhorar e corrigirmo-nos. Mas não temos de ser perfeitos sempre e em tudo - até porque ninguém o é.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Ora, tendo esta mensagem em mente, extrai-se uma conclusão: que, sendo embora um livro infantil, a mensagem deste livro é importante para todos. E é particularmente curioso notar que, na sua imensa simplicidade, essa mensagem passa, mesmo aos olhos de um leitor adulto. Há como que uma certa ternura que se sobrepõe às improbabilidades, ao olhar que procura uma história mais complexa ou realista, e que realça o essencial. Há matéria para reflexão nesta muito breve história, e isso independentemente da idade de quem a lê.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Finalmente, importa salientar as ilustrações, divertidas, coloridas e sobretudo muito expressivas. Ora isto é particularmente notável tendo em conta que as personagens são ovos. Mas a verdade é que não são uns ovos quaisquer. São ovos com uma vida muito agitada - e isso reflete-se nas expressões e nos gestos.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Simples, breve, terno e cativante - além de transbordante de cor e com uma mensagem fundamental e muito bem abordada. Assim é este pequeno e encantador livrinho sobre bondade e imperfeição. E não, não só nos ovos. De todo.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-78951149333721211342022-09-05T18:42:00.000+01:002022-09-05T18:42:02.131+01:00Edgar P. Jacobs - O Sonhador de Apocalipses (François Rivière e Philippe Wurm)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/edgar-p-jacobs-o-sonhador-de-apocalipses-francois-riviere/27218246?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="336" data-original-width="249" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTGAPjZif-uJ8jVHz9ieHUbGEYv8WGQA0TYPZts9ZVlcp2y8zlI8NTeSvBO3-_2SDsD565IGeo5qiDS_0iGU6VWi0yKP7AqRLIAeDI4PhGu6fKF8m9ecuBPbAwjrHvinusTkHYCVuw_r88YC_83A6v6DfiurPDqGOaiB7V_9SUd89hTI7rbYGUBypB/s320/edgar.jpg" width="237" /></a></div>Fascinado pela arte antiga, e sobretudo pelo Egito, com uma veia lírica e uma voz de barítono, grandes sonhos e interesses variados, seriam Blake e Mortimer a guiar grande parte do ritmo das suas criações. Mas, sendo certo que a vida se entrelaça na obra, nenhuma vida é apenas a sua obra. Há também as relações, as aspirações, os erros, os sucessos e os desencantos. E é uma vida toda, refletida na soma das partes, que serve de base a esta singular biografia.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Escusado será dizer, tendo em conta o livro de que se trata, que a grande força desta leitura está no retrato que traça da vida do seu protagonista. E força por duas razões: por ser completa, explorando as muitas facetas do seu percurso, ainda que, nalguns casos, em episódios mais breves, e por ser cativante, dando vida à "personagem" mesmo ao revelá-la aos olhos de alguém para quem será, possivelmente, desconhecida. Podemos chegar a esta leitura sem saber grande coisa sobre Edgar P. Jacobs, podemos até reconhecer apenas o nome. Ao fim do livro, esse conhecimento aprofundou-se consideravelmente.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Outro aspeto particularmente marcante é a exploração do mundo da arte em geral e da banda desenhada em particular, com uma visão bastante pormenorizada de como é construída a arte. Pode até chegar a ser um pouco desconcertante aos olhos de um leigo na matéria - como é, mais do que certamente, o meu caso - mas é também um foco de aprendizagem. Também aqui, podemos não saber nada sobre traços, perspetivas, cores e por aí adiante... Chegaremos certamente ao fim a saber um pouco mais.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E claro, como não poderia deixar de ser num livro como este, sobressai... a arte. O percurso pode até suscitar perplexidade, nomeadamente nas facetas menos conhecidas, mas mesmo nos momentos mais desconcertantes, há sempre o deslumbramento dos cenários e os ecos simbólicos que vão surgindo - egípcios, sobretudo, como seria de esperar. Mas não só.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Finalmente, importa salientar um aspeto especialmente marcante, que é o facto de, além de ser a biografia de um artista, ser principalmente a biografia de um homem, o que significa que há mais do que espaço para reflexões, vulnerabilidades e até alguns inesperados rasgos de emotividade.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Pode ser base de aprendizagem, matéria para reflexão, descoberta do mundo da arte e da vida de uma figura singular. Mas é, acima de tudo, uma história: uma história real, povoada por gente real, e que ganha vida e cor nestas páginas, mesmo para quem pouco mais conhecia do que os nomes. Basta isso para que valha a pena? Absolutamente.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-81189632897837367732022-08-31T18:38:00.003+01:002022-08-31T18:38:35.441+01:00Santa Família (Eider Rodríguez e Julen Ribas)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/santa-familia-eider-rodriguez/26732220?a_aid=5aa257b7be336logger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-lUzf0bzrCAEydRsxKVOoXypc0yJmNnAbXSeKk_l5YZM3iCzD_hYueyyMmhonCDTcjIVn8cFyl71IUIUFEGdePhOt3ZHhL6ni3FiIlzarbu-jNcgsyWFAqu47gBWkTeKCNpRLeptBdo6bgxwKimS7yGB-_uGQQYaiLiT3bbgzh4BJpxWSlZ9gYuwo/s429/santafamilia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="429" data-original-width="318" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-lUzf0bzrCAEydRsxKVOoXypc0yJmNnAbXSeKk_l5YZM3iCzD_hYueyyMmhonCDTcjIVn8cFyl71IUIUFEGdePhOt3ZHhL6ni3FiIlzarbu-jNcgsyWFAqu47gBWkTeKCNpRLeptBdo6bgxwKimS7yGB-_uGQQYaiLiT3bbgzh4BJpxWSlZ9gYuwo/s320/santafamilia.jpg" width="237" /></a></div>A vida é feita de objetivos e de rotinas. Sonha-se com uma família, com uma profissão, com um expandir de horizontes, com deixar descendência. Mas sonha-se... ou é a sociedade que impõe essas expetativas? No caso desta família, tudo se constrói em equilíbrio entre o desafiar de convenções e o mergulhar nessas mesmas convenções. As aspirações iniciais dão lugar a uma profissão mais realista, o amor conduz ao casamento e a uma filha, e eis que se instala a rotina. Até que Nora, a filha do casal, se revela como mais do que uma adolescente normal. E então tudo começa a mudar e a evoluir. Ou a regressar às origens?</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Uma das principais forças deste livro é, curiosamente, também o aspeto que gera mais sentimentos ambíguos: a imperfeição. Toda a história gira em torno dela: vidas imperfeitas, personalidades imperfeitas, sonhos imperfeitos, relações imperfeitas. E, porque tudo é imperfeito, não há propriamente uma proximidade total e absoluta com nenhuma das personagens, até porque os equilíbrios das relações tendem a realçar também mais as imperfeições delas. Mas, sendo certo que não são propriamente personagem admiráveis, a verdade é que esta ambiguidade as torna também mais reais: as dificuldades, as rotinas, os atritos e as fricções entre personagens tornam-se mais reais pelo facto de ninguém ser perfeito. Como na vida. E assim, mesmo quando a faceta inesperada da história ganha forma, é a humanidade das personagens que se destaca - nas qualidades e nos defeitos.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Esta imperfeição das personagens repercute-se também num aspeto visual que parece procurar refletir, acima de tudo, gentes e hábitos reais. Sim, salvo as devidas exceções de certas revelações da história, que criam também um contraste visual interessante (mas que importa manter em aberto). Mas a imagem geral que se forma é a de pessoas comuns num cenário razoavelmente normal - e isso é tão notório a partir do enredo como dos cenários e das expressões.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Finalmente, importa referir outra ambiguidade. Não se trata propriamente de uma história de grandes acontecimentos (ou, pelo menos, vistos de uma perspetiva exterior à desta família). E assim, salvo as já referidas revelações inesperadas, também não são os grandes momentos a ter o maior impacto. São as reflexões que emergem desta história: sobre a vida, sobre o crescimento, sobre a independência, sobre a rotina... Sobre todas as imperfeições que definem a existência humana.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>História de uma vida familiar aparentemente comum nas suas imperfeições, mas com laivos de surpresa e muita matéria para reflexão, eis, pois, um livro que pode deixar alguns sentimentos ambíguos, mas que não deixa de refletir com impacto a estranha vulnerabilidade do ser humano. E isso basta. Sem dúvida.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-45936174420800016152022-08-27T18:32:00.003+01:002022-08-27T18:32:35.108+01:00Caligrafia (Alexandre Assine)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="httpshttps://www.wook.pt/livro/caligrafia-alexandre-assine/27290596?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="492" data-original-width="320" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYsOiPVEKrpQwKN_5W8CyzpPnxARcHl7_98Qf40hHIEf5YhDI8XQ9-JE3zJQXvcd6--Yfbnx_GAB0EcjkO24_3YQaNCd1utprwSYPKjbYMlB0cKMrYbVW9M-wulIlARQrE2xXBKR58ycavc7VRM69muWgyR0FovMvJFNXwsnvw1GHF-G2yycYCjKSE/s320/caligrafia.jpg" width="208" /></a></div>Paisagens resumidas a meia dúzia de palavras e histórias traçadas com a mesma devastadora concisão. Contemplações que oscilam entre a nostalgia e a afeição e confissões rasgadas de uma assumida e estranha crueldade. Fragmentos que se conjugam em cadernos mais vastos, poemas que se encadeiam sem verdadeiramente se unirem e uma voz que nunca se torna verdadeiramente definível. Mas que fascina, ainda assim.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Não é fácil definir este livro. Se a poesia já tem, por si só, o seu habitual núcleo de singularidades, a deste livro eleva-as à mais alta potência. Não é fácil falar de conteúdo, quando o que fica do conteúdo são imagens projetadas diretamente para o pensamento, que fluem com uma naturalidade quase intangível, que ganham vida durante a leitura, mas que são demasiado breves - apesar de muito memoráveis - para descrever. E quanto à estrutura, é tão diversa que é mesmo essa a única característica que se pode salientar. Não há forma ou regra que não seja explorada e moldada segundo uma imagem distinta.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Ora, ante um livro tão difícil de descrever, o que se pode salientar sobre ele? Bem, talvez os contrastes. Entre esta intangibilidade e a forma como nunca deixa de cativar ao longo da leitura, desde logo. Entre a brevidade extrema e a complexidade das imagens traçadas. Entre fios de proximidade e outros de uma contemplação distante, quase indiferente. E entre formas que fluem sem nunca se cingirem estritamente à sua definição.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>É um livro breve e de poemas breves, fugaz ao ponto do indefinível. E, ainda assim, deixa as suas marcas. Importa, por isso, salientar um último ponto, o da singularidade. É certo que assume, por vezes, estruturas familiares, mas faz moldando-as numa forma diferente. E isso é simultaneamente desconcertante e fascinante.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Breve e indescritível, onírico e enigmático, eis, pois, um livro difícil de explicar, mas que, na sua inefabilidade, não deixa de se entranhar no pensamento. E basta este estranho equilíbrio - esta naturalidade indefinível - para fazer com que valha a pena viajar por estes poemas.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-82979435408781025302022-08-26T14:41:00.000+01:002022-08-26T14:41:00.079+01:00Moonshine, Vol. 5 - Bebida de Guerra (Brian Azzarello e Eduardo Risso)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/moonshine-brian-azzarello/27276680?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="475" data-original-width="316" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUlIpMzMeuFJiKbbjyY68M93aOHOZ7GUqg-p91E3dQoOr1ny8E4-Ros844HDsbGUfaJwyfKfyZFHX-M5DBWoW6bjam-66YJDKaSz_IMbggLPw_jcqQzj3XWEJX7a65yzLYi9cHNIQJmG2uUFTtsyrFUR5fRuJujlxHvLVtCTRFslH2ivT74JLDzHB6/s320/moonshine5.jpg" width="213" /></a></div>Lou Pirlo está de volta a Nova Iorque, acompanhado pelos seus cada vez mais numerosos fantasmas e decidido a pôr finalmente termo a todos os males que, voluntária e involuntariamente causou. A Lei Seca está a poucos dias do fim e fará com que tudo mude para todos. Mas as guerras, essas, não desapareceram e terão de se intensificar antes do fim. É por isso que Lou tem um plano para resolver, dentro do possível, o caos que o rodeou. Mesmo sabendo que, para o fazer, terá de arrastar conflitos passados para o presente e de aceitar que é bem provável que não chegue vivo ao fim de tudo.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Tendo em conta o percurso que nos conduziu até aqui, há certas coisas que eram, à partida, expectáveis para este volume final. A rapidez dos desenvolvimentos é uma delas, e eleva-se aqui a um ritmo ainda mais intenso, em que tudo se transforma de uma página para a outra e chega a ser difícil acompanhar as mudanças da teia de relações. Faz sentido que este ritmo atinja aqui uma espécie de apogeu, pois é aqui que tudo se encerra. E, sendo certo que fica, por vezes, a sensação de um avanço ligeiramente apressado, a verdade é que este ritmo alucinante acaba também por enfatizar as reviravoltas e por preparar terreno para a devastadora intensidade do final.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Outro aspeto bastante evidente é que, tendo em vista todo o passado, nunca se poderia esperar um final limpo e harmonioso. É tudo menos isso. Mas não deixa de ser um final extremamente adequado: todos os fios do passado convergem para esta conclusão, proporcionando momentos de enorme impacto, grandes surpresas, alguns inesperados rasgos de emoção e uma resolução final que pode não ser a mais desejada, mas é a que faz mais sentido. Tendo em conta a personagem... e os seus fantasmas.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Visualmente, sobressaem os habituais contrastes de luz e de sombra, o equilíbrio entre o belo e o monstruoso e um elemento que se torna mais vincado neste volume final: a expressividade retorcida das personagens, e particularmente de Lou, que reflete não só a sua natureza dual, mas o lado atormentado que só aqui se torna verdadeiramente claro. O equilíbrio entre arte e enredo sempre foi claro, mas aqui torna-se ainda mais evidente. E particularmente intenso nas últimas páginas.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Intenso, furiosamente rápido e com um equilíbrio eficaz entre mundano e sobrenatural, entre violência e redenção... e, claro, entre vida e morte... trata-se, em suma, de uma conclusão à altura para uma série muito cativante. E que nem sempre será fácil de entender nas suas singularidades... mas que vale bem a pena conhecer.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-48931259272727423012022-08-22T20:08:00.002+01:002022-08-23T09:18:53.638+01:00Talvez Devesses Falar com Alguém (Lori Gottlieb)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.editoraself.pt/product/talvez-devesses-falar-com-alguem/?ref=508" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="456" data-original-width="318" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxyb8G5femlRLRJYImTktF7qSj3RNMDrl_8Ah-vc1QAp1S4C8L4MUDqdeWWRrbUvq0n5cpOYselgusmiRAKNr8NKy3d5FsR8qN1YnrAUcCf8XKlGTI1AugktZeqvYZzPc7d5lVHMMK-ZG8nw7H5HfSurenxBWMtebhB_gbxglTaMvJ_cKZjP5kCtT7/s320/talvezdevesses.jpg" width="223" /></a></div>Terapia. Haverá quem pense que não passa de um desabafo glorificado, ou de algo que não serve para muito mais do que procurar conselhos. Outros vê-la-ão como um remédio rápido, uma procura de respostas imediatas para os problemas da vida. E outros haverá ainda que nem querem ouvir falar em tal coisa. Mas como é? Como funciona? E mais, quem é a pessoa do outro lado? Este é um livro sobre terapia que não é só sobre terapia. É a história de uma terapeuta, das suas pessoas mais próximas, dos seus pacientes... e, sim, do seu terapeuta também. E há algo de fascinante em como tudo isto se entrelaça.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Algo que importa referir acerca deste livro é que, apesar de ser longo, e de merecer ser apreciado com calma, não é um livro pesado nem dramático. Há uma leveza na forma como a autora escreve que dá vida a cada episódio e a cada reflexão, sem lhe retirar intensidade ou impacto - e, sim, há momentos de justificado dramatismo - mas com uma serenidade que transborda. E assim, é um livro que se lê com fluidez, mas que merece ser lido com atenção plena. Até porque não faltam frases memoráveis, daquelas que se entranham no pensamento, a surgir quando menos se espera.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>É também, inevitavelmente, um livro com muito material para reflexão. A própria natureza do tema exige que assim seja. Mas também neste aspeto a voz da autora faz com que tudo flua com naturalidade. Seremos levados à introspeção, mas sempre de forma simples, sem análises demasiado complexas ou rebuscadas, mas olhando para a vida - para as deste livro e para a nossa - e tirando daí as necessárias conclusões. É quase como se o livro falasse ao pensamento, como se as ideias se tornassem parte de nós. Como se fossem, à sua maneira, também uma espécie de terapia.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Ainda um último ponto a destacar vem, naturalmente, das histórias. Não é um livro de ficção, mas tem momentos em que se lê como se fosse, porque as histórias destas pessoas têm a envolvência de um romance. E saber que são reais aumenta a intensidade, a proximidade e a força. É quase como se tornassem conhecidas. E é curioso como, tendo em conta que, para a maioria destas pessoas, a história não acaba no que é contado neste livro, a forma que estas histórias assumem no livro permite uma conclusão satisfatória.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Lê-se com leveza, mas persiste. Não é um guia nem um livro de autoajuda, mas não deixa de esconder pérolas de sabedoria no seu interior. E é uma história pessoal, mas que nos reflete, e que por isso se entranha, cativa e apela à reflexão. É longo e merece ser lido com calma. E, acima de tudo, merece muito ser lido.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-89423090723387997682022-08-17T19:29:00.004+01:002022-08-17T19:29:40.641+01:00Nevada, Vol. 1 - A Estrela Solitária (Fred Duval, Jean-Pierre Pécau e Colin Wilson) <div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/nevada-volume-1-fred-duval/26857359?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="424" data-original-width="318" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEha7Njt9E-KAzTGKSH1STxwpgKOFvet8X8Q43WjQlJ8d7rE-LIBKFwH4xcJuEmbyqzTijm3D5uEUX2V2PRzatVyvkF9H-leD13_RO5kzDrxJ2ypB6ehuDwcvRTXtVcrvAF-MSMAHc6EJ4Qqdi3q8xpaqTlE47Xg6LlDxjl2B2REJmsBiXnK1n4o8Q0M/s320/nevada1.jpg" width="240" /></a></div>Nevada Marquez tem uma vida singular. O seu trabalho consiste em fazer os trabalhos que ninguém quer fazer para a indústria de Hollywood, e nomeadamente para uma mulher com a qual parece ter um passado em comum. E muitas vezes, esse trabalho sujo consiste em recuperar fugitivos ou tirar celebridades de sarilhos que julgavam que podiam evitar sozinhos. É o caso da Estrela Solitária, um ator que, em plenas filmagens, decidiu sair do país para uma escapadela alcoólica e está agora dividido entre uma escolha impossível: um casamento forçado ou um duelo. A não ser... que Nevada chegue lá primeiro.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Tendo em conta a premissa desta história, de uma vida dividida entre dois mundos e com bastantes mistérios a pairar sobre o passado, é inevitável, de certa forma, não sentir que este primeiro volume é demasiado breve. Ao conjugar as missões do protagonista com o pouco que vai sendo revelado sobre a sua vida prévia, o fim chega com mais perguntas do que respostas, ainda que a missão central fique resolvida. E assim, sendo certo que o equilíbrio entre as duas partes - pessoal e profissional, por assim dizer - é satisfatório quanto baste, fica muito em aberto no final deste primeiro volume. E a sensação de que certas relações pudessem ter sido já bastante mais aprofundadas.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Se a história parece, por vezes, demasiado concisa, já a parte visual tem um equilíbrio especialmente eficaz. A história vive entre dois mundos: um ambiente de western e o mundo de Hollywood. E esta divisão é palpável na arte, com as cores a estabelecer uma diferença clara e os cenários, repletos ou quase desertos, a reforçarem esse contraste. Além disso, o equilíbrio de luz e sombra acaba por refletir também as próprias personagens: as expressões ambíguas de Nevada (e não só, mas principalmente de Nevada) adensam o mistério do muito que há ainda por dizer.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E sim, fica curiosidade insatisfeita, obviamente. Mas importa lembrar que este é apenas o primeiro volume da série e que a curiosidade que fica não é do tipo que faz desistir, mas de que deixa uma vontade intensa de saber o que se segue o mais rápido possível. Sendo certo que a história da Estrela Solitária parece ter ficado resolvida. Já a de Nevada... longe disso.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Breve e enigmático, talvez ao ponto do excesso, mas visualmente muito cativante e com um conjunto de contrastes - tanto visuais, como de enredo - particularmente interessante, o que fica é, pois, a impressão de um início conciso, mas mais do que suficiente para intrigar. E para querer descobrir o que se segue, naturalmente.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-73725275509153339722022-08-14T19:22:00.002+01:002022-08-14T19:22:11.870+01:00O Apelo (Janice Hallett)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/o-apelo-janice-hallett/27141086?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="454" data-original-width="300" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhY5RTgPe5Y5v_fkP_3ZtQ7eyK-Hm0df8ysexIhywthbP_H_omvHR8RHXoGipNMdLvFF9KQ8aGT_KBJPHFUUada-D0FFOmw7f8aa8xfE5hIf9gT0TK4Gr9ecUITjjtcRzqB1z8r_lvUjaHTGcHQcSNN2Lku_WtaVe_YU0uSmsMPC258FlQt9M5GYlrx/s320/oapelo.jpg" width="211" /></a></div>Duas estudantes de direito recebem do seu mentor um conjunto de correspondência alegadamente associado a um possível caso. E nada mais. Nem um contexto prévio, nem qualquer ligação aos possíveis crimes envolvidos ou a mais ínfima informação sobre os envolvidos. Porquê? Porque Roderick Tanner acredita que é essa a melhor forma de gerar uma nova perspetiva sobre o caso - e talvez descobrir o que falta para repor a verdade. É neste cenário que a história começa a desenrolar-se, com a correspondência a revelar relações, personalidades, sombras de tragédia e de mistério. Há um grupo de teatro, uma criança gravemente doente e uma angariação de fundos para um tratamento experimental. E há também muitas mentiras. Tantas que a revelação da verdade pode ser fatal.<br /></i><i>Parte do que torna este livro tão viciante - e oh, se é viciante - é a sua estrutura singular. Todo ele é composto por documentos: transcrições de interrogatórios, trocas de mensagens, listas, um ou outro bilhete e muitos, muitos e-mails. E nada mais. É a partir desta abundante correspondência que a história e os seus enigmas vão sendo revelados, que as reviravoltas ganham forma, que as múltiplas facetas das personagens se manifestam. E acompanhar esta teia irresistivelmente complexa facilmente se torna absurdamente viciante.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Outro aspeto particularmente forte prende-se com o equilíbrio entre a leveza da leitura, resultante em grande medida do registo epistolar, e a abundância de temas pesados que a envolvem. Sim, o cerne da história pode estar na descoberta do responsável por um crime, mas há muito mais para além disso. Há o espírito de comunidade, explorado na mobilização em auxílio de uma criança doente, e a forma como esse espírito pode assumir contornos mais ambíguos, na forma de encobrimentos e de rumores. Há o motivo que levou uma das personagens a regressar de África, com um tema particularmente pesado associado a algumas das suas revelações. Há questões de doença mental, visões sobre o funcionamento da justiça e um tipo de intriga que mexe inevitavelmente com as emoções, pois gira em torno da confiança das pessoas. E assim, a história é leve, mas não simples, e tem mais complexidades além do seu mistério central.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Mas, claro, é um mistério. E quanto a esse aspeto, sobressaem duas coisas: a sucessão alucinante de reviravoltas que vai ganhando forma ao longo da correspondência. E as revelações finais, que, além de inesperadas, ganham uma intensidade maior devido à sensação de proximidade anteriormente gerada em relação às personagens. Tal como na vida real, também aqui julgamos conhecer as pessoas. Mas nunca por completo. Nunca.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Viciante, intenso e carregadinho de surpresas, este é um livro em que tudo é singular, desde a estrutura às personagens, sem esquecer a sucessão de revelações. E é isso que o torna tão memorável: que tudo encaixa nos sítios certos, nas medidas certas, para dar forma a uma viagem absolutamente imprevisível. Muito, muito bom.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-15792036977919837132022-08-12T19:26:00.001+01:002022-08-12T19:26:13.370+01:00Assombro (Richard Powers)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/assombro-richard-powers/26889567?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="612" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoOER3AbI6iiXu3IkpG5UALSzGkzLeNjXcAcnlBnhUSZ_KYifHiFS5cRIoLIKbu2hBDAxm-io-8uXjdf5LCcwomXQhr61EjlX4yO6T68tC8c9Hntuk34HaVYBYp8WYl7J2SzJ4n_klo7NGKs0wLbW45a6rl_mkcB5yqKxhol0BI2nhyl0OmP8Xnzc0/s320/assombro.jpg" width="209" /></a></div>Na sua profissão de astrobiólogo, Theo Byrne está habituado a formular teorias complexas sobre a possibilidade de existir vida noutros planetas. Mas os problemas que o assombram estão bem mais perto do que isso. Viúvo e a ter de lidar com a sua própria perda, Theo tem também de encontrar uma forma de lidar com o filho. Robin, de nove anos, é uma criança diferente, que vê o mundo como mais ninguém vê, mas que tem também grandes dificuldades em controlar as suas emoções. E, após alguns incidentes, Theo está a ser pressionado a deixar que o seu filho seja medicado, mas ele quer encontrar uma alternativa. Será possível encontrar uma forma de domar a mente brilhante de Robin sem apagar quem ele é? E valerá a pena experimentar algo sem resultados provados, mas que os pode levar a ambos para mais perto do que amam? Uma coisa é certa: Theo não tem muito a perder. E talvez Robin tenha tudo a ganhar.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Tudo neste livro é absurdamente prodigioso - basta isto para o descrever, na verdade. Da escrita à estrutura, passando pelos desenvolvimentos da própria história e pelos paralelismos evidentes - e certamente aterradores - com a nossa realidade, sem esquecer a profundíssima emoção que transborda até dos mais inesperados momentos, tudo neste livro é simplesmente prodigioso. Beleza pura. Emoção pura. E pura devastação.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E, tendo isto em conta, talvez seja bom salientar que Assombro é basicamente o título perfeito para esta história, porque, se olharmos bem, toda ela gira em torno dos vários motivos que a vida nos dá para o espanto. A mistura de inocência, brilhantismo e dor de Robin lembra-nos que há perdas que não se ultrapassam, que todos travamos as nossas batalhas interiores, que ser diferente não é ser inconsciente e que tudo na vida tem um preço. A posição devastadora de Theo lembra-nos as alturas na vida em que nos sentimos impotentes, o desconcerto ante aquilo de que o mundo é capaz e o assombro ante a beleza inesperada das coisas mais simples. E o caminho percorrido por ambos... bem, esse leva-nos de assombro em assombro, nas palavras, nas memórias, no confronto com o absurdo do mundo e no infinito inefável da imaginação.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E a própria escrita realça tudo isto, com o seu equilíbrio entre episódios curtos, mas de uma complexidade profunda, com a sua voz singular, mas absurdamente certeira, com a profusão de frases memoráveis que brotam de onde menos se espera e com a forma como cada presença e cada pensamento parecem repercutir um mundo mais próximo do nosso do que parece confortável.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Termino com uma repetição, porque tudo neste livro é realmente prodigioso. Prodigioso e devastador na sua intensidade emocional e na forma como conjuga beleza e angústia, esperança e desespero, assombro ante o esplendor da vida e assombro ante a capacidade para a crueldade do ser humano. Tudo é brilhante neste livro. Tudo é inesquecível.</i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6230818819583199576.post-69451122526955450812022-08-07T19:08:00.004+01:002022-08-07T19:08:42.698+01:00A Semente Má (Jory John e Pete Oswald)<div style="text-align: justify;"><i><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/a-semente-ma-jory-john/27141082?a_aid=5aa257b7be336" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1668" data-original-width="1303" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUNYsVUbshQHXNUp2M-gOuJ97yG26dVyDB5bvxvPdXaK0NE4YRHDrg5wyElshUSpnQw-lB5J6DPL4uc4iL8F2uaA5GfCWdJjTC-CW_nup_iYR2mZHCIA4ZpSjd3l9KiUUcXiMCwMLAt9dQuNO81hfQCD18q7HqthcxmiPbGeNPFX0wb8C_YDGW7-Uz/s320/asementem%C3%A1%20(3).jpg" width="250" /></a></div>Era uma vez uma semente má. Muito má. E, por onde quer que passasse, todos a reconheciam como tal. Porquê? Bem, porque fazia muitas maldades. Mas o que ninguém perguntava - nem a própria semente - era porquê. Porque era a semente má tão má? Bem, o passado tinha-lhe feito coisas que a transformaram. Mas o que mudou para pior também pode mudar para melhor. E, às vezes, basta uma oportunidade para começar.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Um dos aspetos mais impressionantes deste pequeno livro é a forma como as questões que suscita têm tanta importância para o seu público-alvo como para os leitores de todas as idades seguintes. Bem e mal nem sempre são facilmente distinguíveis. Muitas vezes, as más ações - e sim, estas podem ser fáceis de reconhecer - têm motivos mais complexos do que o ser mau apenas porque sim. Os traumas do passado deixam marcas e repercutem-se nas atitudes. E há sempre a possibilidade de mudar: basta uma oportunidade e quere fazê-lo.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E tudo isto está presente nas quarenta páginas deste livro? Sim, e com uma precisão muitíssimo certeira. A história da semente má é muito simples e breve, como seria, aliás, de esperar, tendo em conta o género do livro, mas tem tudo nas medidas certas. Uma mensagem forte, uma história cativante, um equilíbrio perfeito entre leveza e emoção e muita vida a transbordar das páginas.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>E, claro, muita dessa vida vem também do aspeto visual, num livro em que as ilustrações são particularmente deliciosas e têm uma expressividade que fica na memória, principalmente tendo em conta a natureza das personagens. Sim, porque a semente má é... bem, uma semente, mas é também uma semente muito expressiva.</i></div><div style="text-align: justify;"><i>Mensagem, ilustrações e história: tudo neste livro converge para um equilíbrio particularmente eficaz. E que transcende o âmbito de um livro infantil, pois dá-nos a todos, crianças e adultos, muito material para reflexão sobre o que somos e o que queremos ser na vida. Muito bom.</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div>Carla Ribeirohttp://www.blogger.com/profile/12543241113417693312noreply@blogger.com0