segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

As Atribulações de Jacques Bonhomme (Telmo Marçal)

Conjunto de vários contos que, a terem de ser classificados num género, sê-lo-iam na ficção científica, este é um livro que comecei a ler com elevadas expectativas. As opiniões que li antes de começar esta leitura eram, no essencial, muito boas e, por isso, a curiosidade era mais que muita.
Tenho de dizer, antes de mais, que me custou a entrar no livro, principalmente nos dois primeiros contos. Estes, apesar da escrita bastante interessante e cuidada - que caracteriza o livro na sua totalidade -, não me conseguiram prender a atenção o suficiente. A partir de O Pico de Hubert, contudo, a situação mudou, e os contos seguintes mostram uma força completamente nova. Os cenários são negros e opressivos, e os laivos de humor são raros e, ao invés de quebrar a tensão, adensam-na ainda um pouco mais. E acaba por ser esse o grande trunfo destes contos, já que a quase constante negrura da situação - que por vezes parece não poder pior - acaba por dar lugar a caminhos imprevistos.
Apesar de ter achado todos os contos bastante interessantes, e sendo os meus preferidos o já referido O Pico de Hubert e também Eu sou um carrasco, senti falta de uma coisa ao longo desta obra. Por entre os desenvolvimentos da acção e a racionalidade com que os protagonistas que seguimos pensam e agem, encontrei neste livro muito pouco de sentimento e, por isso, raras foram as vezes em que me consegui ligar por completo à história que estava a seguir.
Deste As Atribulações de Jacques Bonhomme direi, pois, que na minha opinião é um bom livro, com uma escrita cuidada e ideias bastante interessantes. E, apesar de não ser exactamente o meu género de leitura preferida, recomendo aos apreciadores de ficção científica. Mas fica uma nota: este é um livro negro, sem lugar a optimismos. Tudo é racional. Tudo é uma luta pela sobrevivência. E a salvação nunca é uma promessa.

5 comentários:

  1. O que disseste é exactamente aquilo que digo. Não tenho mesmo nada a acrescentar, apenas tudo a confirmar.
    Ideias bastante interessantes, mas uma leitura demasiado opressiva. Demasiado crua, rude. E isso perturbou-me bastante.

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  2. De tal forma que, sendo fã de fc, abandonei o livro e não me parece que o vá retomar.

    O futuro retratado é verdadeiramente NEGRO!

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  3. Falas aí na falta de sentimento. Acho que o objectivo do livro não é as pessoas afeiçoarem-se a ele, apelar aos seus sentimentos. Aliás, iria completamente contra aquilo que escreveste no fim:
    "Tudo é racional. Tudo é uma luta pela sobrevivência. E a salvação nunca é uma promessa."

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  4. Concordo que não esteja nos objectivos do livro. Mas uma das coisas que procuro na leitura e estabelecer uma ligação com os protagonistas e com os acontecimentos, e pela falta desse sentimento - que não creio ser uma falha, mas um propósito - acabei por não me envolver tanto nos mundos deste livro como gostaria.

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  5. Sim, sim, e o que eu disse não era para tomar como crítica negativa :)
    É só um pequeno pensamento - em suma, queria dizer que "As Atribulações de Jacques Bonhomme" não seriam "As Atribulações de Jacques Bonhomme" se tivessem sentimentos :P O livro é uma obra fria, e é único por isso mesmo.

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