quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Livro de Cale (Carlos Cordeiro)

Um documento que contém os nomes e linhagens de todos os notáveis do condado portucalense. Um plano para alcançar o poder, independentemente das vidas que tenham de ser sacrificadas. E, no centro de toda esta intriga, Bernardo Mendes, que, obrigado a retirar-se para um mosteiro de modo a ser afastado dos interesses de Mendes Pais, acabará por se tornar na figura mais importante de todo o conflito.
É a componente descritiva o elemento dominante neste livro. Não só na caracterização do cenário e da vida quotidiana no mosteiro, mas também no detalhe com que as batalhas são apresentadas e até nas teias que ligam os diferentes elos da conspiração, o autor apresenta, com bastante atenção ao pormenor os elementos que caracterizam cada situação. Isto resulta numa visão bastante completa quer do cenário global quer dos pequenos detalhes.
Bernardo, por sua vez, é um protagonista muitíssimo interessante e há vários momentos marcantes ao longo da sua história. A sua evolução, de jovem impetuoso ao homem sereno e dedicado à sua causa, proporciona situações intensas, quer na relação com os seus mestres, quer nas suas acções durante os principais conflitos.
O que me leva a um aspecto menos cativante. Se há, de facto, ao longo da narrativa, vários momentos de conflito, por outro lado, a descrição destes momentos, ao ser tão detalhada e global, acaba por se tornar um pouco distante. E, ainda que a visão dos acontecimentos seja bastante completa, acaba por faltar uma certa empatia para com os envolvidos.
Um livro bastante interessante, ainda assim, principalmente pela detalhada caracterização em termos de elementos históricos, mas também pelo potencial que, ainda que não tenha sido completamente explorado, não deixa de ser marcante na figura de Bernardo Mendes.

3 comentários:

  1. Olá

    Vou fazer uma pergunta e lançar uma suspeita.

    Cito: "O que me leva a um aspecto menos cativante. Se há, de facto, ao longo da narrativa, vários momentos de conflito, por outro lado, a descrição destes momentos, ao ser tão detalhada e global, acaba por se tornar um pouco distante. E, ainda que a visão dos acontecimentos seja bastante completa, acaba por faltar uma certa empatia para com os envolvidos."

    É um comentário interessante que me leva a pedir um esclarecimento. Se bem percebi, é o detalhe que vulgariza a descrição desses conflitos? Por detalhar parece haver ausência de drama? Não há empatia entre o leitor e os envolvidos ou entre os envolvidos?

    Outra citação: "Um livro bastante interessante, ainda assim, principalmente pela detalhada caracterização em termos de elementos históricos, mas também pelo potencial que, ainda que não tenha sido completamente explorado, não deixa de ser marcante na figura de Bernardo Mendes."

    É verdade. Há potencial não explorado. Mas vai ser explorado. Em Bernardo Mendes e em Rahmam.

    Obrigado.

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  2. Vou tentar explicar-me. A sensação com que fiquei é que há mais detalhe na descrição dos conflitos propriamente ditos e que, em termos de caracterização das personagens enquanto indivíduos, haveria mais a dizer. Daí que não tenha sentido uma grande empatia para com eles, porque tenho a sensação de que não os cheguei a conhecer bem. O que me deixa a impressão de faltar "alguma coisa", porque há momentos em que Bernardo é simplesmente fascinante e gostaria de conhecer mais da sua personalidade. Portanto, não vejo o detalhe como um aspecto negativo por si só, mas fico com a ideia de que, aliado à tal caracterização mais "pessoal" de personagens, resultaria num todo mais envolvente.

    Gostei do livro, entenda-se, e aprendi bastante com ele. É só um aspecto que, na minha opinião (que vale o que vale), poderia tornar a leitura ainda mais cativante.

    Vou ficar atenta a obras futuras.

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  3. Há uma lacuna na caracterização das personagens. É notório. Trata-se de uma ausência. Não é propositada, mas era inevitável, quer pela juventude da prosa, quer pela vertente histórica do tema. Os factos sobrepuseram-se à personalidade. Até o fascínio da "humanização" das personagens parece ter sido subjugado pela época. Um investimento no ser era prazenteiro e cativante. Será um desafio interessante rever a sequela...

    Obrigado pela opinião.
    Carlos

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