sábado, 31 de março de 2012

The Heir of Night (Helen Lowe)

Quando os Derai chegaram a Haarth, muito mudou. Mas a sua chegada coincidiu também com o despertar de um inimigo temível. Para o combater, formou-se uma aliança de nove Casas que, ao longo dos séculos, se comprometeram a vigiar a muralha para manter longe o inimigo. Contudo, nem sempre foram de paz os tempos que se viveram e as traições e divisões entre os Derai levaram o seu mundo à situação presente - em que a primeira e a mais importante das Casas se vê subitamente ameaçada, mas o despertar do poder na jovem Malian desperta mais dúvidas no seio da própria Casa do que no inimigo que foi enviado para a perseguir.
Primeiro livro de uma série de quatro, The Heir of Night introduz um sistema com muitas características e regras a explicar. As lendas e a disciplina Derai, as circunstâncias no passado que levaram a Aliança à sua condição actual e até a natureza e os poderes do inimigo são elementos que requerem bastante desenvolvimento para que sejam completamente compreendidos. Assim, o ritmo da narrativa é pausado, mas tanto a história como a caracterização são interessantes e o rumo dos acontecimentos cresce em envolvência a partir do momento em que as personagens se tornam familiares. A partir deste ponto, história e construção do mundo fluem num equilíbrio cativante.
Quanto às personagens, há muito que é deixado por dizer - até porque o seu crescimento deverá continuar nos livros seguintes - , mas esse desenvolvimento e as particularidades de cada personalidade são já bastante evidentes neste livro. Tanto Malian como Kalan revelam a inocência de quem se vê subitamente atirado para uma situação que quase não conseguem compreender, mas ambos se revelam à altura do que deles é esperado. Além disso, há também bastante de caracterização das personagens que os rodeiam, pelo que, apesar de o foco principal da narrativa estar em Malian e Kalan, também o mundo e as personagens em volta têm muito de interessante.
Com um sistema interessante, este um mundo onde magia e mistério se combinam para definir uma história cujos protagonistas têm as qualidades dos heróis, mas também as vulnerabilidades de qualquer ser humano. Uma boa história, onde muitas perguntas são deixadas por responder, como é natural no primeiro livro de uma série, mas em que o rumo dos acontecimentos promete muitas surpresas para os volumes seguintes. Uma boa leitura, em suma.


Nota: Tive oportunidade de ler este livro graças à organização dos David Gemmell Legend Awards. Obrigada!

sexta-feira, 30 de março de 2012

As Garras da Águia (Simon Scarrow)

Roma continua determinada a conquistar a Britânia, mas a campanha não pode prosseguir enquanto o Inverno não terminar. Entretanto, a resistência é mais feroz que nunca e quando circunstâncias infelizes permitem aos druidas da Lua Negra capturar a família do general Aulo Pláucio, a acção tem de ser rápida e eficaz, caso contrário as consequências são imprevisíveis. É assim que, graças aos seus feitos anteriores, Macro e Cato são escolhidos para uma aventura perigosa, contando apenas com a sua capacidade de sobrevivência... e dois improváveis companheiros.
Ao comparar As Garras da Águia com os livros anteriores, há, desde logo, uma diferença que se destaca: a componente de intriga e conspiração passa claramente para segundo plano, sendo mais desenvolvidas as rotinas e as dificuldades na vida das legiões (principalmente na fase inicial) e, depois, a aventura mais particular dos dois protagonistas. O resultado disto é uma linha narrativa mais simples, mas igualmente envolvente, até porque as figuras que a protagonizam são já familiares e as suas melhores características continuam presentes em força.
A nível de desenvolvimento e crescimento de personagens, é Cato quem mais se evidencia. Permanecem evidentes as contradições entre o meio de onde veio e a dura vida das legiões, mas o tempo que passou fê-lo crescer e as novas experiências narradas neste livro potenciam esse mesmo crescimento. Além disso, Cato tem um papel fundamental a desempenhar ao longo de toda a história e a forma como os valores que trouxe do passado se moldam à vida de legionário são também o que define as suas melhores acções.
O ritmo é, na globalidade, relativamente pausado, mas cresce em intensidade com o evoluir do enredo e o desenvolvimento de maiores momentos de tensão. À medida que novas complicações surgem, a empatia que era tão evidente nos volumes anteriores e que se atenua um pouco nos primeiros capítulos deste livro. volta a surgir, abrindo-se também a novas personagens - e aqui as peculiaridades da interacção com Prasutago proporcionam momentos particularmente bons. Cria-se, assim, um interessante equilíbrio entre uma relativa sobriedade das interacções no interior das legiões e um lado mais empático, em que a emoção (e também o humor) se evidenciam, quando a situação se torna mais pessoal.
Escrita cativante, personagens bem construídas e uma história que se mantém envolvente ao longo de todo o livro para culminar num final particularmente bom, As Garras da Águia constitui uma interessante continuidade para uma série cheia de potencial. Menos complexo que os volumes anteriores, mas igualmente envolvente, uma boa leitura.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Obsessão (Sandra Brown)

Mais que uma escapatória para a morte, o seu transplante de coração é, para a actriz Cat Delaney, uma nova oportunidade de fazer da vida o que acha que realmente vale a pena. Assim, Cat troca o seu trabalho pela oportunidade de conduzir um programa de televisão a promover a adopção de crianças com necessidades especiais. O problema é que a nova vida não começa com a mudança e, enquanto Cat se aplica a fundo no seu projecto, há quem a tenha sob um meticuloso escrutínio. É que, de todos os possíveis dadores que morreram no dia em que Cat foi transplantada, há um que não suporta a ideia de que o coração da pessoa que amou continue a bater, estando ela morta. E a única forma de resolver esse problema é fazer com que o coração pare... independentemente do corpo que o contém.
Feito em partes iguais de romance e de mistério, este é um livro que cativa principalmente por esta segunda componente. Com um início algo confuso, em que os potenciais dadores são apresentados nos seus últimos momentos, a história só se centra em Cat e na sua nova vida numa fase um pouco mais avançada do enredo. Assim, é de forma muito gradual que a linha da narrativa se vai definindo, com os potenciais suspeitos a serem apresentados antes mesmo dos crimes e com um rumo de acontecimentos em que quase todos têm motivos para o cometer. Isto é desenvolvido em capítulos relativamente curtos, em que cada acontecimento é descrito de forma bastante directa e sem grandes elaborações, criando bons momentos de tensão que contribuem para manter viva a curiosidade.
No que toca à parte romântica do enredo, há momentos bastante bons, ainda que, numa fase inicial, seja difícil criar empatia para com algumas das personagens. Alex Pierce, em particular, surge como uma figura bastante detestável, ao primeiro impacto, vindo a revelar mais das suas complexidades apenas mais para o final da narrativa. Também Cat tem os seus momentos bons, principalmente a nível da construção do passado, e as suas situações mais... estranhas, principalmente na interacção que se cria entre ela e Alex.
Ainda de referir algumas questões interessantes que surgem ao longo da narrativa e que, apesar de não serem abordadas a grande profundidade, tornam a história um pouco mais complexa. Elementos como o sistema de famílias de acolhimento, as teorias sobre a memória celular associada aos transplantes de coração e até, numa abordagem diferente, as rotinas da vida de um escritor, servem também para proporcionar momentos interessantes, ao mesmo tempo que definem de forma mais completa a vida das personagens.
Trata-se, portanto, e apesar de alguns momentos algo forçados, de uma história cativante, com uma escrita agradável e em que as personagens que inicialmente surgem como pouco empáticas acabam por revelar o melhor das suas características redentoras. Gostei.

Novidade Quetzal

Numa aldeia de Trás-os-Montes a chegada de um dos seus filhos emigrados para França, que vem endinheirado e casado com uma francesa provoca um verdadeiro cataclismo. Em França o Valadares, trabalhando na terra como um mouro, é premiado com a fortuna do patrão desde que case com a filha  — moça doidivanas e descontrolada. Valadares e a mulher vêm a Portugal quando das tradicionais festas da aldeia. A partir deste momento a perturbação causada pelo comportamento de ambos — ele, através do dinheiro, buscando uma ingénua e primitiva glória no seu burgo; ela, usando a sedução e a provocação erótica na fauna masculina aldeã  —desencadeia um rol de acontecimentos desgraçados que o rebate final expressa eloquentemente. 

quarta-feira, 28 de março de 2012

Fúteis Madrigais (Rui Mateus)

Breves episódios, contidos em algumas poucas frases ou, no máximo, algumas páginas. Devaneios, ou simples situações - que, por vezes, não são assim tão simples - que se definem pelo momento que descrevem, mas que ocasionalmente se ligam com outros momentos criando um sentido de unidade, dão forma a este conjunto de pequenos contos onde, com um toque de surreal e uma multiplicidade de protagonistas, dos quais o mais constante será tal vez o tal Whisky Duplo do subtítulo, poucos parágrafos bastam para contar uma história completa.
Um dos pontos mais interessantes destes Fúteis Madrigais é a forma como, em textos breves e onde tanto a descrição como a narração dos acontecimentos e sucinta e sem grandes elaborações, nunca fica a impressão de que mais haveria a dizer. Cada episódio define-se por si próprio como uma narrativa completa, tanto pela forma como cada situação é contada, quase que ao ritmo dos pensamentos do seu protagonista, como pela aparente simplicidade dos episódios que são apresentados, sempre com a precisão de uma realidade crua, nas coisas boas como nas más. Acrescente-se a isto as leves ligações que existem entre os vários contos e o resultado é um conjunto de textos que funcionam independentemente, mas que se juntam numa forma global que é mais complexa que a simples soma das suas partes.
Também a nível de temas há muito de interessante e a diversidade de emoções percorridas nos diferentes textos serve também para criar uma visão bastante ampla da realidade. Cada personagem é único nas suas peculiaridades, mas cada um pertence a esse vasto e complexo conjunto que é a humanidade. Todos, desde o Jonny que morreu de amor ao cego que não queria que sentissem pena dele. E, de todas estas diferentes personagens resulta também uma diversidade de emoções: algumas das situações descritas são revoltantes, algumas cruéis, outras enternecedoras, outras ainda despertam uma vaga tristeza. De bons e de maus sentimentos é feito este livro. Como muitas coisas na vida.
Muitas das histórias são breves. As poucas que não o são deixam curiosidade em ver mais do trabalho deste autor em registos mais extensos. A impressão final é, em suma, muito positiva. Escritos de forma cativante, percorrendo um amplo espectro emocional e com uma visão bastante precisa da realidade, há muito da vida e do mundo nestes Fúteis Madrigais. E é isso o que mais marca neste livro.

Novidade Clube do Autor

Uma fatalidade sobejamente conhecida roubou-lhe as duas pernas mas não a coragem e muito menos a vontade de viver. João Silva, um dos mais prestigiados fotógrafos de guerra do mundo, e coautor do livro Bang-Bang Club, foi recentemente agraciado com a Ordem da Liberdade.

Até onde se pode ir para obter uma boa imagem? Uma foto vale uma vida?
A cobertura de conflitos é perigosa para todos os envolvidos, mas os fotógrafos são, talvez, os mais expostos. Bang-bang Club é um retrato vivo e extremamente pessoal sobre a guerra e o fotojornalismo, escrito por dois homens cuja vida e trabalho testemunham até onde um jornalista está disposto a ir para contar a verdade.
Durante os últimos e sangrentos dias do apartheid, quatro jovens fotógrafos, amigos e simultaneamente concorrentes, juntavam-se para fazer a cobertura da violência que assolava as cidades segregadas para negros na África do Sul. Greg Marinovich e João Silva contam a história comovente do Bang-Bang Club, uma alcunha dada aos quatro amigos pela imprensa sul-africana e internacional por causa dos extremos intrépidos, e por vezes imprudentes, a que muitas vezes chegavam no intuito de captar em película as imagens violentas do conflito.
Ken Oosterbroek, Kevin Carter, vencedor do Prémio Pulitzer com a célebre fotografia da criança e do abutre, Greg Marinovich e João Silva não só trabalharam juntos com arriscaram a vida juntos. É precisamente com a morte de Ken, vítima de uma bala perdida que começa a narrativa de Bang-Bang Club, um livro complexo, profundo e inesperado sobre a natureza humana.

João Silva é fotojornalista do New York Times e um dos mais experientes e prestigiados do mundo. As muitas distinções pelo seu trabalho incluem, por exemplo, a de Fotógrafo do Ano da Imprensa Sul-Africana em 1992. Em Outubro de 2010, quando estava em reportagem no Afeganistão, ficou gravemente ferido ao pisar uma mina, tendo-lhe sido amputadas as duas pernas. Cerca de nove meses depois, já fotografava para a primeira página do New York Times, mostrando a sua forte determinação.

Greg Marinovich é realizador de documentários, fotógrafo e escritor. Tem trabalhado como freelancer para várias publicações internacionais, designadamente Time, Newsweek, New York Times, Washington Post e Associated Press. Ganhou numerosos prémios pelas suas fotografias, incluindo o Prémio Pulitzer na categoria de Fotografia Instantânea, em 1991.

Novidade Sextante

«Não é olhando que descobrirás.» Como pôde o Investigador adivinhar? Como pôde saber que esta investigação de rotina seria a última da sua vida?
Encarregado de descobrir as causas de uma onda de suicídios numa grande empresa, o Investigador sucumbe gradualmente à ansiedade. O hotel onde se instala é abrigo não só de turistas, como de gente deslocada e estranha. Na empresa onde investiga, ninguém o apoia e o clima é hostil. Terá caído numa armadilha, será vítima de um pesadelo demasiado real? Não consegue comer, beber ou dormir, e as suas perguntas só dão origem a mais perguntas. À medida que faz algumas descobertas, interroga-se se não se tornará ele na nova presa a ser esmagada por aquela máquina infernal. E começa a compreender a nossa impotência face a um mundo que nós próprios construímos e que conduz à nossa destruição.

Philippe Claudel é o autor do bestseller Almas cinzentas, vencedor do Prémio Renaudot 2003, do Grande Prémio literário Elle 2004 e classificado como Livro do Ano pela revista  Lire em 2003. Está traduzido em mais de 30 países. Em 2007, o seu romance O relatório de Brodeck foi galardoado com o Prémio Goncourt des lycéens. Realizou o filme Il y a longtemps que je t’aime, com Elsa Zylberstein e Kristin Scott Thomas, em 2008, vencedor de dois prémios César.

terça-feira, 27 de março de 2012

Desejo Subtil (Lisa Kleypas)

Aos vinte e cinco anos de vida e com o final da temporada a aproximar-se, Annabelle Peyton encontra-se numa situação complicada. O estado das finanças da família não podia ser mais miserável e, a não ser que Annabelle consiga conquistar um marido nobre num prazo de semanas, terá de considerar um rumo de vida bastante menos... honesto. Assim, e na companhia inesperada de um grupo de amigas igualmente empenhadas em encontrar marido, Annabelle lança-se aos últimos eventos da temporada determinada a caçar um marido, independentemente de quais sejam os meios necessários. Mas há um problema. É que Simon Hunt, homem de fortuna considerável,mas bem longe de pertencer à aristocracia, parece sentir por ela um interesse especial e uma determinação implacável em seduzi-la.
Com o romance e a sensualidade como foco central da narrativa, não é senão natural que esta história viva, em grande parte, dos protagonistas. Neste aspecto, há uma interessante evolução à medida que o romance se desenvolve, já que o que parece ser uma interacção algo conflituosa entre personagens que se definem, em primeiro lugar, pelos seus defeitos, acaba por evoluir para uma história onde a ternura, o cuidado e, claro, o amor, acabam por revelar um lado mais complexo e mais cativante para as suas personagens.
Inicialmente, tanto Simon como Annabelle surgem como personagens que despertam sentimentos ambíguos. Annabelle, com os seus preconceitos para com o mundo existente para lá da aristocracia, tanto pode demonstrar laivos de verdadeiro afecto ou de preocupação (para com o irmão ou ante a complicada situação da mãe) como uma frieza algo revoltante na concretização dos seus planos. Também Simon tem os seus momentos bons (e o melhor da sua personalidade começa a revelar-se numa fase mais avançada do livro), mas a imagem inicial é a de um indivíduo dominador, arrogante e incapaz de aceitar um não como resposta. Na verdade, esta caracterização acaba por resultar bem em Simon, já que, apesar de alguns momentos mais forçados na fase inicial, a revelação do que se esconde para lá da fachada acaba por proporcionar momentos muito bons.
O enredo é essencialmente o do romance e da conquista, mas há alguns pontos particularmente interessantes neste aspecto. Primeiro, o facto de a história se estender para lá da concretização da união, revelando uma vida após o possível "felizes para sempre" e criando uma situação final que surpreende pela intensidade. Além disso, a visão algo diferente das barreiras de classe social e da ligação entre nobres e plebeus vem complementar uma interessante e divertida interacção entre o grupo de amigas que, cada uma com diferentes características que as definam como inadequadas, protagonizam bons momentos de humor.
Leve, uma história de leitura agradável e com bons momentos de emoção e de humor, Desejo Subtil parte de um início algo conflituoso para se desenvolver numa história cativante, onde as personagens se tornam mais interessantes com o decorrer dos acontecimentos. Envolvente e divertido, um bom livro para descontrair.

Novidade Porto Editora

Imagine uma prisão tão vasta que abrange masmorras, galerias, bosques de metal, mares e cidades em ruínas.
Imagine um prisioneiro sem memórias mas que nega pertencer àquele lugar, mesmo sabendo que a prisão se encontra selada há séculos e que apenas um homem conseguiu escapar. 
Imagine uma rapariga condenada a um casamento de conveniência e a viver numa sociedade futurista, vigiada por um sistema sofisticado de inteligência artificial mas concebida  à semelhança de um cenário do século XVII. 
Incarceron é a prisão viva que observa tudo o que se passa dentro dos seus muros. Finn é o prisioneiro e Claudia a filha do guardião da prisão, que vive num mundo exterior onde pouco se conhece sobre Incarceron.  Ao encontrarem uma chave de cristal que lhes permitirá comunicar, os dois engendram um plano de fuga numa corrida contra o tempo. Mas Incarceron vigia-os − e a evasão exigirá mais coragem e tornar-se-á mais difícil do que pensam.

Catherine Fisher nasceu em Newport, no País de Gales. Licenciada em Literatura Inglesa pela Universidade de Gales foi professora e arqueóloga antes de se dedicar exclusivamente à escrita. Inúmeras vezes nomeada para prémios recebeu alguns dos mais importantes galardões, como, por exemplo,  o  The Times Children’s Book of the Year. Incarceron está a ser traduzido para 25 países e a ser adaptado ao cinema pela 20th Century Fox.

Novidades Planeta

Um relato emocionante, contado na primeira pessoa, da vida extraordinária de Nelson Rolihlahla Mandela.   
As memórias vivas do homem que teve um papel de relevo na fundação da Liga da Juventude do ANC. 
Os anos dramáticos na clandestinidade, que em 1964 conduziram a uma sentença de prisão. 
O quarto de século repleto de acontecimentos que viveu atrás das grades. 
O dia glorioso de 1990 em que saiu serenamente da prisão a caminho da liberdade e da liderança. 
Os momentos marcantes que o levaram ao triunfo nas primeiras eleições multirraciais de sempre na África do Sul, em Abril de 1994.  

Prémio Nobel da Paz, em 1993, presidente do Congresso Nacional Africano (ANC) e líder do movimento anti-apartheid, Nelson Mandela é um dos grandes chefes morais e políticos do mundo.  
Um homem que é um dos poucos verdadeiros heróis que ainda temos. Nas suas memórias, Um Longo Caminho para a Liberdade, que são um best-seller a nível internacional, conta-nos a sua extraordinária história de vida – uma narrativa épica de luta, derrota, esperança renovada e triunfo final. 

Todas as pessoas têm um talento especial e Marie, uma trintona que vive numa aldeia alemã, também tem um: apaixonar-se pelo homem errado. 
Pouco depois de deixar o noivo plantado no altar, conhece Joshua, um carpinteiro estranho. É um homem diferente de todos os que conheceu antes: sensível, atencioso, desinteressado. Mas também não é o homem perfeito: no primeiro encontro confessa que é Jesus. 
Marie pensa que ele está louco, mas aos poucos dá-se conta de que a sua história bate certo. Apaixonou-se pelo Messias, que veio à Terra antes do Juízo Final. Marie vai enfrentar não só o fim do mundo, previsto para a terça-feira seguinte, mas também o romance mais destrambelhado que já viveu. 
Uma história transbordante de fantasia, com pequenas histórias aos quadradinhos para sublinhar a mensagem, que entre gargalhadas, nos ajuda a reflectir sobre o valor dos sentimentos. 

David Safier nasceu em Bremen, em 1966 e é nesta cidade que vive e trabalha.  Conhecido guionista de séries de êxito de televisão, como  Mein Leben und Ich  (A  Minha Vida e Eu),  Nikola  e Berlim, Berlim, foi galardoado com o Prémio Grimme e com o Prémio TV da Alemanha, e com um Emmy, nos Estados Unidos. 
Maldito Karma  (Planeta, 2011) o seu primeiro romance, foi um êxito internacional, que vendeu mais de um milhão e quinhentos mil exemplares na Alemanha e está já publicado em várias línguas.  Em Portugal, em poucos meses chegou às cinco edições. 
Na Alemanha, um ano depois da sua publicação, permanecia na lista dos mais vendidos, com o novo romance Jesus Ama-me.

Todos temos um talento.  
Muitas vezes adormecidos, deixamos passar oportunidades e sonhos, incapazes de aproveitarmos o melhor de nós mesmos. 
Joaquín Lorente, um guru da comunicação e marketing, reconhecido mundialmente, transporta para cada página deste livro a sua experiência, onde reúne 146 ideias-chave para exercitar o nosso órgão mais importante: o cérebro. 
Numa escrita directa, simples  e sem rodeios, Tu Podes é um potente despertador da mente humana,  que ensina a multiplicar o talento,  a carregar energias e a estimular  a criatividade.  

Joaquín Lorente (Barcelona, 1943), um dos melhores publicitários  do mundo, é o paradigma de uma vida pioneira e inovadora na evolução da criatividade e da comunicação. 
Considerado enfant terrible da publicidade, promoveu e fundou  aos 27 anos o MMLB, o mítico grupo que revolucionou a criatividade publicitária espanhola, colocando-a no primeiro plano internacional e, desde 1985, à frente do maior grupo independente de Espanha.  
Criou a imagem e incrementou várias marcas como a Osborne, a Central Lechera Asturiana, a Allianz, a Dodot, a Evax e outras que são hoje referências mundiais, como o BBVA, a Iberdrola, a Camper, a Fagor. Assessor dos presidentes Felipe González e Jordi Pujol, desenvolveu um importante trabalho docente através de várias conferências e artigos.  Como escritor, o seu Casi todo lo que sé de publicidad é o livro da especialidade mais vendido em Espanha, e no Ciudadanos de la Tierra.com propõe uma interessantíssima evolução da democracia no futuro. 
Pelo extenso trabalho criativo recebeu mais de cem prémios internacionais, de que se destacam, entre outros, Cannes, Fiap e San Sebastián, Mejor creativo de la década, Colegio de Publicitários,  Club de Creativos Españoles e do Gobierno de Catalunya.  
A sua obra criativa foi em 2006 o tema da exposição antológica «Lorente, Creador de Marcas». 

A Guerra Mortal acabou e Clary Fray, com 16 anos, está de regresso a casa,  em Nova Iorque, entusiasmada com o que  o futuro lhe reserva.  
Está em treino para se tornar numa Caçadora de Sombras e saber usar o seu poder único e a mãe vai casar-se com  o amor da sua vida. 
Os Habitantes-do-Mundo-à-Parte  e os Caçadores de Sombras estão, finalmente, em paz. E, acima de tudo, Clary já pode chamar namorado a Jace. 
Mas tudo tem um preço. 
Anda alguém a assassinar os Caçadores de Sombras que pertenciam  
ao círculo de Valentine, provocando tensões entre os  Habitantes-do-Mundo-à-Parte e os Caçadores de Sombras, o que pode levar  a uma segunda guerra sangrenta. 
O melhor amigo de Clary, Simon, não pode ajudá-la, a mãe descobriu que ele se transformou num vampiro e expulsou-o de casa. 
Para onde quer que olhe, alguém quer a sua aliança,bem como o poder da maldição que lhe destruiu a vida. E estão dispostos a fazer o que for necessário para obter o que querem. Ao mesmo tempo,namora com duas 
belas e perigosas raparigas, sem que uma saiba da outra. 
Quando Jace começa a afastar-se de Clary sem qualquer explicação, esta vê-se forçada a mergulhar num mistério cuja solução se revela o seu pior pesadelo: ela própria desencadeou uma terrível cadeia de acontecimentos  que podem levá-la a perder tudo o que ama. Até Jace. 

Cassandra Clare nasceu no Irão e passou os primeiros anos a viajar pelo mundo com a família e vários baús cheios de livros de fantasia, entre os quais As Crónicas de Nárnia. 
Mais tarde, trabalhou como jornalista em Los Angeles e Nova Iorque. Cassandra Clare vive em Massachusetts com o marido, os gatos e ainda mais livros. 
Caçadores de Sombras é o título da trilogia que começou com A Cidade dos Ossos, uma fantasia urbana povoada por vampiros, demónios, lobisomens, fadas, e que é um autêntico romance de acção explosiva. 

Em 1139, D. Afonso Henriques declarou-se rei de um novo país: Portugal. 
Mas… e antes quem estaria a viver no nosso território? 
E como viviam as pessoas nessa época?
E sabiam que Lisboa esteve quase a ser a capital de Espanha no século XVII?  
 E quando nasceu o hino nacional e a bandeira? 
Não sendo uma obra de ficção, A Minha Primeira História de Portugal, vai proporcionar muitas horas de leitura divertida aos mais novos.  
Um feito apenas possível, graças à escrita leve mas rigorosa de Sérgio Luís de Carvalho, e às divertidas ilustrações de Fedra Santos que acompanham cada página deste livro.  

Sérgio Luís de Carvalho nasceu em Lisboa em 1959.  
Licenciou-se em História (1981) e é mestre em História Medieval (1988). Profissionalmente é director científico do Museu do Pão.  Publicou os romances Anno Domini 1348 (1990; Prémio Literário Ferreira de Castro 1989; finalista do Prémio Jean Monnet de Literatura Europeia, Cognac 2004 e finalista do Prémio Amphi de Literatura Europeia Lille 2005), As Horas de Monsaraz (1997), El-Rei-Pastor (2000), Os Rios da Babilónia (2003), Retrato de S. Jerónimo no Seu Estúdio (2006), O Destino do Capitão Blanc (Planeta, 2009), Nas Bocas do Mundo (Planeta, 2010),  O Caminho dos Reis de Portugal (Planeta, 2010), e O Caminho dos Presidentes da República (Planeta, 2011). 
Alguns dos seus romances estão traduzidos e publicados em França e Espanha. É ainda autor de vários livros de investigação histórica  e literatura juvenil.

Como utilizar este livro:

As irresistíveis ilustrações de Fedra Santos vão acompanhar os jovens exploradores nas suas descobertas, por Guimarães. Para começar, vão ficar           a saber como nasceu e cresceu a cidade. 
Depois disso, estão prontos para partir à conquista da cidade e escolher os percursos a pé, dentro e fora da muralha. 
Como? É só seguir os mapas dedicados a cada percurso, ter um lápis por perto, manter os olhos bem abertos e fazer-se  ao caminho. 
Mas há mais para ver neste Guia. No final do livro, há um roteiro com locais de interesse na cidade ou perto dela, e uma lista de informações úteis para que ninguém se perca. 

Maria J. Lopes é ruiva, coisa que talvez tenha tido influência para, desde pequena, ser curiosa e gostar de conhecer o mundo.  
Gostava tanto de viajar e conhecer pequenas e grandes terras, que resolveu fazer disso a sua profissão. Agora, além de viajar, ajuda os viajantes a conhecerem melhor as cidades e terras portuguesas. 
E tem filhos que são jovens exploradores, como os deste Guia. 

Fedra Santos tem uns olhos castanhos redondos e observadores e um sentido de humor que é célebre entre os amigos. Além disso, tem o dom de ver o mundo cheio de cores. Começou a fazer desenhos nas margens dos cadernos da escola (o que lhe valeu alguns ralhetes) e nunca mais parou!  
Hoje ilustra histórias, guias e... livros escolares.

Novidade Quetzal

Bennie Salazar, antigo  punk rocker, está a envelhecer e é agora um executivo discográfico; Sasha é a sua assistente, uma jovem mulher impetuosa e cleptomaníaca.
Bennie e Sasha nunca chegarão a descobrir o passado um do outro, mas o leitor vai conhecê-lo até ao mais íntimo detalhe, bem como a vida secreta de um variadíssimo leque de personagens,  cujos caminhos se cruzam com os deles ao longo de muitos anos e muitos lugares: Nova Iorque, São Francisco, Nápoles e África.
A Visita do Brutamontes é a saga de uma geração: reflecte sobre a acção  do tempo, a capacidade de sobreviver e as mudanças e transformações quando inexoravelmente postas em movimento ainda que pelas mais efémeras conjunturas do nosso destino.
Numa arrebatadora plêiade de estilos e registos – da tragédia à sátira, passando pelo  power point –, Egan captura a corrente que nos atrai para a autodestruição, a que sucumbimos se não a soubermos dominar; a  sede de redenção de cada homem e mulher; e a tendência universal para alcançar ambas  através da acção «condutora» da arte, resistindo à impiedosa passagem do tempo. Um livro astuto, surpreendente e hilariante. 

Jennifer Egan é autora de vários romances e volumes de contos – muitos destes publicados regularmente nas revistas The New Yorker, Harper’s Magazine e GQ, entre outras. Egan cresceu em São Francisco e licenciou-se em Literatura Inglesa na Universidade da Pensilvânia.
O seu mais recente romance, A Visit from the Goon Squad, em português A Visita do Brutamontes, mereceu a aclamação da generalidade da crítica anglo-saxónica,  elevando-se ao estatuto de “o novo clássico da ficção americana”.
Jennifer Egan vive em Brooklyn com o marido e os filhos.

Novidades Asa para Abril

O verão quente de 1911 vê chegar à pacata aldeia de Cold Ash Holt dois novos e improváveis elementos. Cat Morley, a nova criada do reverendo Albert Canning e da sua mulher, Hester, vem de Londres. Habituada à azáfama da cidade, Cat é rebelde e ousada mas é também incapaz de esquecer um passado demasiado doloroso. Um passado que a ingénua Hester está disposta a aceitar mas que nunca poderá compreender. A inexperiente mulher do pároco fica ainda mais inquieta quando o marido lhe apresenta um desconhecido, abrindo as portas de sua casa não apenas a um jovem atraente e carismático, mas também a uma perigosa obsessão. À medida que a serenidade do casal Canning se deteriora, Cat inicia-se no submundo secreto da sociedade local e o magnético Robin torna-se num alvo de desejo e fascínio. O calor opressivo daquele verão parece intensificar-se e impregnar tudo e todos, e o ambiente na reitoria fica carregado de ambição, paixão e ciúme; uma mistura de emoções tão poderosa que conduz, em última instância, ao homicídio. Cem anos depois, cabe a Leah, jornalista incansável, decifrar duas enigmáticas cartas e juntar as peças de um quebra-cabeças assombroso. 

Lisboa, 1898: António Maria, jovem médico e afamado playboy, descobre que o seu pai está a morrer de sífilis, a terrível praga que afecta todas as camadas da sociedade. Órfão de mãe desde criança, António não se conforma com a ideia de perder o pai tão cedo. Mas os seus conhecimentos médicos de nada servem neste caso. Determinado a encontrar a cura, parte para Pequim, na esperança de que a medicina tradicional chinesa tenha a resposta que teima em escapar ao Ocidente. Sob a orientação do Dr. Xu, António inicia-se naquela prática ancestral. Contudo, esta não vai ser a sua única revelação a Oriente. Quando conhece a sedutora e independente Fumi, ele apaixona-se pela primeira vez.
Mas à sua volta, a violência eclode. A Rebelião dos Boxers ameaça todos os estrangeiros a viver no país. António terá de decidir-se rapidamente entre a fuga e a permanência na China, a sua segurança pessoal e a possível cura para o pai. E há ainda Fumi, o amor a que ele não tenciona renunciar e que o leva a questionar tudo, alterando irreversivelmente o rumo da sua vida. 
Equiparado a escritores como Michael Ondaatje (O Paciente Inglês) e Jung Chang (Cisnes Selvagens), Kunal Basu é um magistral contador de histórias. De Lisboa a Pequim, O Português Inquieto transporta-nos no tempo e no espaço, para nos dar a conhecer um homem cuja jornada ultrapassa não só continentes mas também os limites da ciência, da fé e do amor. 

Emily tem uma vida de sonho: uma casa maravilhosa nas colinas da Toscana, três filhos lindos, um marido gentil, e um emprego que consiste em descrever tudo isto na coluna de um jornal inglês. Mas quando o marido a deixa por SMS, ela tem subitamente de enfrentar uma nova e dura realidade: está isolada numa região rural cuja língua não domina, sem dinheiro e entregue a uma empregada doméstica psicótica. E como se isto não bastasse, Siena, a filha mais velha, está perdida de amores pelo galã da zona; Paris, a filha do meio, está perigosamente magra; e Charlie, o seu bebé fofinho, está a transformar-se num fedelho irritante. Mas o seu trajecto rumo ao desespero tem também o efeito de a aproximar da aldeia de Monte Albano, um lugar mais intenso e mágico do que alguma vez imaginou. Depois de anos a descrever uma Toscana idílica nas suas Cartas, Emily descobre finalmente a vida genuína e complexa da região… e um homem intrigante que tem para lhe oferecer a maior aventura da sua vida. 
Um romance inesquecível que prova que a vida não é um conto de fadas mas pode ser bem melhor. 

A 10 de junho de 1991, Jaycee foi raptada em frente a sua casa, enquanto esperava pela carrinha escolar. Tinha 11 anos. Os seus familiares e amigos só voltariam a vê-la 18 anos depois. Durante o seu cativeiro, deu à luz duas filhas e foi escrava dos seus raptores, o casal Phillip e Nancy Garrido. Neste duro e chocante relato, Jaycee revela tudo por que passou e o que sentiu após a sua libertação de um dos raptos mais longos da história. Phillip Garrido foi condenado a 431 anos de prisão, e a sua mulher, Nancy, recebeu uma sentença de 36 anos a prisão perpétua. “No verão de 1991 eu era uma criança normal. Tinha amigos e uma mãe que me adorava. Eu era como vocês. Até ao dia em que a minha vida foi roubada. Durante dezoito anos fui uma prisioneira. Durante dezoito anos não fui autorizada a proferir o meu próprio nome. Durante dezoito anos sobrevivi a uma situação impossível. No dia 26 de agosto de 2009 recuperei o meu nome. Não me considero uma vítima. Sobrevivi. Esta é a minha história.” 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Os Cães (Ola Nilsson)

De uma ponte que é quase uma casa e de um grupo de jovens divididos entre uma vida familiar disfuncional, um conjunto de relações algo indefinidas e a companhia do álcool como refúgio possível. Assim se poderia definir a base do que constitui este livro. E isto bastaria para deduzir que, apesar da sua brevidade, a história contada nas pouco mais de cem páginas de Os Cães será tudo menos simples. Mas, entre ligações que não são bem de amizade, mas que estão muito longe do conceito clássico de amor, interacções familiares que são de tudo menos de protecção e de ternura e de actos de convivência em que o único ponto comum parece ser a satisfação de um vício, há toda uma base de material para reflexão que torna este pequeno livro inesperadamente complexo. Mas vamos por partes.
Algo que impressiona desde as primeiras linhas é a escrita. Há uma muito interessante conjugação entre a relativa simplicidade com que o autor descreve os acontecimentos, de forma sucinta, sintética, e a forma como, também em poucas linhas, atribui às suas personagens reflexões de uma inesperada complexidade. Os temas são universais - a mortalidade, o envelhecimento e a forma como a passagem dos anos exerce mudanças sobre cada indivíduo, mas também a forma como o mundo em volta condiciona o processo de crescimento - , mas a abordagem é muito particular. Muitas das reflexões surgem a partir dos actos - inspiradas por estes às personagens, ou até evocadas pela simples narração do acontecimento. O resultado é que mesmo as situações de maior estranheza acabam por se enquadrar na perfeição no que parece ser a mensagem global.
A esta base muitíssimo bem conseguida juntam-se ainda dois outros aspectos. Um deles é o desenvolvimento das personagens, percorrendo em segmentos curtos o caminho das suas vidas e entrelaçando memórias para definir aquilo que, de bom ou mau, os define no tempo presente. O outro é a criação de momentos de grande intensidade, dos quais se destacam os descritos nas primeiras e nas últimas páginas. Estas situações de maior impacto emocional contribuem também para estabelecer um bom equilíbrio entre o lado mais introspectivo e o lado emocional que cria uma certa empatia.
Trata-se, portanto, de um livro que conjuga da melhor forma os seus múltiplos aspectos. Escrita aparentemente simples, mas com momentos quase poéticos que realçam a complexidade do conteúdo. Momentos de forte intensidade emocional a equilibrar um lado introspectivo em que as reflexões surgem dos actos. E um cenário onde o percurso das personagens que o habitam é caracterização suficiente para definir as complexidades da vida. Tudo isto faz de Os Cães uma obra impressionante. Muito bom.

Novidade Quetzal

Durante muitos anos, o grande poeta Von Humboldt Fleisher e Charlie Citrine, um jovem inflamado pelo amor à literatura, foram os melhores amigos. No momento em que morreu, Humboldt era um falhado, tornara-se pobre e só; e Citrine, por seu turno, também não se encontrava numa fase muito auspiciosa da vida: deixara de progredir na carreira, debatia-se nas malhas de um divórcio litigioso, e vivia uma paixoneta por uma jovem mulher pouco recomendável, envolvida com um mafioso neurótico. De repente, é como se Humboldt agisse a partir do além para deixar a Charlie um legado inesperado – legado esse que poderá mudar o rumo da sua vida.

Saul Bellow nasceu em Lachine, no Quebeque, em Julho de 1915. Emigrou aos nove anos com a família para os EUA, fixando-se em Chicago. Morreu a 5 de Abril de 2005 no Massachusetts. Considerado um dos maiores romancistas americanos do pós-guerra, descreve nos seus romances a complexidade social e psicológica do mundo. Influenciado pela narrativa existencialista europeia e por Franz Kafka, abordou também a problemática judaica num estilo irónico e distanciado. Foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1976. A Quetzal iniciou a publicação das suas obras com Morrem Mais de Mágoa, a que se seguiu As Aventuras de Augie March, Ravelstein, e agora O Legado de Humboldt.

Novidade Porto Editora

Está a viver o amor com que sempre sonhou?
Libby tem uma vida perfeita  com um marido maravilhoso e uma casa enorme em frente à praia. Mas, aos poucos, começa a duvidar do amor de Jack e não acredita que ele tenha realmente superado a morte da primeira mulher, Eve.
Quando o destino interfere na relação de ambos, Libby sente necessidade de conhecer melhor o homem com quem se casou e a aparentemente perfeita Eve.
A jovem esposa descobre algumas verdades assustadoras sobre aquela família. Com receio das consequências, Libby começa a desconfiar que também ela terá o destino da primeira mulher que Jack amou…
Pode um novo amor apagar uma grande paixão?

Dorothy Koomson é autora de sete romances, incluindo A filha da minha melhor  amiga (no original, My Best Friend’s Girl), Pedaços de ternura(Marshmallows for Breakfast) e  Bons sonhos,  meu  amor (Goodnight Beautiful), todos eles  bestsellers já publicados em Portugal pela Porto Editora. O seu sexto romance, Um erro inocente (The Ice Cream Girls), alcançou o número dois nas tabelas dos livros    mais     vendidos    e   recebeu uma nomeação para os  Galaxy National Book Awards de 2010.
A escritora vive na costa sul de Inglaterra, onde provavelmente se encontra encerrada no seu torreão a congeminar um novo romance.

Vencedor do passatempo A Batalha do Apocalipse

Terminou mais um passatempo e, como habitual, está na altura de anunciar ao vencedor. Obrigada aos 103 participantes que enviaram as suas respostas.


E o vencedor é...


57. Tânia Soares (Gondomar)


Parabéns à vencedora e boas leituras!

domingo, 25 de março de 2012

A Batalha do Apocalipse (Eduardo Spohr)

E ao sétimo dia, Deus descansou. Mas o repouso do deus parece estar perto do fim. O sétimo dia aproxima-se da sua conclusão e com ela virá o Apocalipse que destruirá o mundo e abrirá portas ao despertar do Altíssimo. Mas o fim do tempos não é apenas entre o deus e a humanidade: ao longo de todo o sétimo dia, foi o Arcanjo Miguel que reinou e, ante a sua aversão à humanidade, mais que uma rebelião surgiu para o contestar. Em vão. Agora, contudo, no despertar do Apocalipse, as forças em conflito parecem ter ganho novas capacidades e, entre os apoiantes do Príncipe Celeste, os demónios da Estrela da Manhã e os defensores da humanidade, liderados pelo Arcanjo Gabriel, a resolução do derradeiro conflito parece estar nas mãos de uma dupla que sobreviveu à passagem dos tempos: Ablon, Primeiro General e anjo renegado, e Shamira, feiticeira de En-dor.
Desenvolvida com grande pormenor e com uma abordagem peculiar em muitos aspectos, é provavelmente a complexidade da mitologia explorada neste livro o grande ponto forte, bem como o foco central, deste livro. Ao longo das cerca de 600 páginas deste livro, o autor aborda os passos mais conhecidos na narrativa bíblica, conferindo-lhes uma perspectiva completamente diferente, ao mesmo tempo que desenvolve, com grande detalhe, os meandros e os elos em conflito da hierarquia celestial. Isto faz com que haja muito a descrever ao longo do livro e confere-lhe, inevitavelmente, um ritmo pausado, sendo particularmente evidente na fase inicial em que as explicações e as descrições (pontos muito presentes ao longo de todo o livro) são particularmente dominantes.
Não se trata, portanto, de uma obra de leitura compulsiva. Apesar disso, há muito de interessante para descobrir. Sendo baseado num conjunto de facções em conflito, as personagens enquanto entidades individuais, têm, por vezes, um desenvolvimento secundário ao do conflito global, mas são elas que, nos grandes momentos, criam os momentos mais intensos e as situações mais emotivas. Afinal, apesar das vastas batalhas e da ascensão e queda de civilizações, muitas das grandes mudanças acabam por envolver alguma intervenção dos dois protagonistas e, por isso, Shamira e Ablon acabam por se tornar gradualmente familiares, despertando, aos poucos, a simpatia do leitor que os acompanha.
Apesar do ritmo lento e do foco nos desenvolvimentos mais globais dos conflitos, nem só dos protagonistas vive o lado emotivo do enredo. As intervenções de personagens como Amael, Sieme e, em particular, Gabriel, criam também bons momentos de empatia, complementando de forma cativante uma história que, por vezes, se distancia dos indivíduos para se centrar nos acontecimentos.
Complexo no desenvolvimento do sistema que apresenta, cativante pela abordagem peculiar a alguns mitos bastante familiares e crescendo em intensidade com o evoluir da narrativa que culmina num final particularmente forte, a impressão que fica deste A Batalha do Apocalipse é, em suma, bastante positiva. Com muitos pormenores para descobrir no sistema que suporta a narrativa, um livro que se lê a ritmo lento, mas que nunca deixa de ser envolvente. Gostei de ler.

sábado, 24 de março de 2012

Ama-me sem me suportares! (Fátima Marinho)

Do amor nas suas múltiplas vertentes falam os poemas (e conto) que constituem este livro. De ternura e de esperança, mas também de perda e de saudade, do amor romântico e dos afectos para lá do romance... de todos os conceitos e ambiguidades, em suma, que foram a definição dessa vasta entidade que é o amor. E há em cada poema algo de belo para descobrir, algo de surpreendente pela peculiaridade das imagens, mas, em simultâneo, familiar na intensidade dos sentimentos.
É precisamente na forma como imagens invulgares se fundem com sentimentos que são quase universais que está o melhor deste livro. Muitos dos poemas são breves, relativamente simples, mas todos, dos mais curtos aos mais elaborados, um ponto em comum: todos transmitem uma imagem nítida e completa, e todos apresentam o amor como sentimento genuíno. É isto que define, aliás, a unidade que transparece ao longo de todo o livro. Com o amor como tema, mas sendo este explorado nas suas inúmeras vertentes, há algo de diferente em cada poema, define-se, dentro da relativa diversidade dos sentimentos explorados, uma linha de unidade ao longo de todo o livro. Afinal, da saudade de alguém que partiu à esperança de partilhar, uma dia, um mundo melhor, acaba por ser, ainda e sempre, o amor o ponto de partida para esses sentimentos.
Trata-se, portanto, de uma poesia de afectos, mas também de imagens muito próprias. Mesmo no mais breve dos poemas, há uma imagem que marca pela sua natureza particular, complementando com um toque de invulgar a universalidade do sentimento que serve de mote. A impressão que fica é, por isso, a mais positiva e este é um livro que não posso deixar de recomendar.

sexta-feira, 23 de março de 2012

O que o Dia deve à Noite (Yasmina Khadra)

Younes não é mais que um rapaz quando um incêndio rouba à família tudo o que tinham, obrigando-os a partir para Orão em busca de uma forma de reconstruir a vida. Mas Orão é uma cidade de contrastes e o lugar que os espera não está na zona próspera, mas antes no miserável ambiente de Jenane Jato. Aí, Younes crescerá entre a miséria e uma vaga noção de um quotidiano tudo menos normal... até ao dia em que o azar volta a atingir a sua família. Então, até mesmo o seu pai demasiado orgulhoso terá de compreender que, consigo, Younes nunca será nada. E, para o rapaz, o caminho estará com o tio e a sua esposa, numa jornada de crescimento que o tornará, talvez, mais capaz de alcançar um futuro, mas também mais dividido entre as suas origens e o mundo em que terá de crescer.
Este é, acima de tudo, um livro de contrastes. Da diferença entre as zonas ricas e as zonas miseráveis de Orão, do que separa os árabes dos franceses, da Argélia antes e depois do conflito pela independência... e de Younes, enquanto jovem, depois como adulto e, por fim, no ocaso da vida. É das mudanças que o tempo e a miséria opera sobre lugares e sobre pessoas que se define o essencial deste livro e o resultado é uma história em que o aspecto mais pessoal - a história da vida das personagens - se conjuga na perfeição com a vastidão de uma narrativa que caracteriza também a história de um lugar ao longo do tempo.
Poder-se-ia dizer que este livro se constrói como dois mundos que se acompanham no tempo, já que a história do crescimento de Younes se liga de forma impressionante com as mudanças operadas na Argélia (sendo que o próprio protagonista acaba por ter um pequeno papel a desempenhar nestas mudanças). É Younes o foco e o seu crescimento é a linha principal de todo o livro: a necessidade de viver com a miséria, o crescimento com todas as amizades e conflitos, até mesmo as relações amorosas, com todos os seus desafios e impossibilidades... É Younes o protagonista e é dele a voz que narra a história. Mas Younes é também um fruto do seu tempo e a caracterização da vida em seu redor, com todas as mudanças que vão ocorrendo, proporciona uma visão muito precisa dos tempos em que decorre a narrativa.
Com uma escrita que, equilibrada entre a acção e a emoção, resulta numa belíssima viagem a um mundo em mudança, este é um livro que conjuga na perfeição a jornada de uma vida e a jornada de um lugar, ambos num caminho que é crescimento, mas também luta e sofrimento. A história de Younes e a história da Argélia fundem-se numa narrativa que é intensa, profunda e marcante. E o resultado é muito, muito bom.

Novidade Esfera dos Livros

Este é um livro íntimo e corajoso que vai para além da solenidade das fotografias oficiais, do sorriso hierático, do protocolo da corte e também das biografias canónicas, para chegar, pela primeira vez, ao território desconhecido e misterioso que é a alma de Sofia. Uma mulher fria por fora, mas apaixonada por dentro, com uma infância difícil, uma juventude atormentada e um longo amadurecimento cheio de momentos de felicidade plena, mas também de enormes decepções e sofrimentos. Esta biografia apresenta dados inéditos e personagens interessantes, mostra-nos uma rainha que alcançou a pulso, com grandes sacrifícios e um elevado custo pessoal, o lugar que ocupa na História de Espanha, mas cuja vida privada não lhe trouxe a felicidade que todo o ser humano merece. Princesa de um país pobre e marginal, conheceu a fome, o frio, os ratos... No exílio mais duro de um mundo em chamas, cresceu ao lado de uns pais de personalidade surpreendente, apaixonou-se por quem não a quis, casou com quem devia e lutou como uma fera ao lado do seu marido num período vibrante e perigoso do passado de Espanha para conseguir ocupar o trono. Valeu a pena? O preço foi demasiado alto? A Solidão da Rainha aborda a vida de Sofia em profundidade, com respeito, mas também de bisturi na mão, com a intenção de trazer mais luz sobre uma vida apaixonante, com a qual iremos rir, chorar, indignarmo-nos e admirarmo-nos e também inteirarmo-nos de factos incríveis, que parecem não caber numa só vida humana.

PILAR EYRE (Barcelona) estudou Filosofia e Letras e Ciências da Informação. Exerceu jornalismo como colunista, entrevistadora e repórter em vários jornais e revistas (Hoja del Lunes, Mundo Diário, La Vanguardia, Interviú, El Periódico de Catalunya e El Mundo, entre outros) e colaborou também em diversas emissoras de rádio e televisão. É autora de vários livros, entre os quais cabe destacar: Dos Borbones en la corte de Franco, Segredos e Mentiras da Família Real Espanhola, Todo empezó en el Marbella Club e Callejón del olvido, que foi adaptado ao teatro, e a biografia Quico Sabaté, el ultimo guerrillero, que deu origem a um filme e um documentário.

Novidade Porto Editora

Um homem  muda de tudo: muda de mulher e de partido, muda de religião e até de sexo – muda daquilo que quiser, menos de clube de futebol. Miguel João Barcelos mudou. Atrás, tem dois casamentos fracassados, uma monótona carreira de profissional de seguros e uma longa história de serões passados ao lado do pai, chorando algumas das mais belas e irresistíveis derrotas do Sporting. Agora, começou a sofrer pelo Benfica. E é quando se prepara para confessar o seu crime que vê entrar em cena uma misteriosa executiva de saltos altos, determinada a virar do avesso todas as certezas sobre as quais esperava erguer o seu projecto de nascer de novo.     
Um fresco sobre a solidão que é, ao mesmo tempo, uma viagem ao coração dos homens e um tributo ao indecifrável poder das mulheres. Dez anos depois de O Citroën que Escrevia Novelas Mexicanas, Joel Neto regressa à ficção – e para ficar.

Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil. O seu primeiro romance,  O Terceiro Servo, foi objecto de tese de doutoramento na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, no Brasil. O Citroën que Escrevia Novelas Mexicanas, que publicou a seguir, foi adoptado como leitura obrigatória pela Universidade dos Açores. Vive entre o coração de Lisboa e a Terra Chã, freguesia rural da ilha Terceira, onde cresceu, e desenvolve há mais de uma década intensa actividade como cronista em alguns dos mais importantes jornais portugueses. Na Porto Editora tem publicado Banda Sonora para um Regresso a Casa(2011), uma seleção das suas melhores crónicas publicadas entre o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Balada dos Homens que Sonham

Como um breve conjunto de contos que pretende ser um ponto de partida para um projecto mais vasto se poderia definir esta antologia. É, aliás, assim que António Quino, o organizador, a apresenta na sua Introdução, prosseguindo em Conversas de Homens no Conto Angolano com uma reflexão sobre o que define o conto enquanto género literário e a linha que une os contos desta antologia, numa exposição clara e, contudo, algo poética, que promete muito de bom para os contos que se seguirão.
E o primeiro conto é O Caminho do Meu Pai, de Timóteo Ulika. História de um homem em fuga e da sua importância numa família que regressa ao quotidiano, este conto breve e relativamente simples marca pela reflexão sobre como, após cada perda, a rotina acaba sempre voltar. Rotina essa que se interliga com o percurso de aprendizagem do narrador a partir daquilo que observa. Do mesmo autor, segue-se A Morte de Satito, história de uma execução. Neste conto, impressiona particularmente a descrição da crueldade, feita com uma simplicidade que lhe potencia o impacto. Mais uma vez, a forma simples e directa de apresentar as coisas acaba por as tornar mais reais.
De Eduardo Bettencourt Pinto surge o conto Balada ao Pai. Tendo como ponto de partida o homem que percorre as memórias do pai doente, este conto, também breve e simples, surge com o ritmo irregular das memórias, numa reflexão sobre a efemeridade da vida.
A Derrota Repetida em Ombandia, de E. Bonavena, apresenta um homem que sonha com as mulheres amadas. Descritivo, com um toque de surreal na forma como os desejos se entrelaçam com a realidade, é, no essencial, um conto introspectivo, com algo de ambiguidade, mas cativante e com uma escrita quase poética.
Em Casa de Orates, José Luís Mendonça fala de uma casa feita de nada e da mulher que nela reina. Curioso pelas particularidades das figuras que apresenta e marcante pela simplicidade com que o faz, um conto curto e simples, mas surpreendente.
Histórias e Memórias Desancoradas, de António Fonseca, trata das memórias de um grupo e dos sonhos que o tempo levou. Introspectivo, em tom de nostalgia, esta história é feita, em grande parte, dos pequenos fragmentos que definem a memória, funcionando como uma reflexão sobre a imprevisibilidade do futuro. Por sua vez, Sandumingu, de Frederico Ningi, fala de um nome e do homem que o usa. Ritmo e estrutura peculiares fazem com que o enredo seja difícil de seguir, ficando a impressão de não haver propriamente uma linha narrativa, mas antes o que parece ser uma sucessão de fragmentos. O resultado é uma vaga impressão de estranheza.
Seguem-se dois contos de João Tala. Josefa Confissão fala de uma mulher e das vozes dentro de si. Com um início algo confuso, mas envolvente a nível de escrita, tem como ponto forte a ideia interessante em que algo de estranheza e um toque de surreal servem de base para o que culmina num final particularmente bem conseguido. Ua Sasuama, por sua vez, apresenta a história de um homem manipulado pelas intrigas de uma mulher. Envolvente, tendo como base uma situação curiosa que é desenvolvida de forma intrigante, tem os seus momentos caricatos, mas é, na globalidade, um conto interessante.
Também Zetho Cunha Conçalves tem dois contos nesta antologia. O primeiro é O Inferno e a Morte na Palma da Mão, história de um sobrevivente da guerra. Breve, directo e preciso, trata-se de um curto mas impressionante retrato da vida em tempos desolados. Samira Rosa e a Crítica Física trata de um tema bastante diferente: da vida íntima de um casal e de uma forma peculiar de dizer não. Curioso, tendo como base uma situação algo caricata, começa por ser um pouco confuso, mas cresce em envolvência para culminar num final bastante... esclarecedor.
Conversas de corpos e almas entre um homem e uma mulher são o que define O Corpo no Cabide, de José Eduardo Agualusa. Ambíguo, introspectivo, mas cativante, quer a nível das reflexões, que da história que nelas se entretece, trata-se, em suma, de uma história interessante e muito bem escrita.
Segue-se A Nova Sociedade, de Carmo Neto. Aqui, a história é a da ascensão e queda de um homem político, numa narrativa cativante e interessante, principalmente enquanto reflexão sobre a diferença entre promessas e realidades e a curta distância que separa o sucesso do infortúnio. Do mesmo autor, Mana Carocha Malmequer trata de uma mulher que espera o amado. Breve, deixa a impressão de que tudo acontece demasiado depressa. A ideia é interessante, ainda assim.
Catrapus, de Roderick Nehone apresenta um caso peculiar de empreendedorismo. Algo caricato, mas cativante quer pela ideia quer pela forma como esta é desenvolvida. Também aqui o final é... peculiar. Também do mesmo autor, mas num registo bem mais sério, Aquelas Botas Novas surge como a história de alguém que espera pelas botas de um homem morto. Breve, mas intenso, este conto marca pela forma directa de descrever a situação, conferindo-lhe um maior impacto, num caso que culmina com um perfeito rasgo de justiça poética.
Seguem-se outros dois contos, desta vez de Albino Carlos. A Violação é, como o título indica, a história de uma mulher violada enquanto, em redor, o mundo dorme. Aqui, descrições precisas de uma situação perturbadora criam um poderoso contraste entre a violência do acto e o silêncio do mundo em volta. Por sua vez, O Dia em que Nós Exterminámos os Bruxos relata a longa marcha e o último dia de um grupo de prisioneiros. Mais extenso, com um ritmo pausado e bastante descrição, este conto apresenta a descrição, com todos os pormenores, do lento caminho para a morte. Caminho que culmina num final marcante.
Em O Velho e a Lareira Tardia, de Ondjaki, um homem à beira da morte contempla o fogo. Num estilo de escrita muito próprio, a história aqui construída é simples, mas quase terna e com muito de introspecção e nostalgia. Também de Ondjaki, Dentro: Esse Lugar... é um texto ainda mais breve, quase que apenas divagação sobre uma viagem interior. Poético e introspectivo, um texto curto, mas de grande beleza.
Por último, dois contos de Gociante Patissa. Um Natal com a Avó apresenta uma mulher do campo em visita à cidade, realçando as diferenças entre meios, gerações e mentalidades, num conto algo caricato, mas interessante. Por sua vez, A Última Ouvinte conta a história de um locutor que se apaixonou por uma ouvinte do seu programa. Cativante história de ilusões e realidades, do contraste entre a voz e o corpo que a comanda e de uma busca que é tanto por alguém como pelo próprio ser, um conto envolvente e com um final comovente.
Percorridos diferentes temas, registos e estilos de escrita, a impressão que fica da leitura desta antologia é a de uma obra que marca, em primeiro lugar, pela diversidade apresentada. Alguns contos são mais marcantes que outros. De algumas histórias fica a curiosidade em saber mais. Apesar de tudo isto, o ponto mais forte desta antologia é a possibilidade de ver, nos vários contos que a constituem, uma pequena parte do muito que há a descobrir na literatura angolana. E mesmo que fosse só por isso, já valeria a pena ler.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Isoforma (Rita Dinis)

Um ano em Paris, sem conhecimentos prévios e com poucos conhecimentos da língua francesa, poderia ser considerado como desafio suficiente para a introvertida Maria, estudante de medicina. Mas as dificuldades de assistir a aulas e fazer exames num idioma que lhe é tudo menos familiar tornam-se menores quando Maria testemunha uma situação estranha que, involuntariamente, lhe revela a existência de um mundo para lá do que conhece. É que, quando os seus caminhos se cruzam com os do misterioso David Henshaw, Maria acaba por compreender que aquilo que viu não foi uma ilusão e que o conhecimento da existência de outra espécie poderá comprometer a sua sobrevivência...
Tendo os vampiros como ponto central e uma protagonista que se interessa demasiado por um deles, é curioso ver que o que, por vezes, parece ser uma insinuação de romance, acaba por não ser, de forma alguma, o foco da narrativa. Da interacção entre Maria e David, que é, de facto, a essência da história, surge, mais que uma ligação romântica definida, uma ambígua mistura de afecto e empatia, mas também uma percepção bastante clara de que são seres de mundos diferentes. 
Neste aspecto, torna-se particularmente interessante a forma como a autora conjuga as características predatórias do vampiro clássico com a ideia de uma sociedade feita de regras inflexíveis e ainda com o melhor do que define o vampiro humanizado: a capacidade de empatia e os dilemas interiores. Os vampiros deste livro são, de facto, predadores e isto vem criar um interessante contraste para a estranha relação que, ao longo da história, se cria entre vampiro e humana. Relação que não é romance, pelo menos para já, mas que também está longe da típica interacção entre um predador e a sua presa.
Sendo este o primeiro volume de uma série, é natural que fiquem algumas perguntas sem resposta. Quer a nível do sistema da sociedade vampírica, que é desenvolvido apenas a partir do ponto de vista de Maria, mas que parece ter potencial para muito mais, quer na forma como a situação entre os protagonistas se conclui, tudo indica que esta história é apenas o início de uma aventura com muito para explorar. Apesar disso, os acontecimentos deste livro ficam, no seu essencial, resolvidos. Ainda que haja um seguimento para a história, a história deste livro funciona bem por si só.
Não há propriamente uma fuga às características próprias dos vampiros, nas abordagens mais familiares ao tema. Há, sim, uma conjugação do melhor que há nas diferentes abordagens, resultando num conjunto de personagens cativantes que dão forma a uma história envolvente e com um bom equilíbrio de acção e emoção. Gostei.

Novidade Sextante

Esta edição reúne num mesmo livro dois dos mais elogiados escritos de Teolinda Gersão: a novela Os teclados (de 1999, que recebeu o Prémio Fernando Namora e o Prémio da Crítica da Associação Internacional dos Críticos Literários) e o livro de contos O mensageiro e outras histórias com anjos (2003). Sobre o último, Christophe Tison escreveu na Cosmopolitan: «Este livro é tão breve que, se o resumirmos, tudo ficará dito. Tudo, excepto a incrível poesia, a incrível linguagem de Teolinda Gersão. Este pequeno livro é um grande romance. Muito tempo depois de o termos fechado, ouvimos a voz de Ilda, gostaríamos  de levá-la connosco e continuar a ouvi-la. É essa a marca das  obras-primas.» 

Teolinda Gersão  estudou nas universidades de Coimbra, Tübingen e Berlim, foi leitora de português na Universidade Técnica de Berlim e professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, onde ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada. A partir de 1995 passou a dedicar-se exclusivamente à escrita literária. Viveu três anos na Alemanha, dois anos em São Paulo, Brasil, e conheceu Moçambique, onde se passa o romance A árvore das palavras (1997). É autora de 12 livros de ficção, traduzidos em 11 línguas. Foram-lhe atribuídos os seguintes prémios: por duas vezes o Prémio de Ficção do PEN Clube (O silêncio, 1981, e  O cavalo de sol, 1989), o Grande Prémio de Romance e Novela da APE (A casa da cabeça de cavalo, 1995), o Prémio Fernando Namora (Os teclados, 1999), o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco (Histórias de ver e andar, 2002), o Prémio Máxima de Literatura (A mulher que prendeu a chuva e outras histórias, 2008), o Prémio da Fundação Inês de Castro (2008). Três dos seus livros foram adaptados ao teatro e encenados em Portugal, Alemanha e Roménia. Foi escritora-residente na Universidade de Berkeley em 2004. O seu romance mais recente é A Cidade de Ulisses (Sextante Editora, 2011). 

terça-feira, 20 de março de 2012

No Calor dos Trópicos (Flávio Capuleto)

Vivem-se tempos conturbados no nordeste brasileiro. As mudanças na legislação e a consequente quebra na produção de café fazem com que o ambiente entre os colonos portugueses seja algo conflituoso e a incompetência do cônsul português faz com que o rei D. Luís tenha de nomear um substituto. Para o Dr. Bragança, que, sem saber bem como, se viu envolvido num caso amoroso que o pode levar a ser julgado por adultério, a nomeação é uma oportunidade de ouro que o médico aceita sem hesitar. Mas a partida para o Brasil está longe de ser a solução para os seus problemas: as condições deploráveis que encontra nas fazendas e a sua posição abolicionista cedo lhe conquistam inimigos e quando a sua amante convence o marido a continuar os seus negócios no Brasil para assim poder manter a relação amorosa com o novo cônsul, o caminho para a vingança parece ser inevitável.
História de amor extra-conjugal e da vingança de um homem traído, mas também retrato preciso do Brasil nos tempos da abolição da escravatura, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela forma como a história pessoal das personagens se conjuga com a caracterização do contexto histórico  em que decorre a narrativa. São tão importantes para o enredo os acontecimentos que definem a relação secreta (ou não tão secreta) de Leonor e de Afonso como a forma como os momentos que conduzem à mudança global. A própria jornada de Afonso na sua descoberta do que verdadeiramente acontece nas fazendas, com a sua intervenção num julgamento e a constante fidelidade aos princípios que defende serve como base para um retrato bastante nítido e completo do tipo de conflito que se viveria à época.
Ao contexto histórico bem desenvolvido e a uma escrita envolvente junta-se um conjunto de personagens bastante interessantes. Sendo o triângulo amoroso - se tal se lhe pode chamar - o foco central, é na relação entre Leonor, João e Afonso que o essencial das suas personalidade se definem. Seria interessante, aliás, ver um pouco mais das personalidades destas figuras para lá da linha em que os seus caminhos se cruzam. O essencial está lá, ainda assim, e o desenvolvimento deste trio, com todas as suas diferenças e contrastes, completa-se com a intervenção de algumas personagens secundárias que, em certa medida, permitem uma visão mais completa dos protagonistas, já que também as suas interacções com os que os rodeiam servem para os definir.
Trata-se, portanto, de um livro cativante e de leitura agradável, interessante pela história das suas personagens (que culmina num final particularmente marcante), mas acima de tudo pela boa caracterização do período de mudança em que decorre. Uma boa leitura, em suma.

Novidade Porto Editora

No coração da tempestade que devastou Nova Orleães, uma dezena de personagens enfrenta a fúria dos elementos, mas também a sua própria escuridão interior. Que resta ao ser humano quando as suas referências morais e sociais desaparecem por entre o caos e o medo de um cenário apocalíptico? Com  Furacão, Laurent Gaudé oferece-nos uma espécie de ópera em que os solos das personagens se unem num amplo coro que nos transmite o grito da cidade abandonada à sua sorte. A gravidade da tragédia funde-se com a serenidade da fábula, para exaltar a fidelidade, a fraternidade, a comovente beleza dos que, apesar de tudo, permanecem de pé.

Laurent Gaudé nasceu em Paris em 1972. Dramaturgo e romancista, obteve em 2004 o Prémio Goncourt com o romance O Sol dos Scorta. Publicado em 34 países, tem também traduzidos em Portugal os seus livros A Morte do Rei Tsongor (2002), Eldorado (2006) e Noite Dentro, Moçambique (2007), além de A Porta dos Infernos (2008), já publicado pela Porto Editora.