segunda-feira, 30 de julho de 2012

A Sereia (Carolyn Turgeon)

Tudo indica que a guerra esteja iminente entre os reinos do Norte e do Sul. Foi essa a razão que levou o rei do Norte a enviar a sua filha Margrethe para um convento, onde o anonimato lhe permitisse ficar segura. Mas a tranquilidade dos dias da princesa é abalada na noite em que uma sereia emerge das águas com um homem ferido nos braços. Passam apenas alguns instantes antes que a sereia desapareça, mas bastam para Margrethe se convença de que aquele homem ali deixado e a ordem da sereia para que o salve têm uma razão de ser. E mais certezas ganha quando descobre a identidade do estranho. Mas, enquanto Margrethe se lança no seu plano para impedir a guerra, movida tanto pelo desejo de paz como pela vontade do seu coração, também a sereia sacrifica parte de si pelo belo estranho. Pois a razão do salvamento não era bem a que Margrethe imaginava... e nem só o seu coração anseia pelo desconhecido.
Sendo este livro, na sua essência, uma recriação do conto A Pequena Sereia, não é nenhuma surpresa que os principais acontecimentos da história não sejam propriamente difíceis de prever. Ainda assim, a autora consegue criar uma versão própria da história. Envolvente, com uma escrita fluída e agradável e uma descrição particularmente cativante do ambiente, a história é contada de forma directa, sem grandes elaborações, mas com o toque certo de magia e uma boa dose de emoção.
Contada dos pontos de vista da princesa e da sereia, a narrativa centra-se, em grande medida, nestas duas personagens. Assim, a nível de caracterização de personalidades e até das relações criadas entre personagens, grande parte do enredo gira em torno de Lenia e Margrethe. Assim, cria-se uma certa proximidade com estas duas personagens, já que as suas motivações e experiências complementam a sua natureza para criar uma boa relação de empatia. Há, contudo, uma contrapartida: personagens que são, também, relevantes para o enredo, como é o caso do príncipe Christopher, acabam por ser desenvolvidas apenas através do que as duas mulheres vêem, deixando muito por dizer sobre as suas próprias vivências e personalidades.
Há, também, um grande potencial a nível de mundo e que acaba por ser desenvolvido de forma muito abreviada. A história funciona bem, na sua simplicidade, e a leitura nunca deixa de ser envolvente, mas há uma base interessante no mundo das sereias e nos conflitos entre os dois reinos, que acaba por funcionar como um elemento muito secundário na história, apesar de ter potencial para um desenvolvimento bastante mais vasto.
Esta é, portanto, uma história muito simples, em que o mundo apresentado e as suas muitas potencialidades são simplesmente a base para uma história que vive essencialmente das suas protagonistas. Mas, mesmo assim, e apesar da curiosidade que fica em saber mais sobre o ambiente e as personagens deixadas por desenvolver, A Sereia revela-se, na leveza da sua história, como uma leitura envolvente, com duas protagonistas cativantes e alguns momentos enternecedores. Gostei de ler.

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