domingo, 19 de agosto de 2012

Nove Semanas e Meia (Elizabeth McNeill)

Tudo começou com uma troca de palavras com um desconhecido, mas rapidamente evoluiu para um contacto mais íntimo. Durante pouco mais de nove semanas, uma mulher deixou-se envolver numa estranha relação, obsessiva, disfuncional, ditada pelas regras da submissão e do prazer pela dor. Percorrendo as memórias desse período, este livro acompanha as mudanças na relação entre os dois protagonistas e a forma como os limites da narradora são testados, à medida que ela analisa o seu companheiro e a sua própria percepção do que está a acontecer, deixando-se, ainda assim, conduzir até ao limite.
Este é um livro que deixa impressões contraditórias. Relativamente breve e escrito de forma cativante e sem grandes elaborações, apresenta uma história envolvente, apesar de uma boa medida de estranheza no que toca à relação apresentada. Há, também, um toque de mistério na forma como a narradora conta a sua história, insinuando desde cedo o rumo que a relação tomará, mas deixando os acontecimentos que confirmam a profundidade do seu envolvimento para serem explorados de forma gradual. A estes acontecimentos, que acabam por ser o centro do livro (os pequenos passos e as rotinas são abordadas de forma muito breve), juntam-se longas e detalhadas análises dos comportamentos e do estilo de vida do homem com que a narradora se relaciona, criando um contraste entre uma vida que parece ser definida por disciplina e austeridade e o mundo (aparentemente) sem limites da relação que se estabelece entre ambos.
Se a escrita directa parece ser adequada ao tipo de história que está a ser contado, já no enredo em si fica a sensação de que falta informação. A complexidade da relação entre os protagonistas é explorada até ao limite, particularmente no tipo de actos a que a narradora é capaz de se sujeitar para agradar ao companheiro (dúvidas e imposições incluídas), mas as razões e as características que os levam a viver tão intensamente aquele tipo de relação nunca são realmente abordadas. Há traços de personalidade que são analisados ao pormenor - os que, de alguma forma, se manifestam no contacto entre ambos - mas tudo o resto (vida anterior, relações com o mundo, razões para as escolhas que fazem) é deixado em aberto. Em tudo o resto para lá da estranha relação que os une, as personagens são um enigma.
O mais interessante neste livro acaba por ser a forma como reflecte sobre a obsessão e a dependência em que a narradora acaba por cair, dispondo-se a fazer tudo o que for necessário para satisfazer a vontade do companheiro. É esta a base para alguns dos momentos mais intensos - e também de maior estranheza - de todo o livro, e serve também como ponto de partida para uma interessante reflexão sobre uma certa necessidade de deixar para trás o controlo e as responsabilidades da vida "normal". 
Ficam, portanto, sentimentos ambíguos desta leitura. Na sua abordagem à dependência e à submissão enquanto estranha forma de liberdade, proporciona algo de relevante sobre que reflectir, ao mesmo tempo que apresenta uma história cativante, apesar da sua relativa estranheza. Seria interessante, ainda assim, saber um pouco mais sobre o que move e o que define as personagens para lá da relação entre ambos - e é neste aspecto que fica a sensação de que falta qualquer coisa. Uma leitura interessante, ainda assim.

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