quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Confissões de um Jovem Escritor (Umberto Eco)

Dos métodos e das ideias criativas, da eterna capacidade de emocionar das personagens ficcionais, do que separa ou aproxima o autor do leitor e, por fim, da construção de listas enquanto imagem do interminável. São estes os principais temas das quatro palestras que constituem este livro em que, juntando o pessoal ao académico, o autor percorre a sua forma de criar e recorda o seu trabalho, ao mesmo tempo que analisa alguns aspectos essenciais da criação literária. O assunto é, pois, bastante interessante e também o são muitas das ideias do autor. 
Se cada palestra se debruça sobre diferentes aspectos da produção literária, também o tom é diferente em cada um deles. As primeiras, mais referentes ao método criativo e ao papel do autor, têm mais de pessoal, e, por isso, o tom é bastante mais descontraído, havendo um toque de humor a conferir uma certa leveza aos pontos de vista apresentados. Há algumas ideias, por vezes, que parecem um pouco mais extremas (como quando o autor descarta certas posições como desculpas de autor sem talento), mas a ideia geral é muito interessante e é fácil reconhecer a paixão do autor pela obra, bem como admirar a forma meticulosa como esta é construída.
Nas outras duas palestras, o tom predominante é mais académico. Surgem mais termos que são menos familiares ao leitor comum e uma multitude de referências pouco familiares ao leitor comum. O artigo das listas é particularmente extenso neste livro e os exemplos citados pelo autor são longos, o que torna o texto um pouco cansativo. Ainda assim, também neste artigo mais pausado e mais denso é possível vislumbrar algo de paixão - a paixão do próprio autor pelas listas - o que acaba por cativar um pouco. Além do tema, claro, que não deixa de ser interessante.
Em todos os textos, o autor recorre a exemplos dos seus próprios livros para contextualizar a sua abordagem. Isto leva a que, mesmo quando o tom é mais académico e distante, haja um lado pessoal a surgir, o que torna mais fácil acompanhar os pontos de vista do autor. Há, ainda, um interessante "efeito secundário", já que esta breve retrospectiva a alguns aspectos dos seus romances, desperta também a curiosidade em ler ou reler esses mesmos livros.
Há, portanto, uma abordagem diferente consoante os diferentes temas escolhidos para estas palestras. E, quer na bem-humorada e pessoal aproximação aos temas que dizem respeito ao seu próprio método, quer no tom mais denso dos temas mais académicos, os pontos de vista do autor nunca deixam de ser interessantes. Uma boa leitura, pois, para quem aprecia a obra de Umberto Eco, e um livro que vale a pena ler.

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