quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sensibilidade e Bom Senso (Jane Austen)

Inesperadamente privadas, pelo meio-irmão, dos meios a que estavam habituadas, a senhora Dashwood e as suas três filhas vêem-se obrigadas a partir para uma residência mais modesta em Devonshire. Facilmente se enquadram na vida social do seu novo ambiente, mas, para as duas irmãs mais velhas, a situação traz complicações imprevistas, tão diferentes como as suas respectivas personalidades. Elinor, a mais sensata, sofre com resignação a perda de Edward Ferrars, por quem sentia afecto, mas cuja família a olha com desdém. Marianne, emotiva e impulsiva, cedo se descobre enlevada por John Willoughby, aparentemente perfeito em todos os aspectos, mas de intenções dúbias. E, entre a agitação de uma vida social que vive mais de aparências que de acções, as duas irmãs encontrarão destinos bem diferentes na inconstância das suas vidas. Suportadas, ainda assim, pelo afecto que as une.
Bastante centrado na caracterização do ambiente e da sociedade da época, mas até do que na história pessoal das protagonistas, dificilmente se poderá considerar este livro como uma leitura leve ou compulsiva. Bastante descritivo, quer a nível de hábitos, quer de locais, quer ainda de relações e de conversas, o enredo evolui a um ritmo muito pausado. Além disso, ainda que seja fácil reconhecer em Marianne e Elinor as protagonistas, nem sempre a história delas surge como o centro da narrativa. Principalmente na fase inicial, há uma dispersão entre diferentes figuras, ambientes e hábitos sociais, o que, associado à extensa caracterização de outras personagens mais ou menos relevantes, torna a leitura um pouco cansativa.
Com o evoluir do enredo, a leitura torna-se mais interessante. Primeiro, porque, assimiladas as muitas e longamente descritas particularidades da sociedade e das personagens, é, agora, mais fácil reconhecer o que as define individualmente. Mas, e principalmente, porque as protagonistas ganham destaque, e porque a sua história evolui não só num sentido de maior compreensão pessoal, mas para elementos de maior intensidade emocional. Toda a situação em torno dos romances de ambas as irmãs, ainda que sempre referida com a expectável ambiguidade, cresce num sentido de um maior drama, de situações de maior intensidade. E, em resultado disto, de maior empatia.
A partir deste ponto, as personagens tornam-se mais próximas e a leitura bastante mais fluída. E é também a partir daqui que se revela o mais interessante das personagens. É que, definidas desde o início por algumas características, e depois postas em causa por algumas acções, tudo muda com algumas grandes revelações e um ou outro pequeno gesto. No final, a impressão que fica é a de um crescimento das personagens - e, nalguns casos, da redenção possível. E acaba por ser esse percurso o que mais marca.
O que fica deste livro é, assim, em primeiro lugar, um longo e completo retrato da sociedade que apresenta, e depois a impressão de uma história que, um pouco dispersa a princípio, acaba por cativar, pelas suas protagonistas, e por surpreender, nos seus melhores momentos. Interessante, pois.

1 comentário:

  1. Já li este livro há algum tempo. O teu comentário avivou algumas memórias e concordo plenamente.
    É um livro interessante mas não o considero o mais notável da obra de Jane Austen.

    Boas leituras.

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