sábado, 31 de março de 2018

A Mighty Dawn (Theodore Brun)


Hakan é o Filho Eleito, herdeiro do senhor de Vendlagard e um guerreiro corajoso, apesar das suas limitações. E embora essa forma de vida implique inevitavelmente guerras, Hakan tem uma espécie de felicidade na casa do pai e um amor que, embora ainda secreto, está cheio de promessas. Mas tudo muda com uma profecia e a revelação de alguns segredos. E, despido de tudo quanto ama, Hakan dá por si sem outra opção que não virar costas à sua antiga vida e começar de novo – quebrado, só e em busca de algo que não consegue identificar. Torna-se o estranho e precisa de encontrar um novo senhor a quem servir. Mas, quando o fizer, mais batalhas o aguardam.
Um dos aspectos mais impressionantes deste livro é a fascinante harmonia entre as vulnerabilidades pessoais, as complexidades da guerra e das relações políticas o elemento sobrenatural que parece vaguear pela história. Há em tudo isto uma complexidade global e, no entanto, tudo parece encaixar num equilíbrio perfeito. Tudo é importante e tudo é intrigante. E é impossível resistir a mergulhar de cabeça neste mundo e ficar fascinado pela longa e árdua viagem de Hakan em busca do seu lugar no mundo.
É também uma mistura bastante impressionante de história e de fantasia. E, embora haja algumas semelhanças, este livro é muito mais do que uma Guerra dos Tronos nórdica. Tem a sua própria identidade, a sua própria natureza pessoal. Concentra-se também mais claramente numa única personagem principal – ainda que rodeada, de facto, de intrigas e perigos e guerras. Hakan, ou Erlan, é um protagonista fascinante. Forte, mas vulnerável e capaz de falhar. E, ao seguir tanto os seus esforços como os seus tormentos pessoais, o autor transforma este livro numa história bastante mais pessoal, sem comprometer em nada a grande complexidade do cenário.
Mas há mais para além de Hakan. Kai é uma personagem deliciosa, um raio de luz a contrapor à sombra do seu amo. Lilla tem um encanto intrigante. E, quanto aos restantes, há muitos mistérios e potencial oculto para descobrir, o que leva a uma necessidade irresistível de ler o próximo volume o mais cedo possível. Até a parte sobrenatural – com os seus tão invulgares elementos – está cheia de surpresas e de potencial.
Oh, e depois há batalhas. Intensas e brutais, escritas de uma forma tão impressionante que se torna fácil visualizá-las. Batalhas pela glória e pela vingança e pela simples sobrevivência, mas nunca batalhas limpas. A sombra da morte nunca está escondida. As consequências são claras. E isso torna tudo muito mais intenso e impressionante.
Impressionante seria portanto uma boa palavra para descrever este livro. Um livro em que tudo – cenário, história, personagens – se conjuga num equilíbrio perfeito. Intenso, complexo, mas também com as medidas certas de humor e de emoção, um início brilhante para uma história que promete dar ainda muito mais. E o tipo de livro que se entranha no coração de uma pessoa sem nos darmos conta disso. Simplesmente genial.

Título: A Mighty Dawn
Autor: Theodore Brun
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 30 de março de 2018

Os Heróis de Andósia - Laços de Sangue (Rita Vilela)

Tudo começa com o sonho recorrente de estar a cair no vazio e, por mais perturbador que isso lhe possa parecer, Sofia não dá grande importância ao assunto. Mas quando o sonho tem consequências físicas e Sofia acorda numa cama partida, a situação começa a revelar-se mais séria. Com a ajuda dos amigos, tenta procurar explicações para o inexplicável - e eis que, por puro acaso, descobre que, quando esses sonhos se manifestam, Sofia está a ajudar na batalha pelo futuro de um outro mundo. Andósia precisa da sua ajuda para travar o tenebroso Cárpeto e é para isso que servem as suas estranhas viagens: contribuindo com energia e com a sua força em combate, Sofia luta para proteger Andósia. Só que o mundo onde vive quando está acordada continua à sua espera - e há coisas que começam a ser difíceis de explicar.
Nitidamente pensado para um público jovem e com um registo simples que se adequa na perfeição aos leitores a quem se destina, este é um livro onde a aventura e a acção são os elementos centrais. Há coisas estranhas a acontecer, perigos a enfrentar, explicações difíceis, à partida, de assimilar, e tudo avança a um ritmo intenso e rápido. Ora, isto tem vantagens e inconvenientes, sendo que o principal inconveniente será o de que, para quem estiver habituado a histórias mais complexas, ficará a sensação de que há partes da história que se resolvem com demasiada facilidade.
Perde-se, pois, um pouco devido à simplicidade, já que há momentos e explicações que, de uma perspectiva realista, talvez devessem ter consequências mais graves. Ainda assim, o resto da história compensa amplamente estes aspectos menos conseguidos. A relação entre as personagens - e principalmente a dos três amigos - é algo de bastante marcante, pois é o tipo de amizade que sobrevive a toda a estranheza. Andósia e a sua casa real têm também muito de fascinante para descobrir. E, ao longo do enredo, há uma série de aprendizagens que transmitem uma mensagem muito positiva: de amizade, de compreensão, de coragem e de combate aos preconceitos.
É também uma leitura muito agradável, com o seu estilo directo e o equilíbrio entre tensão e humor. Os amigos de Sofia são particularmente cativantes, pois acrescentam leveza até aos momentos mais perigosos. E, se há coisas que talvez devessem ter sido mais difíceis... bem, também é verdade que a maior parte da história se desenrola num mundo mágico. E com magia tudo é possível, certo?
A impressão que fica é, portanto, a de uma leitura leve e cativante, direccionada principalmente para os mais novos, mas capaz, ainda assim, de proporcionar uma boa aventura a leitores de todas as idades. Leve, simples e bastante interessante, uma boa história. 

Autora: Rita Vilela
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 29 de março de 2018

O Segredo da Minha Mãe (J.L. Witterick)

Sokal era um lugar pacífico, até ao dia em que as tropas nazis invadiram a Polónia, dando início a uma brutal perseguição aos judeus. A partir daí, tudo mudou. À confiança natural de uma vida modesta, mas tranquila, sucedem-se agora as desconfianças e as denúncias, e aqueles que antes eram vistos como pilares da comunidade vêem-se agora isolados, abandonados por todos. Ou quase. Franciszka e a filha, Helena, não têm medo das terríveis consequências de ajudar os judeus e, por isso, arriscando as próprias vidas, acolhem duas famílias, bem como um soldado desertor, na sua modesta casa. O perigo é imenso e todos sabem disso. Mas, entre fazer o que é seguro e fazer o que está certo, Franciszka nem sequer hesita.
Bastante breve e seguindo as perspectivas de quatro personagens distintas, este livro é a prova de que uma boa história nem sempre precisa de ser extensa, pois, mesmo retirando partes do contexto mais amplo e resumindo a informação ao essencial, aquilo que dá força à história continua lá. É claro que, quando se trata de um livro tão sucinto sobre um assunto tão complexo, fica sempre a sensação de que haveria mais por dizer. Aliás, qualquer das quatro personagens principais bastaria para dar forma a um romance completo. 
Perde-se, então, talvez um pouco da complexidade possível devido à brevidade. Mas a verdade é que isso nada retira ao impacto da história. Tem, aliás, a espaços, o efeito contrário. A visão simples e às vezes inocente de um mundo que caminha para a própria destruição tem o dom de enfatizar o que é verdadeiramente importante. Há perigos, há perdas, há suspeitas e crueldades. Mas, na figura de Franciszka e das pessoas que ela decide ajudar, está o que há de melhor na alma humana. E isso basta - é mais do que suficiente - para fazer com que a leitura valha a pena.
Porque o essencial está lá e, ainda que a autora não desenvolva muito as várias facetas da narrativa - o contexto global, o que acontece antes e depois, o rumo do conflito para lá dos limites do esconderijo - não há nada que faça realmente falta na forma como esta história está construída. Coragem, sacrifício, o tipo de nobreza de carácter que é mais raro do que se julga - tudo isto está presente nesta história. E a simplicidade de tudo o resto acaba por ter também o dom de realçar estes traços.
Podia ser uma história mais vasta, é certo. Mas, se virmos bem, a verdade é que não lhe falta nada. Simples e breve, contém nos laivos da sua inocência as marcas das grandes crueldades da história - e contrapõe-lhe a esperança e a coragem necessárias. E é este equilíbrio delicado em que tudo se cinge ao essencial, mas o essencial é tudo o que é preciso, que faz deste pequeno romance uma tão boa leitura.

Autora: J.L. Witterick
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Leya

Em 2004, Ana Maria Machado, repórter portuguesa em Washington, é convidada a fazer um documentário sobre a Revolução de 1974, considerada pelo embaixador americano à época em Lisboa como um raro momento da História. Aceitado o trabalho, regressa, contrata dois antigos colegas, e os três jovens visitam e entrevistam vários intervenientes e testemunhas do golpe de Estado, revisitando os mitos da Revolução. Um percurso que permite surpreender o efeito da passagem do tempo não só sobre esses “heróis”, como também sobre a sociedade portuguesa, na sua grandeza e nas suas misérias. Transfiguradas, como se fossem figuras sobreviventes de um tempo já inalcançável, as personagens de Os Memoráveis tentam recriar o que foi a ilusão revolucionária, a desilusão de muitos dos participantes e o árduo caminho para uma Democracia. Paralela a esta acção decorre uma outra, pessoal e íntima: a história do pai da protagonista, António Machado, que retrata em privado o destino que se abate sobre todos os outros. Todos vivem na Democracia, uma espécie de lugar de exílio. Mas um dia, todas as misérias serão esquecidas, quando se relatar o tempo dos memoráveis.

A escritora Lídia Jorge nasceu no Algarve a 18 de junho de 1946. Em 1980 publicou o seu primeiro livro, o romance O Dia dos Prodígios, obra que desde logo chamou a atenção e criou as mais ricas expectativas para o futuro da nova escritora. E a obra posterior de Lídia Jorge viria a confirmar essas expectativas. Até hoje publicou, para além de contos, ensaio, uma peça de teatro e dois livros para crianças, onze romances, que fazem de Lídia Jorge uma das escritoras mais prolíficas e mais representativas da literatura portuguesa da segunda metade do século XX. Esta sua importância na vida literária nacional ficou assinalada com os prémios que lhe foram atribuídos: logo em 1980, pelo seu primeiro livro, recebeu o Prémio Ricardo Malheiros. E em seguida foram-lhe atribuídos, em Portugal e no estrangeiro (nomeadamente Espanha, Itália e França), vários prémios, entre os quais se destacam o Prémio Cidade de Lisboa (por duas vezes, uma delas ex-aequo com Memorial do Convento, de José Saramago), o Prémio D. Dinis, o Prémio PEN, o grande Prémio da APE e o Prémio Vergílio Ferreira. Foi ainda condecorada com a Grã-Cruz da Ordem do Infante e o título de Oficial da Ordem das Artes e das Letras de França.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Dália entre Narcisos (Henrique Leão de Almeida)

Reis e batalhas e uma história apenas entrevista por entre as sombras do poema. Desta matéria é feito este pequeno livro. De figuras heróicas e vencidas, de amor e morte e das sombras da vida. E é também um percurso de impressões, como que lampejos de uma história subjacente, mas de que a maior parte é deixada por contar. Enquanto conjunto de poemas, forma um todo mais vasto, pois há uma impressão de unidade a percorrer o todo. A história, essa, é um fragmento de imaginação.
Sendo este um livro onde é tanto o que nos é dito como o que fica por dizer, não é propriamente uma surpresa que a principal impressão seja de ambiguidade. Apesar de ter forma de poema, há, afinal, uma história neste livro, uma história que se assume como tal não só pela presença de algumas personagens relevantes, mas pelas próprias datas misteriosas que vão surgindo ao longo da leitura. E a ambiguidade vem daí: há uma história, da qual apenas emerge um vislumbre. As personagens estão lá, as afirmações marcantes também e o mistério, esse, está em toda a parte. Mas a história é apenas insinuada e, por isso, a curiosidade insatisfeita, a sensação de se ter visto apenas uma ínfima parte do todo, é inevitável.
Entrevista a história, e assimilada a falta de respostas, fica a poesia. E, deixando para segundo plano os aspectos narrativos, é na forma poética que as qualidades se revelam. Bastante breves, mas repletos de versos marcantes e com uma intrigante harmonia entre a plenitude de cada poema e o todo mais vasto que emerge do conjunto, facilmente cativam para as impressões que pretendem transmitir. Além disso, há uma agradável diversidade a manifestar-se na alternância de sujeito poético. Cada parte contém uma nova personagem e, se a história fica, de facto, muito em aberto, a variedade de impressões não deixa, ainda assim, de surpreender.
Perde-se um pouco pela brevidade, já que a conjugação entre poesia e narrativa seria mais equilibrada com um pouco mais de desenvolvimento na parte da história. Ainda assim, sobressai a naturalidade dos poemas, o impacto de uns quantos versos particularmente bem conseguidos e o intrigante enigma que parece marcar o ritmo deste livro. Somadas as partes, o balanço é claramente positivo. Gostei.

Título: Dália entre Narcisos
Autor: Henrique Leão de Almeida
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Clube do Autor

Elmet – Vidas Desencantadas é um romance belo, selvagem e inquietante sobre as dicotomias do ser humano, os contrastes da realidade, o sentido de pertença, o amor da família e a violência que todos temos dentro de nós.
Nas suas páginas acompanhamos a viagem de Daniel para Norte. A vida simples que levava com a irmã Cathy e o pai desapareceu; tornou-se ameaçadora e sinistra.
Viviam os três à margem da sociedade, numa casa que o pai construíra no bosque, caçando e procurando comida. O pai dissera-lhes que a pequena casa em Elmet era deles, mas afinal isso não era verdade. E alguns homens daquela terra, gananciosos e vorazes, começaram a vigiá-los de perto.
O pai é pugilista e um homem gigante. Cathy é como o pai: feroz e com uma raiva que permanece à flor da pele. Danny é como a mãe: gentil e sensível. Os três juntos vivem felizes e tranquilos. Mas às vezes, quando o pai desaparece, volta com fúria nos olhos.
Em casa encontra sempre paz, mas a violência que guarda dentro parece aumentar cada dia mais…
Uma história sobre família, amor e violência; uma análise à sociedade contemporânea, ao indivíduo e à realidade, aos conceitos de classe às discrepâncias entre quem somos e quem somos capazes de ser.

terça-feira, 27 de março de 2018

Guerra Americana (Omar El Akkad)

Sarat Chestnut tem apenas seis anos no início da Segunda Guerra Civil, mas não tarda a sentir na pele as consequências dessa nova guerra. Tudo começou com uma proibição dos combustíveis fósseis, motivada em parte pelas graves consequências das alterações climáticas. Mas a guerra - como é da sua natureza - não demorou a transformar-se em algo mais vasto, de motivações ambíguas e onde, por mais que todos pensem estar do lado certo, tudo é permitido para se conseguir vencer. Sarat será moldada por essa guerra, primeiro com a fuga precipitada de sua casa e depois pelas múltiplas e sucessivas perdas, tormentos e violências. É apenas uma criança - mas tornar-se-á numa arma mortífera. E o seu nome, esse, será lembrado. Ainda que talvez não como ela gostaria.
Há algo de estranhamente impressionante na forma como esta história está construída. O narrador é alguém aparentemente próximo de Sarat, mas que só se identifica numa fase tardia do enredo e, por isso, a sua voz soa semelhante à de um qualquer possível observador. E no entanto este observador entende as motivações de Sarat, as suas escolhas, o que a marcou em tudo o que fez. Há, pois, um delicado equilíbrio entre distância e proximidade que torna cada momento mais intenso e cada revelação mais memorável.
Também bastante impressionante é o facto de Sarat ser, de certa forma, a protagonista de uma história que é muito mais ampla do que qualquer percurso pessoal. É no caminho dos Chestnut que se repercutem as várias facetas da guerra - e é a partir deles que são vistas. Mas há um cenário global mais vasto que se torna mais nítido através deste percurso familiar e todo um mundo de questões relevantes: bem e mal, guerra e paz, escrúpulos ou falta deles. Não há heróis nem vilões: há uma guerra em que todos fazem o que julgam ter de fazer. E isto torna tudo mais complexo, sim, e mais real. Mais impressionante, em suma.
E depois há a escrita em si e a forma como o autor consegue dar a cada momento, seja ele um massacre ou um simples gesto de afecto, o máximo impacto. No caminho das personagens há perdas, fúria, revolta, resignação... amor. E estes sentimentos passam para o leitor em toda a sua força, pois é difícil não sentir o medo de Sarat ou a raiva ou o desejo de vingança, a dolorosa inocência de Simon (depois de tudo), o afecto desesperado de Marcus e de Benjamin e a mágoa que, a cada novo desenvolvimento, se expande sempre um pouco mais. 
Tudo se resume, enfim, à palavra com que comecei: impressionante. Pelo tema e pelo equilíbrio delicado que o autor constrói com as suas múltiplas facetas, mas principalmente pela forma dura e certeira com que retrata o impacto pessoal da guerra sobre as suas personagens. É uma história sem heróis, sim, mas com pessoas. E são precisamente essas pessoas - em toda a sua complexidade - que tornam este livro tão, tão memorável. Recomendo.

Autor: Omar El Akkad
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Suma de Letras

Duas jovens dinamarquesas desaparecem, sem deixar rasto, a bordo de um barco com destino a Inglaterra, em 1985. Vários anos depois, a jornalista Nora Sand, que trabalha em Londres para a revista dinamarquesa Globalt, compra uma mala velha numa loja de antiguidades, numa cidade do litoral. Quando a jornalista abre a mala, encontra uma série de fotografias, e uma delas, onde aparecem duas jovens a bordo de um barco, chama-lhe a atenção. Nora lembra-se imediatamente do famoso caso das duas raparigas desaparecidas em 1985, que nunca fora encerrado. Nora Sand não pode deixar de pensar no caso e viaja até à Dinamarca para descobrir o que aconteceu às duas jovens. Rapidamente depara com a história de um assassino em série que está a cumprir pena de prisão perpétua e que parece ter a chave do caso. Mas, para Nora, qual será o preço a pagar?

Lone Theils foi, durante anos, correspondente em Londres dos jornais dinamarqueses Berlingske Tidende e Politiken. Durante os dezasseis anos que viveu em Londres, trabalhou também para a televisão e para a rádio nacional da Dinamarca. Actualmente, e desde que voltou para o seu país, em 2016, escreve artigos para a revista online POV International e dedica-se inteiramente à escrita. O seu primeiro romance, “A Última Travessia”, que foi um bestseller imediato na Dinamarca e será publicado em mais catorze países, foi inspirado numa história verídica. Algumas fotografias de jovens desconhecidas, tiradas na Estação Central de Copenhaga, apareceram misteriosamente nas mãos de um assassino em série americano.

Divulgação: Novidades Topseller

Contada de quatro perspectivas diferentes, esta é a história comovente de duas mulheres que serão recordadas pela sua tremenda coragem e humanidade.
Em 1939, as tropas de Hitler invadem a Polónia e põem em marcha uma perseguição desumana ao povo judeu. Todos sabem que proteger judeus num país ocupado pelos nazis é uma sentença de morte. Mas Franciszka e a filha, Helena, movidas por um profundo sentimento de justiça e respeito pela vida humana, decidem arriscar tudo para abrigar duas famílias judaicas e um soldado alemão desertor na sua modesta casa em Sokal. Uma das famílias fica escondida numa cave improvisada por baixo da cozinha. A outra, num palheiro por cima da pocilga. O soldado fica num sótão exíguo.
Para que todos possam sobreviver, Franciszka e a filha terão de ser mais astutas do que os vizinhos e do que os temíveis comandantes alemães, que montam guarda em frente à casa. As duas mulheres estão dispostas a tudo para salvá-los, o que implica não só escondê-los e alimentá-los, mas também conseguir manter acesa dentro deles a chama da esperança.

J. L. Witterick nasceu na China, mas foi viver para o Canadá com apenas 7 anos. Licenciou-se em Gestão pela Universidade de Western Ontario. Mais tarde, tornou-se presidente de uma das maiores empresas de gestão de fundos do país.
Voltou agora a atenção para a sua paixão: a escrita. O Segredo da Minha Mãe é o seu primeiro romance, foi finalista do National Jewish Book Award e está publicado em 11 línguas.
Parte dos lucros obtidos com o livro foi doada a instituições de caridade, uma forma que a autora encontrou para honrar os «Justos entre as Nações», pessoas não judias que arriscaram a vida para ajudarem judeus a escaparem à morte durante o Holocausto.

Um casal preso na rotina decide embarcar numa experiência para apimentar a vida íntima, mas o preço a pagar pode ser demasiado alto.
Um casamento aberto durante seis meses.
O que pode correr mal?
Da criadora e produtora-executiva da série da ABC American Housewife.

Olho para mim, uma nova-iorquina moderna e bem sucedida convertida ao papel de dona de casa suburbana! Acordo entre o caos. Não há tempo para me arranjar, porque o meu filho — o pequeno ditador da casa — quer atenção.
Divido o dia entre tarefas domésticas e pequenas batalhas às quais a mãe de um filho autista tem de se habituar. O meu marido chega. Também cansado. Não saímos, já não fazemos nada de excitante. Fomos engolidos pela rotina.

O que acontece depois do «Felizes Para Sempre»?

Um dia, num serão com amigos, falam-nos das vantagens de um casamento aberto e da forma como pode apimentar a nossa vida. E de repente dou por mim a pensar: porque não?

Convictos de que uma pausa no seu casamento lhes poupará angústias futuras, Lucy e o seu marido Owen embarcam num Acordo para se traírem: seis meses, uma dezena de regras e zero perguntas.
Que comece a experiência!

Sarah Dunn é romancista e argumentista de televisão, incluindo a série Cidade Louca (para a qual foi coautora do episódio de despedida de Michael J. Fox) e a aclamada Bunheads. A autora também é criadora e produtora-executiva da série da ABC American Housewife.
O Clube dos Casados é o seu primeiro livro publicado pela Topseller.

segunda-feira, 26 de março de 2018

25 Gramas de Felicidade (Massimo Vacchetta e Antonella Tomaselli)

Tudo começou com Ninna, um pequeno ouriço de apenas 25 gramas e que precisava de cuidados constantes para sobreviver. Massimo, médico veterinário, conheceu-a no consultório de um colega e foi amor - e dedicação - à primeira vista. Mas os ouriços são animais selvagens, pelo que, além de exigirem cuidados diferentes de um cão ou de um gato, o seu lugar quando saudáveis é na natureza e em liberdade. Por isso Ninna, por mais especial que fosse a relação de afecto entre ouriço e veterinário, teria sempre de ser uma companhia a prazo. Ainda assim, a sua passagem mudaria a vida de Massimo... e é isso que nos é contado neste livro.
Um dos aspectos mais cativantes deste livro - bem, fora os ouriços, claro, que bastam para fazer desta história um poço de ternura - é a facilidade com que Massimo consegue falar dos seus sentimentos e da sua vida pessoal para lá da experiência que tem com os ouriços. As memórias de infância e as motivações que o levaram a escolher a profissão de médico veterinário, a vida familiar e amorosa, as amizades e as muitas alegrias e angústias que elas trazem, tudo isto faz parte do que moldou as escolhas de Massimo. E, ao complementar a história dos seus ouriços com a sua própria história, o autor apresenta-nos um registo muito mais íntimo e pessoal da sua experiência - o que, claro, torna a leitura muito mais emotiva.
Depois há os ouriços, claro, e daqui emerge também uma muito interessante componente didáctica. A chegada de Ninna marca o início de um processo de aprendizagem: sobre os cuidados necessários, os perigos, as dificuldades, até mesmo alguma burocracia. E esse percurso é feito também ao longo desta leitura que, além de enternecer com os momentos mais ternurentos e inesperados, marca também pela relevância do conhecimento transmitido e até de algumas questões pertinentes - sobre o equilíbrio na natureza, principalmente - que evoca.
É de uma história pessoal que se trata e de um caminho com muitas chegadas e partidas, o que torna natural a sensação de curiosidade que fica sobre o que terá acontecido depois, não só aos ouriços que partiram do centro, mas também às pessoas que nos são dadas a conhecer. Mas fica principalmente a sensação de se ter aprendido algo, não só sobre os cuidados a ter com uma cria de ouriço, mas principalmente sobre como, às vezes, é das criaturas mais inocentes do mundo que vêm as mais importantes lições de vida. Porque é disso que se trata: de uma lição de vida e de valores.
Não é só uma história de ouriços - ainda que os ouriços façam parte do que a torna tão terna. É, sim, uma história de dedicação e de amor, e da estranha magia que acontece quando damos vida aos nossos sonhos. Bonita, cativante e com muito bom material para reflexão, uma belíssima história - e uma bonita lição de vida. Gostei.

Autores: Massimo Vacchetta e Antonella Tomaselli
Origem: Recebido para crítica

domingo, 25 de março de 2018

O Terceiro País (Joan London)

Frank Gold deixou a Hungria com a família para fugir à guerra e, após várias vicissitudes, chegou à Austrália, onde veio a ser apanhado por um surto de poliomielite. E foi a doença que, após múltiplas paragens, o fez chegar ao Golden Age, onde agora reside e tenta recuperar a capacidade de andar. Traz consigo uma estranha melancolia e a sensação de isolamento que a doença lhe deixou. Mas, ao conhecer Elsa, outra paciente do Golden Age, descobre que não está afinal assim tão sozinho e que há sentimentos dentro de si que nem ele mesmo sabe explicar. O tempo parece ser uma entidade ambígua que oscila entre fragmentos de um passado tão longo e um futuro que nunca poderá ser igual. Mas Frank e Elsa têm-se um ao outro. E, entre as memórias e as expectativas, há algo a crescer entre eles que só pode ser bom.
Apesar de ter como protagonistas Frank e Elsa, uma das primeiras coisas a sobressair nesta narrativa é que está muito longe de seguir um percurso linear. Nem a história diz respeito só a Frank e Elsa, nem a linha temporal segue um caminho constante, oscilando entre diferentes períodos e memórias e percorrendo assim o passado de várias personagens mais ou menos importantes. Frank é a base, naturalmente, e o seu percurso durante e após a doença, com as pessoas com quem se cruzou e a forma como cada experiência o alterou, é a alma que alimenta o resto da história. Mas os pais dele, a família de Elsa, a história dos alguns outros pacientes e de algum do pessoal do Golden Age... todas as personagens, principais ou secundárias, têm algo de relevante a acrescentar à história. E, sendo certo que isto torna o enredo um pouco mais disperso e ambíguo, também o é que o torna mais complexo e interessante.
Ambiguidade é aliás algo bastante presente nesta história: ambiguidade moral, nas escolhas de alguns intervenientes, mas também ambiguidade na forma como cada personagem percepciona as experiências dos outros. A visão que Frank tem de Sullivan - e a relação que mantém com ele - dificilmente poderia ser mais clara. Mas, daí em diante, tudo se torna mais intrincado. Meyer e o seu interesse pela enfermeira Penny. Ida e a sombra deixada pelas marcas da guerra. Albert e a sua necessidade de sair. Frank e Elsa - na juventude e depois. E tantos, tantos mais. Há um vasto mundo contido entre as paredes do Golden Age e a forma como todos os seus elementos se interligam é algo de bastante impressionante.
No fim, ficam também sentimentos ambíguos, face a um futuro apenas entrevisto e do qual fica a sensação de que talvez houvesse mais a revelar. Ainda assim, e apesar do que fica sem resposta, fica também a ideia de que a forma como tudo termina faz algum sentido. O Golden Age representa um marco na vida das personagens, um marco que, como todas as fases da vida, termina. E, assim sendo, tem a sua lógica que o que veio depois seja deixado para segundo plano, ficando, de certa forma, na sombra do que é de facto contado. Daria muito provavelmente outra história. Mas faz sentido que esta termine aqui.
Pausado, mas estranhamente cativante na forma como conjuga num equilíbrio delicado as histórias de várias vidas dispersas, trata-se, portanto, de um livro que não dá todas as respostas - mas que contém, nos seus momentos mais belos, uma profundidade marcante e uma estranha sensação de proximidade. Vale, pois, a pena conhecer a história do Golden Age - e descobrir a vida no seu interior.

Autora: Joan London
Origem: Recebido para crítica

sábado, 24 de março de 2018

Y - O Último Homem: Ciclos (Brian K. Vaughan, Pia Guerra e José Marzán Jr.)

Yorick Brown é o último homem na terra - e isso fez dele um homem perseguido. As Amazonas, um grupo de radicais que pretende acabar de vez com os últimos vestígios do patriarcado, querem executá-lo. Mas a única forma de entender o que aconteceu é recuperar os dados da doutora Mann e, por isso, não basta manter-se em fuga. Precisam de chegar à Califórnia o mais rapidamente possível. Só que viajar em tempos de caos não é nada fácil, principalmente quando se é um homem procurado - e o único homem. Por isso, o caminho trará obstáculos inevitáveis - e uma nova inimiga... difícil de aceitar.
Retomando os acontecimentos no ponto onde terminaram no volume anterior, este é um livro que apresenta sensivelmente as mesmas qualidades: o mesmo traço apelativo, a mesma intensidade em termos de enredo e a mesma naturalidade com que tudo parece acontecer. A evolução é essencialmente a da história, pois, à medida que são dados novos passos, revelam-se novos obstáculos e perigos que se tornam cada vez maiores. As características são, pois, essencialmente as mesmas e o resultado é, naturalmente, algo de muito bom.
Tal como no primeiro volume, é a acção o elemento predominante e o contexto vai sendo apresentado de forma gradual. Mas também neste aspecto é uma certa evolução: novos cenários permitem saber mais sobre o que está a acontecer no mundo e o encontro já anunciado - mas finalmente concretizado - entre Yorick e Hero está na base de alguns dos momentos mais intensos do livro. Além disso, há também uma evolução do próprio Yorick que, apesar da sua natureza impetuosa, começa, aos poucos, a demonstrar um certo crescimento, que, além de tornar mais marcantes alguns dos momentos deste livro, promete muito de bom para o que virá a seguir.
E depois há a expressividade que torna possível maximizar o impacto até dos diálogos mais simples. Sendo, como é, uma história de perigos e fugas e perseguições, há necessariamente emoções fortes envolvidas. E essas emoções estão tão nitidamente expressas nos traços das personagens que é incrivelmente fácil entrar-lhes no pensamento - e entendê-las, quando se justifica, ou questioná-las, quando parece inevitável.
Eis, pois, um segundo livro que não desilude. E mais, que deixa grandes expectativas para o que virá a seguir. Intenso, surpreendente e cheio de momentos marcantes, um livro que confirma a promessa do volume anterior e que promete ainda muito de bom para o que se seguirá. Recomendo.

Título: Y - O Último Homem: Ciclos
Autores: Brian K. Vaughan, Pia Guerra e José Marzán Jr.
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 23 de março de 2018

Histórias de Adormecer para Raparigas Rebeldes 2 (Elena Favilli e Francesca Cavallo)

Escritoras, activistas, cientistas, atletas, rainhas, combatentes, artistas. De todos os tempos e de todos os lugares, as mulheres deste livro têm um ponto em comum: não tiveram medo de lutar pelos seus sonhos e pelas causas que julgaram dignas do seu esforço. E esse percurso fez delas exemplos e inspirações para as gerações futuras. São estas histórias - breves, mas claríssimas - que dão forma a este livro, um conjunto de histórias para adormecer - e acima de tudo para sonhar - sobre figuras tão intrépidas quanto reais.
Para quem já tiver lido o primeiro volume das Histórias de Adormecer para Raparigas Rebeldes, não há muito de novo a acrescentar sobre este volume, pois as características são as mesmas. A simplicidade e a cor que tornam este livro igualmente cativante para leitores de todas as idades. A pertinência das histórias e o ideal subjacente de força, de possibilidade, de capacidades e direitos iguais. Tudo isto estava presente no primeiro volume e tudo isto está tão bem aqui.
O que há de novo? Bem, as histórias, claro. Pois há mais rebeldes do que as referidas no primeiro livro. Haverá certamente mais que as contidas nos dois livros juntos. Mas cada uma das histórias - do primeiro livro e deste - é um registo válido e pertinente, um exemplo a seguir, uma fonte de inspiração. E por isso este segundo volume é igualmente relevante, pois acrescenta mais histórias, mais exemplos, mais figuras que é importante conhecer. 
E é um livro que fica na memória, não só pelas histórias em si - que bastariam, é claro, para fazer com que a leitura valesse a pena - mas também pela forma como o próprio livro está estruturado. História, retrato, citação - permitindo ver o percurso, o rosto por detrás da história e as afirmações mais memoráveis dessa figura central. Além disso, a diversidade de ilustradores - e, consequentemente, de estilos - realça a abrangência do todo. Para diferentes figuras - diferentes histórias, diferentes áreas, diferentes origens - diferentes estilos de ilustração. Diferentes, mas belíssimos, todos eles.
O resultado é um livro bonito e relevante, para leitores de todas as idades. Cheio de cor e de beleza, acessível e agradável de ler e, acima de tudo, muito pertinente, um livro a não perder. E a reler muitas vezes. 

Autoras: Elena Favilli e Francesca Cavallo
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Topseller

Um vulcão acaba de entrar em erupção na Islândia e a cinza ameaça tapar o céu e tornar o ar irrespirável. O inspector Ari Thór, no entanto, nem sequer tem cabeça para isso. Desesperado por restabelecer a sua relação com Kristín, a namorada que perdeu, tem dificuldade em concentrar-se no trabalho, até que chega um caso: um homem foi assassinado, com grande violência. Tem a cara desfigurada e um olho em falta.
A notícia não tarda a chegar a Reiquiavique, onde Ísrún, jornalista, reconhece a vítima. Imediatamente parte para o Norte. Se conseguir resolver o caso antes da polícia, poderá ter o furo jornalístico da sua carreira e superar o seu colega e rival, Kormákur.
Enquanto as cinzas continuam a obscurecer o país, tanto Ari Thór como Ísrún vão interrogando as mesmas pessoas, e ouvem histórias similares: Elías, o homem que morreu, estava envolvido em algo perigoso. Terão as testemunhas razão? Qual seria a verdadeira ligação de Ísrún à vítima? E conseguirá Ari Thór evitar mais mortes?

Ragnar Jónasson nasceu na Islândia e é um autor bestseller internacional publicado em 18 países, com amplo sucesso junto da crítica. Trabalhou em televisão e em rádio, inclusive como jornalista da Radiotelevisão Nacional da Islândia. Actualmente é advogado e professor na Faculdade de Direito da Universidade de Reiquiavique.
Autor em ascensão na literatura policial internacional, Jónasson traduziu 14 livros de Agatha Christie para islandês e viu já vários dos seus contos serem publicados em revistas literárias alemãs, inglesas e islandesas.
Nuvem de Cinzas é o terceiro volume de Dark Iceland, uma série de extraordinário sucesso em todo o mundo, agarrando os leitores portugueses da primeira à última página.

quinta-feira, 22 de março de 2018

A Conspiração da Senhora Parrish (Liv Constantine)

Amber Patterson só quer a vida que merece. Ou pelo menos é isso que pensa quando decide aproximar-se de Daphne Parrish, casada com um homem rico e poderoso... que ela pretende roubar para si. Amber não tem problemas de consciência, nem com o que está a fazer à sua suposta amiga nem com as mentiras que contou para chegar a essa posição. O que ela tem é um passado que ameaça alcançá-la quando ela menos esperar. E Daphne poder parecer uma ingénua, mas a verdade é sempre mais complexa do que aparenta... e o casamento perfeito esconde uma sombra mais negra.
Cheio de surpresas: eis uma boa forma de começar a descrever este livro onde nem as personagens são o que parecem ser nem o enredo se encaminha para as soluções mais previsíveis. Ao longo desta história, que acompanha Amber e Daphne numa fase bastante delicada das suas vidas, há todo um entrelaçado de enigmas e de revelações. E, a cada reviravolta, surgem novas possibilidades, num enredo onde tudo pode mudar de um instante para o outro e que, por isso, facilmente se torna viciante.
Também a alternância de perspectivas contribui para este efeito surpresa. De início, tudo parece encaminhar-se para a clássica história da mulher que decide dar o golpe e é o plano de Amber - e os seus segredos - a base que faz a história avançar. Mas é no ponto de vista de Daphne que a verdadeira dimensão da história se revela: os segredos tornam-se mais sombrios, as situações de tensão mais intensas, a ideia de perigo e de vulnerabilidade mais constante. E o enredo ganha uma nova dimensão, pois Amber e Daphne observam-se uma à outra, e assim também nós as vemos pelos olhos uma da outra. 
E depois há um impacto que transcende a história das personagens. Amber, Daphne e Jackson são personagens completas em si mesmas, mas há deles uma imagem mais ampla que pode transpor-se para uma perspectiva mais global: não existe tal coisa como o casamento perfeito e as aparências escondem, por vezes, segredos bastante sombrios. A história de Daphne podia ser a de muitas outras mulheres. E Amber... bem, Amber segue também uma linha relativamente clássica, com um certo toque de justiça poética que torna tudo ainda mais intenso.
Intenso, viciante e surpreendente, eis, pois, um livro que, não sendo particularmente gráfico, consegue ainda assim explorar com mestria alguns dos meandros mais negros da mente humana. Cativante desde as primeiras páginas e cheio de surpresas ao longo de todo o caminho, um livro que não posso deixar de recomendar. Muito bom.

Autora: Liv Constantine
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 21 de março de 2018

Londres de Shakespeare por Cinco Groats ao Dia (Richard Tames)

Shakespeare. Figura intemporal da literatura, ainda hoje uma referência incontestável e inesgotável fonte de inspiração. Mas como seria viver no seu tempo? Percorrer as ruas da cidade de Londres, conhecer - ou pelo menos avistar de longe - os notáveis da época, assistir, quem sabe, até a uma das peças do bardo? Bem, as respostas estão neste livro que, em jeito de guia turístico ao passado, nos leva pelas ruas e pelos palácios ao mesmo tempo que explica os costumes, enuncia as regras e nos apresenta às figuras mais eminentes dos tempos da rainha Isabel I.
Um dos aspectos mais cativantes desta colecção de guias - e escusado será dizer que este livro não é excepção - é a facilidade com que nos transporta para o passado. De início, pode parecer um pouco estranho ler um livro que fala de Shakespeare e companhia como figuras vivas, mas bastam alguns parágrafos para que essa estranheza se esbata. Sem dar por isso, eis que as portas da Londres de Shakespeare estão abertas. E o virar de cada página é como o virar de uma esquina, para novos locais e novos acontecimentos, vistos à luz de uma época distinta.
Tendo este livro a forma de uma espécie de guia turístico, não é propriamente uma surpresa que aspectos como os locais a visitar, a alimentação e as possibilidades de lazer ocupem uma posição de destaque. Ainda assim, há também uma sólida base de contexto histórico - o papel e as acções da rainha, as figuras notáveis, as leis e o que acontece a quem não as cumpre - para lá simplesmente dos locais e do entretenimento. Tudo informação útil para um hipotético viajante no tempo que fosse parar a essa tal Londres distante - e também informação que torna a imagem global mais clara e mais completa.
Não é nem pretende ser um livro de história e, assim sendo, a informação é apresentada de forma relativamente sintética. E é claro que isto pode deixar uma certa curiosidade insatisfeita, nomeadamente no que diz respeito à realeza e às suas relações de favoritismo e queda em desgraça. O essencial está lá, ainda assim, e faz parte do espírito desta viagem ao passado. Para informações mais aprofundadas sobre essas figuras... bem, há outros livros para lá deste invulgar guia turístico.
A impressão que fica é, portanto, a de um livro cativante e capaz de proporcionar uma breve, mas muito proveitosa viagem a outros tempos. Acessível, mas muito completo e com um belo conjunto de imagens a complementar a muita informação útil que contém, uma boa leitura para viajantes no tempo. Para os que gostam de história, portanto.

Autor: Richard Tames
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Clube do Autor

A Rua dos Detetives está repleta de investigadores talentosos, mas Toby Montrose não é um deles. Ele é apenas o assistente do tio, e numa cidade onde não faltam detetives, os negócios não estão a correr muito bem e o jovem teme pelo seu futuro.
Os pais de Toby desapareceram num acidente quando ele tinha oito anos e nenhum dos seus familiares tem condições para o albergar de forma permanente. Para evitar ir para um orfanato, Toby foi passando de casa em casa. E agora o tio Gabriel é a sua última esperança.
Quando o detetive mais requisitado da cidade decide criar um concurso para escolher o «Maior Detetive do Mundo», Toby nem hesita: vai participar e ganhar o prémio para ajudar o tio e ficarem a viver juntos.
O caso torna-se perigosamente real quando um dos detetives é encontrado morto mesmo antes de o jogo começar. E agora? Quem será capaz de resolver este crime? E em quem se pode confiar? Será que o crime está relacionado com a família de Toby?
Com a ajuda de Ivy, a sua nova amiga e a melhor detetive que Toby conhece, os dois vão decifrando pistas, desafiam os profissionais mais experientes e evitam transformar-se se nas próximas vítimas…

Caroline Carlson nasceu em Massachusetts e tem um Mestrado em Escrita para Crianças do Vermont College of Fine Arts.
É autora de vários livros para jovens, incluindo a série «The Very Nearly Honorable League of Pirates». O seu primeiro livro infantil, Magic Marks the Spot, uma das escolhas do ano do New York Times, foi considerado Melhor Livro para Crianças pela American Booksellers Association e fez parte da seleção Junior Library Guild.

terça-feira, 20 de março de 2018

Letizia (André Curvelo Campos)

A razão para Luís estar em Florença é estritamente profissional. Foi encarregado de escrever um artigo sobre os dez anos do misterioso homicídio do professor Savelli. Mas Luís levou consigo também as saudades de uma visita anterior e de uma relação que, perdida no passado, lhe desperta ainda grandes saudades. De início, não sabe muito bem como orientar o seu artigo, mas o seu contacto em Itália não tarda a arranjar-lhe alguns pontos de partida. Mas tudo isso passa para segundo plano quando conhece Letizia. Bela e misteriosa, basta um olhar para lhe arrebatar o coração, mas Luís sabe que o seu tempo é limitado e, à medida que os dias passam, as razões pessoais e as profissionais começam a aproximar-se perigosamente... 
Relativamente breve e conjugando medidas iguais de mistério e romance, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela perspectiva algo pessoal. Há um mistério no passado e um crime por desvendar, mas é a posição de Luís e os sentimentos que o movem a base de todo o enredo. Assim, o mistério acaba por ser mais motivo e complemento do que propriamente o foco principal da história, deixando ao percurso do protagonista o destaque maior ao longo da narrativa.
Mas há um mistério - e há respostas para ele. E, assim sendo, a impressão que fica é a de que, neste aspecto pelo menos, a história perde um pouco pela brevidade. Há respostas para a vida de Savelli - como professor, como marido, como amante - e o que realmente lhe aconteceu é também devidamente explicado. Mas é inevitável a sensação de que este lado de história justificaria também um pouco mais de desenvolvimento, à semelhança do que acontece com a crescente proximidade entre Luís e Letizia.
O que me leva de volta à relação romântica e à forma como também esta tem os seus mistérios. Letizia é, em todos os aspectos, um enigma e é também isso que está na base da forma como tudo termina. E este percurso de crescente proximidade, que é ao mesmo tempo uma espécie de regeneração para Luís confere à evolução da história uma maior intensidade que, culminando numa revelação inesperada, consegue criar um muito agradável equilíbrio entre verdades e mistérios.
Haveria possivelmente mais a explorar. O passado de Luís, a história de Savelli, a vida de Letizia antes daquele primeiro encontro... em tudo isto há elementos que poderiam ter sido mais aprofundados, uma história dentro da história, mas que é deixada parcialmente por contar. Ainda assim, num livro em quase tudo é mistério, faz um certo sentido que partes do passado (e do futuro também) sejam deixadas à imaginação do leitor. 
Simples e breve, mas cativante e surpreendente. Assim é, portanto, este pequeno livro. Uma leitura que cativa desde a primeira página e que, apesar daquilo que deixa por contar, acaba por fechar de forma satisfatória uma história intrigante e envolvente. Tudo somado, uma boa leitura.

Título: Letizia
Autor: André Curvelo Campos
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Marcador

Encontrei-te nas Páginas de Um Livro é um romance sobre a força perdurável do amor.
Jean-Pierre Zahardi, galerista na Rive Gauche, é um espírito livre.
Paulina Homs, com uma tranquila vida familiar em Barcelona, chega a Paris para o casamento da prima. Como se o destino o tivesse preparado, entre eles nascerá uma atracção inesperada que mudará as suas vidas para sempre. Este livro é a crónica da procura e da reconstrução de uma história de amor, a de Paulina e Jean-Pierre, através das recordações, dos documentos e do testemunho das pessoas que conheceram a paixão clandestina do casal. Será a filha de Paulina, Gina, que descobrirá muitos anos depois da morte da mãe o grande amor que a marcou para sempre.
Aguarda o leitor uma viagem pelas livrarias mais bonitas do mundo, onde estão dispersos os testemunhos misteriosos e comoventes desse amor, e uma viagem no tempo, para descobrir aqueles quatro dias únicos e inesquecíveis. Eternos.

Xavier Bosch (Barcelona, 1967) é licenciado em Ciências da Informação. Foi director do jornal diário Avui e responsável de programas da RAC1, além de criador e editor de formatos radiofónicos como Alguna Pregunta Més, Cafè Baviera e El món, na RAC1. Dirigiu Un tomb per la vida e, com Antoni Bassas e Eduard Boet, Aquest any, cent! É autor dos livros de contos Jo, el simolses (1992) e Vicis domèstics (1998), da novela La Màgia dels Reis (1994), e dos romances Se Sabrà Tot (Prémio Sant Jordi 2009), Homes d’honor (2012) e Eufòria (2014).

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

Divulgação: Novidade Topseller

Não abra os olhos. Há algo terrível lá fora.
Num mundo pós-apocalíptico tenso e aterrorizante que explora a essência do medo, uma mulher, com duas crianças, decide fugir, sonhando com uma vida em segurança. Mas durante a viagem, o perigo está à espreita: basta uma decisão errada e eles morrerão.
Cinco anos depois de a epidemia ter começado, os sobreviventes ainda se escondem em abrigos, protegidos atrás de portas trancadas e janelas tapadas. Malorie e os seus filhos conseguiram sobreviver, mas agora que eles têm 4 anos chegou o momento de abandonar o refúgio. Procurar uma vida melhor, em segurança e sem medos.
Num barco a remos e de olhos vendados, os três embarcam numa viagem rio acima. Apenas podem confiar no instinto e na audição apurada das crianças para se guiarem.
De repente, sentem que são seguidos. Nas margens abandonadas, alguém observa.
Será animal, humano ou monstro?
Um suspense inquietante que relembra as melhores histórias de Stephen King.

Josh Malerman iniciou-se cedo na escrita, é fã acérrimo do terror, e gosta de escrever ao som de bandas sonoras de filmes do género.
Às Cegas é o seu romance de estreia e foi bastante aclamado pela crítica, tendo sido nomeado para vários prémios como: Melhor Romance de Estreia do Bram Stoker Award (2014), Shirley Jackson Award (2014), Melhor Livro de Terror do Goodreads Choice Award (2014) e ainda o prémio James Herbert (2015).
Os direitos cinematográficos de Às Cegas foram adquiridos pela Netflix, e o filme terá Sandra Bullock como protagonista. Josh Malerman vive actualmente em Ferndale, no Michigan.

Divulgação: Novidade Parsifal

A morte da mulher lança um escritor num mar de sofrimento. Para lidar com a dor do luto, escreve um romance histórico. A sua personagem principal, David Negro, é um médico judeu que tem de fugir de Lisboa depois da condenação da mulher pela Inquisição.
A par de constituir um extraordinário fresco do século XVII, ambientado em Lisboa, Amesterdão e Hamburgo e pelo qual passam algumas das grandes figuras como o filósofo Uriel da Costa, o médico Rodrigo de Castro ou o mercador Diogo Sampaio, este livro é ainda um retrato da sociedade actual, com as suas inquietações ancestrais (a perda, a culpa, a redenção…), mas também com os novos desafios, como o autoproclamado Estado Islâmico.
Romance intimista e envolvente, Salvação é uma obra intensa sobre a capacidade de voltar a acreditar, sobre a redenção que a escrita permite e sobre o fanatismo das grandes religiões. Mas é também, e sobretudo, a confirmação de Ana Cristina Silva como uma das mais originais e possantes escritoras da actualidade.

 ANA CRISTINA SILVA
Nasceu em Lisboa. Doutorada em Psicologia da Educação é investigadora e docente no ISPA-IU. É autora de, entre outros, dos livros Mariana, Todas as Cartas, As Fogueiras da Inquisição ou Crónica do Rei-Poeta Al-Mu’Tamid.
É ainda autora dos romances Cartas Vermelhas  e  A Segunda Morte de Anna Karénina (finalistas do Prémio Fernando Namora),  O Rei do Monte Brasil (Prémio Urbano Tavares Rodrigues. Em 2017, A Noite não É Eterna venceu o Prémio Fernando Namora.

Divulgação: Novidades Bizâncio

Mesmo por trás de uma casa banal onde nada acontece, Ernesto decidiu que hoje é dia de explorar as profundezas do seu lago.
Do lado de lá, descobre um mundo nada banal que o mudará para sempre.

Um livro sobre o poder da imaginação, com imagens fabulosas que a estimulam.

Joseph Kuefler
Código de Barras: 9789725306048
Nº de páginas: 40
PVP: 12,90 (com IVA)  
Encadernação: Capa Dura - Formato: 23cmX28cm

Bem-vindos, de novo, à casa dos MacPherson!
A energia dos miúdos é inesgotável. Será que Wanda e Daryll os conseguem acompanhar?
Este é o 35º volume desta série que nasceu em 1990, vinte e oito anos depois continua actual e hilariante.
Mais informações sobre a tira e os seus autores em http://babyblues.com

Rick Kirkman e Jerry Scott
Código de Barras: 9789725306055
Nº de páginas: 168
PVP: 12,61 (com IVA)  
Encadernação: Capa mole com badanas - Formato: 21cmX22cm

O Universo é infinito?
Sabemos o que aconteceu antes do Big Bang?
No cérebro humano, onde se localiza a consciência?
Há partículas ainda por descobrir além do bosão de Higgs?
No mundo moderno a ciência impera: todas as semanas se anunciam novas descobertas científicas. Será que existem limites para o que podemos saber acerca do nosso Universo?
Nesta viagem aos confins do conhecimento, Marcus du Sautoy investiga o trabalho de pioneiros nas áreas da física quântica, da cosmologia e das neurociências, questionando relatos contraditórios e consultando os mais recentes dados.

Marcus du Sautoy
Código de Barras: 9789725306000
Nº de páginas: 512
PVP: 22,00 (com IVA)
Encadernação: Capa mole c/badanas    Formato: 15,5mX23,5cm

segunda-feira, 19 de março de 2018

Y - O Último Homem: Um Mundo sem Homens (Brian K. Vaughan, Pia Guerra e José Marzán Jr.)

Ninguém parece conhecer a causa exacta, mas uma doença misteriosa erradicou todos os seres do sexo masculino do planeta. Bem, todos não. Ficaram Yorick e o seu macaco, Ampersand. Mas o desaparecimento dos homens e a incerteza face ao futuro da humanidade trouxe consigo grandes problemas. A hierarquia do poder perdeu a maior parte dos seus membros. Há grupos extremistas que pretendem manter a todo o custo a nova era e não estão dispostas a permitir um possível regresso à normalidade. E isso faz com que Yorick, o último homem do planeta, seja um alvo apetecível para todas as facções, tanto as que querem dar origem às gerações seguintes como as que querem simplesmente corrigir o erro que deixou Yorick com vida. Já ele só quer encontrar a namorada... mas, com toda a humanidade em jogo, a sua vontade não é assim tão importante. 
Talvez a mais intrigante de todas as qualidades deste início de série - e tem bastantes - é a aparente naturalidade com que tudo parece desenrolar-se. Num simples instante, tudo o que se sabia do mundo mudou com a morte misteriosa de (quase) todos os portadores do cromossoma Y e, no entanto, tudo parece fluir e adaptar-se a um ritmo bastante eficaz. Ora, isto é intrigante porque a própria situação é intrigante. Afinal, como se explica o que aconteceu? Mas é também parte do que torna tão fácil entrar no ritmo da história: é possível sentir e compreender a confusão das personagens, mas também a necessidade de adaptação com vista à sobrevivência. 
Claro que basta a premissa para fazer desta série algo de promissor. Mas a concretização não desilude em nada. A componente visual, altamente expressiva e ajustando-se aos diferentes ambientes que percorre, transmite na perfeição a intensidade dos momentos de conflito. E a forma como, a cada episódio, imagem e diálogo se complementam precisamente nas medidas certas faz com que haja momentos em que se torna difícil tirar os olhos da página, tal é o impacto daquele pequeno fragmento. 
Mas voltando à história e ao caminho das personagens. Este é apenas o primeiro de dez volumes da série, o que significa que não é propriamente uma surpresa que quase tudo fique em aberto. Ainda assim, também aqui sobressai o equilíbrio entre as perguntas que precisam de resposta (e que deixam uma vontade quase irresistível de continuar a ler) e a impressão de que tudo culmina num ponto de viragem que parece dizer que, dali em diante, tudo será diferente. 
Trata-se, pois, de um belo início de aventura. Dramático, envolvente, mas com momentos de uma leveza cativante e aquele toque de emoção que torna tudo mais intenso, cativa desde as primeiras páginas e não deixa de surpreender até ao fim. A impressão que fica é, por isso, a melhor e a mais simples: dificilmente se poderia pedir um início mais promissor. 

Título: Y - O Último Homem: Um Mundo sem Homens
Autores: Brian K. Vaughan, Pia Guerra e José Marzán Jr.
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades 4 Estações

Este livro é para todos os que estão cansados de viver uma vida de dor, uma vida de toma de medicamentos e drogas, de sofrimento.
Neste livro, pode aprender mais sobre:
* O corpo físico, onde se
fala da importância de tratar do nosso corpo através da fisioterapia e de outras terapias, incluindo o exercício físico.
* A alimentação e a relação com o corpo.
* A medicina tradicional chinesa e a aculpuntura.
* As energias e as emoções sob a perspectiva do reiki e como os diversos chacras se associam a partes distintas do corpo físico.
Ao longo desta obra o leitor poderá encontrar, ainda, alguns exercícios rápidos que o ajudarão a conhecer- se melhor e a descobrir como pode aliviar a sua dor, ou o profissional que o possa ajudar.


O mecanismo de acção das práticas chinesas envolve sempre o desbloqueio no trânsito da rede de meridianos, por meio da intervenção nos seus pontos reguladores. É o livre fluxo do Qi que permite a correcção do distúrbio que ocasiona o mal-estar.
Aplicada ao autotratamento ou estendida a outra pessoa, a estimulação digital de pontos-chave mostra-se perceptivelmente útil para lidar com toda uma gama de distúrbios e disfunções, particularmente nas crises e noutras condições agudas. Como primeiros socorros nas emergências, em certos casos a intervenção manual chega a ser mais imediata do que a das agulhas da acupunctura!
Quando envolvem dores em geral, os resultados costumam ser imediatos e o número de pontos exigido é mínimo – muitas vezes um único ponto pode ser suficiente.
Todos os tratamentos constantes deste livro apresentam os pontos sugeridos ilustrados por diagramas da sua localização no corpo.


domingo, 18 de março de 2018

Mulher-Maravilha: Dama da Guerra (Leigh Bardugo)

Diana é a única na ilha das Amazonas que não foi testada em batalha. Criada pela rainha, é vista por muitos como um ponto fraco e a verdade é que, por mais que Diana se esforce por pertencer, não há muitas que achem que o seu lugar é ali. Só que um naufrágio ao largo da ilha está prestes a pôr à prova as condições de todos. Levada por não sabe bem que instinto, Diana resgata a única sobrevivente e leva-a para a ilha. Só que Alia não é apenas uma rapariga normal. Descendente da linhagem de Helena de Tróia, a sua existência basta para aproximar o mundo de uma nova era de guerra e sofrimento. E só há duas formas de o impedir: deixá-la morrer ou embarcar numa demanda perigosa e que levará Diana a deixar para trás tudo aquilo que conhece. A escolha pode parecer difícil, mas Diana sabe o que tem de fazer. E escolher partir é apenas o início de uma longa e perigosa demanda que irá exigir de ambas toda a coragem e determinação. 
Primeiro de uma série de livros centrados na juventude de um grupo de heróis sobejamente conhecidos, a primeira das muitas qualidades deste livro é que não é necessário qualquer conhecimento prévio da história da Mulher-Maravilha para apreciar o enredo. Neste livro, Diana é ainda uma jovem em busca do seu lugar no mundo e, por isso, saber pouco ou nada sobre o que a espera no futuro pode até resultar num maior impacto das reviravoltas deste livro. Além disso, é fascinante a possibilidade de descobrir os primórdios de uma personagem tão conhecida - e estes são um poço de surpresas, quer se conheça já bem a personagem ou apenas o nome e a imagem. 
Mas passando à história, um dos aspectos mais memoráveis deste livro é a forma como a autora consegue retratar na perfeição o contraste entre dois mundos e abordar valores e perspectivas relevantes sem nunca perder de vista o registo de acção constante que pauta o ritmo de todo o enredo. Há sempre algo a acontecer, inimigos a enfrentar, lugares que é preciso atingir, escolhas difíceis que exigem rapidez. E isso bastaria para tornar a história interessante. Mas juntemos-lhe um sentido de humor delicioso, momentos de uma emotividade poderosíssima e um conjunto de reviravoltas que conferem a tudo uma perspectiva diferente e tudo fica ainda mais intenso. 
E, para uma boa história, boas personagens. Diana e Alia são particularmente marcantes, claro, com o seu equilíbrio de força e de vulnerabilidade, de determinação e de dúvida. Mas também os que as rodeiam deixam marcas. Theo e Nim tem a qualidade especial de, além de estarem na base de alguns dos momentos mais divertidos do livro, realçarem uma ideia bastante importante nesta longa jornada: a de que os super-poderes podem ser úteis (e, oh, se o são, neste caso), mas não são um pré-requisito para a coragem. E, numa história onde o contraste entre os dois mundos é tão vincado, não deixa de ser particularmente fascinante a forma como esses dois mundos se conjugam. 
No fim, fica a sensação de se ter vivido uma grande aventura, cheia de perigos e de reviravoltas, mas também de afecto e de coragem e de dedicação. E é isto que torna tudo tão marcante: a ideia de um mundo diferente - ou de vários mundos em colisão - mas do qual há sempre algo de universal a retirar. Valeu, pois, a pena embarcar nesta viagem viciante. Mesmo, mesmo muito. 

Autora: Leigh Bardugo
Origem: Recebido para crítica

sábado, 17 de março de 2018

O Ovo de Rá (Mitro Vorga)

Maia faz parte de um grupo que, liderado pelo Mestre Ratapone, procura nas Montanhas Negras um eremita que lhes possa indicar o caminho seguido por um outro sábio e que os levará ao Ovo de Rá. Este, diz-se, contém os segredos da criação, mas o que é ao certo e onde está é um mistério. Na busca que os move, o caminho é árduo e as pistas muito poucas, mas nem o mestre nem os seus companheiros estão dispostos a desistir. Mas o que começa por ser um grupo de quatro não tardará a expandir-se, pois há muitos mistérios e perigos nas Montanhas Negras. E, a cada novo companheiro que se lhes junta, vem também mais conhecimento - e novos obstáculos.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro tem a ver com o contraste entre a vastidão de possibilidades e a leveza com que tudo nos é narrado. Capítulos curtos e um estilo de escrita bastante directo, em que a informação é fornecida à medida que é necessária, contrastam com uma demanda por um mundo onde quase tudo é novo e em que, ainda que de forma algo discreta, há espaço para grandes batalhas, intrigas de corte, lutas pelo poder e até criaturas fantásticas. E, sendo certo que isto deixa sentimentos ambíguos, pois fica a curiosidade em saber mais sobre tudo isto, também o é que o estilo directo consegue realçar o impacto do essencial: a demanda dos protagonistas e a aprendizagem pessoal associada a este percurso.
Porque é uma história de aventuras, essencialmente, mas há também um lado filosófico nesta jornada. Maia, principalmente, tem muito para aprender sobre o amor, a amizade, a lealdade e a coragem - e não é o único. E, entre os momentos de acção, há também espaço para episódios emotivos e conversas que, apesar de relativamente breves, contêm no seu âmago algumas grandes verdades. Também aqui o contraste se evidencia: entre a leveza dos momentos divertidos, a intensidade dos momentos de acção e a mensagem discreta, mas poderosa, que vai sendo transmitida ao longo deste caminho.
Muito é deixado sem resposta, até porque o final é todo ele uma grande questão, deixando em aberto a clara possibilidade de esta aventura vir a ter continuidade. A busca do Ovo de Rá ganha novos contornos ao longo da narrativa, mas não atinge um fim, passando, até, por vezes, para segundo plano face a outras necessidades e outra missão. Ainda assim, o ponto em que tudo termina parece ser bastante adequado: deixando ainda muito por percorrer, mas parando num ponto a partir do qual tudo terá inevitavelmente de mudar. 
A imagem que fica é, pois, a de uma história cativante e do que deverá ser, talvez, um ponto de partida promissor para algo mais vasto. Intrigante, surpreendente e com uma mensagem bastante forte, uma boa leitura.

Título: O Ovo de Rá
Autor: Mitro Vorga
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 16 de março de 2018

A Luz Sobre as Trevas (Allison Pataki e Owen Pataki)

Vivem-se tempos conturbados em França. A revolução, que começou como uma defesa de ideais mais elevados, tem vindo a assumir contornos mais sangrentos e a dura verdade é que ninguém está seguro. Principalmente se tiver uma gota de sangue nobre a correr-lhe nas veias, como é o caso de André Valière, capitão do exército da República. Filho de um nobre que morreu na guilhotina, André sabe que só mantendo-se acima de toda a censura poderá manter-se vivo, principalmente porque, ainda que não conheça os motivos, tem um inimigo poderoso de olhos postos em si. Entretanto, Jean-Luc St. Clair, jovem advogado idealista, mudou-se também para Paris com a família para servir a revolução, mas tem vindo a descobrir que as coisas não são tão simples como julgava. E, em pleno Terror, com a guilhotina a ceifar demasiadas vidas e inimigos ocultos à espreita ao virar de cada esquina, os caminhos de André e Jean-Luc terão inevitavelmente de se cruzar para travar uma batalha mais íntima, mais igualmente letal, pelas suas vidas.
Situado num contexto histórico complexo e de tão vastas e intrincadas intrigas que, por vezes, parece difícil acompanhar todas as mudanças, uma das primeiras coisas a cativar para este livro é o equilíbrio entre o desenvolvimento deste contexto delicado e o foco num percurso individual que, apesar de intimamente ligado aos acontecimentos do mundo em volta, segue uma linha mais íntima e pessoal. Ora, isto tem duas vantagens. Primeiro, ao acompanhar a perspectiva individual dos protagonistas, torna-se mais fácil assimilar o contexto mais vasto. E segundo, sendo este caminho tão árduo e cheio de perigos e mágoas, o impacto emocional é algo de profundamente intenso.
Ora este impacto, que é precisamente o que torna a leitura tão memorável, deriva também de dois factores: as personagens e as suas circunstâncias. Claro que estão interligadas, mas é o desenvolvimento equilibrado de ambas que torna tudo tão marcante. André e Jean-Luc são personagens fascinantes. Fortes, sim, ou não conseguiriam fazer o seu caminho, mas também de um idealismo comovente e de uma tal vulnerabilidade, em certos aspectos, que é quase impossível não sentir com eles as dificuldades, os dilemas, as provações, o medo. São heróis, cada um à sua maneira, mas heróis humanos e falíveis. E a forma como o seu percurso se traça sobre a ténue linha que separa a esperança do desespero dá forma a alguns momentos simplesmente devastadores.
Claro que, para haver heróis, é preciso que haja vilões e, num cenário tão mutável como a Revolução Francesa, o herói de hoje pode muito bem ser o vilão de amanhã. Mas os caminhos individuais de André e Jean-Luc tornam-se também marcantes pela força dos seus antagonistas, que, não sendo propriamente moralmente ambíguos, têm, ainda assim, na unicidade das suas motivações, algo de estranhamente perturbador e que contrasta fortemente com as posições dos seus adversários. André e Jean-Luc são, em certa medida, o oposto de Murat e Lazare - e este grande confronto de opostos é o que dá alma aos momentos de perigo e de intriga (e, sim, de desespero) e força ao longo percurso desta história.
No fim, fica uma estranha saudade destas personagens, tão marcantes pelos seus valores como pelas suas vulnerabilidades. E a impressão de uma viagem longa e difícil, mas escrita com uma tal fluidez e com um tão grande impacto emocional, que é quase como ter estado lado a lado com André e Jean-Luc - na batalha, nas masmorras, na multidão. Como ter vivido um bocadinho com eles. É isto, afinal, que torna tão marcante esta leitura. E é mais do que suficiente para merecer recomendação. Muito, muito bom. 

Autores: Allison Pataki e Owen Pataki
Origem: Recebido para crítica