terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Dylan Dog: Mater Morbi (Roberto Recchioni e Massimo Carnevale)

Dylan Dog está habituado a lidar com pesadelos, monstros e outros fenómenos sobrenaturais. Mas não imagina que o mais temível dos medos pode estar extremamente perto. Reconhecidamente hipocondríaco, sempre lidou com os sintomas da doença - e com os médicos - da maneira mais fácil de assimilar: ignorando-os. Mas fazer de conta que nada se passa deixou de ser possível. E, confrontado com uma enfermidade desconhecida e confinado a uma cama de hospital, Dylan vê-se perante outro tipo de demónio: a Mater Morbi, mãe de todas as enfermidades. E ela tem planos para ele.
Há algo de absurdamente genial na forma como este livro de pouco mais de cem páginas consegue conter tanto e explorá-lo de forma tão precisa. Do retrato da doença e do peso que ela tem na vida dos enfermos à reflexão sobre o prolongamento da vida quando prolongá-la significa apenas mais sofrimento, este é um livro que dá a temas profundos e assustadores uma visão completamente nova - e, ainda assim, brilhantemente fácil de assimilar.
Conhecer Dylan Dog é conhecer uma personalidade singular, com os seus rasgos de romantismo, os seus demónios interiores e a sua personalidade única - além da óbvia capacidade de lidar com todo o tipo de pesadelos. Mas este livro... este livro explora outro tipo de pesadelo e é poderosíssima a forma como estas impressões ecoam na mente do leitor. As introspecções de Dylan, além de maravilhosamente escritas, são de uma precisão perfeita. E quanto à visão da doença, é simultaneamente aterradora e assustadoramente certeira. A Mater Morbi, com os seus jardins de sofrimento, é, além de uma personagem notável, um reflexo perfeito daquilo que representa. Mãe da enfermidade, deveras... e extraordinariamente construída.
Algo que é constante nas aventuras de Dylan Dog é o forte impacto visual dos cenários e das expressões. Neste caso, isso torna-se ainda mais vincado. Os cenários de pesadelo, cheios de pormenores marcantes e com diferenças de traço e de sombras (e de cor também, neste caso) que parecem reflectir na perfeição os diferentes matizes da história. As expressões de um Dylan Dog mais vulnerável do que nunca, que espelham com a máxima precisão o sofrimento que serve de base a todo este percurso.
Muito mais do que um confronto pessoal com um demónio interior, este é um livro capaz de reflectir, através de um percurso individual, toda a intensidade de um sofrimento que é, no fim de contas, universal. E de construir a partir dele uma história simultaneamente assustadora e comovente, intensa, fascinante e memorável. Belíssima, em suma.

1 comentário:

  1. Começa muito bem mas tem um fim fraquinho.Depois de ler este desisti do personagem.

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