segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ilusão (ou o que quiserem), Luísa Costa Gomes

Jorge é um actor sem objectivos completamente definidos. Dobragens, anúncios, figuração... Todos os trabalhos que aparecerem são aceites. Teresa, a sua mulher, é professora e obcecada com a pedagogia. À medida que ambos se envolvem mais e mais nos seus projectos, contudo, a sua já estranha relação vai decaindo numa situação completamente diferente.
Este é um daqueles livros em que é bastante difícil expressar por palavras a opinião que deixa. Primeiro, a escrita da autora é fantástica, criando situações complexas sem que os leitores se percam. Apresenta-nos, além de uma história bastante peculiar, vários momentos de reflexão muito interessantes, que acabam por conduzir também o leitor à introspecção. E as circunstâncias da história, alternando entre o quotidiano e o surreal, deixam na mente do leitor uma memória que não é completamente clara, mas que não pode ser afastada.
Depois, os personagens. Desde as estranhas obsessões do casal protagonista, às pequenas peculiaridades como Deirdre, a esposa de Jorge no Second Life ou a estranha ligação entre membros de um grupo de teatro que não se entendem entre si, existe toda uma variedade de carácter e caracterização de personagens, criando um mundo complexo por dentro do mundo real.
Talvez não seja, às vezes, um livro fácil de ler. Existem alguns momentos em que, na mudança de capítulo, ficamos sem saber o que aconteceu exactamente, porque esses factos só nos são explicados mais à frente. A criatividade desta história, contudo, bem como a forma como a autora, partindo do teatro, cria uma verdadeira ligação da história à arte da representação (em público, como na vida privada), fazem deste Ilusão (ou o que quiserem) um livro que vale a pena ler. Gostei muito.

1 comentário:

  1. Luisa Costa Gomes tem o brilhante dom de elevar o real ao mundo das ilusões. A vida humana está, cada vez mais, submetida a uma espécie de tirania do real, em que o realismo, o pragmatismo, impedem a elevação do espírito.
    A sua escrita é precisamente um convite à ilusão.
    Talvez o mundo precise de um pouco mais de ilusão para fugir a este despotismo do real que nos oprime.

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