Henrique VIII reina em Inglaterra, mas não tem herdeiros. Agora, pretende casar com Anne Boleyn e cabe ao Cardeal Wolsey ser o mediador do seu divórcio junto das autoridades eclesiásticas. E, na sombra de Wolsey (e para além dela), está Thomas Cromwell, o protagonista deste livro.
Com uma escrita muito peculiar e um detalhe histórico impressionante, Hilary Mantel cria neste Wolf Hall um romance histórico denso, mas poderoso, onde situações e personagens já sobejamente conhecidas são exploradas ao detalhe. A escrita é soberba, mas muito particular o que, aliado a pequenos aspectos da própria História (como a própria autora escreve "metade do mundo se chama Thomas"), é um pouco difícil, inicialmente, entrar no ritmo deste livro. A partir do momento em que isto acontece, contudo, o impacto dos acontecimentos, a caracterização das personagens e o próprio estilo da autora entranham-se e fascinam.
Apesar de o protagonista deste livro ser Cromwell, todas as personagens estão detalhadamente desenvolvidas. Ainda assim, a minha predilecção vai - e em grande parte devido aos momentos que protagonizam - para Wolsey e Thomas More. Os momentos mais intensos e mais emotivos do livro acontecem em volta destes homens e, com Wolsey em particular, a sua sombra paira muito para além dos seus momentos de destaque.
Este é, em suma, um livro que recomendo a todos os apreciadores de um bom romance histórico, com a ressalva de que alguns aspectos da sua escrita podem torná-lo num livro um pouco pesado. Ainda assim, o esforço inicial que eventualmente exigirá ao leitor, é amplamente compensado ao virar da última página. Fecho, pois, com um dos meus excertos preferidos desta obra magistral:
"Outro homem iria a Leicester para ver o lugar onde ele morreu e falar com o abade. O vermelho do tapete do chão, o rubor do peito de um pisco-de-peito-ruivo ou do tentilhão, o vermelho do lacre, ou o coração da rosa: implantados na paisagem dele, encerrados no seu olho interior, e capturados no cintilar de um rubi, na cor do sangue, o cardeal está vivo e a falar. Olhai para o meu rosto: eu não tenho medo de nenhum homem vivo."
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