Titus Andronicus (William Shakespeare)

Sempre fui uma admiradora da obra de Shakespeare, mas, entre tantas e tão conhecidas obras, foi esta, uma entre as mais esquecidas, a peça que mais me marcou.

Titus Andronicus é, acima de tudo, uma história de vingança e de sofrimento, onde quaisquer vestígios de nobreza são punidos em dor e é basicamente o ódio a força que move cada um dos seus intervenientes. E tudo começa quando, ao regressar vitorioso de uma batalha, Titus se vê perante a escolha de um novo imperador. E a sua escolha errada (ainda que se suponha justa) de Saturninus acabará por ser o princípio da sua desgraça.

Rapto, estupro, traição, homicídio... Esta é uma obra onde a violência reina soberana e, desde os mais sofredores à figura do tirano, são poucos os que surgem como completas representações do bem ou do mal. Titus, o protagonista desta peça, perde tudo: honra, posição, família... Mas também ele surge, na sua atitude para com Tamora, como insensível e cruel, ao permitir o sacrifício do primogénito da rainha. Bassianus, o mais correcto dos dois candidatos ao império, não hesita em troçar de Tamora acerca das suas relações com o mouro. De entre todos os intervenientes nesta história, talvez apenas Lavínia represente o bem quase total, na sua inocência mutilada e sacrificada ante a lascívia de Quíron e Demetrius. E, por oposição, Aarão, o mouro, surge como o mal quase perfeito, o conspirador de todas as vilanias, arrependido apenas da impossibilidade de consumar algumas mais que as que orquestrou.

Violenta, perturbadora e profundamente negra, esta é uma obra onde a vingança e o ódio são razão de loucura e morte. E é esta sua intensidade sinistra e tenebrosa, onde todo o sofrimento é agravado e toda a súplica se torna vã, que torna Titus Andronicus numa obra tão marcante.