Um sentido de humor fascinante e uma série de situações onde é impossível não ver os traços, ainda que exagerados, da realidade da época do autor são os elementos que unem os contos incluídos neste pequeno, mas divertido livro, onde cada história é uma nova e envolvente surpresa. Com uma escrita simples e fluída, sem pretensiosismos, cada conto reflecte o objectivo do autor de levar a leitura às massas e a verdade é que as situações mais ou menos improváveis destas histórias são uma boa leitura para animar o dia.
O livro abre com o conto que lhe dá título, O Roubo do Elefante Branco. A história é a de um elefante que deveria ser oferecido à rainha de Inglaterra, mas que desaparece misteriosamente. Numa deliciosa sátira às investigações policiais, é-nos apresentado todo um improvável processo de investigação onde, ainda que o final seja relativamente previsível, o processo que a ele conduz é muitíssimo divertido. Segue-se Encontro com um "Intervistador", uma entrevista (ou "intervista") completamente surreal, que começa com um erro de ortografia e culmina com um morto a erguer-se do caixão, resultando num conto interessante, ainda que pouco desenvolvido.
Já em A História do Inválido apresenta-se o papel que, numa viagem para entregar aos familiares os restos mortais de um homem, um queijo e alguma imaginação podem desempenhar para causa de um delírio quase mortal. Seguem-se Notas de Paris, reflexões um tanto sarcásticas sobre os costumes dos franceses, nomeadamente no que toca à celebração de efemérides.
Outro conto bastante divertido é Arca de Noé, onde, numa narrativa curiosa e interessante, o autor imagina como seria a inspecção da arca, caso esta fosse construída na sua época. Mas a sátira ao sistema continua e, em A Grande Revolução de Pitcairn, a tranquilidade de uma comunidade que habita uma ilha deserta é abalada pela chegada de um americano com ideias revolucionárias. Uma deliciosa caricatura ao sistema político, num conto que, apesar do seu tom divertido, apela a uma certa reflexão.
Seguem-se Discurso sobre as Crianças, terna e interessante (ainda que um pouco estranha) reflexão sobre o papel das crianças no futuro e Cristóvão Colombo e a Múmia, a história de um grupo de turistas capazes de exasperar o mais paciente dos guias. Dois contos muito breves, mas ambos cativantes.
Um dos melhores contos do livro, na minha opinião, é Furai, Irmãos, Furai!. Neste texto, que nos conta como uns simples versos se entranham na mente de quem os lê para desaparecer apenas quando passados a uma nova vítima, o ritmo da história é completamente viciante e as situações constrangedoras provocadas pela obsessão pelos versos tornam este conto verdadeiramente delicioso.
Faço de Agente de Turismo conta as desventuras de um homem que decide servir de agente de turismo ao seu próprio grupo, numa viagem em que tudo corre mal. Um conto, de modo geral, bastante divertido, mas em que as constantes deslocações do protagonista, causam alguma confusão. Os Amores de Alonso Fritz Clarence e Rosana Ethelton, por sua vez, é um conto de vingança, mas também uma história de amor entre dois personagens peculiares. Agradável, ainda que o final pareça ser demasiado rápido, apresenta todos os elementos de crime e desencontro que neste tipo de história são característicos.
Mais uma referência satírica aos costumes dos franceses, em O Grande Duelo Francês. Aqui, o narrador conta como ficou ferido ao ser padrinho num duelo, numa brilhante sátira à pompa e formalismos associados a este tipo de confronto. Excursão Nocturna, por sua vez, mostra como a presença de um roedor e seus ruídos nocturnos age sobre a tranquilidade de um hóspede de hotel. Mais um conto agradável, mas que parece terminar demasiado depressa. Segue-se ainda Conselhos às Meninas Pequenas, uma série de irónicas sugestões de conduta.
E, para terminar em beleza, o livro fecha com o conto A Nota de Um Milhão de Libras. Intrigante, envolvente e muito interessante, esta é a história de um estrangeiro que, ao chegar a Londres sem um único cêntimo, se vê subitamente como alvo de uma aposta que o coloca ao nível dos poderosos.
Um livro agradável, que, na sua escrita fluída e sem grandes elaborações, proporciona momentos de diversão, mas também, pela sua componente satírica, de reflexão. Muito bom.
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