James Ripley Osgood é um dos sócios da editora americana de Charles Dickens. Mas o famoso autor acaba de morrer, deixando inacabado o seu último romance. E, ante a possibilidade de haver, oculto algures, um final para O Mistério de Edwin Drood, um final que resolverá todos os problemas de conflitos com outras editoras, dando à editora de Osgood o sucesso de que necessita, Osgood acaba por dar início a uma complexa investigação.
Se há algo que transparece desde as primeiras páginas deste livro é a meticulosa investigação e o conhecimento que o autor tem da vida e obra de Charles Dickens. Os lugares e as situações são cuidadosamente descritos e o detalhe ganha particular relevância no que respeita às leituras realizadas por Dickens na sua viagem ao continente americano. Mas nem só isto reflecte esse conhecimento. As referências às várias obras do autor, aos seus conhecimentos, ao seu intenso medo de acidentes em longas viagens, explorado em vários dos momentos mais interessantes do livro. Todos estes aspectos são desenvolvidos de uma forma cuidada e com bastante atenção ao detalhe.
A atenção ao pormenor, quer nos cenários quer na caracterização dos diversos elementos de cada situação, acompanhada por uma escrita cuidada e bastante elaborada nos detalhes, é parte do que faz com que o ritmo dos acontecimentos seja um pouco lento. Mais que contar a história de um mistério, o autor percorre cada lugar e cada momento, analisando as situações, inserindo aspectos secundários ao enredo principal, mas relevantes para a caracterização global da época e das pessoas que conviveram com Dickens. Isto faz com que a leitura se afaste do ritmo compulsivo de muitos mistérios, havendo momentos em que as coisas parecem acontecer muito devagar, para, de súbito, uma revelação inesperada ou uma sequência imprevista de acções apontarem num sentido completamente novo.
Ainda de referir a forma como "o livro dentro do livro" se insere no contexto desta história, criando semelhanças entre o mistério de Edwin Drood e os estranhos adversários que cruzam o caminho de James Osgood e Rebecca Sand. Mistérios que só podiam ser explorados através de uma história inacabada dão origem um paralelismo interessante entre estas aventuras e a própria obra de Dickens.
Uma obra interessante, com uma escrita muito agradável e uma história cheia de revelações, ainda que demore um pouco a cativar o leitor. Complexo nas diversas pequenas histórias que acompanham o enredo principal, bem desenvolvido tanto em cenários como em personagens, e com momentos bastante envolventes, apesar de algumas fases mais lentas. Gostei.
Não conhecia o livro, Carla. O tema é interessantíssimo. Adoro Dickens, de quem li quase tudo na adolescência.
ResponderEliminarVocê sabe se o romance inacabado existe mesmo, ou é tudo ficcional?
Gostei do seu blog. Cinema e literatura, um "drink" fatal e perfeito!
Bjs
Existe, sim, "O Mistério de Edwin Drood" é mesmo um livro de Dickens (que ainda não li, mas que me despertou uma certa curiosidade).
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