Sica. Século III. Uma nova perseguição aos cristãos está em vias de ter início. Calista, jovem escultora grega, vive, com o irmão, do trabalho de decoração e acabamento de estátuas dos mais variados deuses. Mas Agélio, cristão de fé vacilante, anseia por casar com a jovem grega e por a converter à sua religião, ainda que essa mesma conversão seja o primeiro passo para uma morte dolorosa.
John Henry Newman, cardeal católico do século XIX, contou, nesta narrativa, todo um percurso de descoberta e conversão por parte da mulher que viria a ser conhecida como Santa Calista. E se há algo em que o autor foi particularmente bem sucedida, foi na caracterização não só do cenário, mas também do pensamento da época. As descrições são claras e detalhadas, tanto nos aspectos mais belos da paisagem como nos mais tenebrosos da perseguição. E, ainda que esta caracterização se torne por vezes exaustiva, correspondendo a uma parte muito extensa de toda a narrativa, há uma certa envolvência poética na forma como os locais são apresentados.
O enredo, por outro lado, tem alguns elementos de estranheza. Tanto Calista como Agélio são personagens interessantes, mas, na imperiosa necessidade de explicar os motivos da conversão e uma possível representação do que seria, na época, a fé cristã, há, por vezes, comportamentos contraditórios da parte das personagens, aparentemente com o objectivo de encaixar nas questões teológicas abordadas ao longo do texto. E esta constante tentativa de inserir, até no mais simples dos pensamentos, uma mensagem religiosa, acaba por afastar uma boa parte da envolvência que poderia surgir entre o leitor e os protagonistas.
Uma leitura interessante, principalmente pelo poder das descrições e por alguns momentos de caracterização de personagens. Muito bem escrito, e cativante em vários momentos, não deixa de ter os seus pontos de interesse. Ainda assim, alguns excessos a nível de mensagem religiosa acabam por se tornar cansativos.
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