Na noite em que Charlotte de Fontenac foge do convento, determinada a contrariar a vontade da mãe (que, independentemente da sua vontade, pretende que a jovem tome os votos), o seu caminho acaba por se cruzar com o de um estranho grupo. Escondida nas sombras, Charlotte presencia um ritual revoltante e apenas a chegada de um estranho a impede de revelar a sua presença. Mas, para seu bem, Charlotte deve esquecer o sucedido e refugiar-se junto de sua tia, a condessa de Brecourt, que tratará de lhe encontrar a melhor posição possível para a manter afastada da mãe. Porque o tempo é de envenenamentos e estranhos rituais. E, quando demasiados interesses entram em choque, ninguém está verdadeiramente seguro.
É sem grandes introduções que a autora deste livro transporta o leitor para o interior da história. Desde as primeiras páginas que há muito de tensão e de mistério e, desde o momento em que a protagonista dá início à fuga que lhe mudará a vida, também o interesse em saber de que forma se resolverá a sua situação, bem como qual o significado da perturbadora situação com que a jovem se depara. É neste aspecto, aliás, que reside a grande força deste livro: na capacidade de conjugar tensões, mistérios e a medida certa de emotividade numa história onde a intriga é soberana e há mais forças em conflito do que, à primeira vista, se poderia julgar.
Charlotte de Fontenac surge como uma protagonista inocente, demasiado ingénua para o seu próprio bem, mas, apesar disso, bastante segura do que pretende. Esta mesma ingenuidade, que tanto a coloca nas situações mais constrangedoras como a torna num raro elemento confiável em cenário de intriga constante, cria um nítido contraste entre a figura da protagonista e a dos que a rodeiam, já que Charlotte parece ser a única sem grandes interesses em jogo.
Também muito interessante é a forma como a autora tece um enredo cativante em redor de detalhes históricos bastante precisos, construindo uma visão bastante ampla do que seriam os lugares e também as possibilidades de vida (e morte) naquela época. Este aspecto acaba por compensar o lado um pouco previsível do enredo na sua fase final (o próprio título é, por si só, bastante revelador), preparando território para uma conclusão que, ainda que um pouco abrupta, deixa em aberto várias dúvidas e possibilidades.
Leitura cativante e interessante relato de intrigas e conspirações onde, no meio de tudo, surge, marcante e invulgar, a figura de uma protagonista particularmente contrastante com o meio em seu redor, Mataram a Rainha! apresenta uma história envolvente e emocionante... e deixa muita vontade de saber mais.
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