quinta-feira, 22 de setembro de 2011

As Quatro Últimas Coisas (Paul Hoffman)

De regresso ao santuário dos Redentores, e dividido entre o impacto da traição e o desejo de vingança, Thomas Cale parece ter aceitado o seu suposto destino. É que, para onde quer que vá, a morte segue e, ainda que a sua única vontade seja a de ser deixado em paz, a sua única escolha é permanecer ao lado de um homem que odeia. Ao seu alcance está um poder quase absoluto. Mas, faça Cale o que fizer, a sua reputação está condicionada à influência de Bosco. E, por isso, tanto os seus actos como os seus planos têm de pesar ao mesmo tempo os seus interesses como as exigências dos que o rodeiam. Tem de ser, ainda e sempre, a imagem da ira de Deus.
Construído, em vários aspectos, como um volume de transição, a impressão geral que fica deste livro é a da movimentação de peças, como num jogo de xadrez, em preparação para uma jogada maior. Há, é claro, uma série de acontecimentos importantes, mas que funcionam, no essencial, como base para uma grande mudança cujas consequências estão ainda por ver. E se Cale está, de facto, no centro de tudo isto, há, ainda assim, uma visão mais geral dos acontecimentos, surgindo o protagonista mais como o comandante ou como a figura semi-divina e menos no seu lado mais humano.
Há uma mudança notável na caracterização de Cale, agora marcado pelos acontecimentos do passado e, como tal, bastante mais fechado. Ainda que a sua posição pessoal não seja muito marcada, destaca-se ainda assim a atitude provocadora para com um aliado desagradável, em oposição à estranha amizade que une Cale a Henri Vago. São, na verdade, estes pequenos momentos, alguns de uma leveza surpreendente, que fazem a verdadeira transição entre os grandes acontecimentos, alguns deles descritos num tom algo distante - talvez devido a uma influência que se exerce mais no sistema que na vida do próprio Cale.
Importa referir também a evolução de um universo que conjuga elementos do mundo real com uma adaptação muito peculiar de elementos da narrativa bíblica. Ainda que, nalguns casos, a inspiração bíblica seja bastante familiar, a visão geral apresenta algumas particularidades interessantes e os meandros do funcionamento dos Redentores - com toda uma vastidão de intrigas, ódios, interesses e traições - têm muito de cativante.
Trata-se, em suma, de uma leitura cativante e que, apesar de alguns momentos que poderiam ter sido um pouco mais desenvolvidos, cria para O Braço Esquerdo de Deus uma continuidade interessante e com um final surpreendente. Gostei.

4 comentários:

  1. Ainda não li, por isso farei apenas uma pergunta: a personagem de Henri Vago é mais desenvolvida?

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  2. Sim. Até o achei mais desenvolvido (do ponto de vista mais pessoal) que o Cale.

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  3. Ora aí está mais um incentivo lê-lo. Adorei Henri Vago no primeiro livro. :)

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  4. Olá,
    Li o primeiro livro e agora estou a ler este e está a custar-me um bocado (vou quase a meio e o interesse está cada vez menor) pelo que é uma boa noticia saber que tem um final surpreendente.
    Boas Leituras

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