sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Vasto Mar de Sargaços (Jean Rhys)

Esta é a parte da história que ficou por contar no romance de Charlotte Brontë, a história de Bertha Antoinette Mason, primeira mulher de Edward Fairfax Rochester. De que acontecimentos e razões a levaram à loucura, de como a sua relação com Rochester se criou (e destruiu) e de como, enfim, tudo acabou para a louca do sótão. Contada a diferentes vozes, a razão confunde-se com a insanidade, numa história onde grandes acontecimentos e palavras mal intencionadas mudam, para sempre, o caminho dos seus protagonistas.
Sendo a protagonista deste livro uma personagem pouco explorada em Jane Eyre - onde a loucura da mulher surge essencialmente como um facto sem grandes explicações -, a ideia de uma história onde se apresentem os motivos dessa loucura é, por si só, uma base interessante. E há razões fortes e momentos intensos, principalmente na primeira parte, mas surgindo ao longo de todo o livro, para justificar a insanidade. Situações que, de acordo com a perspectiva, parecem, por vezes, de uma veracidade questionável e que, por isso mesmo, criam uma interessante ambiguidade quanto ao que é real e quanto ao que é já o início da loucura.
Um outro aspecto interessante é o reflexo de como uma vida pode ser influenciada pelos rumores e pelas más intenções de figuras externas à vivência pessoal da protagonista. Também isto é particularmente evidente na primeira parte, no ódio que, desde o início, todos parecem ter para com Antoinette e a sua família, reflectindo-se as suas consequências ao longo de tudo o que virá depois.
Fica, nalguns momentos, a impressão de algo por explicar. Há uma longa linha temporal a ser percorrida neste livro relativamente curto e, por isso, bem como pela visão de uma história definida pelo que as personagens pensam e querem recordar, há mudanças que parecem ocorrer de forma um pouco brusca, como se alguns acontecimentos ficassem por contar. Ainda assim, o essencial está lá e o impacto final desta interessante leitura é uma visão das personagens bastante diferente da construída em Jane Eyre. Tanto para Antoinette como para Rochester.
Uma boa história, portanto, escrita de forma fluída e com momentos de grande intensidade. Cativante e, por vezes, surpreendente, uma boa leitura.

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