sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A Carta (Sarah Blake)

1940. Para os americanos, a Segunda Guerra Mundial é ainda um problema distante. Os acontecimentos chegam apenas através da voz dos jornalistas que percorrem Londres, onde, noite após noite de bombardeamentos, têm como objectivo único contar a história aos seus ouvintes. Mas há algo mais para Frankie Bard. Para ela, a história não é apenas uma sequência noticiosa: são as vozes dos que perdem os que lhe são mais próximos, dos que procuram, em desespero, por uma alternativa que sempre lhes será negada, dos que, a cada noite de terror, não sabem se voltarão a ver o novo dia. E a sua visão do cenário de guerra será ainda mais abalada na noite em que conhece Will Fitch, o marido da mulher que, longe, espera o seu regresso, sem saber que há uma carta guardada, à sua espera, como prenúncio de uma possível tragédia.
Este é um livro que provoca sentimentos contraditórios. Por um lado, há um tema que é, à partida, de um fortíssimo impacto e que, nos melhores momentos do livro, é abordado de forma intensa e comovente. Nos relatos de Frankie Bard, na sua insistência em não permitir que o que vê caia no silêncio do tempo e, mais tarde, na sua necessidade de transmitir a Emma o que viu no dia em que conheceu o seu marido são apenas alguns dos episódios que servem de base a uma reflexão sobre o que é a guerra e que perdas representa. Por outro lado, há um ritmo que é, na globalidade pausado e que, nalguns momentos, se torna um pouco aborrecido, principalmente na fase inicial, em que o caminho das personagens principais parece não ter grande relação.
Não é uma história que cative desde a primeira página. É com o decorrer dos acontecimentos - mesmo com aqueles que parecem ser menos relevantes, quando comparados com as grandes situações de Londres e da atribulada viagem de Frankie - que o impacto emocional se vai fazendo sentir. Além disso, há grandes diferenças entre as mulheres que protagonizam o livro. Iris, determinada, mas com dúvidas que esconde do mundo, deposita no sistema com que gere o correio a sua fé de que nenhuma mensagem ficará por transmitir, mas, quando chega a hora da verdade, também ela hesita. Por sua vez, a frágil e apaixonada Emma descobre as suas próprias forças quando, confrontada com um silêncio que não pressagia nada de bom, se força a persistir com a possível normalidade. Por fim, Frankie, sem dúvida a personagem mais carismática e cativante do livro, descobre, com a sua visão da guerra, que, por mais que o mundo queira ignorar, a voz da perda falará sempre mais alto. E é na viagem de descoberta de Frankie que está o melhor deste livro: no seu caminho de histórias incompletas, cujo fim talvez nunca venha a conhecer, mas que existem. E ela sabe que existem. E isso basta.
Fica, pois, deste livro, a impressão de uma narrativa um pouco desequilibrada a nível de ritmo, com momentos um pouco lentos a contrastar com a intensidade emocional das situações mais intensas. Ainda assim, o balanço é positivo, principalmente pela história de Frankie, mas também por algumas reflexões que permanecem importantes e que a autora apresenta com uma clareza marcante. Gostei.

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