terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Não Fomos Nós Dois (Tiago Gonçalves)

Incapaz de se enquadrar na sociedade em que se encontra, Júlio procura uma terapeuta. Mas Mafalda, com uma visão do mundo tão diferente da sua, toca-o de uma forma bastante mais profunda que a da simples relação profissional. E o sentimento parece ser recíproco. Acompanhando o ponto de vista de ambos os protagonistas, Não Fomos Nós Dois é a história das suas impressões, emoções e convicções... e como os seus caminhos se unem e separam de forma tão simples quanto marcante.
Um dos primeiros elementos a surpreender nesta leitura é a escrita. Num estilo muito próprio e peculiar em que, mais que uma linha narrativa (que existe, ainda assim), pensamentos e circunstâncias parecem surgir ao ritmo do impacto que exercem sobre os seus protagonistas. Mais que o contacto entre paciente e terapeuta, ou até mais que as relações que estes estabelecem para além do contacto entre ambos, cada acontecimento serve de base para uma avaliação dos seus valores e das suas reflexões. E é aqui que o contraste se define, já que, com tão diferentes posturas perante a vida, Júlio e Mafalda pertencem, apesar da relativa atracção, a mundos diferentes.
Trata-se de uma história relativamente breve, onde os acontecimentos passam para segundo plano ante convicções e emoções. Ainda assim, esta quase ambiguidade dos acontecimentos resulta inesperadamente bem. Na brevidade do texto, surgem contrastes e pensamentos que poderiam pertencer a qualquer um e isso basta para construir uma empatia que se torna mais forte pelo final inesperado. É certo que seria interessante ver mais sobre este duo de protagonistas, mas o essencial está lá.
Breve e com muito de pessoal, esta é uma história que, de leitura rápida e com um estilo de escrita muito próprio, fica na memória principalmente pela força das reflexões. Cativante e agradável, gostei.

Sem comentários:

Enviar um comentário