sexta-feira, 22 de junho de 2012

Álbum de Verão (Emylia Hall)

Tudo começa quando o pai decide, inesperadamente, fazer-lhe uma visita. Não sendo um hábito entre eles, Beth acha estranha a decisão, mas decide tirar o melhor proveito das circunstâncias. Mas há uma razão para essa visita e, quando o pai chega com uma encomenda enviada da Hungria, Beth não quer aceitar, pois não sabe como reagir. A visita acaba por durar apenas mais uns instantes... Mas o efeito perdura. É que a encomenda traz notícias da morte da mulher a quem Beth chamou mãe e um álbum com as fotografias dos verões passados na Hungria. Sete verões de alegrias e de sonhos... que acabaram num momento em que tudo mudou.
É no passado que reside o centro desta narrativa: no passado de Beth e na forma como este a marcou, mas também no passado que definiu as relações familiares nos primórdios da sua existência. Há, portanto, um núcleo relativamente simples de personagens, mas um conjunto de histórias pessoais que se entrecruzam no que é, em suma, uma história de relações e das circunstâncias que moldam o seu curso. Ainda que o essencial da história gire em volta dessas poucas personagens, há uma inesperada complexidade na forma como as suas vidas pessoais se cruzam num todo mais vasto.
No centro de tudo, está Beth. A Beth adulta, mas ainda e sempre a viver na sombra do passado, que recorda a sua história ao encontrar as imagens esquecidas no Álbum de Verão, e que, ante o reviver das recordações, tem, finalmente, de decidir o que quer do seu futuro, mas também a Beth que viveu esses sete verões, no tempo em que ainda era Erszi, a criança dividida pela separação dos pais, a viver duas vidas, uma em Devon, a outra na Hungria. Mas à história de Beth junta-se a de Marika, com o abandono, a busca pelas suas raízes e o segredo guardado durante demasiados anos, o mesmo segredo escondido por David e que será, afinal, a razão de muitas das mágoas e mal-entendidos na história da família que formavam. E há ainda Tamás, o ponto de partida para a descoberta de um amor partilhado na inocência da juventude, assombrado pelo fantasma de uma vida falsa, parcialmente vivida na pele de alguém que nunca existiu. E Zoltán, a presença discreta e reconfortante numa vida que se encaminha para o caos.
Muitas vidas se cruzam neste livro, portanto, e não é de surpreender, com tantas histórias entrelaçadas ao longo do enredo, que haja alguns momentos mais pausados, principalmente no que toca às memórias da Erszi criança que vivia a felicidade dos primeiros verões num ambiente belo e novo - mesmo quando mal compreendia, mas não podia esquecer, as mágoas associadas. Mas, mesmo nesses momentos em que a história avança mais lentamente, a beleza da escrita mantém a envolvência e a vontade de ler mais. A fluidez das palavras, a suavidade com que as reflexões mais pessoais e os laivos de melancolia surgem numa narrativa que é, no essencial, um reflexo e uma memória da Beth adulta e que, por isso, reflecte em cada frase a sua nostalgia e a sua perda. Uma harmonia que torna mais próximas as personagens e que transmite, principalmente nos momentos mais intensos, a totalidade do impacto emocional vivido pelas próprias personagens.
Esta é, no fundo, uma história sobre as cicatrizes da vida, sobre as marcas deixadas pelas perdas e pelos enganos e a necessidade - mas também a dificuldade - de as superar. Belo e envolvente, com uma história comovente e um conjunto de personagens carismáticas e cativantes, este Álbum de Verão fica na memória bem depois de terminada a leitura. E é também aí que está a sua magia.

1 comentário:

  1. Boa noite
    Gostava de te convidar a responder a uma questão que está no blogue Atmosfera dos livros. Acho que a ideia é interessante daí estar a convidar para a participação de todos os bibliófilos.
    Desde já grata pela atenção dispensada.Ficarei a aguardar a tua participação
    Boas leituras!

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