sexta-feira, 29 de junho de 2012

Mentiras (Michael Grant)

Passaram sete meses desde que todos os adultos desapareceram. Na ZRJ, o problema da falta de comida parece estar solucionado, pelo menos temporariamente, e o Conselho recentemente instituído procura uma forma de instaurar um sistema de regras. Mas a situação real está bem longe de ser pacífica. O Bando dos Humanos continua determinado em livrar-se dos que considera anormais. Orientada por uma rapariga que ninguém parece conhecer, Orsay clama ser capaz de ver os sonhos dos adultos que desapareceram, e anuncia que a forma de recuperar os seus familiares é simplesmente não lutar, quando o momento de desaparecer chega. O temível Drake, que todos julgavam morto, é visto a deambular pela ZRJ. E, enquanto os conflitos se tornam cada vez mais complexos, erguendo barreiras até entre Sam e Astrid, que deveriam ser os pontos de orientação para todos os outros, um incêndio destrói Perdido Beach, precipitando acontecimentos que se insinuavam já na tensão entre os diferentes grupos em conflito.
Se, nos primeiros volumes desta série, havia, por vezes, uma impressão de estranheza, devido não só à premissa do enredo, mas também à desordem resultante de um amplo conjunto de personagens a tentar lidar com o inesperado e sobreviver tendo em vista, em primeiro lugar, os seus próprios interesses, em Mentiras parece ter-se instalado uma relativa estabilidade. Não a nível de acontecimentos, entenda-se. A acção continua a ser uma constante e basta um instante para que tudo mude nos rumos da ZRJ. Há, antes, uma maior fluidez, mais facilidade em acompanhar o ritmo dos acontecimentos, quer porque muitas das personagens são já familiares, sendo mais fácil assimilar as suas acções e dilemas, quer porque os grandes inimigos parecem estar já bem definidos.
Há, ainda assim, várias mudanças a decorrer na ZRJ, o que permite uma história sempre envolvente e com várias surpresas ao longo do percurso. Aos grupos já conhecidos e às personagens que ganham maior protagonismo, juntam-se novos elementos, alguns deles de presença relativamente discreta, mas crucial para a evolução do enredo no sentido de uma conclusão intensa e inesperada. São, apesar disso, as personagens mais familiares os protagonistas dos momentos mais marcantes: Mary, com o seu importante papel na situação da Profetisa, mas também com a exposição dos seus demónios pessoais; Astrid, com as suas convicções demasiado arreigadas a revelar um aspecto mais sombrio da sua personalidade; e, principalmente, Sam, o líder procurado nos momentos difíceis, mas cada vez mais só com o seu papel na ZRJ e os demónios resultantes dos acontecimentos anteriores.
É inevitável, tendo em conta as circunstâncias dos protagonistas, que haja um lado sombrio e algo perturbador nesta história. Assim, impressiona a forma como o autor consegue conjugar as agruras do que é, no fim de contas, uma luta pela sobrevivência, com todos os sacrifícios e escolhas difíceis que sejam necessários, com aquele toque de esperança que mantém viva a necessidade de lutar, ao mesmo tempo que explora um cenário cada vez mais complexo (quer a nível do que causou a ZRJ e dos perigos nela contidos, quer na própria tensão emocional que toma posse das personagens), sem que se perca o ritmo viciante.
De leitura compulsiva, com um notável equilíbrio entre o lado mais sombrio do enredo e os valores ainda sólidos das personagens que povoam a história,  personagens que cativam tanto pela força como pelos defeitos que evidenciam, o autor acrescenta, neste livro, uma série de novas tribulações e revelações à já complicada história da ZRJ e dos seus habitantes. Um livro viciante, surpreendente, e com as medidas certas de acção e de emoção. Muito bom.

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