Alguns beijos, uma indisposição e um vestido com um corte mais amplo bastaram para comprometer a reputação de Linnet Berry Thrynne. Agora, todos pensam que ela espera um bebé do príncipe Augustus, e a hipótese de que este case com ela nem sequer se considera. Assim, a melhor hipótese de salvar a reputação parece ser aceitar um casamento com o conde de Marchant. Mas acontece que Piers Yelverton também tem uma fama complicada. Apesar de ser um médico brilhante, Piers é dono de um temperamento, no mínimo, irascível, e uma antiga lesão parece tê-lo tornado... incapaz. Assim, a perspectiva de uma esposa já grávida parece ser a solução para os problemas de todos. O problema é que Piers não concorda com esse ponto de vista...
Tendo na evolução do romance entre os protagonistas o ponto central da narrativa, não é de surpreender que o mais cativante neste livro sejam as personagens. Ambos com temperamentos fortes e com um passado que, ainda que de formas diferentes, deixou as suas marcas, Linnet e Piers têm em comum mais do que seria de esperar. E isso evidencia-se desde as primeiras páginas, com a forma veemente como Linnet responde perante a família quando as acusações são feitas e o passado é trazido à memória, e com os métodos usados por Piers para lidar com os seus pacientes e com os outros médicos. Na verdade, a evolução de Piers é particularmente cativante, já que, com assumidas influências do protagonista da série House M.D., as semelhanças são inicialmente evidentes, mas o carácter do protagonista evolui, com o desenvolvimento do enredo, para uma identidade própria.
Se as personalidades individuais dos protagonistas são, por si só, cativantes, o resultado da interacção entre ambos revela o melhor dos seus temperamentos. Igualmente teimosos, com o mesmo invulgar sentido de humor e com pontos de vista mais semelhantes do que qualquer um deles gostaria de admitir, Piers e Linnet completam-se na perfeição e a forma como a sua relação cresce, de forma gradual e com alguma relutância envolvida, torna-se mais cativante pela naturalidade com que o afecto surge, sem paixões avassaladoras, mas com um afecto crescente, que se releva na sua máxima intensidade quando a situação se torna de vida ou morte.
Mas o enredo não se resume ao romance entre Piers e Linnet e há dois elementos que se destacam. Todas as circunstâncias relativas à epidemia de escarlatina - acontecimento dominante na fase final da narrativa - permitem um desenvolvimento bastante interessante dos conhecimentos e dos meios à disposição dos médicos da época. E a história do reencontro entre o pai e a mãe de Piers, com todas as mágoas e sentimentos contidos durante demasiados anos, proporciona uma emotividade diferente, já que o afecto deste segundo casal é, em muitos aspectos, diferente da mais veemente e impulsiva paixão entre os protagonistas.
De leitura viciante, com uma história cativante e um ambiente bem construído, personagens carismáticas e as medidas adequadas de tensão, humor e emoção, Milagre de Amor proporciona uma leitura cativante, enternecedora, por vezes, e surpreendente em vários aspectos. Uma óptima surpresa.
Sem comentários:
Enviar um comentário