segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Anjo que Queria Pecar (Francisco Salgueiro)

Depois de muitos anos a trabalhar em Londres, um homem regressa a Portugal para se deparar com uma tragédia e um mistério. Mal acaba de regressar quando é chamado a uma cena do crime, onde um inspector da polícia o informa de que o seu conhecimento é necessário para avançar a investigação. Mas cedo a situação se revela em toda a sua estranheza. O comportamento do inspector não é o esperado numa investigação. O morto é uma figura familiar. E a indicação por este deixada leva à história de um mistério bem mais antigo: o da carta deixada por Aleister Crowley na altura do seu suposto suicídio na Boca do Inferno.
Cruzando diferentes narradores, à medida que a história recua no tempo, numa história em que cada novo passo traz novas revelações e um novo mistério, este é um livro que se torna viciante desde as primeiras páginas. Escrito em capítulos curtos, num estilo directo e com um enredo cheio de acção, O Anjo que Queria Pecar mistura uma surpreendente teoria sobre os acontecimentos da Boca do Inferno com a história invulgar de personagens que, sem o saber, sempre estiveram ligados a esses acontecimentos. A Aleister Crowley, Fernando Pessoa e Larissa Jaeger juntam-se personagens de um tempo bastante posterior, mas que se vêem inevitavelmente arrastadas para o mistério quando a tragédia entra nas suas vidas.
Tudo isto é desenvolvido com um ritmo intenso, um toque de emoção e uma série de enigmas que tornam a leitura mais e mais surpreendente a cada novo capítulo. À história principal, que, a cada novo acontecimento, cresce um pouco mais em complexidade, junta-se a presença de um passado do qual é cada vez mais difícil fugir, que ganha relevância à medida que as personagens parecem aproximar-se de uma possível resposta. Além disso, ao dar voz ao ponto de vista das diferentes personagens (inclusive as que viveram o estranho mistério de Crowley), surge com elas uma estranha proximidade, e isto aplica-se tanto à empatia para com as vítimas como ao sobressalto e à repulsa ante a crueldade de algumas situações.
Importa ainda referir a forma como a permanência de Crowley através de crenças e elementos culturais se manifesta nas circunstâncias descritas ao longo do enredo. Nesta área, sobressai a teoria em torno das mensagens subliminares, um elemento que, não sendo crucial ao rumo da narrativa, se revela como particularmente interessante e desperta até curiosidade em saber mais sobre o assunto. É, talvez, um aspecto relativamente secundário no enredo, mas acrescenta ainda um outro ponto de interesse a uma história que se define, em muito, pelos mistérios e revelações que apresenta.
Surpreendente, com um ritmo intenso e uma história que conjuga as medidas certas de acção e mistério, este é, portanto, um livro que vicia desde a primeira página, que cativa tanto pelas teorias que apresenta como pelas circunstâncias que envolvem as personagens e que surpreende pela resolução inesperada para o mistério em torno de Crowley e Pessoa. Muito bom.

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