quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Entre Mundos (Rita M. Cruz)

Rodrigo tem uma vida complicada. Aos catorze anos, tem de lidar com a depressão em que o pai mergulhou desde a morte da mãe, três anos antes, ao mesmo tempo que tenta controlar a sua própria tristeza. Mas, depois de mais uma discussão com o pai, a sensatez cede ao peso da fúria e Rodrigo acaba por aceitar sair, por algum tempo, com um amigo e o seu irmão algo irresponsável. Essa decisão terá um preço. Uma decisão irresponsável faz com que o carro em que os três se encontram caiam de uma falésia. Para os outros, o resultado é a morte. Mas Rodrigo sobrevive, para se encontrar numa ilha completamente desconhecida, onde as regras da normalidade não se aplicam e o jugo da misteriosa Feiticeira dita os rumos da vida de uma estranha tribo feita apenas de mulheres. A sua única aliada é uma das raparigas da tribo, mas há demasiadas perguntas sem resposta e o medo é um obstáculo de peso. Regressar ao seu mundo pode ser difícil... ou mesmo impossível. 
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é o tom de mistério em torno do ambiente para onde o protagonista se vê arrastado. Desde cedo que há muitas perguntas sem resposta, partindo, desde logo, das possíveis explicações para a existência de uma ilha situada, aparentemente, longe de tudo, mas onde as habitantes falam português. Os enigmas sucedem-se. As origens do sistema da tribo, as pequenas descobertas que Tatsi vai apresentando e as estranhas exigências da Feiticeira são apenas alguns dos elementos que mantêm viva a curiosidade ao longo da leitura, servindo de base a uma história envolvente, com alguns momentos muito bem conseguidos e uma fase final com situações de impacto e algumas revelações inesperadas. 
Grande parte do enredo gira em torno de duas personagens: Rodrigo e Tatsi. Sendo, literalmente, de mundos diferentes, criam-se entre ambos alguns contrastes interessantes, bem como situações curiosas, principalmente à medida que cada um deles aprende um pouco mais sobre o mundo do outro. São, também, as personagens mais desenvolvidas, e as que mais apelam a uma empatia que se opõe à quase revoltante crueldade que caracteriza os seus principais adversários. As relações entre personagens são, em grande medida, feitas de opostos. Em Rodrigo e Tatsi evidenciam-se principalmente valores como a coragem e a lealdade, enquanto que na Mãe e na Feiticeira são o egoísmo e a indiferença as características que se destacam. É fácil, portanto, distinguir heróis de vilões, ainda que haja alguns momentos em que a linha que os separa se esbate um pouco.
A nível de escrita, há algumas pequenas falhas. Os diálogos soam, por vezes, um pouco forçados, resultado de algumas situações de estranheza criadas para as personagens, e há algumas falhas de revisão (um ou outro erro ortográfico e alguma confusão na escolha de algumas palavras ou na organização de algumas frases) que, não sendo frequentes ao ponto de prejudicar o ritmo de leitura, são evidentes porque fáceis de detectar numa leitura atenta.
Trata-se, portanto, de uma leitura cativante, com uma base muito interessante, ainda que deixe algumas perguntas sem resposta, e desenvolvida de forma agradável. Fica, nalguns momentos, uma sensação de estranheza relativamente a algumas situações. Ainda assim, a história mantém a envolvência e surpreende, por vezes, pela resolução apresentada para alguns dos mistérios, o que contribui para manter o interesse na leitura. Tudo somado, valeu a pena ler.

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