Em pleno século X, o reino dos khazares prospera. A sua conversão ao judaísmo permitiu que o seu povo se estabelecesse num território rico, sem que isso significasse uma submissão ao domínio dos poderes em redor. Mas os olhos de Constantino caem agora sobre o reino dos khazares e um embaixador é enviado para estabelecer uma aliança. Os mais sábios sabem que Constantino é traiçoeiro e que a sua proposta tem na origem motivos ocultos, mas o Khagan espera ser obedecido - mesmo quando as condições do acordo implicam que a sua própria irmã aceite submeter-se a um casamento cristão. Ainda assim, os seus planos são abalados quando um mensageiro chega com uma carta para o Khagan. E, sem que ele próprio o saiba, chega também para conquistar o coração da Khatum. O futuro do reino pode estar comprometido, mas os seus segredos prevalecem... durante mil anos. É nessa altura que um escritor se cruza com uma desconhecida e, depois, com um homem que lhe propõe revelar a localização de um antigo tesouro khazar... pelo devido preço. Encontros que levam Sofer, o autor que decidiu deixar de escrever, a reencontrar a sua inspiração e a envolver-se numa aventura que lhe pode conquistar inimigos poderosos.
Um dos aspectos mais cativantes desta leitura é a aura de mistério que, desde as primeiras páginas, se vai estabelecendo. Ao construir esta história alternando entre dois períodos diferentes - e, em certa medida, entre duas histórias diferentes com alguns elos comuns - , as evidentes diferenças entre os dois ambientes despertam a curiosidade em saber que elementos os unem. Ao apresentar as personagens mais relevantes das duas linhas da narrativa, destacando, desde logo, as características que marcaram o rumo das suas vidas, insinua-se a existência de um paralelismo entre os acontecimentos das duas épocas, uma ligação cujos verdadeiros contornos vão sendo revelados de forma gradual à medida que o enredo evolui.
Também o povo e o cenário escolhidos para tema central deste livro chamam a atenção. Não sendo um tema muito explorado (ou, pelo menos, muito conhecido), esta história apresenta, assim, todo um mundo novo para descobrir, um reino, com todos os seus costumes e regras, que é revelado de forma cativante e interessante, reflectindo parte da sua complexidade, mas sem que a caracterização se sobreponha ao essencial da narrativa.
Porque é das personagens e do seu percurso que vive o essencial desta história. Dos perigos que atravessam e das situações delicadas em que se encontram, mas principalmente dos mistérios em que vivem ou que pretendem revelar. É aí que se define o rumo desta narrativa e, mais que a personalidade dos seus protagonistas, são as suas acções e as suas descobertas o que define os momentos mais marcantes de um enredo que cresce em intensidade para culminar num final intenso e surpreendente. Final que, sem responder a todas as perguntas que vêm à mente ao longo da leitura (fica, de facto, a sensação de que faltam pormenores na forma como partes da história são contadas), marca pelo impacto emocional de uma conclusão que é não só inesperada, como realista, tendo em conta as forças em conflito.
Com um cenário construído de forma precisa, mas sem que as descrições se tornem monótonas, uma escrita cativante e um enredo cheio de mistério e que culmina num final impressionante, O Vento dos Khazares cruza épocas e culturas diferentes para criar uma narrativa em que nem todas as perguntas têm respostas, mas que se torna envolvente desde as primeiras páginas. Vale a pena ler.
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