"«A minha vida.» Quando penso estas palavras, vejo diante de mim um rasto de luz. Observando melhor, a luz tem a forma de um cometa, com uma cabeça e uma cauda. A extremidade mais luminosa, a cabeça, é a infância e a idade do crescimento. O núcleo, a parte mais densa, é a primeira infância, quando são determinados os traços principais da nossa vida. Tento recordar-me, tento chegar lá. Mas é difícil movimentarmo-nos nessas regiões muito condensadas, e perigoso, tenho a sensação de que chegaria muito próximo da morte. Mais adiante, o cometa dilui-se: é a parte mais comprida, a cauda. Torna-se cada vez menos denso, mas também mais largo. Encontro-me agora num ponto muito avançado da cauda do cometa; tenho sessenta anos no momento em que escrevo estas linhas."
Nascido em Estocolmo em 1931, Tomas Tranströmer estudou Poesia e Psicologia na Universidade de Estocolmo e, a par do seu trabalho como psicólogo com toxicodepentes e jovens delinquentes, construiu uma fulgurante carreira como poeta, várias vezes premiada e com livros publicados em mais de 60 línguas. Em 2011 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da Literatura. Hemiplégico e afásico devido a um AVC sofrido anos antes, Tranströmer agradeceu a distinção tocando piano. Vive atualmente na sua cidade natal com a mulher, Monica.
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