quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Os Diários Secretos (Camilla Läckberg)

Depois de um ano dedicado quase exclusivamente a cuidar da filha, Erica Falck regressa ao trabalho no seu novo livro. Cabe agora a Patrik esquecer o trabalho e ficar em casa durante algum tempo a tomar conta de Maja. Mas não é assim tão fácil, quando um novo caso de homicídio surge em Fjällbacka e tudo indica que alguma ajuda poderia ser útil aos seus colegas. A vítima é um historiador com vastos conhecimentos sobre o nazismo e a Segunda Guerra Mundial e tudo indica que já esteja morto há algum tempo. Não há grandes pistas quanto à identidade do seu assassino. Mas a história de Erik Frankel cruza-se também com um outro trabalho de investigação de Erica, que o contactara pouco antes da sua morte para obter informações sobre uma medalha nazi. Não há postas concretas a ligar a morte do historiador às buscas de Erica pelo passado da mãe, mas é certo que eles se conheceram em tempos. E é possível que a visita de Erica tenha despertado memórias e segredos que deveriam ter ficado por rebuscar.
Ainda que, tal como nos volumes anteriores, haja um caso de homicídio para investigar, neste livro a parte de investigação que conduz à descoberta do assassino acaba por ser bem menos desenvolvida que nos anteriores. Isto acontece, em grande medida, porque o mais marcante do mistério está no passado de Elsy, a mãe de Erica, e não propriamente na razão que justifica as mortes. Esta é, aliás, facilmente perceptível, já que tudo gira em torno do segredo que mudou a vida de Elsy e que o seu grupo de amigos quis manter a todo o custo. Segredo que é, de facto, preservado até ao fim, e que está na base de vários momentos intensos, mas cujo impacto se reflecte mais na vida de Elsy e no que dela passou para Erica que propriamente nos passos que conduzem à revelação do culpado. Além disso, fica, por vezes, a impressão de que mais poderia ter sido desenvolvido nos momentos relativos ao passado, tendo em conta a forma como influenciam os grandes acontecimentos do enredo.
No que diz respeito ao mistério, portanto, este livro fica um pouco abaixo dos anteriores. Há, ainda assim, vários aspectos na narrativa que compensam este menor desenvolvimento de algumas partes do enredo. A familiaridade com as personagens, que vem dos volumes anteriores e que permite entrar facilmente no ritmo da leitura, conjuga-se com uma série de novos desenvolvimentos nas suas vidas pessoais, revelando novas e cativantes características das suas personalidades. Além disso, se o mistério em torno do grupo de Elsy é, nalguns aspectos, pouco desenvolvido, há, ainda assim, várias situações de grande impacto, nomeadamente na abordagem às ideologias extremistas de Frans e à forma como estas contrastam com as suas acções, revelando um bom exemplo de como a vida está longe de ser a preto e branco. Até mesmo a experiência de Axel durante a guerra serve para dar forma a grandes momentos e importantes reflexões, mesmo se as marcas da guerra são representadas de forma algo discreta.
Diferente, em alguns aspectos, dos outros livros da série, Os Diários Secretos apresenta um enredo em que a parte de investigação policial passa, por vezes, para segundo plano relativamente às questões pessoais e a um tipo diferente de mistério: ao dos assuntos inacabados do passado. Há, portanto, também um desenvolvimento diferente a nível da história e das personagens. Mas os pontos fortes, a empatia para com as personagens e o retrato preciso do ambiente em que vivem, o ritmo envolvente e feito de momentos intensos e a reflexão sobre preconceitos e mentalidades, esses, continuam bem presentes. O resultado é uma história que, não tendo a mesma intensidade da dos livros anteriores, tem, ainda assim, muito de interessante para revelar. Muito bom.

Novidades Bertrand


Um dos romances mais lidos e apreciados de todos os tempos, Pássaros Feridos é uma saga de sonhos, paixões negras e amores proibidos. Passada na Austrália, percorre três gerações de um indomável clã de rancheiros cujas vidas vão ganhando contornos numa terra dura mas de grande beleza, ao mesmo tempo que lidam com a amargura, a fragilidade e os segredos da sua família.
Uma apaixonante história de amor, um intenso épico de luta e sacrifício, uma celebração da individualidade e do espírito. É sobretudo a história de Meggie e do padre Ralph de Bricassart – e da intensa ligação de dois corações e duas almas ao longo de uma vida inteira, numa relação que ultrapassa perigosamente as fronteiras sagradas da ética e do dogma.

Colleen McCullough nasceu na Austrália. Neuropatologista de formação, foi a fundadora do departamento de Neuropatologia do hospital Royal North Shore, em Sydney, antes de começar a trabalhar como investigadora e professora em Yale, onde permaneceu durante dez anos. A sua carreira como escritora teve início com a publicação de Tim, a que se seguiu o  best-seller internacional  Pássaros Feridos.
Vive em Norfolk, no Pacífico, com o marido, Ric Robinson. 

Um crime violento  junta a vida de quatro pessoas  neste livro de Danielle Steel. Peter Morgan é libertado da prisão depois de quatro longos anos e muitos votos para se redimir. Ao mesmo tempo, Carl Waters, um homicida, também é posto em liberdade. Nessa  noite, a muitos quilómetros de distância destes acontecimentos, o inspector da polícia Ted Lee chega a casa e encontra-a vazia. Durante vinte e nove anos, viveu para o seu trabalho e, gradualmente, foi-se afastando da mulher. Agora está sozinho. Do outro lado da cidade, uma mãe procura proteger os três filhos do pânico que cresce dentro  de si. Quatro meses passados desde a morte do marido, Fernanda Barnes enfrenta uma montanha de dívidas que não consegue pagar, um mundo destruído, um casamento perdido. 
No intervalo de algumas semanas, a vida dos quatro vai cruzar-se de maneiras inesperadas. Para Fernanda, habituada a viver em belas casas, com segurança, sucesso e riqueza, a morte do marido já fora um golpe duro de mais. Agora, um crime arrasador vem abalar a sua família e trazer para a sua vida o inspector Ted Lee. Homem de uma integridade inabalável, Lee não tarda a transformar-se na pessoa que tenta salvar a família de Fernanda de um destino terrível. 
Danielle Steel explora de forma brilhante os efeitos do crime no quotidiano das suas vítimas num romance que nos cativa do princípio ao fim. 

Danielle Steel é a mais popular das autoras contemporâneas e já entrou no Guinness World Records por ter tido um ou mais livros seus durante 381 semanas consecutivas na lista de best-sellers do New York Times. 
Em 2002, a autora foi galardoada com a prestigiante Ordre des Arts et des Lettres pelo seu contributo de uma vida para a cultura mundial. É ainda fundadora de duas instituições de solidariedade, em memória do seu filho Nick: a Nick Traina Foundation, que apoia doentes do foro psiquiátrico e crianças vítimas de maus-tratos, e a Yo! Angel!, que ajuda os sem-abrigo.
A autora, mãe de nove filhos, vive em São Francisco e Paris.

Novidades Asa para Novembro


Londres, 1910. Belle tem quinze anos e uma vida protegida. Graças aos cuidados da ama, ela nunca se apercebeu de que a casa onde vive é um bordel, regido com mão de ferro pela sua mãe. Porém, a verdade encontra sempre maneira de se revelar… Para Belle, será no trágico dia em que assiste ao assassinato de uma das raparigas da casa. Ingénua e indefesa, ela fica à mercê do criminoso, que a rapta e leva para Paris, onde se inicia como cortesã. Afastada do único lar que conheceu, a jovem refugia-se nas memórias de infância e acalenta o sonho de voltar aos braços do seu primeiro amor, Jimmy.
 Mas Belle já não é senhora do seu destino. Prisioneira da sua própria beleza, é alvo do desejo dos homens e da inveja das mulheres. Longe vão os anos da inocência e, quando é levada para a exótica e decadente cidade de Nova Orleães, ela acaba por apreciar o estilo de vida que o Novo Mundo tem para lhe oferecer. Mas o luxo e a voluptuosidade que a rodeiam não mitigam as saudades que sente de casa, e Belle está decidida a tomar as rédeas da sua  vida. Um sonho que pode ser-lhe fatal pois há quem esteja disposto a tudo para não a perder. No seu caminho, como barreiras fatais, erguem-se um continente selvagem e um oceano impiedoso. Conseguirá o poder da memória dar-lhe forças para sobreviver a uma viagem impossível?

Lesley Pearse é autora de uma vasta obra publicada em todo o mundo e uma das escritoras preferidas do público português. Os seus livros venderam mais de sete milhões de exemplares até à data. A própria vida da escritora é uma grande fonte de inspiração para os seus romances. Quer esteja a escrever sobre a dor do primeiro amor, crianças indesejadas e maltratadas, adopção, pobreza ou ambição, ela viveu tudo isto em primeira mão. Lesley é uma lutadora, e a estabilidade e sucesso que atingiu na sua vida deve-os à escrita.

A bela e jovem O testa os limites da sua mente e do seu corpo através de uma sexualidade violenta e inquieta neste romance clássico da literatura erótica. Enclausurada no castelo de Roissy, O submete-se a todos os desejos e fantasias do seu amante. A entrega, total, é-lhe escrita na pele, marcada na carne. Um processo de iniciação que vai levá-la mais longe do que alguma vez imaginou: ao lugar onde o prazer máximo pertence ao outro. Considerado um dos mais polémicos romances do século XX, História d’O foi galardoado com o Prix des Deux Magots, em 1955.

Pauline Réage (1907 – 1998) é o pseudónimo de Anne Desclos, jornalista e escritora francesa. História d’O foi publicado originalmente em 1954, causando grande controvérsia e especulação em relação à verdadeira identidade da autora. Na sua génese, está o desafio lançado pelo editor Jean Paulhan, que afirmou não acreditar que uma mulher fosse capaz de escrever um romance erótico. Anne Desclos admitiu a sua autoria apenas quarenta anos após a publicação. História d’O foi adaptado para o cinema em 1975.

Novidade Presença (6 de Novembro)


Título: Estrada Vermelha, Estrada de Sangue
Autora: Moira Young
Título Original: Blood Red Road
Tradução: Miguel Romeira
Páginas: 336
Colecção: Via Láctea Nº 107
PREÇO SEM IVA: 15,94€ / PREÇO COM IVA: 16,90€
ISBN: 978-972-23-4917-8
Data de Publicação: 6 Novembro 2012

OBRA VENCEDORA DO COSTA BOOK AWARD PARA O MELHOR LIVRO JUVENIL

«O admirável romance de estreia de Moira Young situa-se no ponto de encontro entre Os Jogos da Fome e A Estrada.» -- The Bookseller

Estrada Vermelha, Estrada de Sangue é um thriller futurista, uma aventura épica que se passa num período pós-apocalíptico e extremamente violento. Saba, a protagonista, é uma jovem que viveu sempre em Silverlake, numa zona inóspita e quase deserta, até ao dia em que uma tempestade de areia traz consigo um bando de terríveis criminosos que lhe matam o pai e levam consigo Lugh, o irmão gémeo que ela adora. Saba vai investir toda a sua coragem na busca do irmão, numa demanda perigosíssima e empolgante que culminará numa apoteose de pura adrenalina.

Moira Young foi actriz e cantora antes de se tornar escritora. Nasceu no Canadá, mas vive actualmente em Bath, no Reino Unido. Estrada Vermelha, Estrada de Sangue é o seu romance de estreia e foi distinguido com um dos prémios literários mais prestigiados e populares do Reino Unido – o Costa Book Award 2011 para melhor livro juvenil.

Os direitos cinematográficos foram vendidos à produtora de Ridley Scott, Scott Free, e recebeu o Costa Children Book Award 2011.
Direitos vendidos para: Estados Unidos, Canadá, Brasil, Bulgária, Croácia, República Checa, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Holanda, Hungria, Indonésia, Itália, Israel, Japão, Coreia, Noruega, Roménia, Portugal, Sérvia, Espanha, Suécia, Taiwan, Rússia.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Artemis Fowl - Incidente no Ártico (Eoin Colfer)

Desde a completa recuperação da mãe, os planos de Artemis Fowl tornaram-se mais difíceis de concretizar - mas nada que a sua mente brilhante não consiga resolver. E Artemis tem bastante com que se preocupar. Uma mensagem misteriosa confirma-lhe que o pai está vivo, mas nas mãos da máfia russa e, portanto, na pior das situações. E, enquanto Artemis se prepara para dar forma a um plano de resgate mais eficaz que, simplesmente, morrer a tentar, também os habitantes do subsolo têm um problema em mãos. Alguém está a ajudar os goblins a conseguir fontes de energia humanas - alguém humano - e, naturalmente, Artemis Fowl é o principal suspeito. Capturado pelas fadas e (imagine-se!) perfeitamente inocente, Artemis descobre que talvez não seja capaz de fazer tudo sozinho e que, apesar dos acontecimentos que os tornaram inimigos, uma aliança com os Seres possa revelar-se vantajosa para ambos os lados. Principalmente tendo em conta que é urgente fazer alguma coisa. Qualquer coisa.
Acção constante para um enredo sem momentos mortos e um sentido de humor delicioso são, tal como no primeiro livro desta série, as principais razões para que este livro se revele uma leitura compulsiva. Tendo nos mais jovens o seu público-alvo, as linhas essenciais da história são relativamente simples, sendo a acção o elemento mais desenvolvido e a caracterização das personagens algo que surge de forma mais gradual. Ainda assim, a história é bastante mais elaborada que a do primeiro livro e a evolução das personagens é, também, considerável, havendo, portanto, uma evidente evolução, quer a nível de enredo, quer dos seus protagonistas.
Uma vez que grande parte das personagens são já conhecidas do primeiro volume, é, desde logo, mais fácil, entrar no ritmo da história, já que as figuras que a protagonizam são facilmente reconhecíveis. Mas esta familiaridade contrasta com outro tipo de evolução: o evidente crescimento de algumas personagens, e de Artemis em particular. A empatia que se insinuava no primeiro volume torna-se agora mais forte, já que um lado diferente do protagonista é agora mais revelado. E é particularmente agradável conhecer as melhores características de Artemis Fowl, preocupado, vulnerável, pouco habituado à acção, mas disposto a tentar e, principalmente, com uma perspectiva mais clara das acções e das suas consequências. Esta mudança abre também caminho para uma mudança de atitude por parte daqueles com quem interage, levando a que necessária cooperação com as fadas surja de forma bastante mais natural que o seu anterior conflito.
A história torna-se um pouco mais complexa, portanto, com esta maior caracterização das personagens, mas nada perde da intensidade do ritmo. Há sempre alguma coisa a acontecer e espaço para a intervenção dos elementos mais improváveis, mesmo aqueles que, depois do sucedido no primeiro livro, se julgava não voltarem a aparecer. E, entre a conspiração a decorrer no Subsolo e o desigual, mas inevitável, confronto com a máfia russa, há também uma interessante e eficaz conjugação de instinto e estratégia. O resultado é uma história viciante e cheia de bons momentos.
Trata-se, pois, de uma história que, não sendo particularmente complexa, representa uma boa evolução relativamente ao primeiro volume. Com personagens mais empáticas, muita acção, a medida certa de humor e até mesmo um toque de emoção, Artemis Fowl - Incidente no Ártico proporciona uma leitura viciante, intensa e agradável. Uma boa história, em suma, e uma boa leitura.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

D. Pedro, O Rei-Imperador (Javier Moro)

Partiu de Portugal aos nove anos de idade, quando a corte se mudou para o Brasil para fugir das invasões francesas. E aí cresceu, rebelde e impulsivo. Sempre com dificuldades em aceitar que o seu papel enquanto príncipe real pudesse condicionar as suas liberdades enquanto homem, foi tão impetuoso nas suas escolhas amorosas como nas decisões mais drásticas do seu reinado. Em tempos de revolução, conseguiu manter a autoridade no Brasil, para depois lhe conquistar a independência, tornando-se imperador. Junto da esposa, conquistou o afecto dos seus súbditos, mesmo quando alguns o desprezavam por ser, em parte, português. A sua progressiva cedência às vontades da amante retirou-lhe esse mesmo afecto. Deixou um grande legado, quer no Brasil onde reinou, quer em Portugal, onde enfrentou o próprio irmão para derrubar o absolutismo. E, em todas as conquistas e em cada um dos fracassos, conquistou amigos e adversários, e viveu, com todas as consequências, cada uma das suas escolhas. Esta é a história de D. Pedro IV de Portugal, I do Brasil. Rei, imperador e, principalmente, homem.
Fruto de uma investigação exaustiva e construído com um evidente cuidado em respeitar os factos conhecidos, este é um livro abundante em pormenores históricos. Como tal, apresenta uma forte componente descritiva e uma muito extensa base de contexto histórico ao longo de toda a narrativa. Se Pedro é o protagonista e é nele que se centra a narração dos acontecimentos, não deixa, por isso, de ser crucial a importância das outras personagens que o rodeiam. Assim, a caracterização detalhada e meticulosa que se aplica quer ao ambiente, quer aos factos históricos, é também evidente na caracterização das personagens, e isto aplica-se a praticamente todas as personagens relevantes, não apenas à figura central.
Com todo este desenvolvimento a nível de descrição e caracterização, não é uma surpresa que o ritmo da narrativa seja bastante pausado. Isto não significa que a leitura seja menos envolvente, muito pelo contrário. A forma como o autor apresenta os muitos pormenores, relacionando-os com os acontecimentos que narra e com a visão geral do contexto histórico cativa o interesse do leitor desde as primeiras páginas e nunca o perde, mesmo quando as descrições são mais longas e a conjuntura global afasta de Pedro parte das atenções.
Há, naturalmente, muito de interessante a descobrir ao longo do enredo e a conjugação entre grandes momentos históricos, como o sobejamente conhecido grito do Ipiranga, e as situações de carácter mais privado realça o contraste entre a figura de estado e o simples homem, entre Pedro imperador, e Pedro marido, pai e amante. Contraste que reforça, aliás, o grande dilema que parece pairar sobre toda a narrativa: a escolha entre ser homem e ser soberano, com todas as limitações impostas a esta decisão.
De tudo o que de bom existe neste livro, e há muito de bom para desvendar, um aspecto sobressai acima de todos os outros e este prende-se com a caracterização das personagens, com o natural destaque para o próprio Pedro. Se a história é por si só complexa, com todas as suas intrigas e mudanças, as personagens não o são menos. Ao percorrer grande parte da vida de Pedro, o autor representa na perfeição o seu percurso de crescimento e, mais que isso, desenvolve todas as suas complexidades. A ânsia de manter as suas liberdades pessoais, as paixões insensatas a que não consegue resistir, a simples humanidade com que toma algumas decisões e a pura indiferença com que, principalmente para com a esposa, dá forma a outras. Pedro é revelado no mais admirável do seu carácter, mas também no mais detestável, com as melhores decisões e com os erros mais imperdoáveis. No bem e no mal, no que o torna forte e no que o torna falível. Humano, portanto, com todas as suas complexidades. E o mesmo se aplica aos que o rodeiam, com maior ou menor destaque, sendo Leopoldina a figura que, neste aspecto, mais se evidencia - o que é adequado, tento em conta o seu papel no cenário global.
Riquíssimo em pormenores históricos e completo na caracterização do cenário e da época, este é um livro que, pela vastidão de detalhes descritivos que apresenta, dificilmente poderá ser uma leitura compulsiva. Apresenta, ainda assim, uma história envolvente, cuidadosamente construída, com personagens complexas e muito bem caracterizadas e o toque de emoção e empatia que faz com que, mesmo nos momentos menos pessoais, haja sempre algo a manter vivo o interesse pela narrativa e pelo seu protagonista. Trata-se, pois, de um livro para apreciar pausadamente, porque se revela altamente compensador. Muito bom.

Novidade Caminho


“Pertenço a uma enorme família, cheia de curiosas ramificações. Cresci num ambiente singular. Transporto comigo histórias engraçadas que merecem um registo. Tenho uma dívida de gratidão para com todos os que por vontade expressa ou por acaso converteram a minha infância e juventude no tesouro que ninguém me pode roubar. Quando senti necessidade de deixar um testemunho aos filhos e aos netos, fiz apelo à memória retrospectiva apoiada nas agendas onde anoto o meu dia a dia desde criança e procurei parentes que não via há muito a fim de preencher lacunas e pedir fotografias. Esses encontros, bem agradáveis, proporcionaram-me descobertas que ampliaram o projecto e obrigaram à leitura de papelada coberta de pó no fundo das gavetas. Tirei dúvidas, aprofundei as relações com o passado, escolhi o que me pareceu mais significativo e esclarecedor. “ -- Ana Maria Magalhães

Ana Maria Magalhães nasceu em Lisboa em 1946 numa família daquilo a que hoje chamaríamos classe média alta. Fez os estudos secundários num colégio de freiras e licenciou-se em Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa. Foi até há poucos anos professora de Português e História no Ciclo Preparatório. Tornou-se conhecida em todo o país pela sua actividade literária destinada aos leitores mais jovens. Em parceria com Isabel Alçada publicou muitas dezenas de livros destinados a este público. Dessa vasta produção destaca-se, pelo número de títulos publicados e pelas tiragens alcançadas (cerca de oito milhões de exemplares) a colecção Uma Aventura, que começou a publicar-se em 1982 e teve um considerável impacto na literatura portuguesa para jovens. O presente livro é o relato da sua infância e juventude até aos 20 anos de idade.

domingo, 28 de outubro de 2012

The Serial Killer (João Melo)

É de situações caricatas, com mais ou menos matéria para reflexão associada, que se define o essencial destes contos, histórias breves, na maioria, e peculiares, algumas mais divagativas e outras em que são os acontecimentos o essencial da história. Do conjunto, ficam sentimentos ambíguos, já que alguns dos contos conseguem ser fascinantes, enquanto que noutros fica a sensação de algo em falta. Ainda assim, há algo de bom para descobrir em bastantes deles. Mas vamos por partes.
O primeiro conto é também o que dá título ao livro. The Serial Killer narra uma entrevista peculiar, num conto breve, algo caricato, mas que consegue abordar, de forma simples e precisa, várias teorias interessantes. Segue-se O Celular, história do roubo de um telefone e da consequente confusão envolvida. Partindo de uma situação estranha, trata-se de uma história cativante, que, de forma directa e sem grandes elaborações, tece algumas considerações relevantes sobre o preconceito e a falibilidade das forças da autoridade.
Uma Estória Canina apresenta um homem a quem, para ser rico, só falta um cão. Também uma história caricata, mas envolvente, desenvolve-se de forma relativamente simples, mas com uma reviravolta bem conseguida e uma utilização interessante de algumas referências literárias. O Engenheiro Nórdico, por sua vez, fala das diferenças entre expectativa e realidade e de como, no fundo, tudo é política. Muito breve, mas certeiro na visão de como quase tudo pode criar polémica, trata-se, também, de uma história interessante.
O conto que se segue é O Rabo do Chefe e disseca os fundamentos de uma afirmação polémica, numa história caricata e um pouco vaga, mas bem escrita e interessante. E também caricato (o que parece ser característica recorrente nestes contos) é O Esquadrão Marreco, história de três mulheres com uma vida sexual atribulada. Cativante quanto baste, a história perde-se demasiado em divagações, acabando por se afigurar como pouco mais de uma ideia base para o que podia ser desenvolvido como uma história bastante maior.
O Livro da Deambulação apresenta um peculiar retrato da cidade pelos olhos de um homem que deambula. Todo em tom de divagação, revela-se, por vezes, algo confuso. Além disso, o narrador é bastante detestável no que revelam as explicações do seu deambular. A surpreendente revelação final redime, ainda assim, essas impressões mais desagradáveis, dando ao conto um bom final.
Do auto-proclamado maior poeta angolano de sempre trata Caricatura do Escritor Enquanto Jovem. Também algo confuso, apesar de levantar algumas questões interessantes na possível relação entre política e arte, trata-se de uma leitura agradável, mas deixa a impressão de que falta qualquer coisa.
Filosofias de um homem saciado definem O Gourmet, mas um conto divagativo, cativante principalmente pelas peculiaridades do protagonista, mas sem grandes acontecimentos. Ao que se segue Um Dia na Vida de Chico Russo, retrato de uma rotina através da vida de um homem. Directo e sem grandes elaborações e, ainda assim, preciso no ambiente que representa, uma boa história com um final bem conseguido.
O Amor é Eterno Enquanto Dura conta a história de um casamento marcado por uma enorme diferença de idades. Também divagativo, mas com uma história cativante, perde pelo tom distante, que torna as personagens essencialmente indiferentes. Bem mais interessante é O Baptizado, narrativa da influência exercida por um padre para que um homem baptize os seus filhos. Com um retrato preciso de uma certa tentativa de imposição social e religiosa, trata-se também de uma história cativante, que culmina num final divertido e surpreendente.
De um angolano que se mudou para a Suécia trata O Exilado. Centrado nas diferenças culturais, este é um conto essencialmente descritivo, sendo que o mais interessante está nos motivos do protagonista. Segue-se Porquê Que a Tia Lurdes Continua Desdentada?, história de uma mulher que decidira tratar os dentes, mas não o fez. Bem escrito, acaba por ter pouco de envolvente devido ao tom distante e às personagens pouco cativantes.
Vêm Aí as Portuguesas apresenta a ameaça de um grupo de portuguesas que se juntam para exigir o regresso dos seus maridos de Angola. Com uma muito bem conseguida sátira à "defesa da moral e dos bons costumes", ainda que não muito desenvolvida, trata-se de um conto caricato e cativante, com um final surpreendente. 
Segue-se o que é, sem dúvida, o melhor conto do livro. A Herança apresenta uma carta de parentes interesseiros e a respectiva interpretação, num conto em que se evidencia também o tema dos preconceitos e das diferenças culturais, mas também dos eternos conflitos de interesse no seio familiar. Com uma estrutura peculiar e uma abordagem certeira aos temas que apresenta, uma óptima ideia muito bem concretizada.
O último conto é O Mulaticida, história de um homem com um preconceito contra mulatos. Com uma interessante abordagem aos preconceitos raciais, perde por se alongar demasiado nas ideias do protagonista. O revelar da contradição é interessante, mas, num conto sem grandes acontecimentos, fica a sensação de algo em falta.
Deste conjunto de contos caricatos e algo ambíguos, ficam também impressões contraditórias, com alguns contos muito bons a contrastarem com outros em que a ideia que fica é a de algo mais que haveria a acrescentar. Há, ainda assim, mais contos bons que menos bons, pelo que o balanço final acaba por ser positivo. Gostei de ler.

sábado, 27 de outubro de 2012

A Vitória de Orwell (Christopher Hitchens)

As ideias, o contexto político, a visão - sua e dos outros - relativamente à escrita. São estes alguns dos elementos que constituem este ensaio que, não sendo uma biografia, já que desenvolve mais interpretações e contextos que propriamente os factos da vida do autor que lhe serve de tema, proporciona, ainda assim, uma nova perspectiva da obra de George Orwell. Perspectiva que, em alguns aspectos, reflecte o autor do ensaio - principalmente nas opiniões em tom algo agressivo que manifesta sobre outros autores - mas que, independentemente desse facto, apresenta muito de interessante e enquadra a obra num contexto mais vasto, possibilitando uma melhor interpretação.
Basta considerar Mil Novecentos e Oitenta e Quatro para notar a possibilidade de muitas interpretações de contexto político na obra de Orwell. Não surpreende, portanto, que essas mesmas questões políticas constituam parte considerável do que é abordado nesse ensaio. Citando parte do muito que foi dito sobre Orwell e a sua obra, o autor apresenta a forma como ele era visto nos diferentes quadrantes políticos, bem como o papel que as suas ideias terão desempenhado no seu tempo. O resultado é uma visão bastante completa - ainda que algo densa - das forças políticas em acção na época, mas também dos paralelismos que é possível estabelecer entre a obra e algumas situações reais com pontos semelhantes (sendo de destacar, neste aspecto, a descrição de Hitchens de alguns elementos da vida na Coreia do Norte).
Mas nem só da política vive este ensaio - ou, pelo menos, não directamente - e o autor debruça-se sobre outros aspectos da obra de Orwell. Considera a forma como os seus trabalhos foram encarados quer pelas feministas (referindo algumas das críticas mais ferozes), quer pelo povo ingês em geral (com uma curiosa abordagem ao que o torna "tão essencialmente inglês). Aborda ainda a visão de Orwell e de outros relativamente ao seu trabalho, com a avaliação dos seus romances relativamente aos ensaios e a forma como o seu pessimismo foi encarado através do tempo. 
De tudo isto, fica a impressão global de um ensaio completo e esclarecedor, que, independentemente das posições pessoais do autor e da forma como estas transparecem ao longo de toda a obra, permite uma visão muito mais clara da obra orwelliana. Não é uma leitura fácil, até porque a quantidade de pormenores torna ainda mais denso o tom em que é escrito o ensaio, mas apresenta, de facto, muito de interessante e uma perspectiva muito mais completa da obra de Orwell no contexto do seu tempo. Vale a pena ler, portanto.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Mr. Chartwell (Rebecca Hunt)

Aos oitenta e nove anos de idade e prestes a reformar-se, Winston Churchill vê-se assombrado por uma sombra negra que o persegue e deprime. Ele chama-lhe Cão Negro, porque é assim que o vê. Mas esse, que dá pelo nome de Mr. Chartwell, tem ainda outra missão a desempenhar por perto e é isso que o leva a tornar-se o inquilino de Esther Hammerhans. O marido de Esther suicidou-se há quase dois anos e, à medida que a data se aproxima, também ela se sente mais perturbada. E a presença do sombrio e peculiar Mr. Chartwell, de estranho aspecto e estranhas intenções, vem agravar a sua condição.
Tendo por base uma situação bastante caricata e, mantendo ao longo de toda a narrativa uma série de circunstâncias peculiares, este livro surpreende pela abordagem invulgar - e, inclusive, com alguns momentos de um estranho humor negro - a um tema que é, por natureza, sério e sombrio. Este livro fala da depressão e é exactamente a depressão que está representada na estranha figura de Mr. Chartwell, e muito bem representada. O seu aspecto é invulgar e o seu comportamento está na origem de alguns momentos quase surreais, mas, enquanto representação de um estado depressivo e da sua evolução, dificilmente poderia ser mais adequado. Chartwell entra na vida das suas "vítimas"  de forma algo discreta, para logo ir ganhando influência. Destrói, aos poucos, aquilo que o rodeia e torna-se predominante sobre tudo o resto. Fecha portas ao mundo e aos outros e insiste num isolamento tormentoso, cada vez mais destrutivo, em que só ele ouve e só ele parece compreender.
Tudo isto é um estado interior, naturalmente, mas a autora transpõe estes elementos para situações concretas - ainda que estranhas - representando em comportamentos e elementos físicos (os estragos feitos na casa, a imposição da partilha de um espaço progressivamente menor) todo o ambiente de opressão e resignação de uma depressão que se agrava. E isto é evidente tanto em Churchill como em Esther, mas de formas e com dimensões diferentes. Para Churchill, o Cão Negro é um conhecido de longa data, de quem se distancia, por vezes, mas que acaba sempre por reencontrar. Já a sua visita a Esther prende-se com a influência de Chartwell sobre Michael e a forma como a recordação da perda a está a abalar. Para ambos, o peso é progressivamente maior e a evolução cada vez mais opressiva e, se a forma caricata como esta batalha interior é representada apresenta, por vezes, circunstâncias de quase leveza - não é, por isso, menos representativa do estado sombrio personificado por Mr. Chartwell.
O resultado acaba por ser curioso em todos os aspectos. A escrita directa e envolvente fazem com que leitura seja cativante e, por vezes, quase descontraída, mas sem que a relevância e a seriedade do tema sejam afastadas. A transposição para acontecimentos efectivos do que é, apesar de tudo, uma batalha pessoal, não retira força à luta, revelando-a antes de uma forma mais intensa, mais perceptível, mas perfeitamente adaptada ao problema e às muitas questões que apelam à reflexão. E a história apresentada acaba por cativar pelas suas duas vertentes: pela narrativa peculiar de duas personagens em conflito com uma presença indesejada e por aquilo que representam num sentido mais abrangente.
Directo e quase descontraído, à primeira vista, mas com um conteúdo bastante mais complexo e profundo do que aparenta, trata-se, portanto, de uma história que, com todas as suas peculiaridades e momentos surreais, apresenta um retrato preciso e surpreendente de um tema muito sério e sempre relevante. Muito bom.

Novidade Bertrand


Jonathan Lyons é um estudioso da Bíblia e julga ter encontrado uma relíquia inimaginável: uma carta em papiro que pode ter sido escrita pelo próprio Jesus Cristo. Roubada da Biblioteca do Vaticano no século XVI, pensava-se que estava perdida.
Agora, sempre com um pedido de sigilo, consegue confirmar a sua autenticidade junto de vários especialistas. Mas confidencia também a um amigo de família a suspeita de que uma pessoa que em tempos foi da sua confiança queira agora vender o artefacto para fazer muito dinheiro.
Passados poucos dias, Jonathan é encontrado morto no seu estúdio. Escondida no guarda-roupa, a balbuciar palavras sem sentido e segurando a arma do crime, encontra-se Kathleen, a sua mulher, que sofre de Alzheimer. Apesar da demência, Kathleen sabia que o marido tinha há muito tempo um caso com outra mulher. Terá ela matado o marido num acesso de ciúmes, como alega a polícia? Ou estará a morte dele relacionada com uma questão mais ampla: Quem tem na sua posse o pergaminho de valor incalculável agora desaparecido?
Caberá à filha de ambos, Mariah, ilibar a mãe das acusações de homicídio e desvendar o verdadeiro mistério que se esconde por detrás da morte do pai.

Mary Higgins Clark é autora de mais de trinta romances que obtiveram um êxito assinalável, tendo vendido mais de 150 milhões de exemplares em todo o mundo. 
Foi secretária e hospedeira, mas depois de se casar dedicou-se à escrita. Com a morte prematura do marido, que a deixou com cinco filhos pequenos, a autora investiu na escrita de guiões para rádio e, depois, nos romances. 
Rapidamente se tornou um dos grandes nomes da literatura de suspense, conquistando os tops de vendas, a
crítica e os fãs. 
Foi eleita Grand Master dos  Edgar Awards 2000  pela Mystery Writers of America, que também lançou um prémio anual com o seu nome. Foi presidente da Mystery Writers of America, bem como do International Crime Congress.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O Mercador de Livros Malditos (Marcello Simoni)

Ignazio de Toledo, mercador de relíquias, chega ao mosteiro onde deixou o seu segredo com muito mistério em seu redor e uma missão para aceitar. Um nobre das suas relações terá sido contactado por Vivïen de Narbonne, um amigo que, em tempos, lançou sobre si e sobre Ignazio a perseguição do tribunal secreto de uma organização poderosa. Vivïen tem, alegadamente, na sua posse um livro capaz de conceder vastos poderes a quem o souber usar e, por isso, o nobre decide pagar a Ignazio para lhe descobrir o livro. Mas a situação é bastante mais complexa do que, à primeira vista, parece. O conde Scalò é apenas uma peça dispensável num plano mais elaborado e, enquanto segue as pistas na direcção das componentes do Uter Ventorum, Ignazio vê-se novamente perseguido pela Santa Vehme. E, ainda que esta não seja tão coesa como seria de esperar, o objectivo de todas as suas facções é o mesmo e a sua influência pode tocar até os menos suspeitos. O perigo é inegável e pode estar onde menos se espera.
Capítulos curtos e um ritmo de acção constante são os grandes pontos fortes deste livro em que o mistério é a base essencial da história e não há momentos mortos no caminho da sua resolução. Todo o enigma criado em torno do Uter Ventorum, quer nas pistas deixadas para encontrar as suas partes, quer na sua própria natureza, tem muito de cativante, e a forma como este influencia, de diferentes formas, aqueles que nele têm algum interesse contribui para que também as personagens, cujo desenvolvimento é feito, em grande medida, na medida em que é necessário à acção, se revele nas suas qualidades mais marcantes.
Um dos elementos que mantêm a envolvência da narrativa é a preservação do mistério. As pistas são desvendadas aos poucos, motivadas por uma determinada acção e caminhando, de revelação em revelação, para um final em que, já com muitas questões esclarecidas, há, ainda assim, sempre algo mais a descobrir. Esta capacidade de despertar curiosidade, surpreendendo a cada novo pormenor, é uma das características que definem o ritmo viciante da leitura. E o mais curioso é que esta revelação gradual do mistério não diz respeito apenas à questão do Uter Ventorum e ao papel de Vivïen na situação. O próprio passado de Ignazio, com o segredo deixado no mosteiro e as sombras que parecem, por vezes, reflectir-se no seu temperamento, tem um mistério cuja verdadeira natureza só é revelada ao virar das últimas páginas. Acrescente-se, ainda, a história de Willalme, discreta, mas também com os seus pontos marcantes, e o resultado é uma história que, apesar de escrita de forma directa e sem grandes elaborações, consegue surpreender pelas personagens que a povoam e por aquilo que as define, mesmo quando isso parece ser secundário relativamente à sua busca.
Sendo um livro de cenário medieval, fica, principalmente na fase inicial do livro, a sensação de que mais poderia ser dito sobre o contexto em que decorre o enredo. Ainda assim, há pequenos pormenores que vão surgindo com a evolução da história e, terminada a leitura, torna-se evidente que não há nada de essencial que tenha ficado por dizer, e que esse desenvolvimento mais breve do cenário e do contexto da época é amplamente compensado pela intensidade dos acontecimentos e pela força das personagens.
Acção e mistério numa história de ritmo intenso e de leitura compulsiva fazem de O Mercador de Livros Malditos uma leitura envolvente, agradável e com um bom equilíbrio entre acção, mistério e um toque de emoção. Uma boa história, portanto, com personagens cativantes e vários momentos surpreendentes. Uma boa leitura.

Peito Grande, Ancas Largas tem nova edição


Editado na China em 1995, «Peito Grande, Ancas Largas» causou, na altura da sua publicação, uma grande controvérsia. O seu conteúdo de teor sexual e o facto de não retratar uma versão da luta de classes consentânea com os cânones do Partido Comunista Chinês, obrigaram Mo Yan a escrever uma autocritica ao seu próprio livro e, mais tarde, a retirá-lo de circulação. Ainda assim, inúmeros exemplares continuam a circular clandestinamente.
Num país onde os homens dominam, este é um romance épico sobre as mulheres. O corpo feminino serve, conforme sugere o título, como imagem e metáfora ao livro. A mãe nasce em 1900 e casa-se com 17 anos. Com 9 filhos, apenas o mais novo é rapaz. Jintong é inseguro e fraco, contrastando com as 8 irmãs, muito determinadas.
Dividido em sete capítulos que representam os períodos desde o fim da dinastia Qing, passando pela invasão japonesa, a guerra civil, a revolução cultural e os anos pós-Mao, este é um romance que percorre e retracta a China do último século através da vida de uma família em que os seres verdadeiramente fortes e corajosos são as mulheres.    

Mo Yan nasceu a 5 de Março de 1955 em Goami, província de Sandong, na China. É considerado um dos grandes escritores chineses contemporâneos, tendo começado a escrever no início dos anos 80, após uma fase difícil em que foi obrigado a interromper os estudos durante o período da Revolução Cultural.
O seu primeiro romance «O rabanete de Cristal», foi publicado em 1981, tendo até hoje editado mais de 80 títulos, entre romances, contos e ensaios.
Grande admirador de William Faulkner, Yukio Mishima, Garcia Marquez e Kenzaburo, é um escritor " Cujo realismo alucinatório funde contos tradicionais, história e contemporaneidade" palavras usadas pela Academia Sueca na atribuição do Prémio Nobel da literatura 2012.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A Rosa Rebelde (Janet Paisley)

Da primeira vez que se cruzou com Aeneas McIntosh, o que despertou entre ambos foi tudo menos empatia. A situação fora constrangedora e um pouco humilhante e as circunstâncias eram delicadas. Mas, alguns anos depois, e depois de Aeneas ser escolhido para chefe do clã, os seus caminhos voltam a cruzar-se e, quando ele lhe propõe casamento, Anne acaba por aceitar, por impulso, sem saber ao certo porquê. Ainda assim, a união entre ambos está longe de ser um percurso de felicidade. Devido a dívidas do seu território, Aeneas vê-se obrigado a levar um grupo de homens para servir as forças da União. E quando a revolta começa e ele decide não interferir, é Anne quem toma o comando, liderando os homens para o lado da batalha onde julga que devem estar. Quase sem querer, Anne torna-se uma lenda e, afastada de Aeneas pela escolha de campo e por alguns mal-entendidos, encontra conforto nos braços de outro homem, de um que sempre a amou. Mas, apesar das vitórias conquistadas, o príncipe que segue não é tão sensato como seria de esperar... E o rumo dos acontecimentos pode mudar a qualquer instante.
Há algo de fascinante no período histórico das revoltas jacobitas, culminando na quase lendária batalha de Culloden. E, tendo essa época como fundo para a sua história, este livro tem, desde logo, como uma das suas grandes forças o retrato preciso e cativante do conflito. Retrato que a autora constrói, de facto, de uma perspectiva muito própria, deixando para segundo plano os movimentos globais das forças em oposição para representar através das suas personagens o impacto pessoal de cada vitória, de cada plano e de cada morte.
Ainda que a história se centre na ligação entre Aeneas e Anne, e, em menor medida, na presença de McGillivray como terceiro vértice de um estranho triângulo amoroso, não são as suas relações o que mais marca neste livro. Têm, é certo, os seus episódios marcantes, e a força do que os une, apesar de todas as dificuldades, faz com que os grandes momentos - as perdas e as desilusões, mas também os gestos de conforto e as alegrias possíveis - tenham um fortíssimo impacto emocional. Mas, mais que a ligação entre os três, é o que une cada um deles à guerra que travam e às pessoas que os acompanham o que realmente dá força à história. E isto evidencia-se em Anne de forma particularmente marcante, já que, tanto nos momentos em que sai vitoriosa como, na fase mais avançada do livro, depois de Culloden e com as consequências de tudo sobre os ombros, Anne age mais em função dos outros do que si própria, primeiro pela fé na causa, depois, pela remissão possível da culpa sentida. Tal como Aeneas, de resto, nessa fase final.
Há, na relação entre os protagonistas, uma certa medida de estranheza. O orgulho de ambos e a capacidade de perpetuar ideias erradas fazem com que alguns dos seus conflitos pareçam um pouco exagerados, principalmente se se considerar o contexto em que decorrem. Ainda assim, a empatia dos melhores momentos compensa estas situações mais forçadas, o que, aliado a um contexto histórico e a uma muito interessante visão do papel das mulheres (com o fortíssimo contraste entre o lado escocês e o lado inglês), preserva a envolvência do enredo.
Trata-se, portanto, de uma história cativante, com várias personagens carismáticas (ainda que, no caso dos protagonistas, haja também algumas situações mais estranhas a definir as suas personalidades) e um retrato muito bem conseguido da época histórica em que decorre a acção. Marcante pelos momentos mais emotivos e pelo retrato preciso de um conflito que é tanto entre homens como entre mentalidades, fica, deste A Rosa Rebelde, a impressão global de uma leitura agradável, com uma boa história e algumas situações particularmente marcantes. Vale a pena ler.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Sedução Intensa (Lisa Kleypas)

Desde o momento em que Lord Westcliff e Lillian Bowman se conheceram que descobriram que era impossível serem mais diferentes - e gostarem menos um do outro. Mas quando Lillian chega para passar uma temporada na propriedade de Westcliff, a mútua aversão transforma-se em algo de diferente. Lillian traz consigo um perfume a que, supostamente, um ingrediente secreto confere a capacidade de atrair qualquer pretendente. E o facto é que, assim que se vê a sós com Lillian, Westcliff sente-se tomado pelo desejo. Mas as diferenças que os separam são muitas e as semelhanças não contribuem menos para que os seus temperamentos entrem em colisão. Forte e determinada, Lillian não está disposta a acatar ordens, e muito menos dele. Westcliff, teimoso e dominador, quer que a sua vontade prevaleça, custe o que custar. Mas o desejo fala mais alto e quando se começa a transformar em algo mais, é possível que nem todas as suas diferenças - de posição ou de personalidade - sejam suficientes para os separar.
Tendo em conta que as divergências entre os protagonistas deste livro eram já bastante claras no primeiro volume da série, não é propriamente uma surpresa que os seus atritos e conflitos tenham um papel fundamental na evolução do enredo. Ambos com personalidades fortes e com muita força de vontade, tanto Westcliff como Lillian surgem como personalidades cativantes, que tanto chocam como se completam, o que em muito contribui para dar interesse à sua história. Têm, de facto, muitas diferenças, com Lillian a destacar-se pela impulsividade e Westcliff pela natureza reservada e aparentemente fria, mas são as características que os separam - e que servem de base a alguns dos momentos mais atribulados do enredo - que tornam tão cativante a revelação gradual de que têm mais em comum do que julgam.
Naturalmente que é o romance o ponto central da história e, neste aspecto, não é difícil imaginar como terminará a história. Ainda assim, a autora desenvolve o enredo de forma sempre intrigante, com a atribulada relação de ambos a crescer de forma gradual e a servir de base a uma série de momentos divertidos, tensos ou enternecedores, sem esquecer, é claro, a inevitável medida de sensualidade. 
Há, pois, muito de cativante na componente romântica do enredo. Mas há mais para  lá do romance e é, aliás, nestes momentos, que tomam forma algumas das circunstâncias mais marcantes. Sobressai, desde logo, o passado de Westcliff e a forma como a sombra da família o moldou na personalidade presente, interferindo em todas as suas vontades e escolhas, mesmo depois de chegado à vida adulta. Este é, aliás, um dos factores que contribui para um final que, não sendo surpreendente na conclusão, é-o na forma como atinge esse ponto, com uma fase final de grande intensidade. 
Importa referir, além disso, a forma como a autora complementa a história dos protagonistas com a presença discreta das figuras que lhes são mais próximas. Tanto Lillian como Westcliff têm um núcleo próprio de amigos e todos eles têm em si algo de cativante, sendo de destacar o casal Hunt, já conhecido de Desejo Subtil e do qual é bom saber mais para lá da sua história, e o estranho caso de St. Vincent, que, com o seu papel neste livro e a forma como a sua história se conclui, deixa muita curiosidade relativamente ao que se seguirá, já que ficam em aberto muitas dúvidas quanto à sua possível mudança.
Protagonistas carismáticos e uma história leve e envolvente, com muito de romance e de sensualidade, mas também com as medidas certas de humor, tensão e emoção, fazem de Sedução Intensa uma leitura viciante, descontraída e, nalguns momentos, surpreendente. Recomendo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Caderno de Mentiras (Manuel Alberto Vieira)

Breves e directos - e, contudo, com toda uma vastidão de elementos em equilíbrio. Assim são os contos deste Caderno de Mentiras. Histórias de vidas e de mortes, de momentos peculiares por entre gestos do quotidiano, da simples constatação da realidade e da poesia dos momentos surreais. São episódios, enfim, onde o concreto se funde com as abstracções do imaginário, para dar forma a um livro que, curto e de leitura acessível, se revela fascinante em todos os seus pormenores.
Basta ler o primeiro conto para reconhecer as características mais marcantes de todo o livro e aquelas que prevalecem em praticamente todos os textos. Algo de estranho na situação que serve de base ao conto, uma narração directa sem grandes elaborações e um conjunto de circunstâncias que, sem grandes momentos de introspecção, se servem dos factos para fazer reflectir. Tudo isto é visível no primeiro conto, em que poucos parágrafos servem para reflectir sobre vida e morte, coragem e poesia, equilíbrios de decisão e escolhas impossíveis. E tudo isto é visível, também, em todos os contos que se seguem, com situações diferentes e diferentes reflexões, mas sempre com os mesmos pontos fortes.
Feito de contos curtos, que, com maior ou menor aproximação à realidade, se centram essencialmente na descrição de gestos e factos, surpreende a forma como, sem grandes sentimentalismos ou considerações emocionais, o autor consegue, ainda assim, evocar toda uma série de emoções e estados de alma no leitor. É fácil imaginar a posição do homem que tem de escolher, quando nenhuma escolha é vantajosa, ou da figura eternamente perdida num dilema entre palavras diferentes. A situação pode ser estranha, mas é sempre fácil de imaginar. E também aquilo que representa, para os protagonistas brevemente apresentados, mas principalmente para quem lê a sua história, revela uma complexidade inesperada para uma narrativa tão breve. Em tudo há vários sentidos. A história narrada representa sempre algo mais. E é também aí que reside o fascínio destes contos, na forma como a improbabilidade das circunstâncias se funde com gestos e percepções facilmente reconhecíveis.
Curtos, mas com a medida certa para o que pretendem transmitir, os contos deste Caderno de Mentiras têm muito de bom para revelar. Cativantes, inesperados, e muito bem escritos, evocam o surreal e ligam-no à mais comum realidade. O resultado é uma leitura impressionante e surpreendente, em que cada história, por mais estranhos que pareçam os factos que narra, evoca sempre algo de familiar no seu interior. Brilhante, em suma.

Novidade Quetzal


«Ao contrário de quase toda a actual poesia portuguesa sobre poesia, não se trata de um auto-encarecimento do poeta: o objecto é que polariza a atenção. Ora, é este mesmo tremor sagrado da descoberta que vemos (…) propagar-se a um simples olhar sobre a mão, a uma simples manhã sentida em estilo de Braque, a certos momentos citadinos ainda reminiscentes de Cesário Verde.»
Óscar Lopes, 1964


«O que faz todo o  interesse da poesia de Vasco Graça Moura é precisamente este jogo complexo e enredado, feito de cedências, recusas, medo, timidez e agressividade, em que o autor deseja atingir a mais serena evidência poética num estilo que poderíamos designar em termos vulgares de “como quem não quer a coisa”. Só que a “coisa” trabalha o texto em todos os seus níveis e incidências. (…) O fio dourado de uma puríssima poesia.»
Eduardo Prado Coelho, 1994

Vasco Graça Moura, poeta, ficcionista, ensaísta e tradutor, foi advogado, secretário de Estado, director de Programas do Primeiro Canal da RTP, administrador da Imprensa Nacional  - Casa da Moeda, comissário-geral para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, comissário de Portugal para a Exposição Universal de Sevilha e comissário de Portugal para a exposição internacional «Cristoforo Colombo, il naviglio e il mare». Dirigiu o Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian. Colabora regularmente com a televisão, a rádio, jornais e revistas. Foi deputado ao Parlamento Europeu de 1999 até 2009. Entre os inúmeros prémios literários que recebeu, contam-se o Prémio Pessoa (1995), o Prémio de Poesia do Pen Clube (1997), o Grande Prémio de Poesia da APE (1997) e o Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB (2004). Foi galardoado em 2007 com o Prémio Vergílio Ferreira e com o Prémio Max Jacob de poesia estrangeira e, em 2008, com o Prémio de Tradução do Ministério da Cultura italiano pelas suas traduções de Dante e de Petrarca.

domingo, 21 de outubro de 2012

Povo que Lavas no Rio (João Fernandes)

Por amor, Pedro deixou para trás toda a sua vida e fechou-se, durante sete anos, na casa de uma família inglesa. Durante sete anos, nunca de lá saiu, vivendo entre a concretização dos seus deveres e os pensamentos que o levam até à sua Inês, a quem o seu imenso e absoluto amor é destinado. Pedro é o mordomo de uma casa cheia de segredos, os seus, os dos seus companheiros e os das pessoas que serve. Mas a chegada de Juliet Montgomery, filha do dono da casa, irá abalar a tranquilidade dos seus dias e a sua história tomará também os amores e as dores dos que os rodeiam. Da jovem mulher que o ama, mas por quem nada quer sentir. Do companheiro que a ama a ela, sem que ela o veja. E do próprio Pedro, procurando Inês numa cidade imensa, quando finalmente decide deixar a clausura que se impôs.
Surpreendente nos melhores momentos, mas com um tom divagativo que, por vezes, faz com que seja difícil seguir a linha dos acontecimentos, este é um livro que deixa sentimentos ambíguos. Tem o potencial para uma boa história e vários momentos bem conseguidos e uma escrita que, nos seus momentos mais poéticos, consegue ficar na memória. Mas tem também o efeito negativo de uma declaração de amor que, referida até à exaustão, apaga a visibilidade dos outros acontecimentos e das restantes personagens, tornando-se demasiado vago, nalguns aspectos, e muito repetitivo noutros.
Grande parte do enredo centra-se no protagonista. E ele que narra à história, sob a forma de um longo discurso à sua muito amada Inês e é através dele que todos os acontecimentos, seus e respeitantes aos que o rodeiam, são revelados. Isto contribui para que, nos grandes momentos, a história tenha aquele tom pessoal que desperta alguma empatia. Mas também tem um lado negativo e este está nas muito longas expressões de amor que permeiam todo o romance, atenuando (talvez em demasia) o impacto de momentos que têm, à partida, maior relevância. Além disso, ao centrar-se ainda e sempre na sua Inês, o narrador e protagonista deixa para segundo plano todas as situações e mistérios que dizem respeito aos donos da casa. O passado dessas personagens e, principalmente, as intrigas que entre eles permanecem, surgem como um interessante complemento à dominante história de amor, mas ficam, de certa forma, incompletos, já que a mente do protagonista os afasta ante as suas próprias preocupações.
Fica, por isso, uma ideia de dispersão. A escrita é, no geral, cativante e há, de facto, momentos muito bem conseguidos, sendo um deles o final bastante forte, mas a força dessas situações acaba por se perder nas longas elaborações introspectivas que o protagonista apresenta para o seu amor e as suas dúvidas. E é pena, porque há bastante potencial na história e os melhores momentos são realmente muito bons. 

sábado, 20 de outubro de 2012

O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares (Ransom Riggs)

Quando Jacob era pequeno, o avô contava-lhe histórias de uma vida peculiar, em que a necessidade de fugir dos monstros o levara a uma ilha encantada onde todas as crianças tinham poderes especiais. Depois, os pais contaram-lhe que os monstros de que o avô fugira eram os nazis e as histórias impossíveis apagaram-se-lhe da mente, à medida que se adaptava à vida na realidade. Mas, agora, aos quinze anos, Jacob encontra-se face a um acontecimento inegável. Ou não? O avô acaba de morrer e Jacob jura que viu um monstro no momento em que o encontrou, mas todos fazem o possível para o convencer que foi uma visão causada pelo choque e que a morte se deveu a um ataque, sim, mas de animais selvagens. Jacob deixa-se convencer, mas, de noite, os sonhos perseguem-no com imagens sombrias do monstro que viu. E, finalmente, consegue convencer os pais e o psiquiatra de que visitar a ilha onde o avô terá vivido, seguindo, sem que mais ninguém saiba, as suas últimas palavras, lhe dará a paz - e as respostas - de que precisa. Mas talvez não as que espera...
Das muitas coisas boas que há para descobrir neste livro, a que primeiro chama a atenção diz respeito ao aspecto visual. Há uma relação entre a história e as muitas fotografias antigas que são apresentadas ao longo do livro, e esta conjugação resulta numa edição bonita, de aspecto apelativo e que encaixa na perfeição no ambiente sombrio que transparece ao longo de toda a história.
Outro dos pontos fortes é precisamente esse ambiente sombrio, com toda a aura de mistério a ele associada. A história é narrada do ponto de vista de Jacob, que, no ponto de partida da história, não sabe mais do mundo em que se está a envolver do que as histórias que o avô lhe contou - e que julga falsas. Isto permite criar uma percepção das coisas semelhante à de quem vê algo pela primeira vez e, associado às circunstâncias complicadas de Jacob (com um conhecimento de algo em que nem ele realmente acredita), torna maior o impacto de cada uma das revelações, mesmo das mais simples. Além disso, o cenário é, mesmo sem ter em conta a parte "peculiar" do enredo, relativamente sombrio, e isto aplica-se tanto aos lugares (com particular destaque para a ilha e para o estado em que Jacob encontra a casa), como ao contexto familiar, em que as pequenas coisas que perturbam o protagonista revelam um certo sentido de inadaptação.
No que diz respeito à história, é possível considerar duas fases, ambas cativantes e com momentos intensos, mas com um ambiente algo diferente. Até à descoberta do segredo da casa arruinada, a história centra-se em Jacob, sozinho e algo perturbado, tanto pelo que viu como pelo que julga ser a sua posição na vida. Enquanto adolescente, Jacob tem as suas tribulações naturais, mas que se atenuam ante a necessidade de descobrir, de alguma forma - de qualquer forma - o segredo do avô. Nesta fase, pois, o que mais sobressai é uma certa melancolia face a um mistério para desvendar sozinho, bem como, obviamente, as primeiras características do mistério que se vai revelando.
Depois, começam a surgir as respostas e o ritmo da história torna-se bem mais intenso. Primeiro, surgem as explicações para o muito que Jacob não compreende, mas, ao dar forma à história das crianças peculiares, o autor apresenta personagens novas, situações divertidas e um sentimento de pertença que muda a perspectiva do protagonista perante o que está a acontecer. Depois, surgem os perigos, que vêm revelar um pouco mais de um sistema que tem muito de interessante e a partir do qual, ainda que várias perguntas fiquem ainda sem respostas, se cria um enredo cativante e cheio de surpresas.
Há também um pouco de romance e, como quase tudo neste livro, também este tem o seu quê de peculiar. Uma parte considerável do enredo envolve alguma interferência com as linhas temporais e isto leva ao contacto entre figuras de tempos diferentes, mas, possivelmente, com ligações comuns. Há, por isso, uma certa estranheza no discreto romance vivido por Jacob, mas a forma como este evolui acaba por se adequar ao ambiente geral da história.
Mais misterioso que propriamente assustador, este é um livro que cativa pela forma como conjuga fascínio e estranheza, numa história envolvente e cheia de surpresas, com personagens cativantes e uma conclusão que, abrindo muitas possibilidades para o que virá a seguir, apresenta, também, muitas respostas interessantes. Mágico, sombrio e um pouco surreal... e, em tudo isto, muito bom.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Um Punhado de Histórias Mais ou Menos Lamechas (Joana Moraes)

Parecem (quase) histórias, mas não são. São poemas com histórias dentro. Breves, aparentemente simples, são poemas em que o mais banal dos gestos se mistura com as mais inesperadas situações, dando forma a um conjunto de imagens surpreendentes que, invulgares que são, se fixam na memória pelas suas peculiaridades.
Basta um primeiro olhar ao formato dos poemas para notar a ausência de uma estrutura definida. Isto, e neste caso em particular, está longe de ser um defeito. Moldadas ao ritmo dos conteúdos, as palavras fluem com naturalidade, o que torna a leitura fluída e agradável, aumentando também o impacto do seu significado. Além disso, esta estrutura aparentemente simples complementa a também aparente simplicidade do conteúdo. Há frases que parecem simples descrições ou declarações, directas e sucintas, sem grande elaboração. Mas o encadeamento de ideias e a forma como, neste, a suposta simplicidade - das frases e daquilo que descrevem - se molda para dar forma a um todo em que os conteúdos têm muito mais a considerar que o que transparece à primeira vista, vêem revelar uma complexidade que, não sendo imediatamente detectável, está lá, ainda assim, e, por várias vezes, surpreende pela positiva.
Um outro aspecto curioso é que, não falando muito (pelo menos, não directamente) de sentimentos, este livro consegue ser surpreendentemente pessoal. Das (não tão) simples impressões que transparecem na voz do sujeito poético é possível vislumbrar uma personalidade completa e complexa, com emoções e posições perante a vida e o mundo. Posições claras, mesmo quando descritas em poucas palavras. E, ao mesmo tempo, essas emoções e pontos de vista que tornam pessoais os poemas têm também algo de universal: assuntos sobre os quais muita gente reflectiu, emoções que toda a gente sentiu. O resultado é, pois, uma abordagem muito própria ao que parece muito comum, e é isso que torna este livro tão cativante.
Trata-se, portanto, de um livro que, breve e de leitura acessível, ora transmite impressões de simplicidade, ora surpreende pela complexidade oculta nas palavras claras e directas. Numa visão muito particular de assuntos que, sendo comuns a muitos, exercem sobre cada indivíduo um impacto diferente, Um Punhado de Histórias Mais ou Menos Lamechas dá algo de inesperado e de próprio às coisas internas e externas que todos ou quase todos reconhecem. E nessa surpreendente familiaridade está a sua maior força. 

Vencedores do passatempo Predestinados

Terminou mais um passatempo, desta vez com um total de 123 participações. E, como habitual, é altura agora de divulgar os vencedores. Obrigada a todos os que enviaram as suas respostas.

E os vencedores são...

22. Andreia Reis (Alverca do Ribatejo)
76. Rui Henriques (Vila Nova de Gaia)

Parabéns e boas leituras!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Anjo das Trevas (Anne Rice)

Durante anos, Toby O'Dare foi um assassino contratado, mas a visita de um anjo fê-lo compreender a vida miserável que levava. A sua redenção reside em seguir as ordens do anjo Malquias e de cumprir com sucesso as missões que lhe são entregues. Mas, se a primeira missão teve as suas tribulações, também o papel que agora lhe é atribuído tem os seus riscos. Mais uma vez, Toby tem de recuar no tempo para responder às preces de uma alma necessidade. E, enquanto encontra uma forma de ajudar Vitale a salvar o seu amigo e filho do seu senhor, enquanto procura respostas para o espírito que vive na casa e que pode ser causa de perseguição para o jovem médico judeu, há também outro tipo de espíritos prontos a desviá-lo do seu caminho. Toby tem de se manter fiel à sua fé e persistir na redenção do seu passado. Mas não é fácil, principalmente se os argumentos do adversário forem persuasivos.
É algo de característico nos livros desta autora a forma como qualquer experiência de qualquer personagem pode servir de base para alguma reflexão. Neste caso, como já acontecera em O Tempo do Anjo, a fé e o tema predominante. Para Toby, o passado é uma sombra difícil de apagar e a culpa e a consciência de que muito, talvez demasiado, seria necessário para redimir os seus actos, tornam inevitável o seu lado atormentado. Isto permite ver o máximo da sua fé e também o máximo das suas dúvidas, o que faz da sua história sobre toda uma reflexão sobre a crença e o valor da fé. Além disso, a autora acrescenta novos elementos aos já conhecidos do livro anterior. Toby fica a saber mais sobre os anjos e, através destes, sobre as ligações que deixou no passado. E assim descobre a sua capacidade de amar, tornando mais forte a vontade de corrigir os erros. Claro que a fé (e o comando dos anjos) funciona como grande motivador, mas é a vontade de fazer o melhor para com a família recém-descoberta e mesmo aqueles que conhece na sua missão que revela as suas melhores características.
Apesar de uma considerável tendência para a introspecção, o ritmo da história é bem mais intenso que no livro anterior. Isto acontece, em parte, porque o recuo do Toby no tempo o coloca imediatamente no centro da sua missão e em circunstâncias em que é necessário agir rapidamente, mas também porque a sua personalidade e o seu modo de acção são já familiares. Além disso, a nova missão de Toby tem muito de cativante, quer na tensão que define as circunstâncias, quer nas emoções fortes associadas à evolução dos acontecimentos. Há toda uma base emocional - de medo, de culpa e de inveja, mas também de afecto - capaz de despertar empatia e é esse um dos grandes pontos fortes deste livro.
O ponto fraco está essencialmente na brevidade. Fica a ideia, por vezes, de que alguns aspectos da história podiam ter sido mais desenvolvidos, principalmente no que diz respeito à missão de Toby. Toda a situação em torno de Vitale, bem como a própria questão do dybbuk, abrem portas para uma reflexão sobre os conflitos e os preconceitos de base religiosa, bem como das possibilidades dos diferentes sistemas de crença e, se esta última é bem desenvolvida, por dizer respeito à situação essencial de Toby, já o conflito está essencialmente na situação de Vitale e nalgumas das intervenções dos padres, circunstâncias que se resolvem de forma relativamente simples.
Ainda que não tenha a complexidade de outras obras da autora, O Anjo das Trevas apresenta uma história bem escrita e envolvente, feita de personagens carismáticas e de momentos intensos e de um enredo que, por entre os momentos de acção e as situações mais emotivas, consegue evocar, ainda que de forma breve, várias questões interessantes sobre as quais reflectir. Uma boa leitura, portanto.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O Segredo de Sophia (Susanna Kearsley)

Carrie McClelland, autora de romances históricos, está de visita à sua agente em Peterhead, quando o instinto a leva a desviar-se do caminho. Ao ver pela primeira vez o castelo de Slains, Carrie descobre que algo a prende aí e a inspiração, que se tem revelado pouco cooperante, desperta subitamente. Mas a história que Carrie tem para contar não é a que planeava e, à medida que a vida de Sophia, a sua protagonista, nasce sobre as suas palavras, a pesquisa de Carrie leva-a também a descobrir que o que julga fruto da sua imaginação tem, afinal, muito de verdade. É possível que a história de amor de Sophia seja bem mais real do que parece e que algo dela tenha passado para Carrie, através dos tempos. E talvez a alegria e a dor de Sophia estejam também ali para dar forma a um novo romance capaz de unir as linhas que o passado separou.
Com duas épocas diferentes e duas histórias diferentes para o mesmo lugar, este é um livro que conjuga os aspectos mais cativantes do romance histórico e do contemporâneo. Não é, pois, surpreendente, que todo o livro seja uma história de contrastes e semelhanças entre as vidas das duas protagonistas. 
De um lado, está a história de Sophia em pleno século XVIII. História de um amor que é imperioso manter em segredo, situado num contexto delicado e com uma base contextual sólida. A autora desenvolve com todo o detalhe necessário, mas gradualmente e sem sacrificar a envolvência do enredo, todos os elementos que dizem respeito aos hábitos da época (e até às diferenças de costumes em diversos lugares), à tentativa de invasão de 1708 e aos conflitos de interesses associados a essa tentativa. E fá-lo tendo como centro o ponto de vista de uma jovem mulher com tanto de inocência como de força, com tanto de coragem como de vulnerabilidade. E uma história pessoal rica em perdas e em conquistas, em júbilo e em sofrimento. É fácil criar empatia para com Sophia e o seu Moray, o que contribui também para o impacto emocional dos grandes momentos do enredo. Mesmo se, por vezes, o que esta história tem de mais comovente se encontra em simples palavras e pequenos gestos.
Do outro lado, há Carrie. E, se o livro se divide entre a história dela e a de Sophia, é certo que o percurso de Carrie surge de forma bastante mais discreta, talvez por não haver nele tantos momentos de grande mudança, mas antes uma revelação mais gradual de quem é, do que quer e do que pode ser. A história de Carrie é bastante mais simples, e o seu romance bem menos atribulado. Também ela, tem assim, os seus momentos de mudança, sendo os pontos fortes da sua história a forma como interage com a consciência crescente de que está a reviver memórias que não são suas, a forma serena, mas com todos os momentos de emoção necessários, como a relação com Graham nasce e evolui, e a expressão da sua relação com a escrita. Carrie tem, também, muito em comum com Sophia, tal como Moray é, em certos aspectos, semelhante a Graham. E são essas semelhanças, aliadas à relação entre as personagens das duas épocas, que torna a ligação entre as duas histórias praticamente perfeita.
A diferenciar as duas histórias e os dois tempos em que decorrem está também a forma como a narrativa é construída. Carrie conta a sua parte da história na primeira pessoa, e a de Sophia, que corresponde ao seu livro, na terceira. O tom é também mais leve na história de Carrie, em parte devido às circunstâncias, mas também devido à caracterização feita para aquilo que decorre no passado. É fácil, por isso, distinguir as semelhanças e as diferenças entre as duas mulheres e as suas histórias. E é também esta diferença de tom, a forma como a voz de Carrie é diferente para si mesma e para a sua protagonista, que realça a conjugação das duas histórias, como dois elos diferentes, mas que se completam no que têm de melhor.
Envolvente desde as primeiras páginas e com o equilíbrio ideal entre a leveza dos acontecimentos simples e o impacto das circunstâncias mais difíceis, O Segredo de Sophia conjuga emoção e romance, alegria e tragédia, passado e presente, numa história cativante e comovente, com um cenário e contexto histórico claros e fascinantes e, principalmente, um conjunto de personagens carismáticas como figuras centrais. Marcante, belíssimo e muito bem escrito, é, pois, um livro que fica na memória. Maravilhoso.

Novidades Planeta


Numa Lisboa onde política, guerrilha e espionagem traçam os rumos da Europa, Cesário Borga coloca o seu conhecimento da história portuguesa e espanhola do século XX ao serviço de um talento literário surpreendente, que envolve o leitor numa história trepidante e inesquecível, onde a liberdade é uma força romântica capaz de abrir todas as prisões.  
Um romance que nos descobre cenários, factos e personagens que fazem parte da nossa história, vistos por um ângulo muito original – um português  que se junta às forças republicanas da Catalunha e regressa a Lisboa como guerrilheiro para planear o histórico atentado a Salazar. 
Quando a Europa é surpreendida pelo começo da guerra civil de Espanha  e, inconsciente, prefere manter-se à distância, não percebendo que faiscava ali  o negrume nazi, a Catalunha vive momentos de entusiasmo e é apontada como um farol de esperança ao derrotar as tropas franquistas. 
Jorge, o português, torna-se Jordi, o miliciano, e encontra nas barricadas, mais do que uma razão de viver, uma razão de amar a liberdade na figura de Alba – a bela e indomável guerrilheira catalã, mulher livre como o vento e que nenhum homem ou lei parecem poder alguma vez vergar. 
Enviado de novo à sua Lisboa natal numa missão de destruição do fascismo e da aliança política entre Franco e Salazar, Jordi volta a ser Jorge e, entre explosivos, flores e um plano de atentado ao ditador português, descobre-se prisioneiro de Isaura, cuja aparente doçura mal esconde uma obstinação e uma vontade férrea em desbravar os horizontes que lhe foram vedados. 

Os anos como correspondente da RTP em Espanha (1998-2005) permitiram a Cesário Borga (Torres Novas, 1944) uma relação muito pessoal com os grandes momentos da história recente daquele país, entre os quais a guerra civil, uma ferida que continua aberta, tal como as ondas de choque desse acontecimento  com Portugal.  
O fascínio pelas histórias dentro da História resulta da eterna obsessão  de um repórter com mais de 40 anos de actividade, desde os tempos da Flama  no final dos anos 60, às passagens por A Capital (1970), Diário de Lisboa (1972),  O Jornal (1980), à televisão (1974-2010), onde a pesquisa, a acção, a modelação das imagens e dos sons estiveram sempre dirigidas para a produção de notícias  e reportagens.  
Pelo mesmo diapasão se orientaram outras aventuras: a participação  como guionista na longa-metragem Solo de Violino, de Monique Rutler (1990),  a co-autoria do livro O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril (1974 e 2001)  e a participação em trabalhos de investigação sociológica, no ISCTE, sobre o perfil dos jornalistas portugueses. 


Com dezasseis anos, Cinder é considerada pela sociedade como um erro tecnológico. 
Para a madrasta, é um fardo.  
No entanto, ser cyborg também tem algumas vantagens: as suas ligações cerebrais conferem-lhe uma prodigiosa capacidade para reparar aparelhos e fazem dela a melhor especialista em mecânica de Nova Pequim.  
É esta reputação que leva o príncipe Kai a abordá-la na oficina onde trabalha, para que lhe repare um andróide antes do baile anual. 
Ansiosa por impressionar o príncipe, as intenções de Cinder são transtornadas quando  a irmã mais nova, e sua única amiga humana, é contagiada pela peste fatal que há uma década devasta a Terra.  
A madrasta de Cinder atribui-lhe a culpa da doença da filha e oferece o corpo da enteada como cobaia para as investigações clínicas relacionadas com a praga, uma «honra»  à qual ninguém até então sobreviveu.  
Mas os cientistas não tardam a descobrir que a nova cobaia apresenta características que a tornam única. Uma particularidade pela qual há quem esteja disposto a matar. 

Marissa Meyer vive em Tacoma, Washington, na companhia do marido e de dois gatos. É fã de coisas bizarras, como Sailor Moon ou Firefly e organiza a biblioteca por cores.  
Desde criança que é apaixonada por contos de fadas, um mundo que não tenciona abandonar. Pode ser que seja cyborg, ou talvez não.  
Cinder é o seu primeiro romance.


Os nomes de Maria Callas, Coco Chanel, Wallis Simpson, Eva Perón, Barbara Hutton, Audrey Hepburn e Jackie Kennedy ocuparam durante décadas as páginas das revistas. Graças ao seu talento, beleza e personalidade converteram-se em autênticos mitos do século XX.  
Famosas, ricas e bonitas, pareciam perfeitas aos olhos do mundo. Ícones da moda e do  glamour, criaram um estilo próprio e foram admiradas por milhões de mulheres que sonhavam parecer-se com elas. Mas na realidade estas rutilantes divas foram pessoas solitárias, complexadas com o seu aspecto e zelosas da sua intimidade, pois detestavam ser tratadas como estrelas.  
Estas sete mulheres de lenda partilham dolorosas feridas que nunca chegaram a cicatrizar: a falta de carinho ou  o abandono dos pais, as sequelas da guerra, a dor da perda dos filhos ou os traumáticos divórcios.  
Foram mulheres que marcaram gerações, seja pelos actos políticos, por serem ícones da moda ou enquanto estrelas de cinema. O livro explora o lado menos doce que todas estas divas tinham, mostra os seus medos, frustrações e põe a nu as suas fraquezas. 
Mostra que estas mulheres não passavam de seres humanos, apesar de estarem sempre sobre o escrutínio público.

Cristina Morató estudou jornalismo e fotografia e desde muito nova percorreu o mundo como jornalista. Passou grandes temporadas na América Latina e África e em 2005 viajou pela primeira vez para  o Oriente, que foi o cenário dos seus últimos livros. 
Durante estes anos alternou as viagens com a direcção de programas de televisão e colaborações na rádio. 
O seu interesse em recuperar do esquecimento as grandes viajantes e exploradoras da História levaram-na a publicar Memórias de África, Las Damas de Oriente e Cativa na Arábia, traduzidos em várias línguas.  
É membro fundador e actual vice-presidente da Sociedad Geográfica Española e membro da Royal Geographic Society de Londres. 


O céu está negro com asas… 
Como areia caindo numa ampulheta  o tempo está a fugir para Luce e Daniel.  
Para deter Lúcifer de apagar o passado, têm de descobrir o sítio onde os anjos caíram. 
Forças negras estão atrás deles e Daniel não sabe se é capaz de realizar a missão.  Juntos enfrentarão uma batalha épica que acabará com corpos sem vida… e pó de anjos. Grandes sacrifícios serão feitos. 
Corações irão ser destroçados. 
Mas de repente Luce sabe o que vai acontecer. Para ela significa ficar com outra pessoa que não Daniel.  
A maldição com que nasceu estará sempre com ela e o amor está fora de questão. 
A escolha que faz neste momento é a única que de facto interessa.

Nascida e criada em Dallas, Lauren Kate estudou em Atlanta, mas foi em Nova Iorque que se iniciou na escrita.  
Depois da publicação de The Betrayal of Natalie Hargrove, descobriu o êxito com Anjo Caído.  
Lauren Kate é professora e tem um mestrado em Escrita Criativa pela Universidade da Califórnia – Davis. Reside com o marido em Los Angeles. 


Maria Antonieta faz parte do imaginário colectivo como a última rainha de França, que acabou por ser guilhotinada e muito se tem escrito sobre ela, desde a sua beleza à suposta frivolidade.  
Mas a imagem que fizemos desta rainha não corresponde exactamente à verdade e foi baseada em estudos e descobertas recentes que a Juliet Grey narra  a vida de Maria Antonieta, desde o seu tempo de arquiduquesa de Áustria, aos tempos de Delfina em que foi confrontada com um casamento sem consumação durantesete anos, até à sua morte.
Criada pela formidável imperatriz da Áustria, com numerosos irmãos  e irmãs, Maria Antónia, aos dez anos, já sabia que a sua existência idílica seria, um dia, sacrificada às ambições políticas da mãe, mas nunca lhe passou pela cabeça que a sua imolação fosse tão prematura.  
Antes de passar dos piqueniques em Viena, na companhia das irmãs, para o brilho, o fascínio e as bisbilhotices de Versalhes, Antónia tem de mudar por completo para ser aceite como Delfina de França e mulher do estranho adolescente que um dia será Luís XVI.  
Mas possui ela o engenho e influência necessários para se tornar rainha? 

Juliet Grey é uma escritora especializada em temas da realeza e particularmente dedicada a Maria Antonieta, além de actriz profissional de teatro clássico com inúmeros papéis de virgens, feiticeiras e vilãs no seu currículo.  
A autora e o marido dividem o seu tempo entre Nova Iorque e Southern Vermont.


Charles Gibson é um escritor de êxito, mas devido aos temas que escreve afasta as mulheres e sujeita-se a blind dates que os amigos lhe propõem. 
Candance Whitman, recém-chegada à literatura erótica, tem encontrado diversos obstáculos pelo caminho. Cansada de ser criticada, decide ir a uma conferência de escritores com o objectivo de aprender, onde acaba por conhecer o seu ídolo: Charles Gibson, o autor best-seller de romances eróticos. 
Charles propõe-lhe cinco lições para lhe ensinar as noções básicas do erotismo, criação de cenas, ou seja, conselhos muito válidos para obter bons resultados. 
Mas o que nenhum dos dois esperava era que as lições teóricas passassem à prática. Infelizmente, a desilusão de Candace em relação ao novo romance que está a escrever – no qual Charlie desempenha o papel principal – ameaça-lhes a possibilidade de desfrutar de um amor verdadeiro. 

Bella Andre tem um bacharelato em Economia pela Universidade de Stanford. Trabalhou como directora de marketing, mas sempre gostou de escrever. É autora de vários romances eróticos de grande êxito.  
Bella vive no Norte da Califórnia com o marido e os filhos.