Depois dos anos passados a saltar entre famílias de acolhimentos e diferentes escolas com condições igualmente miseráveis, Benson Fisher acredita que a bolsa que lhe foi atribuída para a Academia Maxfield é o ponto de partida para um futuro diferente. Mas não tarda a descobrir que está errado. No centro de uma vasta floresta, o colégio está rodeado por uma vedação de arame farpado e por um muro aparentemente intransponível e o seu interior é igualmente sombrio. Não há adultos no colégio e são os três grupos em que se dividem os alunos que se encarregam de todas as responsabilidades. As regras são duras e os castigos ainda mais. E ninguém pode sair. Nunca. Mas Benson não está disposto a aceitar esse facto e, assim que percebe que está preso no que parece ser uma estranha experiência e que ficar equivale, mais cedo ou mais tarde, a morrer, todas as suas forças se dirigem na tentativa de encontrar um meio de fuga. Mas será possível, quando o colégio tudo controla e os próprios alunos parecem estar pouco dispostos a tentar?
Intrigante e de leitura compulsiva, este é um livro com muitos pontos fortes a descobrir. O primeiro é, desde logo, a facilidade de entrar na pele do protagonista. Ao partir do ponto em que Benson é lançado para um ambiente diferente, sem qualquer conhecimento prévio do sistema, cria-se, desde logo, uma certa empatia, na medida em que é fácil compreender a confusão e o impulso de reagir de Benson. Além disso, ao construir a história do ponto de vista de Benson, é possível prolongar o mistério, já que as razões e as regras de funcionamento da Academia são reveladas à medida que o protagonista as assimila. Há, pois, toda uma aura de mistério em torno da Academia Maxfield e a história torna-se progressivamente mais intensa, pois, à medida que novos factores e revelações são introduzidos no desenrolar da narrativa, também a posição das personagens, e a de Benson, em particular, mudam, relativamente ao cenário em que se encontram.
Um outro aspecto muito bem conseguido é o equilíbrio entre os elementos perturbadores e as situações de quase normalidade. O ambiente é estranho, as regras são duras e os conflitos são, muitas vezes, de vida ou morte, mas o autor equilibra essas revelações sombrias e a caracterização de um sistema geral que, a cada nova revelação, surge como mais sinistro, com momentos que quase se aproximam do que seria a vida numa escola normal. Isto funciona porque leva Benson - e o leitor - a questionar, em certa medida, o imperativo da fuga e as razões do peculiar funcionamento do colégio. Leva, também, a uma perspectiva mais ampla das circunstâncias, já que os argumentos de Benson colidem com os dos outros alunos do colégio, levantando algumas questões interessantes relativamente às circunstâncias.
Ainda no que contribui para a intensidade da narrativa, importa destacar a forma como quer a hierarquia e as interacções dos alunos com o colégio, quer as inesperadas revelações que surgem como capazes de mudar a posição de todos (ou, pelo menos, de alguns) os alunos, contribuem para um crescendo de tensão no rumo da história, levando as circunstâncias ao ponto de questionar todos os gestos de confiança. Também isto torna a narrativa mais intensa e está na base de alguns dos momentos mais perturbadores, nos quais se inclui um final de grande impacto.
Sendo o primeiro volume de uma série, é natural que várias perguntas fiquem sem resposta, até porque a história termina numa situação que deixa em aberto inúmeras possibilidades para o que virá a seguir. As respostas apresentadas, contudo, são surpreendentes e perturbadoras e abrem portas para a revelação de algo que se insinua como muito maior do que o que Benson agora conhece. Assim, para além de uma leitura viciante, este é também um bom início para uma história que promete ter ainda muito para dar.
Intenso e viciante, com um equilíbrio notável entre tensão e emoção e um mistério que é, em simultâneo, perturbador e fascinante, A Floresta Mecânica abre da melhor forma uma série rica em potencial, com uma história já muito interessante e um protagonista forte e carismático. Muito bom.
Ganhei este livro num passatempo e depois de ler esta opinião estou ansiosa para que chegue!
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