Está próxima a data marcada para a batalha final para os destinos da humanidade. Em Geall, Moira está prestes a reclamar o seu lugar como rainha do seu povo e a terminar os preparativos que os levarão a um confronto como nunca antes viram. Com ela, os restantes elementos do Círculo escolhido por Morrigan põem o máximo das suas capacidades numa tentativa de conseguir para o seu lado todas as armas possíveis. Um deles, contudo, é da mesma espécie dos seus inimigos e, apesar de tudo o que já fez, há quem não veja Cian por quem é, mas pelo que é. Mas o Círculo está unido e, aos seus olhos, nada diferencia Cian de qualquer um deles. Nem mesmo quando a atracção entre ele e Moira se revela em toda a força do sentimento que ambos tentaram evitar e a sua relação cresce, também, para definir algo de mágico e de poderoso que terá de ter fim, também, quando a batalha terminar...
Sombrio, com uma tendência para o sarcasmo e uma natureza reservada resultante de demasiados séculos a viver escondido, Cian é, sem dúvida, o mais carismático entre as personagens desta trilogia. Não é, pois, nenhuma surpresa que, sendo este o livro que se centra na sua história, seja também este o que mais tem de cativante. E basta considerar Cian e o seu papel na história para encontrar várias razões para que isso aconteça. Se o seu sentido de humor muito próprio e a distância que tenta criar em seu redor surgiam já em muitos dos melhores momentos dos livros anteriores, neste a sua natureza revela-se de uma forma mais completa. A autora apresenta um novo lado da sua personalidade, quer na forma como interage com Moira, quer no papel que desempenha na batalha iminente e nas suas relações com os restantes membros do Círculo. O sarcasmo e a distância continuam presentes, mas revelam-se como a defesa que são para o lado mais vulnerável e capaz de sentir do vampiro. Além disso, as posições em que se encontra são, muitas vezes de conflito, e o desenvolvimento o papel da sua natureza diferente na batalha é, também, muito bem conseguido.
Ainda que o romance entre Moira e Cian seja um elemento essencial da história, está, ainda assim, longe de ser uma parte predominante no enredo. Há uma boa história no que respeita à relação entre ambos e à forma como lidam com o conhecimento de que é, à partida, impossível e que terá de ter um fim que os magoará a ambos, mas é, apenas, parte de uma história maior. É o caminho que levará a batalha com Lilith a história principal e a parte romântica da narrativa é apenas uma parte desse caminho, complementando com um toque de ternura uma história que vive também da acção e do conflito, bem como das ligações e afectos que se formam ao longo desse percurso, e ainda das inevitáveis perdas que terão de suceder.
No fim de contas, é o impacto emocional a grande força deste livro. É fácil sentir empatia com as personagens (e isto não se aplica apenas aos protagonistas), o que confere intensidade aos grandes acontecimentos que lhes marcam as vidas. E a tensão que vai crescendo ao longo da narrativa, à medida que a grande batalha se aproxima, prepara também o caminho para um final intenso e com alguns momentos surpreendentes, mas, principalmente, com uma conclusão comovente para as relações estabelecidas entre o Círculo.
Com uma boa história, personagens carismáticas e a intensidade emocional resultante de uma história em que o romance é apenas uma parte de um enredo rico em afectos, O Vale do Silêncio conclui da melhor forma uma aventura com as medidas certas de mistério, acção e emoção. É este, pois, o melhor livro da trilogia e também o melhor que li da autora. Muito bom.
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