Rehvenge vive uma vida dupla. Para a nobreza dos vampiros, ele é um dos membros mais importantes e tem uma palavra a dizer na relação com o rei e a Irmandade. Mas, na sua vida secreta, Rehv lida com os aspectos mais sombrios do mundo, tanto dos vampiros como dos humanos. Droga e prostituição são apenas parte do seu segredo, já que Rehvenge não é totalmente vampiro. E, para preservar o seu segredo de atenções que destruiriam aqueles que ama, ele dispôs-se a aceitar exigências intoleráveis durante décadas. Mas há mudanças prestes a acontecer e tudo começa quando uma enfermeira se interessa pelo que ele está a fazer a si mesmo. E há algo entre eles que cresce, independentemente dos segredos e das intrigas que abalam o mundo secreto dos vampiros. Rehv e Ehlena são, com todas as diferenças que o separam, um casal destinado a formar-se. Mas será possível para alguém com tantos inimigos?
Algo que, desde cedo, se nota neste livro, é a tendência que, desde os volumes anteriores, para expandir a história para lá do casal protagonista. Se, nos primeiros livros, a grande maioria dos acontecimentos dizia respeito aos protagonistas, a evolução da situação global da Irmandade levou a que o desenvolvimento do enredo se dispersasse mais pelas diferentes personagens. Neste livro, e ainda que a maioria da parte romântica da história diga, de facto, respeito a Rehv e Ehlena, estes não se destacam como protagonistas únicos, sendo igualmente relevantes para a evolução do enredo os acontecimentos que dizem respeito a Wrath, John e Tohrment, só para citar os mais evidentes. Disto resulta uma maior dispersão pelas diferentes personagens, havendo menos desenvolvimento a nível do romance central, mas também uma perspectiva mais ampla do que está a acontecer em Caldwell, sendo que as mudanças a ocorrer na Irmandade, na liderança da Raça e até na colónia acabam por ser, muitas vezes, mais relevantes que as questões românticas.
Isto não retira nem carisma nem empatia às personagens. De Rehvenge, que é, apesar de tudo, o protagonista, é revelado um lado desconhecido - até para ele, por vezes - que o torna bastante mais complexo e interessante do que o que antes fora revelado. E isto aplica-se tanto às mudanças motivadas pela ligação a Ehlena como à sua interacção com Wrath e a Irmandade. Ehlena, por sua vez, é, em quase tudo, oposta em temperamento a Rehvenge, criando um contraste entre as duas personalidades que torna a relação particularmente interessante.
Também as outras personagens sofrem mudanças importantes, quer a nível de experiências que lhes abalam a postura perante a vida, quer de acontecimentos que alteram o contexto "político" da raça. Assim, as alterações na situação da Irmandade e do próprio rei, o papel da colónia nos problemas que estão a acontecer e a grande mudança na atitude de John (bem como os factores que a despertaram) são, além de bases para vários bons momentos ao longo do enredo, factores capazes de mudar o rumo global da situação, prometendo ainda novas mudanças para os volumes seguintes.
Falta referir, por último, um dos aspectos que sempre cativaram nesta série e que, agora que a história se dispersa mais em aspectos para lá do romance, se torna ainda mais importante: as ligações entre os elementos da Irmandade e aqueles que lhes são próximos, tanto a nível romântico, como familiar e de relações de amizade. Há várias situações complicadas, do ponto de vista emocional, a ocorrer neste livro, e a forma como a autora constrói as reacções e as emoções das personagens nesses grandes momentos é também um dos grandes trunfos desta série.
Este é, portanto, um livro que não desilude. Envolvente, rico em momentos intensos e com novas revelações para personagens que já se tornaram familiares a contrastar com a evolução do casal protagonista, tanto no romance, como em todos os outros aspectos da sua vida, Na Sombra da Vingança tem todas as boas características que cativaram nos livros anteriores. Muito bom.
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