Uma nova sombra paira sobre Taurovinda. Mais uma vez, os Mortos e os Não-Nascidos estão por perto e as suas intenções parecem ser hostis. Estalagens entre os dois mundos acabam de ganhar forma e todos falam de uma presença ameaçadora que deseja controlar o território. Quem é, ao certo, esse líder desconhecido, ninguém parece saber. Mas o Argo, o navio que acompanhou Merlim e Jasão em tantas viagens, está de volta e o espírito que o habita parece atormentado. O navio esconde um segredo e ainda não está pronto para o revelar. Mas a única forma de salvar o reino de Urtha é embarcar numa nova viagem, para uma ilha com muitos elementos semelhantes aos que surgem em Taurovinda. E esperar que, na jornada através do tempo e das memórias, o Argo esteja pronto a revelar os seus segredos e a responder à vontade do seu primeiro capitão.
De ritmo ainda mais pausado que os anteriores, este é o livro em que o rumo das personagens mais se distancia dos seus objectivos iniciais. A busca de Jasão pelos seus filhos ficou tão completa quanto possível em O Cálice de Ferro e, por isso, é agora Urtha, no seu combate à ameaça que paira sobre o seu reino, quem mais tem a perder com os possíveis resultados da jornada dos protagonistas. O que não afasta, de modo algum, o papel de Jasão nos acontecimentos. A sua presença permanece, ainda que de forma mais discreta, e a sua oposição a Medeia sofre, ainda, alguns desenvolvimentos inesperados, que acabam por revelar tanto o melhor como o pior das personalidades de ambos, bem como as características na base da sua união passada.
Não é Jasão o centro do conflito, mas tem, apesar disso, um papel essencial nas razões para o que está a acontecer. O foco, ainda assim, está no Argo e a revelação das ligações que o unem às várias personagens é a base de alguns dos momentos mais marcantes da história, incluindo algumas das mais importantes revelações do final. Há, portanto, uma conjugação de elementos e personagens que, desde o início, surgiram como protagonistas essenciais, com outras cuja relevância cresce com o evoluir do enredo. Neste livro, é Alba o cenário de muitos dos acontecimentos, sendo aqueles que lhe pertencem os que mais evoluem. E se a história se cruza, em muitos aspectos, com as aventuras de Jasão, também é em Alba que se esconde parte das revelações essenciais que levam a que, no fim, tudo faça sentido.
Há muito a acontecer e muitas influências cruzadas. Medeia é apenas um dos muitos elementos que dão forma a uma vingança longamente planeada. Assim, a história evolui a ritmo lento, dispersando por diferentes elementos e possibilidades, algumas das quais só se concretizam bastante mais tarde. Isto faz com que alguns momentos mais parados, principalmente no início, criem também alguma confusão, já que a sua razão de existir parece dúbia. No final, contudo, todos os elementos se cruzam, e muito pouco é deixado por explicar, tanto para o que está a acontecer em Alba, como para o que liga Merlim, narrador e suposto protagonista de presença discreta, a tudo e a todos os que o rodeiam.
Importa, ainda, referir uma notável evolução de algumas personagens, que partem de uma percepção algo fechada da vida - elevando acima de tudo as suas vontades - para crescer no sentido de um conhecimento mais global. Sem por isso perder os traços característicos da sua personalidade, como é evidente em Kymon, com a sua rebelião a dar lugar a uma ambição mais sensata, e até no próprio Merlim, cujo sentido de auto-preservação, questionado de tantas formas, acaba de servir de base a um momento particularmente inesperado - e comovente - no final.
Pausado, mas com uma história envolvente e personagens carismáticas e de personalidades complexas, Os Reis Vencidos apresenta um enredo rico em revelações, com a magia de uma multiplicidade de mundos a fluir com naturalidade através da voz do seu tão antigo, mas tão humano protagonista. E assim conclui, culminando num final intenso e emotivo, uma história cativante e com muito de bom.
Ola =) e Feliz Ano Novo!
ResponderEliminarCriei um cantinho para as minhas leituras e gostava que fosses la dar um pulinho, se pudesses. =P
Ate porque preciso de ter seguidores para poder ter parcerias com as editoras. Se puderes ajudar desde já agradeço.
De qualquer modo continuo a vir aqui para saber das novidades e participar nos passatempos.
http://livrosechaquente.blogspot.pt/
Bjinhos