O objectivo era sair de Incarceron. Mas a fuga foi apenas o início e o Exterior está longe de corresponder às expectativas. Ainda sem memórias da vida antes da Prisão e perdido no centro de uma intriga em que nem os seus aliados parecem estar completamente do seu lado, Finn começa a sentir que o Reino é, para si, apenas outra prisão. Mas deixar de agir é impossível. A rainha Sia parece ter planos para o descredibilizar e, no fundo, Finn sabe que a sua história poderá ser questionada, até pelos que lhe são mais próximos. E os seus problemas não estão totalmente dissociados de Incarceron. No interior, os companheiros que teve de deixar para trás tentam também encontrar uma forma de sair e a recuperação da Luva de Sapphique parece ser o meio mais provável. O problema é que também a Prisão sonha e anseia. E a sua ira será terrível, se o seu sonho for recusado...
Dando continuidade à história iniciada em Incarceron, e respondendo a muitas das perguntas anteriormente deixadas sem resposta, A Lenda de Sapphique apresenta todas as qualidades do volume anterior e mais algumas. Todas as complexidades do sistema, com as diferenças e semelhanças entre a Prisão e o Reino, bem como os mecanismos e tecnologias que os fazem funcionar, são agora desenvolvidas de uma forma mais completa, com novas revelações a serem apresentadas à medida que o enredo evolui. Além disso, a estranheza inicial face a este tão estranho mundo já não existe. Conhecido, no essencial, desde o primeiro livro, é agora mais familiar. E, por isso, é mais fácil acompanhar o desenrolar da aventura, com os novos desenvolvimentos do sistema a surgirem com naturalidade e acompanhado o papel das personagens.
Personagens que são, também, um dos pontos fortes deste livro. Se já no primeiro volume quase nenhuma das personagens era exactamente o que dela se esperava, esta ambiguidade torna-se ainda mais notória neste livro. Não há, propriamente, um herói que se destaque, já que até o papel de Finn parece alterar-se um pouco. Há intenções e o que cada personagem está disposta a fazer em nome dessas intenções, e é isso essencialmente que gera o conflito. Não há heróis nem vilões. Nem mesmo a própria Incarceron se pode considerar como tal. E a forma como o enredo evolui, quer nos planos e objectivos de cada personagem, quer na forma como Finn surge, no centro de tudo, mais como figura solitária, instrumentalizada pelas intenções dos seus aliados, e menos como líder e herói, cria vários momentos de força emocional e também bons momentos de reflexão.
De referir, por último, as várias surpresas que surgem ao longo do enredo, quer a nível do rumo global dos acontecimentos, quer das escolhas particulares de cada personagem. As motivações continuam a ser bastante claras para quase todos os intervenientes da história, mas a forma de agir muda em muitos aspectos, o que contribui em muito para que cada nova revelação tenha algo de surpreendente, culminando num final intenso, inesperado e que, tendo em conta todos os passos da história, acaba por ser o mais adequado.
Envolvente, com um mundo complexo e personagens interessantes no centro de uma história com as medidas certas de intriga, acção e emoção, A Lenda de Sapphique encerra da melhor forma a história iniciada em Incarceron. E, considerando tudo isto, a impressão global dificilmente poderia ser melhor. Recomendo.
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