Irmãos unidos numa época gloriosa, os filhos de D. João I parecem viver em harmonia. Mas nem tudo é tranquilo nas relações entre os elementos da Ínclita Geração. D. Henrique ambiciona louvor e glória na conquista de África e pretende avançar contra Tânger. Para conseguir o apoio do seu irmão, o rei, está disposto a usar toda a influência que detém, recorrendo inclusive à ingénua ambição do seu irmão mais novo. Convencer D. Duarte, contudo, é apenas o início dos conflitos e a partida para Tânger cedo revela ser o primeiro passo de uma batalha perdida. D. Fernando, o mais frágil de entre os irmãos, vê-se entregue a uma provação que testará a sua fé. E os conflitos iniciados com a investida irão apenas agravar-se com o fracasso...
Bastante interessante a nível de desenvolvimento do contexto histórico, mas também pelo retrato que traça para os infantes, este é um livro que, não sendo propriamente de leitura compulsiva, tem, ainda assim, bastante de cativante para descobrir. O ritmo pausado deve-se principalmente a uma considerável componente descritiva, mas também a um estilo de escrita bastante particular, com mudanças de tempo verbal e ocasionais avanços na linha narrativa a exigir uma maior atenção ao pormenor. Estilo de escrita que, em parte devido ao uso algo errático do plural majestático, cria, inicialmente, uma impressão de estranheza, mas que, uma vez assimiladas as suas peculiaridades, se torna também bastante cativante.
Relativamente ao enredo, sobressai a caracterização bastante completa da época e dos diferentes cenários em que decorre, sendo de destacar as diferenças entre o que se passa em Portugal e o ocorrido em Tânger. Mas também a caracterização das personagens surpreende, já que, apesar de alguma distância no tom da narração dos acontecimentos, o retrato construído para D. Henrique acaba por despertar emoções, ainda que grandes delas se devam aos traços menos abonatórios da caracterização desenvolvida.
Tendo em conta os factos históricos que servem de base ao romance, não há nos acontecimentos propriamente ditos nada de muito surpreendente. É mais a caracterização dos infantes e das intrigas existentes na sua relação que realmente surpreende na evolução do enredo, realçando quer as consequências da derrota, quer as mudanças e conflitos consequentes a esse fracasso. Fica-se, assim, com uma ideia diferente das principais personalidades envolvidas, ao mesmo tempo que se aprende um pouco mais sobre alguns dos grandes acontecimentos da época.
Fica, assim, deste livro, a impressão global de uma narrativa que, não sendo propriamente viciante, apresenta, ainda assim, uma boa base histórica para um enredo cativante, cujos protagonistas são figuras conhecidas, mas apresentadas como bem diferentes do que seria de esperar. Uma boa leitura, portanto, interessante e agradável. Gostei.
Obrigado pela amável crítica. Dia 3 Julho vai ralizar-se o lançamento do meu segundo livro, As Sombras de D. João II, na livraria Culset em Setúbal e uma outra apresentação na Bertrand do Chiado na semana seguinte, ainda sem data definitiva. Ficarei honrado pela vossa presença.
ResponderEliminarCumprimentos
Jorge Sousa Correia