Zoe e Kate sempre orientaram os seus percursos num mesmo sentido: ganhar a medalha de ouro nuns Jogos Olímpicos. Mas a vida meteu-se no caminho. E, enquanto Zoe aplicou todos os seus esforços na conquista da vitória, independentemente do que tivesse de fazer ou de quem tivesse de destruir para a alcançar, Kate teve de escolher entre as medalhas e as outras coisas da vida. Rivais, a princípio, e depois ligadas por uma estranha amizade, Zoe e Kate sempre competiram movidas por ambições diferentes. Mas, agora, as Olimpíadas de Londres aproximam-se e ambas sabem que serão a última oportunidade de vencer. Zoe coloca toda a sua energia na preparação para a vitória, mas Kate tem outra batalha a travar. Sophie, a filha, tem uma leucemia e, mais uma vez, é possível que Kate se encontre perante uma escolha difícil...
Há tanto de impressionante neste livro que é difícil escolher por onde começar. Desde a história às personagens, passando pelo estilo de escrita, tudo é construído de modo a criar o máximo impacto emocional no leitor. E o impacto é fortíssimo. Desde as primeiras páginas e até aos momentos finais, o autor consegue despertar sorrisos, inspirar uma certa revolta ante certas escolhas, deixar o leitor a torcer por uma ou outra personagem e, algumas vezes, partir-lhe o coração com a intensidade de alguns momentos e circunstâncias. Mas vamos por partes.
No centro desta história, estão três ciclistas de topo e uma criança, todos eles altamente relevantes para a história. Mas as figuras centrais, por ser entre elas que existe uma verdadeira rivalidade, são Zoe e Kate. Aqui começa a magia, na caracterização das personagens. Estas duas mulheres não poderiam ser mais diferentes, Zoe com a sua necessidade de vencer para fugir ao passado e os gestos impulsivos dos quais sempre se arrepende, e Kate, mais ponderada, mais altruísta, mas a travar a mais terrível batalha da sua vida e, por isso, mais vulnerável. O contraste entre ambas é, desde logo, parte do que confere intensidade à narrativa, já que a forma como a relação entre ambas evolui desperta sentimentos tão fortes - e, por vezes, contraditórios - que é difícil evitar que as suas histórias fiquem na memória. E, além das duas amigas, há Jack, motivo de uma rivalidade diferente, com a sua personalidade peculiar a acrescentar ao enredo um toque de humor e ternura, e Sophie, a frágil e doente Sophie, que acaba por ser quem mais comove em toda a história, e tanto pelo que representa para as restantes personagens como pelas suas próprias acções.
A esta sólida e muito marcante caracterização das personagens junta-se um contexto meticulosamente construído de forma a dar sentido até ao mais simples dos acontecimentos. As agruras do mundo do ciclismo profissional, conjugadas com os meandros da luta de Sophie contra a doença, as questões publicitárias e a influência dos meios de comunicação na vida privada (principalmente na história de Zoe), levantam toda uma série de questões relevantes, realçando a verdadeira dificuldade das circunstâncias das personagens. E, por outro lado, há um elemento de leveza, com o fascínio de Sophie pela Guerra das Estrelas a servir de base a vários momentos verdadeiramente enternecedores.
Tudo isto é explorado de forma magistral. As palavras fluem com naturalidade, leves nos momentos divertidos, profundas nas situações mais sombrias, belas ao longo de todo o livro. A história é intensa, as personagens são fortes e há muito de importante em que reflectir. Mas é a harmonia das palavras que apresentam tudo isto que torna perfeita a união entre todos estes elementos. É o equilíbrio perfeito entre as palavras e acção que faz com que esta história se entranhe tão profundamente no coração de quem lê.
Uma história de força e de sacrifício, de afecto e de rivalidades. Assim é este Menina de Ouro. E uma história tão intensa e tão maravilhosamente contada que há emoção e magia até nos momentos mais simples. É isso que faz com que este livro fique na memória. É isso que o torna tão impressionante.
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