Quando um esqueleto é encontrado no lago Kleifarvatn, na sequência de uma súbita descida do nível das águas, o mistério torna-se o principal tema de conversa. Mas tudo indica que a ossada esteja naquele lugar há décadas. O caso é intrigante, ainda assim. Há um buraco no crânio, aparentemente causado por uma pancada, e o corpo está amarrado ao que parece ser um aparelho russo. Inevitavelmente, a palavra espionagem vem ao pensamento. O problema é que encontrar pistas para um crime cometido décadas antes não é propriamente fácil. O inspector Erlendur e os seus colegas de trabalho terão de bater a muitas portas à procura de uma possível solução. E é possível que as respostas acabem por surgir de onde menos se espera...
Apesar de começar como um crime para resolver, há neste livro bastante mais que apenas um caso e a sua investigação. Desde logo, todas as questões em torno da Guerra Fria e dos métodos de espionagem e, principalmente, do sistema repressivo na Alemanha de Leste são aspectos que sobressaem, quer pelo retrato algo perturbador que apresentam para uma certa forma de pensamento, quer pelas situações tensas - e, por vezes, fortíssimas do ponto de vista emocional - que originam. A história de Tómas é impressionante em muitos aspectos, desde a sua mudança de percepção relativamente ao sistema à ligação com Ilona, passando pela forma como o sucedido permaneceu presente apesar da passagem do tempo. Toda esta história, que vai surgindo gradualmente ao mesmo tempo que a investigação de Erlendur evolui, acrescenta ao mistério uma nova perspectiva, tornando a história mais complexa e, ao mesmo tempo, mais cativante.
Também como complemento à história principal surgem as circunstâncias da vida pessoal dos protagonistas. Há outros livros envolvendo estas personagens, pelo que há várias questões que ficam sem resposta, mas todos os pequenos desenvolvimentos, desde a relação de Erlendur com os filhos, ao livro de culinária de Elínborg e às esperanças familiares de Sigurdur Óli, servem de aproximação ás personagens, tornando-as mais humanas e empáticas, e adicionando ainda um pouco mais de complexidade (e algum mistério) à história.
Quanto ao mistério propriamente dito, surpreende principalmente por alguns passos da investigação, por uma certa medida de instinto e pela forma como pontos aparentemente pouco relevantes acabam por desempenhar um papel essencial. Parte da questão fulcral - quem é o culpado - é desvendada bastante cedo, o que não retira interesse ao enredo, já que o leitor pode saber parte das respostas, mas os protagonistas não sabem. Além disso, ao acrescentar uma segunda pergunta - quem é a vítima - o autor torna o rumo da história um pouco mais intrigante, fluindo a um ritmo que, apesar de relativamente pausado, mantém viva a curiosidade em saber mais.
Partindo de um caso intrigante, mas sem se limitar a ele, O Mistério do Lago é, portanto, um livro que, apesar de centrado num crime, explora muitos aspectos para além da descoberta do culpado. E é esta conjugação de elementos tão distintos, desde o mistério do esqueleto no lago à repressão na Alemanha de Leste, passando pelas pequenas comoções e tragédias de algumas histórias individuais, que torna a leitura tão interessante. Este equilíbrio de tudo nas medidas certas, num livro que, sem ser de leitura compulsiva, continua a ser, ainda assim, muito bom.
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