domingo, 9 de junho de 2013

Mildred Pierce (James M. Cain)

Quando, na sequência da Grande Depressão, o marido perdeu todos os investimentos e se deixou cair na indolência, Mildred Pierce decidiu que era tempo de o mandar embora. Mas, ao ver-se sozinha com as duas filhas, não tardou a perceber que precisava de fazer algo por si mesma. E foi o que fez. Primeiro foi a busca desesperada pelo emprego, depois a criação do seu próprio negócio. Aos poucos, Mildred ergueu-se das suas dificuldades. Mas, ao longo do seu percurso, duas sombras acompanhariam a sua vida: a sua atracção por homens pouco interessados no trabalho e uma filha com pretensões à superioridade social. E, rodeada por esses espectros a cada novo plano, Mildred não tardaria a compreender que nem só de ascensão se faz a vida.
Parte do que marca nesta história é o facto de ser, ao mesmo tempo, um percurso pessoal, definido pelo crescimento e por todos os sucessos da protagonista, e um retrato bastante claro e algumas das complexidades resultantes da Grande Depressão. O percurso de investimentos do marido de Mildred e, em certa medida, o da própria Mildred, nem sempre se definem por circunstâncias externas, mas reflectem, sem dúvida alguma, as flutuações do sucesso e da fortuna. Ao mesmo tempo, ao conjugar elementos da conjuntura global com escolhas e erros individuais, a história dos protagonistas torna-se comparável a muitas outras histórias, criando elos de ligação e de empatia.
Para o impacto desta história contribui também a construção de personagens complexas e humanas, igualmente capazes de gestos generosos e de maquinações elaboradas, consoante a vontade e as circunstâncias. Isto é claro no percurso da própria Mildred, mas também nas acções daqueles que a rodeiam. Além disso, há vastíssimas complexidades na situação afectiva, desde as ligações amorosas de Mildred à sua relação com a filha e até no mais simples destes aspectos há considerações marcantes, ligadas ao simples nascer de um sentimento ou à vasta teia de intrigas escondida na mente de algumas personagens.
Nada é fácil, portanto, e ninguém é simples nas suas acções, portanto. E, apesar disso, o enredo segue-se facilmente, evoluindo a um ritmo que, pausado nos momentos mais descritivos, nunca deixa, ainda assim, de ser envolvente, tornando-se até viciante nos momentos mais intensos. Há algo de marcante nas circunstâncias peculiares de cada personagem, mas, principalmente, na facilidade em imaginá-las numa realidade não muito distante. Cria-se, assim, uma impressão de proximidade entre o leitor e as personagens e isto reforça em muito o impacto emocional da história.
Personagens complexas e uma história riquíssima fazem, pois, deste romance uma leitura fascinante. Envolvente, com grandes momentos emotivos e uma marcante reflexão sobre os ciclos do sucesso e do infortúnio, este é, sem dúvida, um livro que vale a pena. Recomendo.

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