Histórias de encontros, de passagens do tempo, de gente em mudança, num país em mudança. Assim são os sete contos que constituem este livro. Introspectivas, com tanto de reflexão (ou mais) que de narrativa, e tendo uma certa nostalgia presente na contemplação do passado, estas são histórias de gente diferente, mas com muito em comum com os que habitam a realidade. É isso, afinal, que as torna interessantes. Mas vamos por partes.
O primeiro conto, Trinta e cinco anos, apresenta um jantar de reencontro de companheiros e, com ele, uma bela reflexão sobre como as relações se diluem ao longo do tempo, mesmo sem acontecimentos que causem a separação. Bem escrito, com um belo toque de poesia e com uma certa nostalgia que se insinua ao longo de todo o conto. Um conto marcante, pois.
Segue-se O próximo encontro, história de um romance que começa sobre a égide do mar e que é recordado, de longe, pelos seus protagonistas. Narrado por duas vozes contrastantes, mas que se completam na mesma nostalgia, este é um conto que, bastante introspectivo, mas com a medida certa de emoção, acaba por ser também uma bela reflexão sobre os afectos.É um conto triste, mas belo na sua melancolia, e a distância entre os protagonistas e o que os move apenas reforça o impacto da história vivida por ambos.
Em Esplendor e Frustração, um jovem idealista dispõe-se a fazer tudo o que puder para melhorar o mundo em que vive, numa história que opõe as expectativas de uma missão idealizada à pura e simples realidade. De ritmo pausado, e com a já esperada nostalgia a marcar presença, perde-se, por vezes, um pouco, em divagações. A história, ainda assim, é cativante e a mensagem é forte.
Segue-se Dialética e poder, também uma reflexão, desta vez sobre o poder, na forma de um encontro entre dois antigos companheiros de luta, um deles convertido numa figura poderosa. Tal como o anterior, também este conto se perde um pouco em divagações. Ainda assim, a mensagem essencial é forte e relevante e a forma como o conto está escrito, culminando num final particularmente bom, nunca deixa de ser cativante.
Discurso sobre a beleza apresenta uma mulher que recorre à história da sua vida para analisar o conceito de beleza e as suas possíveis características. Bastante pausado e num tom algo distante, acaba por ser um conto cativante, principalmente devido a algumas ideias mais peculiares.
Em Retrato do irmão morto, um homem desfia a história do irmão,numa tentativa de atenuar a sua própria dor. Também pausado e introspectivo, ese conto surpreende principalmente pela vaga ternura que se insinua ao longo de toda a narrativa e que abre caminho para um final especialmente comovente.
Por último, Os Marginais narra também um encontro entre amigos e, através dele, o desencanto ante uma revolução que não foi a idealizada. Descritivo e de ritmo lento, mas com uma história cativante, acaba por ser uma boa conclusão para este conjunto, até porque reflecte um pouco das questões abordadas nos contos anteriores.
Eis, pois, um interessante conjunto de contos, em que a história pessoal de alguns se funde com a história de um país e em que, desde os mais emotivos aos mais divagativos, todos os contos tem algo em que reflectir. É, por isso, uma boa leitura, este Os Marginais e Outros Contos. Gostei.
Sem comentários:
Enviar um comentário