sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Oscar Wilde e o Jogo da Morte (Gyles Brandreth)

Reunido com os seus amigos para um jantar festivo, Oscar Wilde decide dar início a um jogo. A ideia é simples: todos os convivas devem escrever o nome de alguém que gostariam de matar. Depois, caberá aos outros descobrir quem escolheu que vítima e porquê. Mas o que pretendia ser um jogo inconsequente acaba por se tornar uma situação perigosa quando, nos dias seguintes, as vítimas nomeadas começam a aparecer mortas. Sentindo-se parcialmente responsável pelo que está a suceder - e também ameaçado, já que o seu nome consta da lista de vítimas - Oscar sente-se na obrigação de seguir as pistas e, tal como o Sherlock Holmes do seu amigo Arthur Conan Doyle, desvendar o mistério.
Tendo como premissa a resolução de um mistério algo improvável - como é, aliás, característico desta série - este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela forma como o seu protagonista assume uma nova faceta - a de detective - sem descurar as características que lhe são normalmente atribuídas. Ao imaginar Oscar Wilde como detective amador, o autor constrói-lhe um papel invulgar, associando-o a uma capacidade dedutiva particularmente interessante - e com paralelismos muito bem estabelecidos relativamente às capacidades de Sherlock Holmes - sem perder de vista os outros aspectos da sua personalidade. Oscar Wilde, o autor e esteta, está tão presente neste mistério como a sua faceta de detective. A conjugação das duas é, aliás, um dos grandes pontos fortes deste livro.
Mas, se a força do protagonista é um elemento crucial, outros há que contribuem para fazer deste livro uma leitura viciante. Em torno de Oscar, circulam figuras excêntricas, improváveis, infames - e outras absolutamente respeitáveis. Isto contribui, desde logo, para criar um muito agradável ambiente, com situações caricatas quanto baste, mas também com uma muito boa base de contextualização da época. Mas há também muito de interessante na natureza individual destas figuras, desde a constante amizade de Robert, o narrador, à estranha obsessão de Charles Brookfield, sem esquecer a reserva de Arthur Conan Doyle. Há toda uma diversidade de personagens, todas elas interessantes e bem desenvolvidas, que gravitam em torno da história de Oscar - e da sua capacidade de resolução de mistério - mas sem perder as suas respectivas identidades e histórias.
E depois há o mistério. Intrigante desde o início, com a peculiaridade do jogo da morte a abrir caminho para uma situação complexa e intensa - até pelo facto de Oscar ser uma das potenciais vítimas, o caminho para o desvendar do mistério evolui pausadamente, mas sempre através de revelações interessantes, para culminar num final particularmente bom. É fácil alimentar suspeitas, já que várias personagens têm possíveis motivos e oportunidades, mas a forma como tudo se resolve é bastante inesperada, o que acaba por encerrar em beleza esta história sempre cativante.
Intrigante e envolvente, Oscar Wilde e o Jogo da Morte apresenta, pois, uma história de crime e mistério, com personagens tão cativantes quanto peculiares e um enredo cheio de surpresas. Muito bom.

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