Aos trinta e seis anos, Marian Caldwell parece ter alcançado tudo o que desejava... ou quase. Ao seu trabalho como produtora de uma série de sucesso, juntou-se uma relação amorosa que é quase perfeita, excepto pela hesitação de Peter quanto à possibilidade do casamento. Mas é precisamente quando esta dificuldade começa a gerar conflitos que um novo problema - ou a maior das oportunidades - está prestes a surgir. Quando a jovem Kirby Rose lhe bate à porta, traz com ela todo um passado nunca totalmente esquecido. É que Kirby é a filha que Marian deu para adopção... e a base de toda uma fase da sua vida que nunca contou a ninguém.
História de afectos e de relações complicadas, este é um livro que tem como maior ponto forte a capacidade de criar empatia e de dar força aos momentos emotivos sem que, por isso, a história se torne demasiado dramática. Na verdade, há razões mais que suficientes para que surja uma certa medida de drama, mas a autora consegue equilibrar os elementos de tensão e conflito com certos laivos de leveza e humor, o que torna a narrativa mais equilibrada e cativante. O resultado é, por isso, uma história com emoção quanto baste, mas leve o suficiente para criar um bom equilíbrio entre os segredos, os conflitos e as dificuldades e, por outro lado, o percurso positivo que está reservado para as personagens.
Falando das personagens, há, principalmente entre as figuras secundárias, alguns elementos que poderiam ter sido mais explorados. Ainda que Marian e Kirby sejam o centro da história, há um conjunto relativamente vasto de personagens que as rodeiam e, nalguns casos, o seu próprio caminho justificaria toda uma história. Além disso, há muitas questões entrelaçadas ao longo desta história, entre diferentes vidas familiares e comportamentos e valores que caracterizam certas personagens. Assim, haveria talvez mais a dizer sobre certos aspectos da história individual de algumas destas personagens. Apesar disso, o verdadeiramente essencial está lá.
Ainda um outro ponto positivo que importa referir é a forma como a autora conta a história, na primeira pessoa e pelas vozes das protagonistas. Além de tornar mais próximos os pontos de vista de Kirby e Marian, dando aos seus sentimentos uma voz mais clara, esta forma de contar a história realça também o que ambas têm em comum. E, tendo em conta a forma como tudo termina, deixando o possível futuro de ambas à imaginação de quem lê, estes pontos de união funcionam de uma forma especialmente interessante, já que insinuam possibilidades positivas.
Envolvente e emotivo, mas com um agradável toque de humor, O Lugar do Coração apresenta uma história cativante, cheia de emoções fortes e com um percurso que, sem dar todas as respostas, apresenta, apesar disso, muito de bom. Uma boa leitura, portanto.
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