sexta-feira, 22 de agosto de 2014

No País da Nuvem Branca (Sarah Lark)

Vindas de meios diferentes, mas tendo em comum a promessa de um futuro feliz do outro lado do mundo, duas jovens embarcam rumo à Nova Zelândia, sem saber que a viagem será o início de uma longa amizade e de uma vida cheia de tribulações. Gwyneira, de ascendência nobre e de temperamento fogoso, está prometida em casamento ao filho de um barão da lã. Helen, de origens mais modestas e temperamento mais sereno - mas também com grandes sonhos - espera encontrar também um marido, mas esse conheceu-o em resposta a um anúncio. Ambas partem com esperança na felicidade, mas o que têm à espera é bem diferente do que lhes foi prometido. Ainda assim, como mulheres fortes que são, terão de encontrar um caminho por entre as dificuldades e construir o melhor destino possível, independente dos conflitos que tiverem pela frente.
Com uma história que se prolonga através de um vasto período de tempo, partindo da juventude das protagonistas para as seguir até ao nascimento dos netos, este é um livro em que o ritmo do enredo terá de ser, necessariamente, algo pausado. Para isso contribui, além da vastidão de acontecimentos e mudanças que decorrem ao longo do tempo, a necessidade de uma boa medida de descrição, de forma a comparar os dois mundos das protagonistas. Da agitação de Londres à por vezes excessiva tranquilidade da Nova Zelândia e, mesmo dentro desta, com as mudanças ocorridas ao longo do tempo, há todo um contexto a explorar, além da descrição dos próprios cenários. E se isto faz com que os acontecimentos sejam narrados a um ritmo mais lento, também torna o cenário mais nítido e as complexidades do contexto mais fáceis de compreender.
Falando no contexto, o elemento que sobressai é, sem dúvida, a interacção entre os colonos e o povo maori, com todas as mudanças e potenciais conflitos que lhes estão associados. Mas este é apenas um dos elementos surpreendentes no desenvolvimento desta história. Desde o envio das órfãs para trabalhar na Nova Zelândia aos direitos de Helen e Gwyneira enquanto mulheres num mundo de homem, sem esquecer questões como a febre do ouro e as normas sociais estabelecidas, há todo um conjunto de questões relevantes a surgir ao longo desta história, o que também contribui para tornar a leitura mais interessante.
Mas, acima de tudo, estão a história e as personagens. E o mais impressionante neste aspecto é a forma como a autora consegue equilibrar o desenvolvimento de um contexto mais vasto com uma história que nunca deixa de ser, acima de tudo, a da vida das suas personagens. Helen e Gwyneira, diferentes em muito, mas ambas carismáticas e capazes de despertar empatia, são, no fim de tudo, o centro da história, bem como o ponto de partida para o percurso das gerações seguintes. E, entre inimizades e afectos, dificuldades e sucessos, perda e superação, há na história destas duas mulheres um equilíbrio perfeito entre todos os elementos. Mistério, um toque de intriga, perigo, emoção em abundância... Um pouco de tudo e tudo nas medidas certas, de tal forma que, mesmo quando a passagem do tempo deixa algumas questões em aberto, todas as resoluções parecem ser as mais adequadas.
Cativante desde as primeiras páginas, repleto de personagens carismáticas e com um equilíbrio perfeito entre os percursos pessoais e o vasto contexto em que estes decorrem, este é um livro igualmente capaz de surpreender e de emocionar, tanto nos grandes momentos como nas pequenas coisas. E, por tudo isto, um livro que fica na memória. Brilhante.

2 comentários:

  1. Olá,

    provavelmente dos melhores livros que li este ano, até agora. Completamente apaixonante, uma leitura agradável e uma história muito forte. Penso que não lia uma saga familiar tão brilhante desde O Monte dos Vendavais.

    Lindo =)

    Bjs

    ResponderEliminar