Quando o corpo do almirante Penistone é encontrado num barco à deriva, ninguém sabe muito bem o que pensar. Cabe ao inspector Rudge seguir as pistas e descobrir o culpado, mas ninguém parece disposto a facilitar-lhe a vida e prova disso são as várias possíveis testemunhas que, logo a seguir à descoberta do cadáver, partem apressadamente para alegados compromissos noutro lugar. Ainda assim, não basta o êxodo para deter a determinação do inspector em descobrir o que aconteceu. E, através de pistas e declarações aparentemente contraditórias, que apontam para um passado distante e para a cumplicidade de muitos, o caminho para as respostas pode ser longo e surpreendente, mas trará, seguramente, a verdade.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro não se prende nem com o enredo nem com a escrita, mas antes com a história que está na sua origem. A história da fundação do Detection Club, dos seus objectivos e da sua continuidade através dos tempos é, por si só, um ponto de partida interessante, principalmente tendo em conta a presença de autores que, ainda hoje, permanecem bem próximos da atenção do público. Além disso, o processo de escrita a várias mãos, quase como que num jogo com regras bem definidas, lança, desde logo, uma nova perspectiva sobre a leitura, já que cria expectativas quanto à forma como cada um dos autores seguintes irá moldar as pistas deixadas pelos anteriores.
Isto leva-nos à história propriamente dita. Nesta, há todos os elementos necessários para dar forma a um bom policial. Um crime de difícil resolução, suspeitos em abundância, um mistério vindo do passado e, com ele, vários possíveis motivos e uma sequência de pistas que abrem caminho a várias respostas possíveis. É a partir destes elementos, pois, que os autores vão desenvolvendo a sua história, sempre tendo em vista a necessária explicação para todos os elementos, mas, ao mesmo tempo, criando novas possibilidades e novas suspeitas. O resultado, claro, é que, com tantos possíveis motivos e tantas personagens com a oportunidade nas mãos, não é muito fácil adivinhar a identidade do responsável. (Ainda que haja, de facto, alguns sinais.
Ao ser o mistério o centro da narrativa, o desenvolvimento das personagens acaba por ficar para segundo plano. Rudge é um protagonista bem desenvolvido e a sua forma de lidar com algumas das personagens proporciona vários momentos interessantes, mas, quanto aos restantes intervenientes, fica a impressão de uma certa distância, talvez porque surgem principalmente enquanto intervenientes no caso, deixando de fora tudo o resto - ou grande parte.
Tudo somado, Quem Matou o Almirante? surge como uma história cativante, com um mistério cheio de surpresas e em que a ideia por detrás do enredo - e do que uniu os seus autores - tem tanto de cativante como o próprio livro. Uma leitura interessante, em suma.
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