A fuga de uma princesa para casar com o soberano do reino vizinho foi a fonte de uma guerra de terríveis consequências. De tal forma que, para alguns, a sua memória foi sempre preservada como uma maldição. Mas, mais que pela beleza ou pelos sonhos frustrados, Saretel ficou na memória como ponto de origem de uma lenda feita de mistérios. Tanto que o seu enigma prevalece através das gerações, para ressurgir na vida de um jovem príncipe, que, sem saber quem é ou o que lhe está destinado, é ele próprio um mistério no centro de tempos conturbados. Peroth não quer ser rei. Nem sequer sabe o que quer. Mas, quando todos lhe dizem que não pode fugir ao destino, como pode ele impor a sua vontade?
Com uma história que atravessa diferentes gerações e um ambiente em que as lendas e a intriga estão ambas na base de grandes mistérios, este é um livro com bastante potencial e uns quantos pontos fortes, mas também com algumas fragilidades. E se a soma das partes consegue ser uma leitura bastante cativante, há, ainda assim, alguns pontos difíceis de ignorar.
Começando pelos aspectos positivos, o que sobressai, em primeiro lugar, é a capacidade do autor de manter viva a vontade de saber mais. Ao mudar de perspectiva nos pontos de maior tensão, mas também ao desenvolver acontecimentos de diferentes pontos no tempo, o autor mantém a envolvência do enredo, já que fica sempre a vontade de descobrir o que acontecerá a seguir. Esta forma de contar a história, percorrendo diferentes tempos e lugares, mantém também a aura de mistério, o que, ainda que haja pontos em que demasiado fica em aberto neste primeiro volume, cria expectativas quanto ao potencial do que está ainda por contar.
Também interessante, ainda que, mais uma vez, muito haja ainda por dizer, é a forma como o contexto é desenvolvido, com a questão das lendas e dos mistérios a contrastar com intrigas bem reais. Há, neste sentido, muito potencial a explorar, principalmente no que diz respeito às movimentações de algumas personagens, mas também na explicação da sua verdadeira natureza. Também isto, aliás, faz parte do que torna esta leitura cativante.
Quanto aos pontos fracos, são essencialmente três. Primeiro, uma escrita em que, por vezes, a construção frásica é demasiado confusa e as gralhas um pouco difíceis de ignorar. Depois, algumas incongruências relativamente a acontecimentos e personagens, não demasiado frequentes, felizmente, mas, ainda assim, facilmente detectáveis. E, por último, e ainda no âmbito das incongruências, a caracterização demasiado ambígua de Peroth, que, pelos seus comportamentos, mas também pela forma como é visto, ora parece uma criança, ora quase adulto, sendo, por isso, uma personagem difícil de entender.
O que fica, então, somando tudo isto, é a impressão de um início promissor para uma história com bastante potencial. Com algumas fragilidades a corrigir, deixa, em certos aspectos, sentimentos ambíguos. Mas fica, também, a curiosidade em saber o que se seguirá. Uma leitura interessante, portanto.
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